Capítulo 5 - Estranho

1801 Words
(Max) Bem, esta é oficialmente uma das noites mais estranhas que já tive na minha vida. Depois de me vestir com o vestido azul claro que minha mãe me deu, uma limusine… sim, uma maldita limusine nos pegou e nós fomos para o melhor restaurante da cidade.  Se chama Eleven… o que me deixou confusa… mas suponho que seja porque eles são famosos pelas suas refeições de onze pratos e é um restaurante com estrela Michelin. Eles nem sequer colocaram os preços no menu… isso é como você sabe que está muito além do nosso orçamento. Durante todo o caminho, Leon me fez perguntas enquanto minha mãe estava praticamente grudada nele o tempo todo. Ela nunca foi assim tão grudenta nem mesmo com o papai… então foi meio chocante de ver.  Leon me perguntou sobre meus estudos e para onde eu estava pensando em ir para a faculdade. Ele até disse que sabia que eu adorava arte e minha mãe mostrou algumas das minhas coisas antigas para ele. Fiquei meio irritada com isso, considerando que eu não p***o mais.  Eu não encosto em um pincel desde que o papai morreu, e isso é um assunto delicado para mim. Minha mãe me comprou algumas tintas novas de presente no ano seguinte do ocorrido e eu ainda não as usei. Não consigo me obrigar a fazer isso. Fiquei surpresa que minha mãe tenha contado a ele tanto sobre mim. Pensei que ela agiria como se eu nem existisse, assim como fez comigo em relação a esse cara. Eu admito que ele parece legal, mas tudo isso é tão estranho...não sei como agir ou o que dizer. — Vocês duas estão absolutamente deslumbrantes esta noite. — Leon disse pela terceira vez desde que saímos de casa e eu apenas sorri educadamente antes de olhar para baixo no meu colo e brincar com uma pequena conta que estava costurada no vestido. Ficava estranho não estar de moletom e calças… eu me sentia completamente exposta. Pelo menos esse vestido tem manga comprida, então esconde tudo. — Meu filho Noah tem a sua idade também, Max, acho que vocês vão se dar muito bem. — Meus olhos se encontraram com os olhos da minha mãe. Agora tem um filho envolvido e eu tenho que conhecê-lo? — Depois que perdi minha esposa anterior e meu filho mais velho… foi difícil para nós, mas agora… agora as coisas finalmente estão melhorando. — Ele completou, me fazendo engolir em seco enquanto soltava um suspiro trêmulo. — Desculpe… deve ter sido difícil. — Meu coração doeu por ele e de repente vi os olhos da minha mãe marejados, o que me surpreendeu. Ela nunca chorava na frente das pessoas. Honestamente, só vi isso acontecer algumas vezes. — Foi há dez anos, mas acho que isso não desaparece...posso dizer honestamente que fica melhor, Max. — Suas palavras eram pensativas e cheias de bondade, mas eu só me sentia amarga... Sim, fica melhor quando você não se sente tão malditamente culpado… Sinto culpa todos os dias da minha vida por fazer meu pai me buscar aquela noite. Sinto que ele ainda estaria aqui se não fosse por mim. — Max, você está prestando atenção? — Minha mãe perguntou com irritação na voz, me fazendo limpar a garganta e levantar a cabeça para encontrar o olhar acusador dela. — Desculpa, o que foi? —  Nunca estive tão dispersa antes… posso ver que isso também está irritando minha mãe. — Eu disse que você vai adorar a escola lá… eles têm um ótimo programa de arte e a escola secundária é uma das melhores do país. — Ela tentou agir toda feliz e passiva, como se o que acabara de dizer fosse informações que eu devesse saber. Deixei o garfo cair no meio da mordida, causando um barulho alto que ecoou pelo ambiente e fez algumas pessoas olharem para a nossa mesa. Eu ouvi mesmo isso? Ela estava falando sobre Nova York… não é? — Em...em Nova York? — Gaguejei, fazendo minha mãe balançar a cabeça afirmativamente enquanto a raiva começava a borbulhar dentro de mim.  Nunca fico com raiva… sempre sou compreensiva e passiva. Não ofereci nenhuma resistência até agora porque sentia que tudo isso era culpa minha… que eu merecia ser separada dos meus amigos e da minha família, mas agora… agora tenho que me mudar novamente e não apenas isso, mas possivelmente morar com esse cara estranho e seu filho?! — Quando vamos nos mudar? — Perguntei entre dentes cerrados, meus punhos se apertando embaixo da mesa enquanto eu tentava com todas as minhas forças não explodir. Estava à beira de perder o controle. Aguentei até agora… mas isso talvez seja demais para mim. Minha mãe olhou para Leon, a culpa estampada em seu rosto como se de repente tivesse percebido o impacto que tudo isso estava tendo em mim ou algo assim. — Daqui a uma semana. — Ela disse baixinho, me fazendo levantar abruptamente e quase derrubar a cadeira atrás de mim. — Com licença, eu só preciso de um pouco de ar fresco. — Anunciei em voz monótona, segurando essas emoções e me esforçando para não chorar. Não só estamos nos mudando novamente, mas desta vez parece muito mais diferente. Sempre senti que, quando nos mudávamos, minha mãe e eu não pertencíamos a lugar algum, e é por isso que ela nos mudava novamente, porque nunca encontrávamos nosso lugar… mas agora… agora minha mãe vai encontrar o dela, e eu simplesmente não vou pertencer novamente. Caminhei pelo restaurante, tentando segurar tudo enquanto ia em direção à porta, sem olhar nos olhos de ninguém.  Assim que atravessei aquelas portas, eu corri… corri tão rápido que nem sabia para onde estava indo, mas continuei correndo pela calçada até chegar a um canteiro de obras onde parecia que estavam construindo apartamentos. Não sei o que eu estava pensando… não tinha meu celular, nem nada, mas apenas passei além da fita de isolamento e me esgueirei pela cerca de arame, e em seguida caminhei em direção a aquele prédio vazio.  Eu queria ficar sozinha… eu queria fugir e nunca mais voltar. Naquele momento, desejei com todo o meu coração poder ser outra pessoa. Eu entrei sorrateiramente no prédio, tudo o que o preenchia era a madeira crua que fazia essas paredes e eu me encolhi, abraçando meus joelhos no peito. Eu me sentia perdida... as memórias do que aconteceu naquela noite rodopiavam ao meu redor enquanto eu suplicava… implorava ao universo que tudo isso fosse apenas um pesadelo. Que eu acordasse e estivesse de volta ao meu quarto com o cheiro da comida do meu pai se espalhando pela casa e o som da risada da minha mãe preenchendo o ar.  Se eu fechar os olhos com força o suficiente… juro que consigo ver… consigo ver aquela vida antiga. O som de passos começou a se aproximar de mim, fazendo minha cabeça se virar bruscamente. — Max, eu sei que é muita coisa para assimilar. — A voz profunda de Leon ecoou pela sala vazia, me fazendo dar um pulo enquanto meus olhos se fixavam nele, parado a alguns metros de distância. — Como você me encontrou? — Eu perguntei, me perguntando onde minha mãe estava enquanto olhava ao redor do prédio vazio em busca dela. — Sorte no palpite. — Ele deu de ombros, me fazendo olhar para baixo para meus pés enquanto a culpa me inundava. — Desculpe por estragar o jantar de vocês. —  Eu me desculpei, esperando que ele não estivesse muito bravo. Eu não quero que isso afete minha mãe e ele. Espero que ela não esteja muito decepcionada comigo. — Max, você não estragou nada, eu prometo. — Leon disse suavemente antes de se agachar na minha frente e afastar o cabelo dos meus olhos, fazendo com que eu olhasse para ele com surpresa. — Sem falar m*l da sua mãe, mas ela deveria ter te contado sobre nós desde o começo, não foi certo mantê-la no escuro. — Leon declarou firmemente, sua presença tão forte e poderosa, eu realmente nunca tinha conhecido alguém como ele pessoalmente antes. Consigo entender por que minha mãe se apaixonou por ele tão rápido. — Está tudo bem, eu meio que estou acostumada com essa coisa de mudança… é só o resto… Estou feliz por ela… por vocês dois… mas… eu não sei. —  Eu parei de falar, me sentindo envergonhada de falar sobre essas coisas com esse cara. Ele é praticamente um estranho, então por que eu estava contando todas essas coisas para ele? — Você só sente falta do seu pai… e se sente estranha em ver sua mãe com outra pessoa. —  Leon concluiu por mim, fazendo meus olhos se levantarem e encontrarem os dele, azuis-cinzentos. — Como você sabia disso? — Eu murmurei, me perguntando se eu era realmente tão fácil de ser lido. — Lembre-se, eu tenho um filho que também perdeu um dos pais. Ele também teve dificuldades no começo quando comecei a namorar novamente. — Ele explicou, fazendo com que eu assentisse com a cabeça enquanto soltava o fôlego que estava segurando. — Max, eu não estou tentando substituir ninguém. Nem sua mãe, nem você… eu me apaixonei pela sua mãe desde o momento em que a conheci… e foi diferente do que quando conheci minha esposa anterior também. Não que eu ame uma mais do que outra, mas sua mãe desperta um outro lado em mim que eu não sabia que existia. Eu também quero ter um relacionamento com você, Max… não vou tentar substituir seu pai, mas quero estar lá para ajudar quando você precisar… comecemos como amigos. —  Ele ofereceu, estendendo a mão para mim enquanto seus olhos suavizaram com bondade. — Amigos? — Eu solucei, enxugando minhas bochechas com a manga do vestido enquanto Leon assentia e sorria para mim, sua mão ainda estendida enquanto ele mantinha seu olhar em mim. — Amigos, Max, vamos começar por aí. — Ele confirmou e eu assenti timidamente, estendendo minha mão devagar enquanto a colocava sobre a mão de Leon e sentia seus dedos me segurando com firmeza. — Prometo cuidar de você, Max, protegê-la e cuidar de você. — Ele declarou, fazendo com que eu piscasse os olhos surpreso… ele parecia tão sério quanto a isso. — E prometo te dar uma chance… pelo menos tentar… — Eu murmurei a última parte, apertando a mão dele enquanto Leon ria e sorria amplamente agora. — Bom, tentar é tudo o que importa… tenho a sensação de que seremos ótimos amigos, Maxine... Acho que é isso… mais uma mudança sob minha responsabilidade antes de completar dezoito anos e voltar para Washington. Pelo menos agora sei que minha mãe não ficará sozinha… agora só tenho que sobreviver ao ano escolar… isso deve ser fichinha… certo?
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