LIVRO II da série Trilogia o amor Pode Acontecer .
Capítulo I
Nina olhava a paisagem do internato pela janela, ali era sua casa desde os 13 anos de idade. Na verdade aquele lugar era mais um convento que qualquer outra coisa. Apesar do silêncio e da rotina um pouco entediante ela gostava daquele lugar isolado e escondido. Ela não sentia falta do barulho da cidade grande, do cheiro enjoativo de fumaça carregado com os mais variados tipos de perfume que irritavam seu nariz desde pequena, o sossego a atraia, a natureza também. Mas não podia negar que sentia falta das conversas na porta da escola, do riso das garotas durante algumas brincadeiras e das poucas amizades que nutria. Estava ali para fugir da atenção masculina, mesmo aos 13 anos começava a perceber os olhares masculinos em sua direção e sua tia adotiva percebeu também alertando seu pai. Desde então ali é seu refúgio, mas também seu esconderijo dos membros masculino da organização que seu pai fazia parte. Na máfia meninas virgens eram moedas de troca e muitas vezes nem mesmo os pais podiam evitar uniões forçadas.
Mas apesar da solidão, principalmente depois que sua amiga mais íntima Ella foi embora para um casamento arranjado Nina ainda era grata pela protteção que aquelas paredes lhe davam. Como mulher tinha curiosidade para ser beijada por um belo rapaz, de ganhar chocolate e até mesmo flores, de sentir aquela expectativa e ansiedade dos primeiros romances que as outras garotas cochichavam pelos cantos. Mas ela sabia que não poderia vivenciar isso, nascer mulher na máfia lhe tirava vivências que todas as outras meninas comuns teriam.
Seu pai sempre disse que ela seria disputada pelos outros membros da máfia por sua extrema beleza, as vezes ser bonita podia ser uma maldição.
Um dia pela manhã Nina acordou tão revoltada que cortou o cabelo, os longos fios lisos que antes batiam na cintura agora estava em um Chanel curto, mas mesmo assim a beleza ainda continuava, na verdade o corte só evidenciou os grandes olhos verdes e porte mignon que chamava atenção dos poucos homens que a viram durante os últimos anos, suas saídas do convento eram restringidas a consultas médicas de rotina, dentistas e compras de roupas.
Mas até mesmo a consulta médica havia sido proibida, depois que o assistente da clínica geral que lhe atendia havia enviado um recado escrito por uma das internas para ela, sabia que se fosse pega conversando com alguém teria problemas, seu pai era amoroso, mas sempre deixou claro que não a queria envolvida de maneira alguma com pessoas do s**o oposto ou a enviaria para um lugar mais rígido e sem contato com a natureza. Não desejando passar um castigo, assim entregou o bilhete para a madre e não pôde mais sair para ir ao médico, isso havia acontecido também com o dono da loja em que comprava roupas, ele chegou a enviar sem mesmo nunca ter conversado com ela um aparelho celular de última geração junto com sua sacola de roupa, com um bilhete afetuoso direcionado a Nina.
Nina havia ficado chocada com a petulância do homem, mais uma vez informou a madre, assim ficou proibida de ir até a loja novamente, passou a usar as roupas que já tinha e a costurar outras durante a aula de costura que tinham semanalmente.
Seu tempo era gasto lendo, pintando, caminhando pela imensa propriedade, e recentemente uma academia tinha sido instalada dentro do convento, aquilo era novidade, mas um dos patrocinadores tinha exigido para as duas que filhas que ali residiam, podia ser um lugar habitado por freiras e jovens, mas era um lugar muito caro. Dessa maneira ela descobriu gostar de praticar exercícios, aulas eram disponibilizadas no painel montado dentro da academia mesmo. Assim ela ganhou mais um passatempo.
Quando Nina recebeu uma carta do seu pai informado que sua mão havia sido dada em casamento entrou em pânico, primeiro pensou se tratar de uma brincadeira de mau gosto, ele havia prometido não a negociar como uma qualquer, sempre disse que a amava, e que um dia ela poderia se casar com um rapaz fora da organização e ser feliz. Na carta ele pedia perdão e dizia que não teve escolha, mas os homens sempre tinham. Quem estava sem escolha era ela. Não desejava sair dali para uma casa onde podia ser facilmente maltratada.
Ainda tentou ligar para seu pai e implorar para que não a obrigasse, preferia fazer os votos e realmente se tornar freira, mas os telefones estavam todos desligados, Nina não sabia o que fazer, somente que não desejava ser abusada por um homem.
Depois de uma semana sem mais nenhuma notícia seu pai apareceu para visita-la, sua fisionomia estava cansada e ela se agarrou a ele chorando.
_ Papai, prometeu que não seria obrigada a me casar. O que aconteceu?
_ Oh minha filha, falhei miseravelmente em cumprir minha promessa, cometi erros graves e o meu castigo é o seu casamento.
_ O que você fez?
Ela ainda chorava e seu pai percebeu a decepção em sua voz.
_ Desviei dinheiro do chefe, foram poucas vezes, Nina, mas ele é um gatuno esperto e logo me descobriu.
_ Deus papai, ninguém rouba dinheiro da máfia, até eu sei disso, como pôde? poderia estar mortto.
_ Eu preferia, se isso garantisse sua segurança, mas mortto seu destino poderia ser ainda pior. Ninguém se casa com a filha de um homem morto por traição, iria viver sem nada, meus bens seriam tomados, querida.
_ Não quero me casar, papai, me dá calafrios só de imaginar que vou passar o resto da vida com alguém que não suporto e que temo.
_ Meu anjo, não temos opção, sinto muito. Era para termos sido sentenciados a morttte. Eu gostaria de estar morto para não vê você entregue a alguém como ele, mas vivo mantenho a esperança de um dia livrar você dele.
_ Papai com quem vou me casar?
Pedro então olhou para ela.
_ Não gostaria de dizer, não ainda, não gostaria de assusta@-la ainda mais.
_ já estou suficientemente assustada, nada pode ficar pi0r.
_ Pode pequena, não desejaria que nem a filha do meu inimigo se casasse com ele.
_ Quem é Papai?
_ Não sei nem mesmo seu nome, o vi algumas vezes em todos esses anos, não sei o que faz para Xavier, mas recebe muito para isso, todos os pagamentos são enviados por uma conta fantasia para que eu não saiba seu nome.
_ Como ele é?
Seu pai a olhou com pena.
_ intimidador, e...
_ Fale papai.
_ Tem cicatrizes em um lado do rosto, parece fogo.
Ela engoliu em seco.
_ Ele é violentto? Com mulheres.
_ não vou mentir para você, eu não sei, mas ele me causou arrepios, meu anjo. Não podemos esperar nada bom vindo dele. Sinto muito.
Nina se agarrou a ele mais uma vez.
_ Preciso ir, meu tempo aqui é pouco estou sendo vigiado. Fique firme, quem sabe ele não aceite esse casamento e você possa ficar livre ou a menos seja dada a alguém da sua idade e que não seja violentto. Não a quero sofrendo minha menina, mas nesse momento não posso fazer nada, sinto muito.
_ Eu sei papai, está tudo bem. Já sabe quando é o casamento?
_ Ainda não, mas vai ser logo. São ordens do chefe. A próxima vez que voltar aqui será para leva-la para casa.
Depois que o pai passou pelo portão Nina se sentou embaixo do carvalho e tentou não entrar em desespero, isso de nada resolveria a situação, lembrou-se quando sua amiga Ella saiu do convento para se casar, a amiga saiu apavorada, ainda trocavam cartas e nelas Ella relatava que estava bem e o marido era bondoso com ela, as cartas eram vagas porque alguém podia ler e informações precisas podiam colocar ambas em riscos, mas Nina pensava que Ella havia ganhado na loteria e não acreditava que ela também teria a mesma sorte. Lhe restava apenas guardar seu destino.
Os dias se arrastavam lentamente, Nina não sabia se desejava logo sua saída dali ou se rezava para que os dias demorassem de alguma maneira a passar, não sabia definir o que era pior, se a angústia de esperar o seu destino se concretizar ou a certeza de que ele chegaria. Ela não nutria esperanças de que seu futuro marido, que nem mesmo o nome sabia se recusasse a casar com ela, homens desse mundo não iam contra a ordem de seu chefe, a palavra de um capo era lei para eles.
Seus cabelos já estavam abaixo do pescoço, estava crescendo rapidamente, se tivesse certeza que a falta dele manteria o marido longe dela o rasparia, mas ele poderia ficar furioso com sua ousadia e puni-la. A solidão que antes gostava agora era uma inimiga, não costumava conversar com as outras internas, não tinham afinidades e as outras não eram suas amigas porque ela não fazia parte nem da verdadeira elite, muito menos da nata da máfia. Além do mais achava as conversas das outras garotas supérfluas demais, Nina tinha uma inteligência acima da média, enquanto as outras meninas conversavam sobre moda, roupas, fofocas e as novidades do mundo dos famosos, ela gostava de ler, de discutir temas importantes e até mesmo escutar música clássica. Se pudesse cursaria uma faculdade, mas se antes isso era impossível, agora seria obrigada a simplesmente a cuidar de uma casa e quem sabe a parir crianças não desejadas a cada ano.
Ao imaginar que seria obrigada a se deitar que alguém na mesma cama e deixa-lo fazer o que queria com seu corpo, mais uma vez era tomada por calafrios, não era justo ser obrigada a se sujeitar a isso simplesmente por ter nascido mulher, mas sabia que o mundo não era justo, com crianças, mulheres, negros e pobres, podia viver escondida e protegida do mundo atrás dos muros do convento, mas não era uma alienada que não enxergava um palmo além do seu umbigo. Mas todo esse conhecimento não a manteria salva se seu marido resolvesse estuprá-la, nada a salvaria.
As informações prestadas pelo seu pai a deixaram ainda mais receosa, um homem capaz de intimidar qualquer outro homem seria capaz de transformar uma mulher em **. Saber de suas cicatrizes também a preocupou, não pela aparência em si, mas pessoas que passavam por experiências traumáticas e ainda por cima precisavam viver com o preconceitto sofrido por aqueles que fogem do padrão podem se transformar em uma bomba relógio, destruindo tudo aquilo que está por perto e daqui a alguns dias ou semanas quem estaria mais próxima desse homem seria ela.
Estava perdida em seus pensamentos quando bateram à porta.
_ Nina, tem alguém no telefone e deseja falar com você.
_ Meu pai?
_ Não menina, ele não disse o nome, somente que irá se casar com você.
Nina sentiu seu coração bater acelerado, não desejava falar com aquele homem, mas não tinha opção, não poderia fugir a vida inteira, era melhor falar ao telefone do que pessoalmente.