O meu desabafo

1049 Words
— Sei que você está bem acostumado a brincar com o coração de várias mulheres, mas não posso permitir que brinque com o da minha filha. Se não está fazendo isso de coração, deve haver uma razão. Se não tem uma boa razão para essa proposta, eu passo. Minha filha não precisa alguém ao seu lado apenas por piedade. Darei um jeito sozinha de resolver isso. Consegui lidar com coisas mais difíceis, vou saber resolver o problema de umas fotos. Esqueça. — Não posso deixar que minha filha entre na brincadeira dele, para aliviar o tédio. Prefiro proteger ela de uma decepção futura. — Do que você está falando? Uma razão? A Mel é fofa. E meio que não quero ser pai ou ter um compromisso sério com mulher alguma, mas gosto muito de crianças. A ideia de ter uma afilhada é boa. Parece bem divertido. Posso mimar ela, sair para passear e quando cansar eu te devolvo sem preocupação. E para ser sincero, gosto de como você está preparada para encarar o mundo por sua filha. Achei estranho quando a minha avó disse que tinha acolhido você. Ela não é de se envolver em nada problemático, mas agora depois de conversar um pouco, entendo perfeitamente a razão disso. No fim, quero ajudar você e a Mel também. Talvez eu veja um pouco de mim nas suas palavras. Assim como você, eu não tive dias fáceis por conta dos meus pais. Me deixe estender a mão. — Heitor me olhava sério, não estava brincando, mas como não desconfiar dessa conversa aleatória do nada. — Como assim? Não me diga que você tem um filho perdido por aí ou é casado? E mesmo assim ignora sem pensar o casamento e o filho? Não seria uma surpresa, tenho que admitir. — Gargalhei com a ideia. De alguma forma, Heitor me lembrava do pai da Mel, mas ao mesmo tempo, era notável a diferença. Diferente do homem que esteve no meu passado, Heitor era incrivelmente sincero, admitia que não prestava e seus planos para o futuro. — Não, sua boba. Te disse que não quero ter filhos. Eles exigem muita responsabilidade. Eu passo. Você melhor do que eu sabe disso e do tanto que está esgotada desde de que Mel nasceu. Isso está visível para todos no seu olhar de quem não dorme direito tem dias. Para deixar as coisas ainda pior, foi expulsa de casa, abandonada e teve que vender tudo que tinha, além disso, ainda está se jogando no Onlyfans, nenhum momento falou disso com tristeza ou arrependimento. Acho até que está entusiasmada com o fato de ser mãe e de cuidar da princesa. Isso é uma doação que não me vejo fazendo de forma alguma por nada nesse mundo. Sou egoísta demais para isso. E sobre me ver nas suas palavras, eu quando tinha 16 anos ganhei uma bolsa para estudar fora. Fui jogado em uma casa de um desconhecido, longe de todos que eu conhecia e sem falar sequer a língua direito. Então, de alguma forma, eu sei como é se sentir sozinho e responsável por você mesmo, sem ter alguém para estender a mão quando precisamos. É um sentimento de liberdade esmagadora, que assusta muito. — Heitor era mais que um rostinho bonito, produção. Isso foi uma surpresa. — Eu sempre me mudei muito, não tive amigos. Meus pais não costumavam passar muito tempo em lugar algum. Morei em vários países diferentes. Acho que, no fundo, eu já estava acostumada em ser sozinha. Nunca tive a presença dos meus pais na minha vida. Os funcionários sempre foram bastante profissionais e não passavam dos limites das suas funções. Tudo era bastante frio e distante. Desde a casa quanto as pessoas que estavam ao meu redor enquanto eu crescia. No fim, acho que Mel foi a primeira pessoa que tive um vínculo real. Achei que tinha com minha mãe adotiva, mas quando me virou as costas na primeira oportunidade, ficou bem claro que era uma ilusão. Mel é a primeira família real que eu tenho e eu quero valorizar como eu nunca fui. — Acho que essa foi a primeira vez que falei como me sentia em relação a tudo aquilo. A sensação era boa demais, coloca para fora aquelas palavras que tanto fiquei remoendo na minha mente. Meu coração tentou varrer para baixo do tapete a sensação de traição, abandono ou rejeição. Era demais lidar com aquilo, mas ao falar sobre isso com Heitor, senti como uma represa rompendo, as lágrimas desceram sem pedir licença pelo meu rosto. Eu tinha perdido o controle total dos meus sentimentos. As minhas emoções estacam tomando conta de mim por completo. O que não havia deixado acontecer desde que descobri a Mel. Fiz de tudo para controlar meu sentimento e emoções. — Vem cá. Não chora. Você não está mais sozinha. Eu e a vovó vamos te ajudar. Sei que houveram grandes decepções na sua vida, mas você está certa em se apegar e valorizar tanto sua filha. — Heitor me puxou para seus braços, eu soluçava sem conseguir deter meus sentimentos.— Limpe suas lágrimas e vamos focar no que merece nossa atenção. Que tal você ser fotografada por um fotógrafo de renome nacional? Sabe como é, né? Mulheres não choram, elas lucram. Vamos transformar cada lágrima derramada aqui em dólar. Chorar por quem não merece, definitivamente não vale a pena. Falo por experiência própria, as mulheres vivem chorando por mim e eu não mereço de jeito nenhum. — Você está certo. Eu tenho que me focar no que é verdadeiramente importante. Vou concordar com sua proposta. Espero que seja um bom padrinho para minha pequena e quero que nunca decepcione ela. Não quero colocar ninguém na vida da minha filha, para depois abandonar ela, entendeu? Espero que entenda o tamanho da responsabilidade. Eu não me importo em ser magoada, mas não deixarei minha filha passar por isso. Então... Agora eu que te pergunto, tem certeza que é isso que realmente quer? Não tem chance de mudar de opinião depois. É contrato vitalício— Fizeram da minha vida uma sequência de traumas sem fim, se eu puder proteger minha filha desse sentimento, eu farei o que for preciso, mas também não é justo afastar dela alguém que está disposta a amar.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD