A ligação
- Rebecca, você nunca falou sobre sua família, eles lhe envergonham? - Quem a ouvisse falar assim pensaria ser somente um questionamento inocente, mas eu estava casada com Elliot a dois anos e sabia exatamente o que minha sogra queria fazer.
Rosemary, ou Rose como os íntimos a chamavam, era uma senhora muito petulante, ela pensava ser detentora de toda a fortuna do mundo e que todos eram inferiores a ela, claro que ela pensava assim, a sociedade na qual ela circulava era desse modo, novos ricos com fortunas pouco expressivas que adoravam se gabar do quanto possuíam em suas contas. Continuei apenas mexendo em meu jantar e ignorando completamente sua pergunta, ela não aceitava de forma alguma meu casamento com Elliot, me achava indigna pois pensava que minha família não tinha posição ou prestígio. Ela nem mesmo sabia quem era minha família, nunca os viu, nunca contei a eles.
- Rebecca, mamãe está falando com você! - A irmã mais velha de Elliot que estava sentada ao meu lado me cutucou, olhei para ela e depois para sua mãe, ambas não gostavam de mim e não perdiam a chance de me humilhar.
- Pare de ser inconveniente vocês duas! Achei que o jantar era sobre a nova conquista de Elliot, porque estão incomodando Rebecca? - Liandra era a única que se importava realmente comigo, era a irmã do meio e sempre nos demos bem, Eliott ignorou como sempre as investidas de sua família contra mim, eles eram em três irmãos, Elliot mais novo, Liandra a irmã do meio e Leonor a mais velha.
- Um brinde a mais uma etapa na vida profissional do senhor Hagan. - Seu braço direito, diretor financeiro e amigo Harry propôs. Os convidados levantaram suas taças e brindaram alegremente, o jantar continuou sem maiores problemas, na primeira oportunidade deixei o banquete e voltei para meu quarto, eu era invisível, ninguém me queria lá! Nem mesmo Elliot.
Elliot e eu nos conhecemos em um intercâmbio em Paris, eu estava no terceiro ano de faculdade de relações exteriores quando decidi fazer um intercâmbio, o conheci na turma de economia, ele fazia administração com foco em administração de empresas. Ficamos muito próximos durante esse tempo, quando voltamos a nosso país continuamos nos falando por mensagens, ele dizia estar guardando dinheiro para nos vermos pessoalmente com frequência, um tempo depois ele abriu sua empresa, era um prodígio, ganhou seu primeiro milhão então decidimos nos casar! Nos amávamos muito apesar da pouca idade, fazia dois anos que namorávamos a distância, minha família foi completamente contra mas como sou maior de idade não puderam me impedir, apenas cortaram os laços comigo.
O primeiro ano foi maravilhoso, a empresa de Elliot crescia, eu terminei minha faculdade, completei 21 anos, já era oficialmente maior de idade, Elliot me comprava flores toda semana, saiamos para jantar, ele me amava e me mimava muito, eu sentia falta de minha família mas sua companhia amenizava meu sofrimento. Após o primeiro ano as coisas só pioraram, Elliot foi ficando cada vez mais frio e distante a medida que sua fortuna aumentava a distância entre nós também, sua mãe e irmã passaram a me desprezar por não ter uma posição de prestígio na sociedade como elas mesmo diziam, e ele passou a ignorar completamente minha existência, não nos víamos e as poucas vezes que dormíamos juntos era apenas para satisfazê-lo, quanto mais eu pensava em minha vida mais saudades sentia de minha família.
Enquanto todos se divertiam no andar de baixo da mansão eu estava deitada em meu travesseiro com lágrimas rolando em meu rosto, como consegui me tornar tão miserável? Eu não podia acreditar na pessoa na qual me tornei, não sabia quanto tempo estava assim, a porta então foi aberta abruptamente, senti um perfume familiar misturado com álcool, com certeza era Elliot, então ele entrou e se deitou ao meu lado, virei de costas para ele, ele me agarrou e puxou pela cintura.
- Não Elliot! - O parei empurrando seu braço, ele era mas forte que eu, não se moveu um centímetro.
- Você estava chorando? Você só vive chorando pelos cantos! - Ele disse um tom mais alto com a voz áspera. - Você está tão infeliz aqui? Você é livre Rebecca, pode ir a qualquer momento!
Elliot sempre me dizia essas coisas por ter certeza que eu não sairia de seu lado, ele imaginava que eu era uma p***e garota e não tinha para onde ir! Em termos estava certo, não sei se minha família me aceitaria de volta, mas eu era formada, jovem, poderia trabalhar para me sustentar.
O empurrei mais uma vez, dessa vez ele saiu do lugar, levantei e fui em direção ao banheiro, não queria sair e ter o desprazer de encontrar sua família, então ficaria fora de sua vista até quando ele adormecesse. Meia hora depois voltei ao quarto e ele dormia pesadamente, deitei-me no sofá ao lado da janela embrulhada em um lençol, isso era algo que eu não precisaria de modo algum passar, mas são consequências de minhas escolhas imprudentes.
Acordei com luz entrando pela janela, olhei para o relógio e eram sete e meia, Elliot era sempre pontual, ele acordava às seis e meia, corria, tomava banho e saia Para o trabalho às sete e meia, a um ano atrás eu entraria no banheiro, o abraçaria por trás, ele giraria e me beijaria apaixonadamente me fazendo sentir a mulher mais sortuda do mundo, mas agora tudo que eu podia sentir era raiva e desgosto. O barulho do chuveiro sessou, eu estava enrolada no lençol olhando para o nada, ele saiu do banheiro com a toalha enrolada em sua cintura quando meu celular tocou, era um número desconhecido.
- Alô! - Elliot me encarava descaradamente, eu não costumava receber ligações, somente ele e Liandra tinham meu número.
- Becca? - Uma voz familiar soou do outro lado da linha.
- Logan!? - Gritei animada pulando do sofá. - Logan é você mesmo ?
- Sim Becca sou eu! Pequena sinto tanta sua falta. - Lágrimas escorreram por minhas bochechas.
- Eu também sinto muito sua falta. - Nem mesmo terminei de dizer essa frase quando o telefone foi arrancado de minha mão por Elliot que me empurrou para o sofá. Na tentativa de retirar meu telefone de sua mão apertei o botão do viva voz.
- Elliot o Que você está fazendo? Você ficou louco? - Gritei para ele que me continha com uma mão enquanto com a outra deixava o celular a certa distância.
- Se você machucar minha irmã eu acabo com você! Você está me ouvindo? Eu acabo com você! - Logan gritou do outro lado da linha, Elliot parou imediatamente.
- Seu irmão? - Ele sabia que eu tinha um irmão, mas não sabia seu nome.
- Sim! - Peguei o telefone de sua mão com força, tinha lágrimas em meus olhos.
- Becca ele está te maltratando? Esse bastardo está te maltratando? Eu falei que você não deveria ir com ele naquela época! - Podia ouvir Logan esmurrando algo.
- Calma, estou bem! Foi apenas um m*l entendido. - Ellito de afastou meio atordoado, tentava acalmar Logan no telefone enquanto ele sumiu de vista.
- Eu quero ver com meus próprios olhos que você está bem! Eu vou ver você. - A porta do quarto se abriu, Rose, Leonor e Liandra entraram rapidamente, devem ter ouvido a comoção.
- Ótimo! Mais um de sua família para meu filho sustentar. - Logan soltou uma risada no telefone.
- Me de seu endereço! - Eu sabia que mesmo se não desse a ele, ele me localizaria, não a nada que ele não consiga.
- Te envio por mensagem. - Disse em um suspiro quando vi Elliot voltando para o quarto.
- O que vocês fazem aqui? - Elliot disse com uma carranca.
- Ouvimos uma comoção e viemos ver se você estava bem. - Rose disse indo em direção a Elliot e o acariciando.
- Você está bem Rebecca? - Liandra era a única preocupada com meu estado.
- Sim! - Respondi sem emoção.
- Seu irmão está vindo, não o deixe vê-la assim ou pensaram que a maltratamos. - Leonor disse virando-se e deixando a sala. Fui diretamente para o banheiro, não poderia deixar que Logan percebesse o que se passava aqui, certamente ele me arrastaria de volta para casa sem pensar duas vezes.