Charlesi teve outra noite m*l dormida. E depois de algumas cochiladas que o faziam sonhar com incendios, resolveu não dormir. De manhã, seu carro não pegou. Achou melhor não dirigir, parecia que uma maré de azar estava o perseguindo, pegou um taxi e foi pra empresa.Ele sabia que Piti ia o dispensar, mas não sabia porque estava tão chateado com aquilo. Ele queria sumir, ou pular aquela parte do dia só pra não escutar aquelas palavras.
Ele saiu do taxi, e ia entrando na empresa quando reparou em uma criança na calçada. A mãe segurava sua mão enquanto falava no telefone. Ele ia desviar o olhar quando a criança escapou, correndo pra rua. Charles nem viu o momento em que correu atrás, se jogando em cima da criança quando um carro vinha na mesma direção. Ele ouviu gritos, a criança começou a chorar,uma comoção começou a acontecer. O motorista saiu do carro desesperado, a mãe veio pegar a criança que saiu ilesa e o agradecia sem parar, ele não ouvia nada, parecia que tinha só zumbido em seus ouvidos. Mas sentiu quando mãos pequenas o levantaram e o tiraram dali, caminhando com ele pra dentro da empresa, segurando seu corpo.
- Você ta bem? Quer ir pra um hospital? - perguntou dentro do elevador. Charles negou, e Piti o levou para seu escritório, o protegendo dos olhares curiosos, fechando as janelas de vidro e o sentando no sofá - Vou pegar o kit de primeiros socorros.
Ele o ajudou a tirar o paletó e abriu sua camisa. O ombro estava arranhado, parte do seu antebraço estava vermelho e a testa tinha um pequeno corte, mas era só isso. Piti começou a limpar tudo, vendo a cicatriz de queimadura do ombro, que ia ate abaixo do cotovelo -Vai ficar dolorido uns dias.
-Eu sei - Charles respondeu deixando Piti recolocar a manga da camisa que tinha sido abaixada.
Depois ele começou a limpar sua testa devagar - Depois você diz que não é um super herói.
O chefe levantou os olhos - Você se lembra disso?
- Infelizmente eu me lembro de tudo que falo quando to dopado - ele fez uma careta.
- Meu Deus - Goyle disse escancarando a porta de Charles - Você vai sair na internet de novo! - chegou mais perto - Machucou muito?
- Só um arranhão na testa...
- E no ombro, mas já cuidei disso - Piti disse, colocando um pequeno curativo no corte da testa - Vou pegar uma bebida pra você. - disse apertando a mão de Charles.
- Pelo menos você tem um enfermeiro gato dessa vez. Ele viu seu ombro? - Charles assentiu - Você deixou? - assentiu de novo - caramba você gosta mesmo dele...
- Goyle... - Charles grunhiu.
- Certo certo, só passei pra ver como você ta e também pra saber como você quer lidar com isso.
- Tira tudo do ar.
- Achei mesmo que ia querer isso. Já estamos trabalhando nisso. Vou voltar, te ligo mais tarde. Piti! - chamou dando um aceno e Piti retribuiu, voltando com um suco para Charles e um analgésico.
- Quer ir pra casa? - Ele negou, tomando o remédio e um gole do suco, encostando mais o sofá e fechando os olhos.
- Quero que me diga sua decisão.
- Charles...
- Por favor... - ele pediu baixinho.
Charles suspirou - Eu gosto do Goyle, e acho que se terminarmos agora ele vai ficar muito decepcionado, e triste, e não vai acreditar em você, então, acho que pra ficar mais verídico, pra ele, tem que demorar um pouco mais.
Charles abriu os olhos - Por causa do Goyle?
- Sim, por causa do Goyle. - concordou.
O chefe fechou os olhos de novo, levando o suco para a boca, tentando disfarçar o sorriso com o copo.
Mas falhou, porque Piti viu, se levantou, virou de costas, e também sorriu.
~
A rotinha tinha se instalado de forma natural, tão natural que os pés de Piti iam voluntariamente todo dia após o expediente ate o estacionamento, conversando com Charles sobre as coisas do escritorio ate ele parar em seu prédio e se despedirem. E então no outro dia de manhã la estava o CEO o esperando. Os dias foram se passando, semanas, agora já tinham quase quatro meses da "farsa" e Piti estava cada vez mais a vontade com Charles, mas, por mais que parecesse que o conhecia, ainda o sentia misterioso demais.
- Ta nervoso? - Goyle disse naquela tarde, o olhando debochado.
Charles riu e Piti observou os dois, sentado no sofá - Não vou ganhar.
Goyle bufou - Claro que vai, você ganhou dois anos consecutivos, e fez um trabalho melhor esse ano, claro que vai ganhar.
- Não vou ganhar - Charles repetiu, rolando os olhos.
- Piti? - Goyle chamou.
- Você vai ganhar Charles - o assistente disse do sofá. Goyle olhou o amigo como se disse "viu?". Ele bufou de novo.
- Você ta tão certo de que não vai ganhar, quer fazer uma aposta então?
- Odeio suas apostas - Ele murmurou.
- Se não vai ganhar não tem porque ter medo.
Charles passou a lingua na bochecha e escorou na cadeira - Ok, mande.
Piti riu, pegando um copo de água pra beber.
- Certo - Goyle começou - Se você ganhar, quando anunciarem seu nome,
você vai beijar o Piti, na frente de todo mundo.
Piti engasgou com a água, tossindo e Charles arregalou os olhos - Você sabe que não gosto de fazer essas coisas em publico...
- Sei - Goyle riu - Mas você não vai ganhar, não é mesmo?
Piti olhou para Charles do sofá onde estava sentado. Desde que tiveram aquele selinho intencional quase dois meses atras não tiveram nenhum outro tipo de contato daquele. Somente mãos dadas em momentos em publico, alguns toques quando precisavam, mas fora isso ele estava sendo muito respeitador e Piti era grato, porque sua cabeça estava muito confusa.
Naquela noite eles participariam de uma premiação da área onde Charles trabalhava e o CEO estava concorrendo a um prêmio de importância no qual ele já tinha vencido duas vezes. Piti sabia que Charles venceria outra vez, e até queria, mas com aquela aposta...
E com Goyle e Tina estando lá... não teria como escaparem. Ele beijaria Charles aquela noite. E sua barriga gelava só de pensar.
Já em casa, naquela noite, vestido com o smoking alugado, arrumado e perfumado, suas mãos tremiam. Ele abria e fechava, pra tentar disfarçar o nervosismo, mas quando o celular apitou, com Charles avisando que já estava o esperando, o nervosismo só piorou.
Ele desceu as escadas apenas para encontrar o chefe fora do carro, com um terno preto, camisa branca aberta uns botões quase até a metade do peito,
o cabelo já não estava mais rosa há algum tempo e sim um loiro intenso, jogando pra trás, mostrando sua testa, ele sempre fora assim tão... bonito? Piti ate meio que tropicou e Charles o segurou - Você ta bem?
- T-to... t-to...
- Você ta lindo - Charles disse sorrindo.
- Você é lindo - Piti respondeu - Ta, você tá lindo também - corrigiu, fazendo Charles sorrir outra vez.
- Vamos? - perguntou abrindo a porta do carro e Piti entrou, sentindo suas bochechas quentes.
Na porta do lugar vários fotógrafos os esperavam, Piti já tinha sido alertado quanto aquilo.
Sairam de mão dadas, posaram para algumas fotos juntos e em algum momento ele sentiu o halito quente de Charles em seu ouvido - Finalmente vai ter uma foto nossa pra colocar de papel de parede do celular.
Piti o olhou - Você se lembra disso?
- Você se lembra disso - Charles riu ainda sentindo os fleches em si.
- Eu disse que me lembro de tudo que digo dopado.
- Talvez você devesse ficar só um pouquinho dopado de novo, queria fazer umas perguntas mais pessoais... não aproveitei aquela vez... - Charles disse de forma mais intensa e Piti sentiu seu corpo esquentar, nem parecia que estavam rodeados de gente.
- Você pode me perguntar o que quiser, não preciso ta dopado pra te dar respostas sinceras - ele respondeu no mesmo tom.
- Que tal mais tarde? - outra vez em seu ouvido e ele assentiu.
Entraram no evento, Piti sentia seu estomago gelar e gelar. Goyle e Tina riam, o tempo foi passando, a categoria de Charles chegou e... claro, ele ganhou.
A luz brilhou nos dois, e Piti sorriu para Charles, dizendo um parabens sincero a ele que sorriu de volta, então o chefe se aproximou e colou os lábios aos dele, um selar profundo, intenso, que foi invadido com pessoas gritando e aplaudindo, e acabou rapido demais, deixando Piti sem folego mesmo assim.
Charles se levantou, subiu no palco, recebeu o prêmio e então foi ao microfone - Uau, terceira vez, e eu achando que o raio não caia uma segunda vez no mesmo lugar imagina uma terceira... - respirou fundo - eu só... me empenho muito para trabalhar pela minha empresa, pelo bem dos meus funcionários,pelos colaboradores, pelas famílias e instituições que dependem de nós... e eu - ele olhou pra frente - Jon? Você ta aqui? - um gritos saiu de trás do lugar e Piti olhou pro lugar.
Goyle se aproximou - Jon? É nosso amigo da faculdade...
Piti olhou confuso, quem?Ele nem ouviu se Charles terminou o discurso, porque Goyle saiu do lugar trazendo o tal Jon para a mesa, que já engatou uma conversa com ele e Tina, até foi apresentado a Piti mas não conseguiu acompanhar. Quando Charles chegou eles se abraçaram e não se soltaram.Mas o que mais incomodou Piti foi no final do evento. Charles se virou a ele com um sorriso enorme no rosto, sorriso que ele retribuiu - Piti, chamei um motorista pra te levar pra casa.
O sorriso morreu - Motorista?
- É, Jon só vai ficar aqui uns dias, vou passar o final de semana com ele, você não se importa não é?
Piti engoliu em seco - N-não, claro que não, aproveite ele e... parabens pelo premio.
Charles sorriu outra vez - Obrigado, e obrigado por vir hoje. De verdade. O motorista já ta te esperando lá fora. A gente se ve segunda - E saiu.
E Piti ficou ali, vendo as costas de Charles indo embora, sem entender o que estava acontecendo com seu coração, que batia de forma dolorida no peito. Queria sair correndo, ir embora sozinho, sem motorista nenhum, se enfiar em seu apartamento e não ver Charles nunca mais.
Não sabia o que estava acontecendo, mas não ia dar o braço a torcer. Na segunda feira ele iria agir como se nada tivesse acontecido, afinal, era só um namoro de mentira não era?
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