Capítulo 1 – Mirela

1629 Words
Anos depois “— Não posso ficar com essa fedelha! — Fala a minha tia. — Se aqueles dois não deixaram dinheiro, só dívidas, eu também não vou assumir a filha deles — diz meu tio. Eles estavam discutindo por dinheiro e tudo o que eu conseguia pensar é que estava completamente sozinha no mundo, sem a minha mãe, sem o meu pai. Deveria ser proibido para crianças tão jovens perder os pais. Mas essa é a lei da vida e tudo o que nasce tem que morrer. Infelizmente, esse foi o dia escolhido por Deus para levar eles de uma forma tão trágica, um acidente horrível no qual o avião caiu e não teve sobreviventes. — Mirela! — Minha tia se aproxima. — Tia! — Falo abaixando a cabeça. — Vamos te colocar em um colégio interno. Você vai morar lá com as freiras. Não se preocupa que no verão vamos te visitar — afirma e as lagrimas molham meu rosto. — Estou com medo, como vou viver sozinha, sem meus pais, sem ninguém da minha família? — Pergunto chorando. — Infelizmente, nada posso fazer por você. Ninguém na nossa família tem condições de arcar com o peso que você será. Aceite seu destino — afirma. — Garota, não fique chorando feito uma bebezinha, eles estão mortos por sua causa, foi você que matou seus pais ao ligar e dar pressa para que eles voltassem com presa — fala e eu começo a chorar. — Não! Isso não é verdade.” — NÃO! — Me levanto de vez da cama. Eu estava soando frio. Olho ao meu redor e percebo que estou no convento e tudo não passou de um pesadelo. Mas esse pesadelo é bem real, pois eu o vivi no dia da morte dos meus pais. Estava doendo, eu estava perdida e mesmo assim a minha família não teve nenhuma piedade ao me mandar para esse lugar. Para falar a verdade, fui uma mulher de muita sorte, pois aqui fui amada pela madre superiora e as irmãs. Elas cuidaram de mim em todos os momentos e encontrei em Deus um jeito de esquecer todas as minhas dores. Jesus e a virgem Maria teve piedade de mim. Eles cuidaram da minha dor e hoje dedico a minha vida para eles. Estou a um passo de me tornar um freira. Essa é a vida que quero para mim. Desde que vim para esse lugar, nenhuma pessoa da minha família veio me visitar. Eles precisavam se livrar do peso que era cuidar de mim. Nesse lugar, com as irmãs, eu aprendi muita coisa e adoro dedicar a minha vida as crianças carentes. Hoje, temos uma visita a favela da Rocinha. Lá tem uma ONG que dar um auxílio para crianças carente. Meu desejo é dar aulas para essas crianças. ... Assim que chegamos na favela da Rocinha, eu fiquei muito encantada com a beleza do local. Estávamos fazendo um tour pelo local e a comunidade parecia ser um lugar alegre e receptivo, mesmo com a presença dos homens armados por todos os lugares. Estava com as irmãs quando uma cena me chamou atenção. Na igreja da comunidade havia um caixão e ao lado uma criança muito pequenina. Seguir ao seu encontro e assim que me aproximei me sentei pegando a sua mão. — Eu sei que dói, mas você precisa ser forte. Vai ver que você vai ficar bem! — Toco seu rostinho pequeno. — A minha mamãe morreu. Eu estou sozinha no mundo e não sei o que fazer. Tem uma mulher e ela veio e disse que vai me levar para um orfanato. Estou com frio e com medo. Vou ficar aqui até ela se levantar e me abraçar — fala chorando. — Calma, olha para mim, por favor, respire fundo, olhe que existe uma superfície. Não se deixe afunda na escuridão, não se permita viver isso. Vamos orar para nosso senhor salvador e para a virgem Maria, para que sua mãe fique em um bom lugar e lá do céu, tenho certeza de que ela vai olhar por todos nós — falo e ela me abraça. — Você é um anjo? — Pergunta e eu toco a cruz que estava pendurada no meu pescoço em um cordão. — Não sou um anjo, mas tento ser a imagem e semelhança de cristo. Nele você pode encontrar refúgio, pois ele sara todas as nossas feridas e dor — explico enxugando suas lagrimas. — Se Deus é tão bom, por qual motivo tirou a minha mamãe de mim? Deixar criancinhas sem papais é uma coisa feia — a menina diz e suas palavras me fazem chorar. A cena dela perdida foi a mesma cena que vivi a 15 anos atrás, quando eu tinha 7 anos de vida. — Tem coisas que não é culpa do divino. As vezes as nossas escolhas no levam para caminhos difíceis, mas não podemos culpar ao altíssimo. Vamos orar e pedi para que sua mãe ir para um lugar bem melhor — digo tocando seu rosto e nós duas nos ajoelhamos. Fecho meus olhos fazendo as minhas súplicas e escuto a voz tremula daquela menina. — Deus, se você realmente existe, por que tirou a minha mãe de mim? Ela não pode voltar? Traga ela de volta, pois eu estou sozinha nesse mundo e não sei o que fazer da minha vida — suas palavras me levaram no passado. As lagrimas molharam meu rosto e em desespero me levantei e corri para longe daquele lugar. Depois de um tempo andando, me toquei que estava perdida naquele lugar. O morro tinha tantos becos e vielas que parecia um labirinto. Por um minuto tentei me acalmar para achar o caminho que me levaria para a ONG, mas estava difícil, pois a sensação era de que eu estava andando em círculos. Caminhei mais um pouco e o movimento ficou frenético naquele lugar. As pessoas começaram a correr e eu estava completamente perdida. Muitas motos subindo e descendo, os homens com fuzil atravessado na cintura. Ouvir o som dos fogos de artifícios no céu e me assustei. Segurei no crucifixo com força e de longe escutei a voz de um daqueles homens que dizia. — Ou Santinha, corre daí! A favela vai ficar frenética agora — suas palavras me despertaram um nervosismo e eu comecei a correr, mas estava completamente perdida em um lugar no qual não conheço ninguém. Encontro uma viela e corro para lá. Me abaixo próximo a um carro e abraço minhas pernas em posição fetal. Pego o crucifixo e começo a rezar a oração da ave Maria. Estava concentrada na minha oração quando um homem de pele clara, corpo tatuado, olhos negros e cabelos escuros se aproximou daquele lugar. Ele aparentava ter uns 25 anos e era de bela aparecia, seus olhos estavam negros e suas roupas eram pretas. Ele estava com um fuzil na mão quando dois homens vieram arrastando outro homem e disse. — Chefe, esse aqui está do lado do X9 — afirma. — Não tenho tempo, pois o morro está sendo invadido e nós precisamos matar — rosna o homem m*l encarnado e pega uma faca. — Piedade, Lucifer! — Pede o homem que estava sendo segurado pelos outros dois. — O d***o não tem piedade! — Dar uma gargalhada e enfia a faca na cabeça do homem. Me assusto com a cena forte e grito. — Misericórdia senhor! — Coloco a mão na boca quando percebo seus olhares negros sobre mim. — O que temos aqui? — Pergunta se aproximando de mim. Em um ato de nervosismo, eu cruzo minhas mão e começo a rezar mais alto segurando o crucifixo. — Ave Maria cheia de graça, o senhor é convosco. Bendita sou vos entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria a mãe de Deus rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte... — fui falando e dando passos para trás. Ele seguiu caminhando na minha direção e deu uma gargalhada que me fez arrepiar até a espinha. Aquele homem era louco e isso me deixava nervosa e com medo. — Está orando? Como pode um ser puro como você encontrar o d***o em uma viela? — Pergunta me assustando e as lagrimas molham meu rosto. — Santo anjo do senhor, meu zeloso guardado. Que a ti me confio a piedade divina. Sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine... — continuei orando e ele continuo debochando da minha fé. — Continue orando. Ore para todos os santos lhe livras das mãos do capeta — ironiza mais uma vez e eu perco as forças das pernas. — Você viu demais, santinha! — fala puxando meus braços e nossos olhos se cruzam o deixando paralisado. — Eu não vir nada! — Falo nervosa. — Venha. Ore a Deus para que o nosso amigo encontre a luz na hora da morte — diz me puxando para perto do homem que agonizava de dor. — Chefe, não estamos conseguindo conter a invasão. Os policiais vinheram em uma operação para te pegar — diz um dos homens. — Contenham a invasão, pois a santinha vai orar pela alma do pecador, enquanto isso, vou fumar a minha maconha. Será que Deus me perdoa por esse pecado? — Pergunta e as lágrimas molham meu rosto. Estava nervosa. — Deus perdoa todos nós, ele é misericordioso e bondoso — sussurro e ele dar uma gargalhada. — Você acha isso? Se eu te matar agora, você vai para o céu, pois é santa. Se eu morrer, vou para o inferno, pois sou o mensageiro do d***o na terra — fala sorrindo e eu seguro meu crucifixo com força e confiante de que Deus iria me livrar dessa situação.
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