Leilão.

1069 Words
Camila narrando. Três semanas nesse inferno, comendo o pão que o d***o amassou e vivendo um medo por dia. Alguns leilões aconteceram, mas em nenhum desses eu fui exposta, talvez por eu ainda ser nova ou eles têm alguma coisa muito pior me esperando... As meninas disseram que todas as garotas que são trocadas tem que ser virgens, pois na hora do leilão elas ficam mais caras e é uma forma de se livrarem da prostituição. Dulce e Guadalupe têm sido amigas excecionais para mim, elas vieram para cá traficadas e com isso são usadas nas ‘boates’, eu sinto muita pena delas, elas sofrem a muito mais tempo que eu e são fortes, ambas têm uma determinação que não tá escrito, elas têm fé de que um dia irão sair daqui, mesmo sabendo que 99% das meninas só saem mortas. — Como está hoje? — Perguntei para a Dulce, pois ela estava passando m*l há dias. — Ainda muito enjoada, o meu ciclo está atrasado... — Ela falou aflita num sussurro para que outras não escutassem. — Se eu realmente estiver grávida e eles descobrirem, eu vou ser submetida ao procedimento... — Nada vai acontecer contigo... — Lupi falou segurando firme a sua mão. — Não seja ingênua, sabe que a Fabi nunca mais voltou... — Ela abaixou o olhar e começou a brincar com os próprios dedos. — Talvez essa seja a minha oportunidade de me livrar disso tudo. — Não diga besteiras... — Eu a repreendi. — Vamos sair juntas daqui... eu prometo. Neste momento um dos chefes apareceu, ele estava com um sorriso diabólico estampado em seus lábios, disso não iria sair uma coisa boa, pode apostar... — Em fila... — Ele falou andando diante de nós, enquanto nos arrumávamos uma ao lado da outra. — Hoje temos grandes surpresas... Eu revirei os meus olhos e ele percebeu, veio até mim e apertou o meu rosto com uma de suas mãos. — Você será a primeira. — Ele olhou nos meus olhos e levantou a outra mão, mostrando uma espécie de trouxinha de pó. — Vai engolir uma por uma e pedir a Deus que não estoure no seu estômago. — Ele sorriu e soltou o meu rosto, o empurrando para trás com força. — Você terá exatas 2 horas para colocar tudo para fora, caso não consiga, morrerá. Eu senti os meus olhos encherem de lágrimas, eu estava com medo, não tinha certeza se ia conseguir fazer isso, mas eu não tinha escolha, ou era morrer assim ou apanhar até não resistir. — Eu vou no lugar dela. — Dulce falou por impulso. — Ótimo, vão as duas... — Ele mais uma vez sorriu. — Eu não ia arriscar duas, mas como quer ir, seja feita a sua vontade, v***a. Ele falou e saiu do cómodo, eu e as meninas nos abraçamos e fomos para um cantinho, longe de todas as outras meninas. Eu tentei convencer ela a desistir, mas nada que eu falasse ia resolver, ela estava decidida e disse que se fosse a única forma dela ver a luz do dia pela última vez, que ela queria fazer, pelo menos ela morreria feliz, caso algo desse errado. Algum tempo depois entrou um homem com uma bandeja e algumas garrafas de água, ele se juntou a nós e nos fez treinar engolir algumas uvas, eu, certamente iria morrer, pois a primeira uva estourou assim que tentei engolir, já a Dulce encarou tudo numa boa, como se ela já tivesse feito isso antes. Após algumas tentativas, nós finalmente conseguimos e depois passamos para as trouxinhas de drogas, lá se foram 1, 2, 3, 4, 5, 10... até a gente não aguentar mais. — Estão prontas, agora cada segundo é importante... — O homem falou. — Vamos para o aeroporto, as passagens estão compradas, vocês vão fazer como combinamos. — Ele nos olhou e nós duas concordamos. Agora nós duas dependíamos dele e tudo o que ele falasse, a gente tinha que fazer para tentar salvar a nossa vida. Foi tudo muito rápido, passamos pelo check-in, vistoria, RX e liberadas, corremos para o banheiro e segundos depois o homem nos encontrou, ele entrou com a gente e trancou a porta. — Rápido, vocês precisam vomitar todas. — Ele falava impaciente olhando para o relógio. Mais uma vez colocando para fora 1, 2, 3, 4, 10, 15... na última eu quase não consegui, com muito esforço eu fiz mais uma vez força e saiu, já a Dulce não teve a mesma chance, eu olhei para o lado e a sua boca já estava espumando, o seu corpo no chão se debatendo e os olhos revirados. — Não... — Eu me abaixei diante do corpo dela e a sacudi algumas vezes. — Por favor... acorda... vamos... — Vem menina, ela não volta mais. — Ele me puxou de cima dela e se abaixou, ele pegou uma seringa e aplicou algo no braço da Dulce, em seguida ele colocou a mesma na mão dela e me puxou para fora do banheiro. — Escuta... — Eu olhei com os olhos cheios de lágrimas. — Se controla ou vamos os dois presos... eu vou fazer a entrega e você volta para o carro, não tente fugir porque tem olheiro aqui, só faça o que eu estou mandando e nos encontramos lá. Eu apenas concordei com o que ele falou e saí desgovernada do aeroporto, eu entrei no carro e bati a porta com força, colocando os meus pés no banco e abracei os meus joelhos, me deixando levar pelas minhas lágrimas. Mais uma vez eu estava passando por aquilo, não era justo, nada nessa vida estava sendo justa, cada dia era uma nova tortura, cada dia uma garota a menos... estava insuportável viver neste lugar. Maldita hora que o meu pai me vendeu para esses homens malignos... Eu tenho fé, eu vou me livrar disso e me dedicar todos os meus dias para derrubar esses Occhioa, eu vou voltar para Dalas e vou acabar com eles... nem que seja a última coisa que eu faça en toda a minha vida. — Limpa esse rosto. — O homem falou ao entrar no carro. — Recebi nova ordem para você... — O que é dessa vez? — Eu falei com a voz rouca, devido ao choro. — Você vai participar do leilão. — Ele sorriu de lado e deu partida no carro.
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