Capítulo 01: A Garota Órfã.

1344 Words
Evydia Eu nunca soube se tinha uma família. Nunca quis realmente conhecê-los. Sempre achei uma grande perda de tempo saber quem são meus pais biológicos, ainda acho. Desde bebê cresci em vários orfanatos, e em cada um deles, eu acabava fazendo algo que nem sabia e até agora não sei explicar. Quando completei dezoito anos, idade suficiente para sair daqueles lugares, tudo mudou. Agora tenho meu próprio canto, estou fazendo faculdade de artes e tenho um emprego de meio período numa cafeteria até que bem frequentada, mas não é grande coisa. Enfim, agora que contei um pouco sobre mim, vamos para minha história. - Pessoal! Não esqueçam de estudar para a prova de amanhã! Entenderam?!- Sr. Stanley, meu professor, gritou para os alunos que saíam da sala. Até que ele é legal, mas poderia mandar menos trabalhos. - Sim!- Todos responderam. Grande parte pelo menos. - Não esqueçam!- Gritou novamente e no mínimo cinco pessoas responderam. - Tchau professor.- Falei antes de passar pela porta. Eu sou uma dos únicos alunos que diz isso a ele. - Evydia!- Fui surpreendida enquanto andava em um dos corredores cheios de pessoas que, com certeza, não estavam de muito bom humor.- Você não respondeu às minhas mensagens de ontem!- Continuou a dizer assim que chegou perto o suficiente.- Aconteceu alguma coisa? Você não quer mais falar comigo, é?- Essas foram as várias perguntas feitas pela pessoa mais dramática de todas, Lisa, minha melhor amiga. Na verdade, a única amiga que tenho porque os outros só falam comigo quando tem algum trabalho para fazer. Nós sempre fomos muito grudadas, desde o fundamental e nunca nos separamos. Talvez isso fosse difícil de acontecer. - Lisa! Desculpa, não vi que você mandou mensagem. Eu estava praticando. Praticar mais no sentido de falhar porque não foi fácil, ainda não é fácil mesmo querendo que fosse. - Tá bom.- Concordou enquanto andávamos.- Dessa vez deixo passar, mas na próxima me avisa e depois responde!- Ela parou por alguns segundos só para enfatizar este final. - Ok.- Sorri franco.- Mas, agora vamos. Daqui a pouco o sinal toca e estaremos aqui ainda… - Evydia.- Fui surpreendida mais uma vez. Alguém me chamou antes que pudéssemos dar um único passo.- Você pode fazer um favor?- Perguntou enquanto eu virava e olhava para a pessoa.- Não entendi esse trabalho aqui. Consegue fazer? Valeu, te devo essa.- Agradeceu e eu nem tinha respondido ou sequer dito alguma coisa. “Somente trabalho! Ainda por cima saiu piscando. Eu mereço, só pode!”, eram as reclamações que passavam pela minha cabeça. Esse que passou foi o Jaison, um grande b****a na minha humilde opinião. Lisa acha ele um máximo, ela é apaixonada por ele. Claro, que garota desta universidade não é apaixonada pelo Jaison, o mais popular? Eu, por outro lado, não acho ele grande coisa, apesar de não poder dizer que o garoto é f**o; Loiro do cabelo estilo australiano, alto, estruturado e com os olhos castanhos mais bonitos que já observei. Sem dúvida. Mas, quem eu gosto mesmo é do Marcelo, o garoto mais inteligente daqui, além de bonito também. Quem não enxerga isso, precisa de óculos; Moreno, alto, cabelo escuro e óbvio, aqueles olhos claros. Nunca cansaria de observá-los. - Lisa, você acha que devo convidar o Marcelo para a festa de final de ano na praia?- Perguntei enquanto sentávamos numa das mesas do refeitório. As primeiras aulas passaram rápido, o que era raridade. - 'Miga, eu ainda não acredito que você gosta dele, mas sim. Vai lá, não custa nada tentar. - Tá, então eu vou.- Levantei e andei até ele com um pouco de receio.- O… Oi. Tudo bem?- Perguntei assim que cheguei ao seu lado. - Oi.- Pelo seu tom de voz parecia um tanto estressado.- O que você quer?- Marcelo perguntou friamente. - Quero te convidar para ir na festa da praia, agora neste final de semana... Quer ir comigo? - Hum.- Parecia pensativo.- Ok.- Disse um pouco seco.- Acho que minha agenda vai estar livre neste final de semana.- Fiquei olhando em seus olhos o tempo todo, porém ele não prestava a atenção em mim.- Agora pode ir, preciso terminar de ler este livro aqui.- Ele mostrou o livro e confesso que demorei um pouco para processar o que ele disse.- Ainda hoje...- Completou. - Ah, tudo bem.- Dei um sorriso amarelo para disfarçar o constrangimento.- Tchau. Até mais!- Falei mesmo que ele não tenha correspondido à minha despedida. - E então? O que ele disse?- Lisa perguntou quando voltei à mesa. - Ele disse…- Fiz um suspense que não estava muito convincente.- SIM!!!- Gritei e ela também, sem nem ligar para as pessoas em volta.- Tá bom, agora só temos três dias para escolher as roupas antes da festa.- Lembrei com a ansiedade batendo. - Vamos amanhã ao shopping depois das aulas. Vou te buscar às dezenove, pode ser?- Lisa perguntou tão ansiosa quanto eu. - Pode!- Respondi sorrindo como nunca. Não teria problema em faltar ao trabalho uma vez só, sempre trabalhei direitinho. Assim que todas as aulas terminaram e o meu turno do dia também, fui para o meu apartamento e antes de dormir, sentei na cadeira da escrivaninha ao lado da minha cama e comecei a desenhar normalmente, mas uma sensação estranha começou a surgir. Passava em minha cabeça a imagem de uma mulher muito bonita que nunca vi na vida mas, que ao mesmo tempo, parecia muito familiar porém acabei não me importando, continuei a desenhar e achei que não fosse nada até descobrir que eu estava errada. Acabei adormecendo ali mesmo e quando acordei, ainda estava sentada na cadeira da escrivaninha mas com a minha cabeça apoiada em uma pequena pilha de papéis e nelas desenhado o rosto daquela mesma mulher de pele clara com rosáceas nas maçãs do rosto, cabelo comprido, ondulado e castanho mais puxado para ruivo e lindos olhos grandes em algum tom de azul. Olhei ao redor e tinham mais papéis, espalhados pelo chão e pela minha cama. Fiquei confusa, sem entender o que tinha acontecido ou o que estava acontecendo. De alguma forma, ela lembrava a mim porém não era eu. Aquela sensação de familiaridade voltou e tudo ficou cada vez mais difícil de entender. Peguei algumas folhas e fui dar uma caminhada, respirar um ar puro e tentar clarear as ideias, ver se eu não estava ficando maluca mesmo já sendo por ter saído assim de pijama. De repente, faíscas vermelhas começaram a sair das minhas mãos, transformando os papéis em cinzas que voaram com a brisa da manhã. Por sorte, não havia ninguém na rua. - Como isso é possível? Eu pratiquei para não acontecer de novo!- Questionava a mim mesma. Sim, era isso o que eu andava praticando. Naquele momento meu cabelo começou a ficar ruivo que, até então, era totalmente castanho. Meus olhos ficaram azuis, antes também eram castanhos e de minhas mãos não paravam de sair faíscas vermelhas. Eu senti um grande poder dentro de mim, não poderia e nem saberia como explicar. Sem aviso, todas as luzes da rua se apagaram e depois explodiram em mil pedacinhos que voaram para todos os lados. Consegui proteger meu rosto antes do vento jogar os cacos em mim. A sensação de poder logo passou, então abri meus olhos e depois corri para pegar o meu celular e ligar para Lisa. - Alô… Oi Evydia. São seis da manhã!- Lisa resmungou indignada e ainda sonolenta. - Amiga, você precisa me ajudar.- Tentei demonstrar a minha preocupação mesmo por telefone. - O que foi? O que aconteceu?- Ela percebeu e parecia preocupada também. - Você vai saber quando chegar aqui... Por favor, vem me buscar? Podemos ir juntas para a faculdade?- Pedi quase entrando em colapso. - Daqui uns vinte minutos estou chegando.- Lisa não demorou para aceitar. - Tá bom. Obrigada.- Agradeci por ela aceitar e por ter uma amiga como ela. - De nada. Beijinhos.- Disse e logo desligou o telefone. Agora um dilema… Como eu disfarçaria o meu novo visual? Como esconder tudo isso?
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