A verdade

2858 Words
Sentir Noah soluçando em meus braços enquanto apertava minha blusa com força fazia meu coração se quebrar em pedacinhos. Era como quando ele era apenas um bebezinho, meu coração sofria por ver meu filhote sofrendo.  — Amor, escuta o papa, sim? - Digo tentando manter a calma e olho Louis que tinha os olhos marejados, todos tínhamos os mesmos sentimentos quando se tratava de ver Noah chorando. — O papa promete te contar toda a verdade, mas você não pode chorar, se tiver uma crise não poderá terminar de ouvir, hm? Papa ficará preocupado com você e não poderá contar mais nada.  Noah se afasta de mim e o ajudo a secar suas lágrimas, sorrio fraco beijando sua testa, pego sua chupet* que havia caído de seus lábios pelo choro e devolvo à sua boca.  — Você quer deitar na nossa cama? Ficar abraçado a mim e ao papai? - Pergunto carinhoso, sorrio sabendo que era a melhor coisa nesse momento, ele acena rapidamente com a cabeça, então me levanto pronto para ir, mas ele estica os braços me pedindo colo rio pela cena, beijo sua testa novamente e o pego nos braços. Louis rapidamente se estica na cama arrumando o suéter grande para tampar a calcinha que o menino usava, ele morria de vergonha de que eu o visse com elas. Noah sabia que eu quem comprava, as vezes trazia de presente alguns lançamentos que as marcas davam na empresa, eu acabava pegando algumas para Noah e Louis, sabia que os ômegas faziam a festa sozinhos no quarto separando as que eles queriam. Não me importava de saber qual sua preferência para roupas íntimas, entendia seus desejos, seus gostos e como nunca o julguei, não seria agora que faria tal coisa, apenas continuava o mimando dando o que ele queria.  Quando chego em meu quarto Noah se deita no meio da cama, me sento em uma ponta e Louis na outra, o menino como sempre vem me abraçar deitando o rosto em minha coxa enquanto Louis acaricia seus cabelos. Antigamente ele se deitaria em meu colo, mas a vergonha do meu pequeno ia aumentando conforme ele ia crescendo e agora ele preferia ficar apenas com a cabeça em minhas coxas. Era seu lado ômega se desenvolvendo afinal.  — Sabe princesa, eu nunca quis contar essa história nem para Louis pois é algo que dói em mim, sei que pode doer em você, então saiba que se eu não lhe contei antes, foi por querer protegê-la, tudo bem? - Digo calmo o olhando enquanto acariciava seus braços, ele concorda, Noah suspira e fecha os olhos.  — Quando era mais novo ainda na faculdade comecei a estagiar na empresa, passei por praticamente todos os setores, precisava saber como cada um funcionava já que seu avô deixaria para mim quando se aposentasse e eu teria que assumir tudo de uma só vez. Seu padrinho Liam estava estudando para poder assumir a mesma comigo, nossas faculdades eram juntas pois assumiríamos ao mesmo tempo, tínhamos feito tal acordo quando ainda tínhamos sua idade e assim se seguiu ao longo dos anos.  Suspiro fechando os olhos e encosto a cabeça na cabeceira da cama, sinto a mão de Noah em meu tronco segurando minha camisa mostrando que ainda me ouvia, apesar dele parecer que estava dormindo, sabia que estava bem atento, era sua forma de ouvir coisas importantes sem que chorasse ou tivesse reações que me fariam interromper a história.  — Sua mã-Kendall. - Me corrijo rapidamente. — ... Kendall era estagiária na empresa, estava tentando uma vaga de minha secretária, eu sempre desconfiei que ela desse em cima de mim pelas roupas que ia usando e pela forma que falava quando estávamos só nós dois, mas seu avô havia me feito prometer que não iria ter relacionamentos com nenhum funcionário da empresa, nem mesmo momentos de um dia ou uma noite. Era a regra mais importante de todas, eu queria mudar a política dali, queria por mais ômegas para trabalhar, dar mais oportunidades para eles já que a sociedade antigamente restringia tais coisas. Hoje em dia está um pouco melhor pela fama que a empresa tem, outras acabaram aderindo nossa forma de trabalhar, mas antigamente para um ômega trabalhar, as regras eram enormes dificultando a aceitação deles em quaisquer empregos. Seu avô havia aceitado minha proposta quando ainda assumia, então começamos a fazer as entrevistas e chamar cada vez mais ômegas que sabíamos ter um curriculum competente, dando os mais diversos cargos.  Abro os olhos o olhando, sorrio quando o vejo me olhar, Noah entendia isso e sempre que eu dizia que um novo ômega tinha sido empregado por nós, ele sorria orgulhoso de algo que no futuro seria dele e de seus irmãos se assim eles quisessem.  — Kendall tentava de tudo, mas quando eu faço uma promessa eu cumpro e na verdade eu também não estava interessado nela, ela não me chamava a atenção, sabe? Não sentia vontade de ter nada com ela. - Suspiro acariciando seus cabelos vendo Louis deitado atrás de Noah o abraçando e ouvindo a historia. Sentia o coração do ômega acelerado, sabia que ele estava sofrendo por ouvir tal história, ele me imaginava com a mãe de Noah e se entristecia por imaginar o que viria pela frente.  — Em uma noite ela apareceu lá em casa, eu morava em um apartamento, morava sozinho, ela deu a desculpa de que precisava me fazer assinar alguns papéis e sem que eu pudesse a impedir de entrar, ela entrou. Era uma armadilha, no fundo sabia disso, ela tirou o blazer longo que vestia e estava somente de lingerie, em questão de segundos ela havia entrado no cio. Kendall já sabia que o cio estava próximo, ela fez tudo isso para poder ter algo comigo, ela achava que se eu passasse o cio com ela, a marcaria e ela herdaria tudo que eu teria.  Balanço a cabeça vendo o menino derramar algumas lágrimas e as seco rapidamente. Porque era tão dolorido ver seu choro?  — Eu não tive como controlar o que aconteceu, apenas aconteceu, ela implorava por mim, se esfregava fazendo seu cheiro forte entrar e meu alfa se atiçar, mas como você deve perceber eu não a marquei como era seu desejo, na verdade eu nem senti tanto prazer, a única coisa que aconteceu naqueles cinco dias foi meu alfa interior sendo quem era para satisfazer uma ômega que implorava por ajuda. Kendall chegou a semana seguinte na empresa transtornada, quando ela acordou no último dia sem a febre do cio eu não estava lá, havia deixado o apartamento para ela acordar com calma, se arrumar e ir embora. Ela alegou em meio a gritos que eu não era um alfa de verdade, que eu a usará e manchará seu corpo, que ela como uma ômega indefesa não pôde se defender de um alfa forte como eu que abusará dela.  Rio respirando fundo, era um riso de nervoso, lembrar de tudo isso me deixava insano, mas precisava de controle.  — Ela gritou para toda a empresa que eu abusará dela e tirará sua inocência sem que me comprometesse depois. Ela não foi admitida, foi posta para fora da empresa quando eu comprovei com filmagens do prédio que ela que aparecerá em minha casa tarde da noite, coisa que nenhum funcionário é pago para fazer. Hoje eu sei que toda aquela situação foi humilhante para ela, mas na época, a única coisa que eu queria comprovar era de que eu não era nada daquilo que estava sendo chamado. Os ômegas começaram a ficar com medo do futuro chefe, medo de serem abusados também já que fôra  a nossa empresa que começará a dar muitas vagas na época raras para eles. Eram oportunidades que nenhum outro lugar dava e com o escândalo dela, eles passaram a desconfiar de nossas intenções. Isso prejudicaria não só a minha carreira, mas o futuro da Styles. Depois de todo escândalo sessado, ela assumiu que fez tudo porque queria todo o dinheiro que eu pudesse dar a ela se a marcasse, todas as joias e status. Ela somente tentará o cargo de secretária para se aproximar de mim na intenção de ter todo conforto que eu como futuro herdeiro e solteiro podia dar a ela se me apaixonasse.  Abro os olhos percebendo tê-los fechados sem intenção ao que sinto a mão pequena de Noah em meu rosto, seu rosto tinha lágrimas que eu as limpo. Como quando ele era somente meu bebezinho ele se senta em meu colo deixando a vergonha de lado, põem o rosto em meu peito, estica a mão puxando a mão de Louis para ficar no meio do abraço e fecha os olhos. Louis sorri se sentando melhor ao meu lado, passo meu braço livre pelas suas costas e ele divide o meu peito com Noah acariciando as costas do nosso menino.  — Quando eu assumi a empresa um mês e meio depois, ela apareceu na empresa, dizendo que tinha que me falar sobre os próximos passos dela, ela me mostrará o exame de sangue comprovando que estava grávida de você e disse que só estava me avisando porque queria dinheiro para abortá-lo em uma clínica em que ela não fosse correr riscos.  Olho para Noah segurando seu rosto fazendo ele me olhar. Era doloroso demais falar tais coisas olhando em seus olhos, Louis sentia minha dor e chorava em meus braços em silêncio, mas se eu não deixasse o mais explicado possível para meu menino, ele com sua mente inocente poderia entender errado.  — Você entende o que é isso amor? Ela queria que eu a levasse em um lugar onde mataria você enquanto ainda era uma pequena sementinha. Se eu fosse o monstro que ela gritará na empresa, você nunca estaria agora aqui em meus braços, jamais teria nascido! Eu não sou esse monstro amor, eu amo você minha princesa, amo tanto que lembrar desse dia dói em minha alma, eu sou a pessoa mais feliz do mundo porque tive você em meus braços desde seus primeiros minutos de vida, por sua causa que somos essa família linda, sem você eu nunca teria conhecido o que é o amor, sabia? Foi você quando ainda estava na barriga dela que me fez conhecer o amor, me apaixonei pela primeira vez, você deu rumo a minha vida princesa, sem você eu não seria metade do alfa que sou.  Digo entre lágrimas da mesma forma que ele e Louis estavam, Noah soluça me fazendo soltar seu rosto, ele esconde o mesmo em meu pescoço, o abraço mais forte deixando ele ter o tempo dele e beijo seus cabelos, viro meu rosto beijando a testa de Louis que me olha e sela nossos lábios acariciando meus cabelos, ele passa a ponta dos dedos em meu rosto secando as lágrimas e funga deitando a cabeça em meu ombro.  — Porque.. Porque Noah tá ati entom?  Ele pergunta depois de um tempo do jeitinho bebê dele, levanta o rosto me olhando com um bico lindo nos lábios mesmo com a chupet* no canto da boca, se não fosse pela situação teria o enchido de beijinhos e atacado sua barriga com cócegas, porém no lugar desse desejo de vê-lo gargalhando, o momento apenas me mandava secar seu rosto com minhas mãos e sorrir levemente pronto para responde-lo.  — Porque eu falei pra ela que não iria compactuar com isso, que eu não a deixaria tirar você e que também não iria me casar com ela à força, ela não pensou na hipótese de que eu teria um herdeiro e ela seria a mãe, ela simplesmente queria tirar você de dentro dela porque não queria um filho, nem mesmo se fosse enriquecer... Foi difícil fazê-la aceitar, ela não queria gerar você, não queria ficar com uma barriga grande e lidar com os sintomas de uma gravidez, mas consegui fazer um acordo dando milhões de dólares à ela, falei para jamais voltar depois que você nascesse. Ela viveu os nove meses da gravidez em meu apartamento com um segurança e uma empregada para fazer todas as vontades dela enquanto eu comprava a casa que morávamos antes. Eu reformei tudo e fiz um quartinho especial pra você desde que soube que seria um menininho.  Sorrio fraco vendo ele sorrir, ele sabia que tudo era azul e verde em seu quarto, Noah que mudou cada mínimo detalhe com cinco anos de idade, ele transformou o quarto todo em branco com rosa.  — Quando chegou a hora de você nascer, a levei a maternidade. Você nasceu chorando fraco e manhoso como sempre fez, mas quando o peguei no colo parou de chorar e abriu os olhinhos me olhando pela primeira vez, eu me apaixonei de novo ali, pela segunda vez e por você novamente. Quando já estávamos no quarto, perguntei se ela queria te pegar e te ver, mas ela negou, pediu para ficar sozinha no quarto, então pedi para fazerem outro só para você enquanto você não tinha alta. No dia seguinte do parto quando eu acordei com você chorando de fome, o enfermeiro me disse que o outro quarto estava vazio e ela havia ido embora, então nunca mais a vi. Ela sumiu com todo dinheiro que eu lhe dei, porque era somente aquilo que ela queria desde o inicio, dinheiro e uma vida boa.  Suspiro o olhando e ele baixa a cabeça.  — Mas... Então ela foi embora porque mandou papa. Disse que daria dinheiro, ela iria embora depois de Noah nascer e se ela quisesse ficar com o bebê e com o dinheiro? Ela foi embora sem me ver porque fez o acordo, deu a palavra dela. - Ele começa a dizer me fazendo franzir o cenho, será que ele não havia entendido?  — Noah meu amor, não... Eu perguntei se ela queria te segurar, ela se negou e mandou eu tirar você do quarto. Ela não queria nem te olhar. - Digo um pouco mais sério ou talvez desesperado, eu não sabia o que estava se passando em sua cabecinha, minhas palavras depois me soaram grosseiras demais para serem ditas à ele, mas meu alfa começava a se desesperar dentro de mim com medo da reação do menino.  — Porque ela não queria amar Noah sabendo que teria que ir embora. Ela é minha mamãe papa e ela disse que você tirou Noah dela. Mamães amam os filhinhos, ela ama Noah.  Ele diz chorando me fazendo engolir a seco e suspiro, eu sabia que ele podia não entender, como qualquer criança Noah era muito ingênuo, ele acreditava cem porcento no amor mesmo que seu coração estivesse quebrado justamente por conta desse sentimento. Ele era inocente demais.  — Noah quer ver ela papa, Noah quer conhecer a mamãe, quer saber como a mamãe é. Noah sempre sonhou com ela. Na escolinha os amiguinhos faziam desenhos para as mamães no dia delas e Noah era o único a ficar sozinho porque não tinha mamãe, mas agora Noah tem e Noah quer saber quem ela é.  Ele diz entre uma fungada e outra me olhando em desespero, olho para Louis sentindo meu peito se partir, eu não podia aceitar isso. Kendall não era a mãe dele, não mesmo, ela nunca seria.  — Meu amor, vamos dar um tempo para o seu papa pensar ok? Ele está muito triste também por tudo isso, nós entendemos o seu desejo, mas sua mãe voltar não é algo tão simples e nós precisamos pensar como uma família tudo bem? - Escuto Louis dizer com calma enquanto acariciava sua bochecha. Como meu ômega conseguia tirar calma em um momento como esses? Eu estava a ponto de surtar.  — Papai também é meu papai, mas Noah quer conhecer a mamãe, Matt tem três papais, Noah também pode ter uma mamãe e ter três. Noah quer conhecer a mamãe como ela quer conhecer Noah.  — Nós já entendemos seu desejo amor, mas vamos deixar seu papa entender tudo ainda, ok? Ele precisa pensar e nós como os adultos precisamos falar com Kendall primeiro, ok?  — Ok papai.  Escuto ele murmurar e voltar a se deitar em meu peito, coloca novamente a chupet* nos lábios, suspira e fecha os olhos. Meu coração parecia estar estraçalhado dentro do peito, o abraço sentindo as lágrimas grossas escorrerem enquanto tentando digerir tudo o que ele havia acabado de falar.  Como eu iria protegê-lo de mais uma decepção? Como faria para ser um bom pai nessas condições? Como lutaria contra um fantasma de boa mãe que ele tinha em sua imaginação fértil? Ele sofreria ainda mais quando percebesse que por trás dessa máscara que Kendall expunha para ele, só havia ganância e horror. Mais uma vez eu seria um péssimo pai, mas infelizmente, era o direito dele de saber quem era seus laços sanguíneos, a única coisa que eu podia fazer era estar pronto para segurá-lo se o pior acontecesse e no fundo do meu coração eu sentia que isso iria acontecer, cedo ou tarde.  Por fim, essa noite havia sido Louis e Noah em meus braços, como era anos atras. Somente nós três, o inicio de nossa família.     
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