“Batidas na porta da frente É o tempo”
Doze anos depois.
Laura Veiga entrou na Correia & Klein Investimentos como estagiária. Depois de dez anos, ela foi ascendendo até se tornar Diretora de Renda Variável.
Totalmente viciada em trabalho, trabalhava doze horas por dia e quando não estava na empresa, pensava em algo relacionado ao seu trabalho, especializou-se em realização IPO – a******a de capital da empresa.
Invejada no mercado financeiro, disputada pelas grandes empresas brasileiras, ter sua assessoria era sinal que suas ações estariam em todas as carteiras de investimento recomendadas do país.
Eram sete horas da manhã quando Laura saiu do elevador, sendo recebida por Charlotte, sua assistente.
— A minha coluna no valor econômico saiu?
— Está em sua mesa, senhora, com o Financial Times, Wall Street Journal.
— Ótimo!
— Às 12h, a senhora tem um almoço com o presidente do conselho de administração da Morg ilimitada.
— OK.
— Às 14h, reunião da diretoria para avaliação de metas.
— Ok.
— Às 17, visita à empresa de advocacia Castro & Wang limitada, os irmãos estão querendo formar uma carteira de ações de empresas de Londres.
— Hum, droga... esqueci completamente! Preciso de tudo que foi acordado na....
— Já está em sua mesa.
— Às 19, jantar com a sua mãe.
— Cancele.
— Mas ela disse que era importante.
— Cancele!
— Mas ela disse...
— Cancele, inferno! Invente qualquer coisa! Algo mais?
Charlotte mordeu os lábios e continuou:
— É a sexta vez que cancela, estou sem desculpas.
— O que ela quer comigo?
— Não seria melhor recebê-la logo e resolver isso?
— Eu só não consigo lidar com ela agora.
Laura fez cara de poucos amigos.
— Sua consulta com o endócrino é amanhã cedo.
Ela passou a mão pela cabeça como se estivesse esquecido de algo importante.
— Droga, existe outra coisa importante que eu esqueci?
— Sim, esqueceu de pegar seus remédios para hipotireoidismo, já estão na segunda gaveta.
— Obrigada. O que seria de mim sem você, Charlotte?
— Eu também não sei, Senhora.
Charlotte fechou a porta e voltou para sua mesa.
Laura se sentou na poltrona, ligou a tv e assistiu aos noticiários de Londres e Nova Iorque, leu os jornais fazendo o planejamento para a a******a da bolsa às dez.
Às 9:50 ela tomou seu terceiro café, trocou os sapatos altos por crocs confortáveis, às 10h em ponto o pregão é aberto, ela anda de um lado para o outro, com um ponto eletrônico na orelha, instruindo seus analistas para comprar ou vender.
A sala de Laura era grande e confortável, com uma cafeteira de café expresso que moía e fazia o café na hora. Ela dá uma última olhada nos e-mails, levanta-se para seus compromissos diários, que eram muitos.
No fim do expediente, lembrou-se de checar suas mensagens.
3.565 mil mensagens da Marina, sua melhor amiga, que estava sumida há quatro dias.
Apagou todas as mensagens sem ler e ligou para a outra.
— Sério?três mil mensagens? Você não trabalha?
— Por que não respondeu às minhas mensagens?
— Estava muito ocupada.
Na verdade, eu nem as li! Pensou, Laura
— O que houve? Onde é o incêndio?
— Sabe aquele aplicativo que te falei? Então, na quinta-feira tive um encontro com um italiano lindo!
Laura passou a mão em seu rosto, cansada.
— Contei tudinho nas mensagens.
Laura colocou a mão na cabeça, pensando sério que as mil eram sobre isso?
— Preciso te contar como foi, nossa tô com as pernas bambas até agora, ele tem uma mão grande e sabe usar, aiii fico toda arrepiada só de lembrar…
— E você nunca vai imaginar onde eu estava!
Laura interrompeu.
— Marina, já são 19h. Estou morta depois conversamos.
— Chataaaa! Vai, por favorzinho, preciso contar para alguém!
Laura ri.
— Ok, na minha casa em uma hora, ritual da pizza e da cerveja, assim você me conta.
***
Chegando ao seu apartamento, Laura tirou os sapatos, sentou-se no sofá tentando tirar uma soneca, porém, em menos de vinte minutos, Marina chegaria.
Tomou um banho rápido e pediu uma pizza e cerveja.
Marina tocou a campainha várias e várias vezes até Laura atender ainda secando os cabelos com a toalha úmida.
— Nossa por que demorou a atender, estou há meia hora aqui fora, o que você estava fazendo?
— Estava tentando ter um minuto de paz no banho, nem todo mundo pode sumir do mapa para fazer sei lá o que, eu trabalho, aliás, hoje foi um dia puxado, precisava relaxar.
— Você dormiu na banheira de novo?
— Bingo!
— Eu morro de medo de você morrer afogada.
— Relaxa.
— Vou começar a usar a cópia da chave que fiz da sua casa, assim posso te salvar na banheira.
— Não precisa… Espera... Quando você fez cópias das minhas chaves?
— Não importa, vem, tenho muita coisa para contar.
Marina narrou toda sua louca aventura com um homem desconhecido nas ilhas Fiji. Laura riu do relato da moça.
— Ai, você é uma comédia! Um dia ainda vou ter essa sua coragem.
— Isso não se chama coragem. Isso se chama aplicativo Para Elas. É seguro, os caras passam por uma sabatina de perguntas, tem sua identidade vasculhada, para ser aceito e outra a taxa para entrar é muito alta para os homens. Sem falar que o objetivo é satisfazer as fantasias de nós, mulheres.
— E para as mulheres?
— Basta ter uma b***a grande.
Risos.
— Brincadeira, nós também passamos por uma sabatina de perguntas.
— E o melhor tudo sigiloso.
— Eu ainda não sinto confiança, essas coisas não são pra mim!
— Lau, eu não te entendo, você não sente falta de fazer uma loucura? Viva um pouco, essas medidas são para evitar qualquer coisa e dar mais segurança a nós, mulheres, pelo menos temos a certeza que o cara não é um serial killer.
— E quem garante aos homens que as mulheres não são?
— Ai, pare de ser chata, você sabia que só cinco por cento dos serial killers são mulheres?
— De onde você tirou essa informação?
— Da revista Killer Times, gata — risos — lógico que do Google, fiz a pesquisa para meu novo romance “O serial da paixão”.
— O cereal em questão vai ser Sucrilhos ou Corn Flakes?
Risos.
— Ridícula, você, hein!
— Você escreve com um pseudônimo e eu que sou ridícula?
— Amore, eu sou uma modelo internacional, não posso dar minha cara a tapa.
— Mas pegar macho em aplicativo, pode né, vaca?
— Moooooo — Risos — Vai, Lau, dá uma chance para o aplicativo, até já respondi algumas coisas para você.
— Como conseguiu meus dados? Louca!
— Até parece que você não sabe os meus.
— Eu não sei como me comportar, inferno!
— Sexo é só sexo, Lau. Quando foi a última vez que trepou com vontade? Pelo que eu me lembre tem uns três anos. Acho que foi aquele carinha que era amigo do seu irmão.
— Já não consigo dar conta de ter uma amiga enxerida como você. Imagina administrar um app de encontros.
— Você fala assim, mas não vive sem mim.
— Eu vivo, Ina, você que não deixa.
Marina fez um bico.
— Você não precisa administrar o app é só achar alguém pra dar uns pegas, um p*u amigo, sem compromisso, alguém para te tirar dessa seca dos infernos, coitada da sua florzinha, tá morrendo sem ser regada.
Laura pensou um pouco.
— Isso não seria r**m.
— Então, só terminar de responder as perguntas, já mandei as cópias dos seus documentos.
— Você fez o quê? — Laura a olhou, indignada
— Ai, para de drama, um final de semana de sexo gostoso e irrestrito com alguém inteligente, que tem no mínimo um PHD e bom de cama, vai te fazer bem.
— Você não pode me garantir que ele será bom de cama.
— E você não pode garantir que não seja? Lau, marca no hotel da minha família, aí se não for bom ou o cara for um bosta você pode sair a qualquer hora, deixo tudo preparado, se for furada alguém vai imediatamente ao seu socorro.
Laura realmente estava cansada da falta de sexo, não que um homem fizesse falta, seu vibrador funcionava bem, mas aquilo não era de todo r**m.
— Como você pode ser tão agressiva no trabalho e tão tapada quando se trata de sexo? — Me dê seu celular aqui.
Ela pegou o celular de Laura que estava travado, fez cara de poucos amigos, obrigando a amiga a destravar, então baixou o App, terminou o questionário, tirou uma foto bem sugestiva de Laura, sem mostrar o rosto. E colocou na descrição:
Procuro homem para passar comigo duas noites e três dias. Nada de romance, só sexo puro e irrestrito.
Laura riu do anúncio: Eu estou morta!