Dante
Meu nome é Dante, aliás, esse não é o meu nome, é meu vulgo. De verdade verdadeira mesmo, meu nome é João Paulo, mas Dante tem mais poder na hora de falar e nunca achei JP um vulgo se presença. É assim que eu quero que meus inimigos me conheçam, que lembrem de mim, como um cara de poder, com determinação e muita vontade de ser reconhecido nessa p***a de meio, como um verdadeiro jiraia, porque eu posso transformar o mundinho de gente que se acha esperto, num verdadeiro inferno
Na verdade, de nome mesmo eu peguei só o conceito, porque essa história veio de um filósofo lá ou Pintor ou sei o quê, que fez esse conto por conta de uma amada, pelo menos foi isso que eu ouvi, mas quando se fala de Dante, neguim pensa o que? Em paixão tirada pela força do destino ou pensa no inferno? A resposta já tá aí, na mente de cada um
Pra quem não me conhece, sou um dos líderes do inferno conhecido como CDD, ou seja, Cidade de Deus, uma das comunidades mais perigosas do Rio de Janeiro. Consegui o meu direito na base do grito mermão. Teve gente que quis tocar o mindinho na minha casa, botar medo no homem chamado Terror e sua fiel, sua amada Helena, a minha coroa
Eles achavam que derrubando meu pai, iam acabar com o seu legado, mas quem constrói muralha em volta do que é importante, nunca é esquecido. Foi na calada da noite, sem fogos pra avisar, sem movimentação ora chamar a atenção, é por isso que eu tenho pra mim que o cara foi esperto, o mandante, comprou os soldados do meu pai. A gente tava dormindo, aliás, meu pai e minha mãe, porque eu tinha acabado de sair do banheiro pra onde eu fui desesperado quando percebi que tava quase molhando a cama por conta da brincadeira de quem bebe mais água antes de dormir que fiz com meu irmão
Quinze anos, eu só tinha quinze anos quando a vida me obrigou a sair da minha bolha de adolescente pra virar homem. Eu vi a sombra passando pela parede do banheiro, daí só fiz contar a quantidade de homens. Claro que na hora eu me caguei todo, uma coisa é ouvir falar que inimigo pode querer vir cantar de g**o no nosso terreiro, outra bem diferente é ter que se preparar, no susto, pra enfrentar os malditos
Me fiz tremer todo primeiro, depois, respirei fundo uma dez vezes e daí, tive coragem pra encarar os fatos. Ninguém se importou em procurar em outro lugares, foram direto pro meu quarto e depois, pro quarto dos meus pais. O edredom todo bagunçado na minha cama deve ter confundido os cuzão, fora que eles nem foram pro quarto do meu irmão
Os tiros ficaram no silêncio, tinha coisa pra silenciar, lógico, os caras se achavam espertos. Dei uma esquivada, na escondida, fui direto pra cozinha e peguei uma faca, daquela coleção de churrasco que meu pai não deixava ninguém chegar perto, depois, cheguei mais perto da situação. Meu corpo magrelo da época não deixou que eles me vissem escondido, mas me permitiu visão privilegiada do que tava acontecendo.
Porra, eu tava me cagando todo, me lembro perfeitamente. Fui covarde, não consegui defender meus coroa, perdi eles ali mesmo, naquela noite
Só que no momento que meu olho fitou o olho da minha mãe, quase se apagando por falta de vida, e viu sua mão se esticando na minha direção, meio que dizendo que seu último desejo era me alcançar, eu ganhei força sem explicação, do além e parti pra cima de quem tava perto, nem vi quem era
A faca entrou fácil, eu ainda sentia o vento de tiro passando na minha lateral, mas eu tava selado, não ganhei nenhum furo. Foi a dor que me fez fazer aquilo, ela que me deu vingança
Os detalhes mesmo eu não me lembro, só sei que matei todo mundo e o filha da p**a do comandante do Complexo de Israel, foram 36 facadas, todas elas com a fúria do cão, mas que nunca diminuíram a dor que ele me causou naquele dia
Com quinze anos eu tive que confiar em gente que eu não sabia se era mesmo de confiança, principalmente depois daquele silêncio todo com a entrada de gente inimiga na comunidade, eu podia ser raquítico, mas burro não era não
O que me fez dá um voto de confiança? Foi a bala alojada no peito do Careta, o segundo em comando, do lado do meu pai. O cara perdeu a fiel naquele dia também, ela e o filho de treze anos, mas por milagre, mesmo perdendo muito sangue, viveu pra contar história e também, pra ir atrás da família do cuzão que tirou a alegria dele
A sorte era que o cara dava uma de garanhão no morro e, por conta da fatalidade, acabou reconhecendo um filho que chamava de bastardo, o cara que hoje é meu brother, conhecido como Killer
Esqueci de dizer, meu irmão . . . O Ricardo é 5 anos mais novo que eu e no dia em que perdemos meu pai, depois da gente se acabar em brincadeira nesta, ele foi pra casa de um amigo lá, sei lá quem, ou seja, foi privado de trauma
Providência divina né, pelo menos um da minha família ficou pra trás, com vida
Com a ajuda do Careta, eu subi rápido, ele trabalhava que nem meu pai e me ajudou a me formar homem, foi ele que me ensinou a ser um líder forte, a fazer as pessoas me respeitarem na base do medo, ele que me mostrou que cuzão não merece menos que o inferno
Por isso fiquei puto quando descobri que aquele menor que nem sei o nome direito tava me passando a perna, roubando a boca que eu tinha deixado na responsabilidade dele, fiquei puto mesmo, nem ia dá lado pra explicação, já tava com a bala na agulha do meu cano, mas uma coisa me parou
Foi meio por cima, a história que ele me contou foi cortada pela metade, a que ele achou que me era explicação, mas eu entendi, o carinha tava protegendo a mina lá, a filha do noinha, ela deve mesmo ser muito importante pra ele, ninguém enfrenta o Dante sem ter motivo pra isso
Não dei na cara, mas a p***a toda me chamou a atenção, por isso quis dá uma oportunidade, só não considerei que a desgraça do pai dela ia tentar vender a mina, onde já se viu, esse aí merece morrer da pior maneira, cuzão do c*****o