Na hora de levar Ana a escola, Alessandro insistiu para que fossemos em seu carro. O que nos atrasou um pouco pois tivemos que remover a cadeirinha da Clarinha do meu carro e colocar no seu. Alessandro parecia radiante com a ideia de poder realizar um pedido da nossa filha e eu não podia negar que aquilo me fazia bem também. O medo dele ir e nos deixar ainda se fazia presente, mas por algum motivo eu sentia que ele não iria embora de novo. E eu espero estar certa, ele não pode ir. Ele tem que ficar, se não por mim, por ela.
- Me lembra de passar no shopping e comprar uma cadeirinha depois! - Ele coçou a cabeça, terminando de prender nossa filha. Eu já estava sentada no passageiro, ele então da a volta e toma o lugar no volante.
- Nós vamos no shopping papai?
- Ana bateu palminhas e eu entreguei meu celular na mão dela como sempre fazia. Ela gostava de ir pra escola vendo os beckardigans.
- Você quer ir? - ele pergunta arrancando com o carro.
- Quelo! - Afirmou de prontidão.
- Tudo bem por você almoçarmos no shopping, Giovanna? - Fiz que sim, dando de ombros.
- Então nós vamos filhota! - Alexandre parece mais feliz que ela e isso me faz sorrir. - O que foi? - Questionou, olhando brevemente para mim.
- Que foi o quê? Falei alguma coisa por acaso? - Respondi.
- Mas tá rindo! - Exclamou.
- Não sabia que estava proibida de rir! - Provoquei.
Quando ele ia responder, Ana Clara fala.
- Papai, eu vou poder comer hambúrguer? - Ela questiona e olho para trás fazendo que não ao mesmo tempo em que ele solta um "sim".
- Não! - Eu falei. - Tu não vai comer hambúrguer no almoço! - Ela larga o celular sobre as perninhas e cruza os bracinhos emburrada. - E nem adianta me olhar assim.
- Por que não, Giovanna? - Ele questiona.
- Porque eu sou a mãe, sendo assim ,eu mando! - Pisquei pra ele, que abriu a boca pra responder mas se cala ao estacionar na frente da escola.
- Chegamos! Meu celular mocinha, dá aqui.. - Peguei da mão dela.
Alessandro desce do carro e pega Ana no colo. Sigo os dois andando um pouco atrás, deixando eles ter esse momento pai e filha. Percebo os olhares das mães para Alessandro e sorrio. Ele é daquele tipo de homem que não passa sem ser notado.
Alessandro para de repente e estende a mão para mim. Eu aceito e começamos a andar de mãos dadas até o portão da escola. A cena era digna de comercial margarina.
Depois que Ana apresenta o pai para algumas amiguinhas e consequentemente para algumas mães, ela entra na escola. Não sem antes estalar um beijo na minha bochecha, e um abraço apertado em Alessandro. Confesso que isso me deu uma pontada de ciúmes.
- Onde eu deixo você? - Ele questiona quando já estamos no carro novamente.
- Na empresa! - Respondo.
- Aquela?? - Faço que sim. - Ok..
20 minutos depois ele estaciona em frente a corporação onde eu trabalhava a tantos anos.
- Obrigada pela carona! - Resmungo.
- Não foi nada! - Ele responde e sorri. - Lembra quando eu te deixava aqui todos os dias?
- Já tem tanto tempo, né? - Fingi indiferença. Sem saber mais o que falar ou fazer, eu abro a porta do carro pra sair.
- Ei, vem aqui! - Ele me puxa pelo braço, colando seus lábios em minha bochecha. - Passo aqui pra te pegar na hora do almoço, depois que pegar Ana! - Sussurrou.
- Ok.. - Resmungei, descendo do carro.
Nunca uma manhã demorou tanto pra passar, eu estava ansiosa por estar com minha família de novo, almoçando nós três no shopping. Coisa que para outras pessoas era normal, pra mim parecia um sonho de tão surreal. Não que eu não levasse Ana ao shopping, eu levava. Mas, com ele era a primeira vez.
Exatamente às meio dia Alessandro chega, com Ana Clara toda sorridente no banco de trás tomando sorvete. Somente suspiro, já vi que ele tem muito o que aprender.
- Tu deu sorvete pra ela agora? - Disparo assim que entro no carro, jogando minha bolsa ao lado dela.
- Qual o problema em comprar um sorvete pra minha filha? - Rebateu. - Ela quis, não tive como negar!
- O que nós já conversamos sobre tomar sorvete antes de almoçar Ana Clara? - Questiono pra ela, que solta um sorrisinho amarelo.
Alessandro arranca com o carro, enquanto me questiona.
- O que tem demais dela tomar um sorvete antes do almoço? - Fala pra mim, mas o olhar esta preso na avenida.
- Já já tu descobre. E só pra constar, quem vai ter que da um de pai chato é tu, eu não vou falar nada! - Levantei as duas mãos.
Alessandro só me olhou sem entender, mas não disse nada. Ana Clara termina o sorvete quando chegamos ao shopping, levei-a no banheiro para se limpar enquanto Alessandro segurava a fila.
Depois que voltei ele já havia feito o pedido exatamente como eu pedi e nós esperávamos sentados em uma mesa.
- Eu não quelo, papai! - Ela fez careta e eu olhei para Alessandro que coçou a sobrancelha.
- Eu avisei! - Dei de ombros.
- Come só um pouquinho, princesa! - Ele levantou a colher. - Não é tão r**m assim.
- Isso é hollível, eu não gosto de salada! - Colocou a língua pra fora e me segurei pra não abraçar ela.
- Mas ontem você comeu! - Ele constatou.
- Ontem ela não tinha tomado sorvete! - Me intrometi na conversa deles. - Toda vez é isso, Amora acostumou essa menina m*l!
- Eu quelo comer lanche! - Fez a carinha mais dócil possível e Alessandro olhou pra mim sem saber o que falar, eu somente neguei com a cabeça.
- Princesa.. come a salada, é tão nutritivo. E você não quer ser forte?
- Não, meninas não são foltes, eu não quelo ser folte, eu quelo comer um lanche! - Levantou uma sobrancelha e novamente Alessandro olha pra mim desconcertado.
- Ana Clara, olha aqui! - Chamei a atenção dela. - Tu vai comer a salada e se resmungar, isso aqui que seja.. - Fiz sinal com a mão.
- ..vai ficar sem desenho, até sábado!
- Eu não quelo ver desenho mesmo! - Deu de ombros e cruzou os braços. - Meu papai vai complar o lanche pla mim, né papaizinho lindo?
- Deixa, só hoje! - Ele pediu pra mim, já vi que ela vai fazer o que bem quiser com ele. - Pô Giovanna, é a primeira vez que trago minha filha pra sair, deixa ela comer o que quiser, só hoje!
- Tu num acha que é porque seu pai tá aqui que as regras vão mudar, viu mocinha?! - Ela fez um biquinho. - Só vai comer hoje, tá ouvindo?
- Ebaaa! - Comemorou. - Eu quelo uma batata flita também e... - Parou de falar ao olhar pra mim. - Tá bom.. só o lanche. - Revirou as bolinhas de gude negras.
Alessandro se levantou, indo até a fila novamente. E quando voltou, trouxe bem mais que um lanche. Eu somente suspirei, vencida. Se eu não ficar de olho ele vai acabar estragando ela. E, Ana Clara se aproveita do fato de Alessandro estar super bobo, fazendo assim o que bem quer com ele.