Meu coração pulsava rapidamente.
E minhas pernas tremiam muito.
Mas eu estava bem, estava muito bem. O novo bichinho adestrado saiu em disparada, o que foi uma grande surpresa já que eu não estava pronta, mas eu fui mais rápida e segurei em suas rédeas, afim de não acabar caindo.
Meu cabelos se soltaram com o impulso, e o medo de cair se tornou grande naquele momento, mas nada se comparou á sensação que veio assim que eu tomei controle e consegui sentir o vento frio percorrer cada centímetro da minha pele.
A cada segundo o animal adquiria velocidade e a sensação daquilo era tão extravagante, surreal, incrível e parecia ser até sonho.
O espaço por onde Maximus corria era simplesmente divino, o campo, as flores em algumas partes, o campo totalmente cuidado e perfeito, e tudo aquilo formou um complô para me acalmar, para me deixar na paz em que eu nem deveria ter saído.
Era impossível conter o sorriso enquanto eu sentia o vento no meu rosto.
– Pensei que tinha caído! - Ouvi a voz agora conhecida do Nicolas e respirei fundo. Olhei para seu acompanhante e eu não podia mentir, ele tinha ótimo gosto para cavalos. Seu bicho era totalmente branco, sem manchas ou pintas, o total oposto do meu. Como eu não tinha visto essa belezinha antes ?
– Eu também pensei que iria cair, mas conseguir equilibrar. - Respondi, segurando as rédeas para diminuir a velocidade.- Sou ótima no que faço.
– Percebi. - Ele diminuiu a velocidade também, rindo e olhando o horizonte.
– Agora sim, está decretado. Você está me seguindo.- Murmurei brincalhona e ele riu.
– Eu só vim conferir se não tinha caído, já que o cavalo saiu igual doido. - Deu de ombros, cobrindo sua culpa com mais uma justificativa. Balancei a cabeça negativamente e ri da sua cara de p*u.
– Acho que as pessoas foram precipitadas demais ao dizerem que ele não quer se montado. - Comentei, mudando o assunto totalmente, enquanto acariciava a clina longa e macia de Maximus.- Acho que quem tentou, não persistiu e acabou amedrontando as outras pessoas.
– Talvez sim. - Respondeu. - Mas você foi corajosa o suficiente pra tentar, mesmo depois de cair duas vezes.
– Eu tinha que arriscar. - Sorri sem graça.- Ele me chamou a atenção, e parecia tão triste que me fez querer tentar.
– Você foi corajosa.
– Fui persistente. - Dei de ombros. - ele só não gosta de cercas.
– Ou tenha traumas contra uma. - Contrapôs. Concordei, mesmo estranhando.
– E esse ai, quem é ? - Perguntei, olhando seu cavalo tão lindo.
– Essa aqui é a Robbie.- Ele acariciou a clina do bichinho e sorriu. Um sorriso sincero, mostrando que ele gostava mesmo do cavalo.- A mais dócil daquele celeiro e também a primeira que montei quando cheguei aqui a primeira vez.
– Uma gracinha, pena que não podemos levar embora. - Murmurei, olhando para o campo vasto a nossa frente que nem parecia ter fim.
– Acho que é por isso que eu sempre volto, durante o verão e quando posso. - Disse, um pouco melancólico pro meu gosto.
– Se eu pudesse vir sempre, iria vir sempre.
– É bom pra fugir da realidade. - Falou aquilo de um modo tão distante, que quase me convenceu que ele estava triste.
Seu olhar para o campo, onde o sol estava posto, que iluminava seu rosto de uma melhor forma, estava perdido. Era quase como se ele estivesse lembrando de algo, de alguém.
Só que eu não estava ali pra entender os problemas dos outros, estava pra fugir dos meus. Então fui rápida em dizer, antes de atiçar maximus.
– Quem chegar por último é a mulher do padre. - E sai em disparada para o fim do campo, sem saber muito bem o que me esperava lá.
***
– Pra quem veio aqui muitas vezes, você parece uma menininha cavalgando.- Murmurei, descendo do Maximus e me aproximando do lago que tínhamos encontrado.
Não tinha índice de trilha por perto, absolutamente nada, o que significava que ali era um lugar dificilmente frequentado, ou não era frequentado.
– Eu deixei você ganhar, queria ser a mulher do padre. - Soltou uma piadinha, também descendo do seu bicho e se aproximando do lado para molhar o rosto com a água cristalina. Maximus e Robbie se aproximaram cautelosamente da água, começando a beber, cansados de correr.
– Grande piadista, você. - Dei risada, me afastando da água e me sentando no gramado.
– Você nem sabe o quanto. - Sussurrou baixo e deu uma risadinha, logo em seguida se sentando na grama também, mas distante de mim. O que era ótimo, não queria aproximação. - Parece que o pessoal do acampamento não gosta muito desse lago.
Apontou para um pier do outro lado, com mato em volta cobrindo quase completamente a decoração de madeira.
– Talvez porque é bem distante. - Murmurei, dando de ombros. O que não deixava de ser verdade, era bem distante do acampamento.- e como a maioria vem para curtir as atividades e não sentar em um lago sem fazer nada, tiraram a trilha.
– Tem essa possibilidade também. - Riu, encarando os cavalos se refrescarem com a água e em seguida andarem até a mata que estava bem alta, comendo-as.
– Mas que é confortante, é, tem luzes, aqueles bancos melhores que o do acampamento. - Apontei para as luminárias a base de fogo, e alguns bancos que estavam sendo engolidos pelo matagal.- Se isso aqui fosse arrumado, seria um bom lugar para fugir das pessoas do acampamento.
– Vou fazer isso. - Disse convicto, chamando minha atenção.
– Porque ? Pensei que estivesse aqui pra não se sentir só e curtir o pessoal. - Comentei.
– Você está ?
– Na verdade ? Não. - Dei uma risadinha.- Estou aqui pra aproveitar o lugar e curtir antes de começar a vida adulta.
– O que seria a vida adulta pra você ? - Perguntou, com um olhar curioso, mas eu não estava afim de me abrir para um desconhecido.
– Tem maçãs aqui! - Me levantei do chão e andei até onde eu avistei a fruta. Ouvi sua risada ao fundo, percebendo que eu só estava fugindo. Bom, era bom que ele soubesse, não era só dele que eu fugia, e sim de todos os garotos possíveis.
– Parecem ótimas. - Murmurou, ainda sentado no seu lugar. Eu concordei, analisando uma maneira de tirar a que eu avistei dali. Eu poderia subir na macieira ou poderia.. - Ei, o que está fazendo ?
– Pegando uma maçã. - Murmurei, antes de jogar meu tênis certeiro no galho em que ela se encontrava e segurar a fruta, me afastando do lugar antes que o sapato voltasse e me acertasse.
– Não era mais fácil pular e pegar ? - Soltou uma risada e eu neguei, colocando o tênis de volta e lavando a fruta em seguida no lago.
– Eu sei que não conseguiria alcançar.
– Isso eu concordo. - Ele murmurou baixo, mas eu ouvi perfeitamente.
– O que disse ? - O olhei, mostrando que eu tinha ouvido bem.
– Nada! - Ergueu os braços em rendição, antes de rir e se deitar na grama verde. Tudo aqui era tão verde, com vida, que até me despertava um lado meu que estava escondido.
Não! Não desperta coisa nenhuma!
Mordi minha maçã com tanta força que achei que iria me machucar. O sabor da fruta estava perfeito, e contando que eu não terminei meu café, aquilo estava sendo uma ótima refeição.
Eu poderia pelo menos ter terminado de tomar café antes de sair igual i****a fugindo dos problemas, mas meu orgulho era grande e eu ainda não tinha aprendido a lidar com ele.
Respirei fundo e sentei de novo, dessa vez perto da água.
– Vamos perder o almoço. - Ele murmurou, procurando assunto.
– d***a. - Murmurei, realmente triste.
– É, eu também estou triste, acho que nem na velocidade mais rápida dos cavalos iriamos conseguir chegar a tempo. - Ele murmurou, me fazendo revirar os olhos.
– Que exagero. - Minha boca estava tão cheia que minha voz saiu engraçada. - Ainda era cedo quando saímos pra cavalgar.
– Você passou meia hora tentando subir no maximus, outra meia hora a gente cavalgou devagar, e de acordo com o sol, cerca de uma hora e meia pra chegar aqui.. - Começou a dizer, me fazendo ficar totalmente perdida. - Ou seja, são meio dia e alguma coisa, se demoramos quase uma hora e meia pra vir, pra voltar é a mesma coisa, então o almoço não vai estar mais na mesa, o que seria uma pena porque eles vão servir macarronada hoje, e é minha favorita.
Continuei encarando-o perplexa com seu ponto de vista totalmente estranho, sem nem me mover. Ele me olhou de volta, percebendo que eu não dei nem um pio, e juntando as sobrancelhas em confusão.
– E a Isabela ainda diz que eu sou nerd.. - Murmurei baixo, mas tinha certeza que ele ouviu, piscando algumas vezes e voltando a comer.
– Isabela ? - Ele questionou, ainda me olhando.
– Minha melhor amiga, parceira de quarto, e uma idiota.. - Murmurei, olhando para o gramado e puxando algumas raízes para me distrair, enquanto eu terminava de comer.
– Brigaram ? - Perguntou, de novo curioso como sempre.
– Você é sempre intrometido assim, ou só às vezes ? - Perguntei, jogando longe o que sobrou do que comi. Iria fazer decomposição, não iria ? Não iria ter problema.
– Meus amigos costumam dizer que eu sou assim sempre, mas eu não concordo. - Deu de ombro, nem se incomodando com minha ignorância, o que me fez rir.
– e onde estão seus amigos agora ? Veio sozinho ? - Perguntei, curiosa. Ele nunca estava com alguém desde que eu o encontrei.
– Eles virão só no último mês, eu vim antes porque precisava de um tempo. Convivo com os quatro á quatro anos.- Respondeu normalmente.
– Não mora com seus pais ? - Perguntei e ele negou. - Porque?
– Eu gostaria muito de te contar, mas você iria perder a graça pra mim se soubesse e reagisse como imagino, então, você vai saber com o tempo.
– Você não é nem um tipo de psicopata que vai fazer um assassinato em massa, é? - Perguntei, realmente falando sério e preocupada. Ele riu, claro que riu.
– Não, seria legal, mas não. - O mesmo me encarou, divertido com minha linha de raciocínio.- não sou nada do tipo.
– Ótimo, porque eu sou ótima em fuga e sou faixa preta em karatê. - Murmurei, rindo em seguida e ele me acompanhou. - brincadeira. - sussurrei. - mas tenho spray de pimenta. - Fechei o sorriso, realmente falando sério.
– Eu nunca me aproximarei de você, madame.- ergueu as mãos em rendimento, mesmo deitado, e logo soltou uma risada.
– Pro seu bem, garoto misterioso. - Soltei uma risada.- mas falando serio, de onde você veio ? Tem um sotaque diferente.
– Sou de Mullingar, Irlanda. - Disse, despreocupado. Isso explicava muita coisa. Quer dizer, o sotaque.
– De longe. - Comentei. - O que faz tão longe de casa ?
– Como eu disse, perderia a graça eu te contar.
– Eu sou uma ótima investigadora, sou hacker também mas como não tem computadores aqui tenho outros métodos para descobrir.
– Mas você não faria isso.. - Murmurou, se sentando e me encarando. - Faria ?
– Apesar de ser curiosa á um nível extremo, eu respeito à privacidade dos outros. - Sorri timidamente e cruzei as pernas. Ele sorriu de volta.
Ele tinha um sorriso bonito.
– Seria bom se todos fossem como você.- Comentou, o pensamento na lua.
– Todos do acampamento ? - Juntei as sobrancelhas em confusão.
– O mundo. - Sussurrou, encarando o gramado abaixo de si, e suspirando novamente melancólico. Ele era sempre assim ? Tão dócil ?
Que m***a.
– Triste. - Falei por falar, e olhei de novo para a macieira a procura de mais alguma maçã para comer. Eu perderia o almoço, mas não morreria de fome.
– Está a procura de mais maçã, não é ? - Ele reparou, rindo, e eu assenti.- O pior é que a fome está batendo na porta aqui também.
– Ou é maçã ou é a fome. - Comentei.
– Prefiro mil vezes maçã. - Riu se levantando e indo até o tronco, pronto pra subir. - Eu pego lá de cima e você cuida pra não deixá-las cair no chão.
Assenti.
O mesmo se virou parar subir na árvore e segurou em um dos galhos mais grossos, fazendo a mesma balançar bruscamente e deixar cair muitas, muitas mesmo, maçãs.
– Ops. - Brinquei antes de cair na gargalhada assim que ele olhou pra trás e viu várias espalhadas pelo chão.
– É, acho que não preciso subir. - Deu de ombros, divertido, rindo logo em seguida.
Peguei duas do chão, próximas de onde Maximus e Robbie comiam algumas, e lavei elas no lago. Entregando em seguida uma para ele.
– Tem bastante agora. - Murmurei, mordendo a minha, que estava bem docinha.
– É, morrer de fome não vamos.
Assenti e olhei ao redor, respirei fundo me sentindo bem melhor do que à algumas horas atras e pronta pra ir.
– Vamos ? - Perguntei, me aproximando do meu cavalo. Nicolas assentiu.
Segurei minha maçã com os dentes e agarrei nas rédeas antes de colocar o pé no pedal e me assegurar de que o bicho não iria trapacear. O que parecia difícil, já que sua atenção estava na maca que ele comia.
Subi facilmente e esperei que o loiro fizesse o mesmo antes de começar a sair.
– Posso perguntar uma coisa ? - Pedi.
– Pode. - respondeu ele.
– Você veio da Irlanda mas não é loiro natural ?- Fechei o cenho e ele só caiu na gargalhada.
– Infelizmente.- Deu de ombros. - mas esse é o máximo que consigo.
– Você precisa retocar. - Comentei, sendo sincera no comentário.- Sabe o que você está parecendo com ele loiro e arrepiado ?
– O quê?
– Um periquito.