A noiva

1501 Words
Caterina Gallo Foi uma noite difícil. Eu levantei cedo para preparar o café da manhã de Giana e levá-la à escola. Enzo havia dispensado a empregada e deixou explícito que seria tarefa minha fazer isso todos os dias porque eu havia me tornado um estorvo para ele e por isso deveria pagar pela minha estadia. Ele havia tentado outro tipo de pagamento. Certa vez eu estava tomando banho e ele tentou entrar no meu banheiro. Graças a Deus a porta estava trancada. Eu contei a mamãe sobre isso e foi quando as brigas pioraram. Ele nunca mais tentou nada do tipo, mas eu sentia um nojo profundo dele. Enzo não voltou para casa desde ontem. O que me deixou aliviada porque finalmente minha mãe pôde se recuperar dos ferimentos que ele deixou nela. Por quanto tempo mais minha mãe iria aguentar ser maltratada desse jeito eu não sabia. Ela já estava desnutrida, pálida e completamente desleixada. Isso me deixava muito preocupada porque antes do papai morrer, antes do nascimento de Giana e todas as brigas começarem as coisas eram diferentes. Mamãe era uma pessoa muito alegre, e sempre era elogiada por sua beleza e sorrisos cativantes que sempre preenchiam o lugar, Então para mim era difícil acreditar que ela havia se tornado uma pessoa tão apagada. Acreditar que todo o seu brilho havia sido jogado fora nesse casamento horrível com Enzo. — Já está pronto? —a voz doce da minha irmã me tirou de meus pensamentos. Eu me virei para ela com um sorriso nos lábios, mesmo que eu não estivesse feliz era importante que ela se sentisse amada. — Está quase pronto, Bolinho de canela. — eu respondi puxando a cadeira para que ela se sentasse, colocando um prato na frente dela para servir os ovos e as torradas que eu acabara de preparar — Você está animada para sua apresentação de dança na escola hoje? Ela fez uma pequena careta e começou a mexer no prato. — Do que adianta estar animada? — ela resmungou — Ninguém estará lá para me ver mesmo. Eu me aproximei dando um abraço nela e um beijo no topo de sua cabeça. — Isso não é verdade, Bolinho de canela. Eu estarei lá vendo você dançar como em todas as suas apresentações. — eu prometi. — A mamãe vai estar lá dessa vez? — Ela me perguntou me encarando com olhos gigantes. Eu não sabia responder essa pergunta. Eu não sabia nem se minha mãe sairia da cama hoje, como Enzo não voltou para casa ela provavelmente ficaria o dia inteiro na cama. Todo o abuso que ele cometia com ela, havia deixado ela em um estado depressivo profundo. Era difícil convencer ela a fazer qualquer coisa por mais simples que fosse. Era como se minha mãe já tivesse desistido de viver há muito tempo. — Termine seu café. Está quase na hora de sair. — eu respondi dando-lhe outro beijo no topo de sua cabeça e indo buscar minha xícara. Tomei um café rápido e organizei minha pequena mochila. Quando deixo Giana na escola também é o horário que vou para o trabalho. Eu trabalho meio expediente na padaria da senhora Marcella. Eu não ganho muito, mas é o suficiente para comprar itens de higiene básica para mim e às vezes alguns mimos para Giana. •°•°•°••°•°•° •°•°•°••°•°•° — Boa aula! Volto para te buscar às 16:00 horas, okay?— eu gritei para Giana quando ela começou a entrar na escola junto dos outros colegas e me virei para ir ao trabalho quando ela já havia entrado. Tinha um carro preto parado do outro lado da rua. Sempre que eu vinha trazer Giana esse carro estava lá e sempre que eu saia ele me acompanhava até um certo ponto. Não sei dizer o porquê ou a quem pertencia aquele veículo mas como a pessoa nunca me incomodou eu não vi necessidade em denunciar. Afinal de contas, o que eu falaria? Que o carro estava seguindo na porta da escola da minha irmã? E se o carro pertencesse a um pai de alguma criança? Eu ia acabar passando como louca e me meter em uma confusão ainda maior. Dobrei a esquina e cheguei no Café de Marcella, ela abria cedo, mas eu não precisava chegar no horário que ela abria. O café só ficava movimentado após o horário de entrada das escolas. —Bongiorno, Marcella! — eu cumprimentei assim que cheguei. (Bom dia, Marcella) — Bongiorno, Ragazza mia! — ela respondeu sorridente enquanto depositava um bandeja de cookies na bancada. (Bom dia, minha garota) O cheiro das gotas de chocolate recém derretidas permeia o ar em volta do balcão, enquanto eu dou a volta para guardar minhas coisas e colocar meu avental. Logo que nossos primeiros clientes começam a chegar, dois homens que aparentemente tem muito dinheiro são os primeiros a chegar. O primeiro homem aparenta ter cerca de 30 anos, não consigo tirar os olhos dele, sua presença imponente. Seus cabelos escuros, quase negros, estão meticulosamente penteados para trás, cada fio no lugar como se fosse um símbolo de sua disciplina e perfeccionismo. Seus olhos são de um castanho profundo, quase hipnotizantes, observando o ambiente ao redor com uma intensidade calculada. O terno preto que ele veste é de uma alfaiataria impecável, cortado sob medida para seu corpo alto e atlético, realçando cada linha e ângulo com uma precisão quase artística. Seus sapatos italianos, brilhantes como espelhos, completam o visual sexy e poderoso. As tatuagens no pescoço e provavelmente no corpo estão brilhantes e bonitas. Mesmo que tudo nele grite “perigoso” eu não consigo desviar meus olhos, nem parar de observar cada detalhe. Ele não desviou os olhos de mim, mesmo que o rapaz ao lado dele não pare de falar com ele. Ao seu lado, o outro rapaz, visivelmente mais jovem, talvez no início dos seus 20 anos, contrasta em idade, mas não em elegância. Seu terno cinza, igualmente caro e bem ajustado. Seus cabelos, também escuros, são levemente mais curtos, com uma rebeldia controlada nas pontas. Seus olhos, de um verde penetrante e muito bonito. Apesar da diferença de idade, os traços faciais semelhantes – a linha forte do maxilar, o nariz reto e a boca bem desenhada – deixam claro que compartilham um laço de sangue, talvez irmãos. Eles se movem em sincronia, como se um pudesse prever os passos do outro, enquanto se aproximam de mim. —Due caffè, signorina. — (dois cafés, senhorita.) O mais novo fala enquanto o mais velho continua me encarando com um olhar estranho na minha direção. Eu engulo seco antes de lhes oferecer um sorriso sem jeito. — $4,50, senhor. — é tudo que eu consigo dizer enquanto os olhos dele queimam a minha pele. O mais novo paga a conta de me deixa uma bela gorjeta de $45,50 quarenta e cinco euros e cinquenta centavos. Bem, é de longe a maior gorjeta que eu já ganhei trabalhando aqui. Então eu não reclamo, apenas preparo o café e sirvo à mesa em que os dois conversam. — Estou dizendo, Rocco, eu tenho certeza que ele vai arrumar um jeito de escapar. — o garoto mais novo fala com um olhar desgostoso. Eu coloco a xícara na mesa, uma de frente para cada um deles, mas eles não interrompem a conversa com a minha chegada. — Não se preocupe com ele, Vittorio. — Rocco responde, — Eu já disse que darei um jeito nisso. Você anda muito estressado. Quando foi a última vez que você transou? A voz de Rocco é grave e bonita, mas o teor da conversa faz minhas bochechas esquentarem. Eu sei que eu não deveria estar aqui ouvindo a conversa dos clientes. Mas foi inevitável. Vittorio riu e jogou a cabeça para trás. — Esqueça isso! Eu não estou falando da minha vida amorosa com você. Eu me afastei antes que pudesse ouvir mais. Eu tinha trabalho a fazer, mas ainda sentia os olhos de Rocco em mim. •°•°•°••°•°•°•°•°•°••°•°•°•°•°•°••°•°•°•°•°•°••°•°•° O dia na padaria passou rapidamente. Voltei para buscar Giana na escola, tentando ignorar a presença inquietante do carro preto novamente estacionado do outro lado da rua. Peguei minha irmã, e nós caminhamos de volta para casa. Ela estava animada, falando sem parar sobre a apresentação de dança. Quando chegamos, minha mãe estava sentada à mesa da cozinha, um envelope em suas mãos trêmulas. Ela parecia mais pálida do que nunca, seus olhos fundos e desesperados. — Caterina... — ela começou, mas sua voz falhou. — Ele... ele arranjou um casamento para você.
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