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1829 Words
Juan Já era noite quando voltei para casa, o silêncio do ambiente me incomodou como se não houvesse ninguém. Não ouço o som das empregadas andando pelos cômodos, como também não vejo o movimento normal desse horário. Vou até a sala de jantar, encontrando Flora em pé com a mesa posta. Ela está séria enquanto ajeita um jarro de suco. Ao perceber minha presença, ela sorri. – Boa noite, Flora, como foi seu dia? – Normal, nada de novo. Talvez ela não queira que eu saiba sobre suas compras. Recebi a conta em meu escritório e paguei com prazer. Flora está assumindo o seu papel como dama da Organização, sendo fútil e gastando meu dinheiro com joias que nunca vai usar. – Onde estão as empregadas? – Já foram embora. Quem fez nosso jantar fui eu. Sinta-se à vontade, vou servi-lo. Ela está saindo melhor do que imaginei. Flora colocou o prato à minha frente, servindo o risoto com um pedaço generoso de carne assada. Pegou o copo, colocando o suco ao lado do prato. – Não coloquei os talheres dispostos como manda a etiqueta porque estamos só nós dois. Imagino que não precisamos de tanta formalidade. Gostaria de conversar com você sobre a colônia. Os trabalhadores precisam de ajuda em alguns aspectos. Tomei a liberdade de anotar alguns pontos para sua análise; talvez você possa ajudá-los. – Eles reclamaram com você? Era por este motivo que não queria que Flora se misturasse com eles. Minha mulher está em uma posição privilegiada, não deve se envolver nos problemas dos trabalhadores e suas famílias. – Não, Juan, eles nem sabem quem sou eu. Percebi por conta própria que eles necessitam da sua atenção e apoio. Você poderia pelo menos dar uma olhada, serão apenas alguns minutos. Prometo que não vai tomar muito do seu tempo. – Eles não precisam de nada disso, Flora. Você não tem que se preocupar com eles. Aquele povo vive bem do jeito que eu determino, pois sabem que não é bom terem o desafeto de um Magalhães. O meu pai era ainda mais rígido. Os mais antigos aqui estão cientes de que essa é a vida deles e são gratos por terem comida na mesa e um emprego, além da proteção de nossa família. Não quero que Flora fique enchendo a cabeça com essas preocupações bobas. Essas pessoas já estão acostumadas com a vida que ofereço a eles, e não reclamam, pois não admito que queiram algo diferente do que é oferecido. – Por favor, Juan, estou pedindo apenas que dê uma olhada. Prometo não perturbar você mais. – Qual parte do "não se preocupar" você não entendeu? Agora, esqueça esse assunto. Me diga, gostou das joias que comprou? Quero ver todas. Flora não precisa perder seu tempo com essas questões; ela deve ser linda e disponível para mim, não para problemas que não são dela. Parece que entendeu meu ponto, já que começou a falar das roupas que queria comprar e das bolsas. Uma conversa fútil e enfadonha, mas pelo menos é o esperado. Confirmei que daria a ela o dinheiro para comprar as roupas e a bolsa. Flora comemorou, batendo palmas como uma garota mimada que sempre teve tudo. – É um valor salgado, mesmo você não merecendo. Darei o que quer com a certeza de que vou receber por esses agrados. O meu p*******o envolvia Flora sendo fodida em nossa cama, enquanto sinto seu perfume de flores. Ela fica sem jeito, sabendo bem o que quero depois de todo esse gasto que terei com ela. Ela começou a comer sem dizer nada. A comida que fez é deliciosa, minha sogra a ensinou bem a ser uma mulher prendada. – Sua comida estava maravilhosa, Flora. Tem certeza de que quer fazer o jantar todas as noites? As empregadas estão cientes de que devem ficar aqui até quando for necessária a presença delas. – Tenho certeza! Tentei tocar em sua mão, mas fui rejeitado por ela. Será que está magoada pela história da colônia? Flora não consegue entender que tem obrigações como minha esposa e deve ser minha quando eu quiser, sem precisar se estressar com problemas que não são dela. – Sei que ainda tem dificuldade para entender sua posição nesse casamento. Eu entendo que devo prover tudo o que precisa, seja algo de extrema importância ou uma bolsa inútil de 20 mil, mas sobre a colônia, essa questão é apenas de minha responsabilidade. Portanto, não fique magoada com essa questão ou chateada, isso não é problema seu. A sua posição nesse casamento, como uma boa esposa, é ser minha do jeito que quero. Portanto, não pode continuar fugindo de mim ou evitando o inevitável. Sou seu marido, e você me pertence. – Juan, não quis parecer que não o quero. Só que hoje foi um dia cansativo, e minha mão ainda dói. Essa questão da colônia é algo que não tomaria seu tempo. Eu quero cuidar das pessoas daqui; elas merecem isso. Essa história da colônia já está me irritando. Entendo sua preocupação, mas aqui não é a Casa Acácia, onde sei que ajudava sua mãe na administração da fazenda. Gosto de manter tudo sob meu controle, e ela precisa entender isso. – Não quero que insista nessa história; vamos para o quarto. Quero você, e não quero discutir sobre assuntos que não lhe dizem respeito. Sobre sua mão, isso é uma consequência da sua rebeldia. Espero que entenda que nada que fizer ficará sem um retorno. Seus olhos se encheram de lágrimas, provando assim que eu estava certo. Quanto mais cedo ela entender seu lugar, melhor será para o nosso casamento. Flora O modo como me possuiu durante toda a noite deixou-me com uma sensação de imundície terrível no corpo. Quando Juan terminou, virou-se para o lado e dormiu, enquanto eu fiquei acordada pensando em tudo o que ele disse, sua falta de interesse nos trabalhadores da colônia, como se soubesse muito bem que nada mudaria, pois eles deveriam ser obedientes e aceitar tudo. Levantei-me, notando que ainda eram 23:00. Queria ficar longe dele e da sensação r**m que sentia em relação à sua postura horrível. Estou tirando minhas roupas aos poucos, levando para o outro quarto. Flávia me ajudou, mesmo questionando muito, principalmente por medo de Magalhães, mas deixei claro que não me importava tanto com a opinião dele. Cheguei no meu quarto, trancando a porta. Fui até o chuveiro, tomando um banho demorado enquanto pensava nos meus próximos passos. Preciso deixar todos aqui na colônia bem, dando a eles o que precisam. Saí do banheiro secando meu corpo enquanto continuava pensando no meu plano. Fui até meu esconderijo, pegando minha pílula e celular. A primeira mensagem que aparece é de Ulisses, mandando um "oi" junto com uma foto dele com Furacão e Orquídea. Coloco o pequeno comprimido na boca, engolindo de uma vez. Ligo para ele no mesmo momento, sendo atendida no primeiro toque. – Flora, você sumiu? Fiquei preocupado, está tudo bem? – Não está tudo bem. Eu não o amo, tenho nojo dele e do homem desprezível que é. Ulisses, ele cercou a casa de seguranças e não me deixa sair, o próprio povo dele vive como se não valessem nada, ele quer uma esposa troféu, não uma companheira para apoiá-lo. Comecei a chorar, não conseguindo conter minha frustração por estar presa a alguém como ele. Esperava o pior, não havia expectativas diferentes em relação a ele, porém pensei que pudesse ser mais sensível com os problemas do seu próprio povo, mas estava enganada. – Flora, fique calma. Pensei que soubesse que os homens da Organização são assim. Tem alguns que são justos, outros nem tanto. Sei que é difícil, mas é a sua realidade. – Mas não quero essa realidade, Ulisses. Quero ser livre para viver e amar quem eu quiser. Juan podia morrer; assim, ficaria viúva sem ter que viver como um pássaro em uma gaiola de ouro. A ligação ficou em silêncio. Ulisses respirou fundo do outro lado, como se pensasse que eu seria capaz de matar Juan. Jamais faria nada com ele, não sou uma assassina. Sinto que estou perdendo minha essência, mentindo para as pessoas, enganando Juan para desviar dinheiro para cuidar das pessoas que moram da colônia. Se ele tivesse morrido, tudo seria mais fácil. – Flora, não estrague sua vida. Se você matar um líder da Organização, será caçada e morta da pior forma. Vamos pensar em um jeito de ajudá-la sem comprometer sua vida. Quando vou poder vê-la de novo? Pela demora em responder minha mensagem, imagino que esse celular não é do conhecimento do seu marido. – Não, Juan mandou Miguel confiscar o meu celular. Esse é mais simples. Vou tentar despistar os homens dele amanhã, Ulisses. Obrigado por me ouvir. Ele se despede, dizendo que vai me ajudar. Não sei por quanto tempo poderei conviver com um homem que não amo e que de mim tem apenas desprezo e nojo. Escondo o celular novamente junto com a cartela de anticoncepcional, deito-me na cama, mas vejo a porta sendo aberta por Juan. O que esse homem quer de mim? – Flora, por que veio dormir aqui? Procurei você na cama e não encontrei. – Juan, gostaria de ter meu próprio espaço. Vou ser sua esposa, como manda a tradição, mas gosto de dormir sozinha. A expressão de desgosto dele foi visível. Claro que deve estar pensando bobagem. Mirela fez um estrago no psicológico dele a ponto de pensar que não quero dormir com ele por causa de Ulisses. Como é cansativo toda essa situação com ele. – Juan, só quero privacidade. Não tem nada a ver com Ulisses. Na verdade, não temos nada. Sou fiel apenas a você, precisa acreditar em mim. Não tenho motivos para mentir sobre isso. No dia que fui em sua fazenda, foi para conhecer o haras. Ele nem mesmo ficou comigo por conta das obrigações que tinha. É apenas um bom amigo. – Mulheres casadas não têm amigos. Sua mãe não ensinou isso a você? Entendo que precise de tempo para se acostumar com sua nova vida, mas não vou permitir essa proximidade com Ulisses. Tenho uma reputação para zelar. Mirela prejudicou muito o nome da nossa família. Tudo está relacionado a ela e como destruiu a sua reputação e de sua família. A questão é que não sou Mirela. Somos pessoas diferentes. – Juan, eu não sou sua irmã. Enquanto não parar com essa obsessão em relação a Mirela, esse casamento não vai dar certo. Vamos fazer o seguinte: eu fico aqui hoje, e amanhã dormimos juntos. O esforço extra abriu minha ferida da mão, tenho que tomar cuidado para não infeccionar. Ele não pareceu contente, mas, por incrível que pareça, aceitou meu ponto, saindo do quarto. Antes de sair, voltou, beijando minha boca com paixão. – Eu sei que você não é ela, Flora. Só que não quero perdê-la para nenhum outro. Por favor, entenda que não posso viver sem você.
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