Capítulo 2 - Não tão r**m

1692 Words
(Max Pov) O som do alarme ensurdecedor ecoou em meus ouvidos, me acordando de sopetão. Os sonhos que eu tanto valorizo foram instantaneamente arrancados de mim quando a realidade me deu um tapa na cara. Eu o vi novamente na noite passada... ele me disse aquelas coisas que eu adorava ouvir, aquelas coisas que eram só para mim e pelas quais eu ansiava do fundo da minha alma. A dor de perceber que tudo não passava de um sonho começou a se estabelecer. Já se passaram dois anos... dois anos desde aquela noite horrível em que perdi meu pai e tudo mudou. Virei meu corpo, estendendo o braço sobre minha cabeça e tateando pelo telefone. Desliguei rapidamente o alarme e notei que tinha duas notificações. Da mãe: Chegarei tarde em casa hoje, pode pedir algo para o jantar. Te amo. De Nicole: Você já conversou com sua mãe sobre voltar para casa depois de se formar? Desliguei o telefone, colocando o braço sobre os olhos enquanto soltava um suspiro tremido. Minha mãe tem saído até tarde toda a semana. Isso é novo para ela... mesmo que não sejamos tão próximos como antes de tudo isso acontecer... principalmente por minha culpa... ela nunca esteve tão distante... bem, pelo menos não desde a morte do papai... aqueles primeiros meses foram brutais. Eu não sabia se ela ia conseguir, para ser honesto, não sabia se nós dois conseguiríamos. Essa é a quarta vez que nos mudamos em dois anos... primeiro foi o Oregon, depois Montana, depois Arizona e agora Colorado. Sim, tem sido horrível... meu pai morreu e minha mãe mergulhou em uma profunda depressão e decidiu que precisava de uma mudança. Então ela arrancou nossas vidas e me tirou da única base sólida que eu tinha. Meus amigos e família... as pessoas que me mantém em pé, até hoje. Cada escola é diferente, mas sempre acaba do mesmo jeito. Eu me mantenho sozinho, não socializo muito e sou rotulado como a estranha que usa apenas moletons e camisas de mangas compridas. Isso é mais para mim do que para eles, na verdade... eu não quero me olhar. Não quero ver as lembranças do dia em que meu mundo acabou e como eu apenas existo... isso não é viver... é sobreviver. Saí da cama, evitando o espelho enquanto vestia meu moletom preto e caminhava pelo corredor. Minha mãe e eu moramos em um apartamento de dois quartos no centro da cidade. Sinto tanta falta da floresta... apenas do ar fresco e das árvores verdes... aqui no Colorado não temos muita disso... é mais terra de pradaria do que montanhas. Sim, existem árvores, mas fica a duas horas de carro e eu não gosto de dirigir... nunca aprendi.  Vou a pé para a escola todos os dias, já que fica a apenas quinze minutos de distância. Tenho dezessete anos, quase dezoito em alguns meses, e agora sou veterano, essa é a minha segunda semana de aula. Até agora tem sido ok, faço o que devo e tenho boas notas... evito problemas e fico sozinho. Os professores parecem gostar de mim, mas os alunos, nem tanto. Talvez eles não digam isso na minha cara, mas ouço os sussurros e vejo os olhares julgadores. Isso não me incomoda, no entanto... só mais um ano e então serei livre para escolher. Livre para ir para onde eu quiser e onde eu quero ir é de volta para Washington... quero voltar para casa.  Quero ver meus amigos e família, mas mais importante, quero estar perto do papai. Decidimos espalhar suas cinzas na floresta onde costumávamos acampar. Sinto tanta falta dele... não parece certo estar tão longe... não suporto isso. Entrei em nossa pequena cozinha e peguei um iogurte na geladeira... na maioria das manhãs, não estou com tanta fome, especialmente se tive um pesadelo na noite anterior. Aqueles em que revivo aquela noite uma e outra vez... juro que acordo e minhas cicatrizes estão latejando de dor, como se meu corpo inteiro também estivesse revivendo aquele momento. Comi rapidamente antes de ir para o banheiro e entrar no chuveiro. Fechei os olhos, esfregando meu corpo rapidamente enquanto tentava não olhar para baixo. Lavei meus longos cabelos ondulados e os enxaguei tão rápido antes de sair e enrolar uma toalha ao redor do meu corpo. Recusei olhar no espelho... eu raramente o fazia... não conseguia me obrigar a fazê-lo hoje de manhã. Alguns dias são mais difíceis do que outros... este é um daqueles dias. Escovei meu cabelo e fui para o meu quarto. Rapidamente vesti um top de academia e calcinha preta antes de enfiar uma legging preta, uma camiseta larga de mangas compridas e um moletom combinando por cima. Meu corpo definitivamente se desenvolveu com minhas curvas, mesmo com a minha altura de apenas 1,60m, mas eu simplesmente não queria mostrar isso. Por isso uso roupas dois tamanhos maiores. Calcei meus tênis e coloquei minha mochila no ombro antes de sair pela porta da frente e trancá-la. Faltava uma hora para a escola começar e eu costumava aproveitar meu tempo na caminhada matinal e ouvir música. Coloquei meus fones de ouvido antes de ligar a Playlist favorita do meu pai. A primeira música que tocou era dos Ramones, e eu aumentei o volume o máximo que pude, tentando abafar o mundo ao meu redor. Eu sempre fazia essas pequenas coisas para estar mais próxima dele, para segurar essas memórias que quero guardar pelo resto da minha vida. Virei à esquerda rapidamente na calçada e levantei o capuz, me escondendo dos estranhos que passavam. Não queria chamar a atenção... nunca quis... talvez a antiga Max costumasse querer ser popular e ter muitos amigos, mas essa Max só quer passar pelo ano escolar e tentar encontrar uma maneira de ficar bem. Vou me contentar com isso, não preciso ser feliz, só não quero ser isso... seja lá o que for "isso". De repente, um dos meus fones de ouvido foi arrancado, me fazendo virar a cabeça e me deparar com olhos castanhos quentes, o que me fez piscar de confusão. "Ei, você é o Max, certo?" Um garoto que eu não reconheci pergunto, ele tinha cabelos castanhos claros e desgrenhados com mechas azuis e pele bronzeada. Seu lábio estava perfurado e ele usava uma camiseta do Grateful Dead. Ele parecia muito legal.. definitivamente muito legal para mim. — Uhh, sim, sou eu —  Respondi, nervosamente.. Eu realmente não converso muito com as pessoas, então me sinto socialmente estranho agora. — Achei que sim, meu nome é Mitchell. Nós moramos nos mesmos apartamentos... Também temos algumas aulas juntos. — Ele informou e eu apenas balancei minha cabeça antes de olhar para a frente, sem saber como responder. De repente, ele se aproximou, pegou o fone de ouvido que ele havia arrancado antes e olhou para mim com um sorriso desigual. — O que você está ouvindo? — Ele perguntou enquanto colocava no ouvido e a música 21 Guns do Green Day começou, fazendo seus olhos castanhos se arregalarem. Uau… Ele ficava fofo quando fazia isso. — Legal, eu sabia que você tinha bom gosto em música.. eu pude perceber. — Seu sorriso se alargou, me fazendo retribuir com um sorriso enquanto olhava para a calçada e tentava não corar. Nunca fui realmente abordado por um cara antes… não assim. Ele parecia tão legal e extrovertido. Caminhamos o restante do caminho até a escola ouvindo minha música. Ele falava muito e eu apenas assentia e respondia vagamente, mas ele parecia não se importar. — Devíamos almoçar juntos, eu e meus amigos comemos do lado de fora, perto da árvore grande. Vou guardar um lugar para você. — O garoto disse, enquanto atravessamos as grandes portas de vidro. Notei um grupo de pessoas acenando para ele. Sim, eu conhecia essas crianças… eram as populares. Aquelas que eu achava que olhavam mais. — Eu… eu não almoço. — Gaguejei, me sentindo ansioso desde já. Não era exatamente uma mentira, eu simplesmente nunca me sentia com fome na maioria dos dias. — Ah, bem, você pode apenas ficar conosco se quiser. — Ele ofereceu e eu não pude evitar morder meu lábio ansiosamente… eu tentei evitar isso… porque eu sei como acaba. Já vi isso tantas vezes. Talvez se eu apenas não falar sobre isso ou agir como se minha vida fosse perfeita e meus pais tivessem acabado de se divorciar. Isso é normal, certo? Não… eu não podia fazer isso… Eu nunca fui boa em mentir, me corroía por dentro sempre que eu mentia. — Olha, é que eu… eu realmente não saio com as pessoas… em geral. — Eu soltei, me fazendo querer tampar o rosto ao ver Mitchell tentando esconder sua diversão. — Bem, se você decidir que quer tentar… sair com pessoas, quero dizer… você é mais do que bem-vinda para ficar conosco. — Suas palavras eram genuínas e eu não pude deixar de desviar o olhar timidamente..o que havia de errado comigo? — Obrigada! — Murmurei antes de me virar e correr para o meu armário enquanto enfiava minha mochila lá dentro. — Mitchell, vamos cara, você vem? — Ouvi um cara gritar, e para minha surpresa, Mitchell ainda estava parado onde o deixei, apenas me olhando. Ele me deu outro sorriso desigual antes de acenar para mim e começar a andar para trás, me mantendo à vista. — Yeah, já vou cara. — Ele gritou, seus olhos castanhos fixos nos meus enquanto meu coração começava a acelerar. Aquele olhar que ele me deu, eu nunca tinha visto antes… o que tinha de errado com esse cara? Juro que ele ficou me encarando até que seus amigos o puxaram e deram tapinhas nas costas dele, o zoando por seu comportamento incomum. Bem, isso parecia incomum para mim pelo menos… mas talvez seja assim que Mitchell é. Um pequeno sorriso surgiu em mim, algo que parecia tão estranho enquanto eu tentava me recompor. Nem me lembro quando foi a última vez que me senti assim… como se me sentisse eu mesmo…  Bem, talvez o Colorado não seja tão r**m, afinal… a quarta vez tem que ser, certo? Vamos torcer para que sim..
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD