Capítulo 01
Duda narrando
Hoje vai ser o furdunço nesse morro, chefe novo chegando, as p**a fica louca, e eu sem paciência nenhuma pra elas.
Fiquei no plantão a noite toda, cheguei em casa tomei um café da manhã e fui dormir depois de um bom banho, só de saber que vou ter que ficar na cola dele quando ele chegar já me dá tédio, queria só dormir o dia todo.
Acordei com o radinho tocando e bati a mão do lado da cama me levantando, só a preguiça
- visão - atendo o rádio me sentando na cama
- coe dudinha, chefe novo tá chegando já, bora na contenção - coelho fala e eu rolo os olhos
- me dá trinta minutos e eu desço - falo e ele dá risada
- em dez ele tá aqui, princesona, brota no miolo - ele fala e eu nem respondo só desligo o rádio
- aiiiii que saco, nem dormir eu posso - falo me levantando da cama
Ainda bem que tomei banho antes de deitar, abri meu armário e coloquei uma lingerie, porque eu durmo só de camisola, vesti um short preto, um top preto, calcei meu chinelo e peguei minha arma colocando na cintura, arrumei meu cabelo, escovei os dentes e fui pra cozinha pegando meu fuzil debaixo do balcão onde deixo ele escondido
Peguei minha moto e fui direto pra boca pra ver como está lá e descer pra recepcionar o bonzão novato
Nesses anos de correria eu conquistei muita coisa, entrei nessa por necessidade, perdi meus pais numa invasão, fiquei abandonada, não tinha como pagar nem o aluguel, então tive que dar meus pulos
Hoje já tenho duas casas, tenho meu carro, minha moto, e ainda tenho uma lojinha pequena que alugo pra tia do açaí, então tô bem tranquila, rica e bem novinha
Mas tudo isso foi com muito sacrifício, não saia muito pra baile pra curtir, só ia mais por plantão mesmo, vendia droga igual louca, trabalhava vários dias virada, pra hoje ter o que eu tenho, e não me arrependo de nada, sempre corri muito atrás, tudo o que eu tenho é por mérito meu
A tia do açaí me dava a maior moral, antes dela abrir a lojinha dela, eu vivia na casa dela, comendo, bebendo, as vezes até dormia lá, tenho maior consideração pela coroa
Ela tem uma filha, Natália, não vale nada, senta pra tudo que é bandido, mas é gente boa, gosto dela, temos uma amizade, sempre que eu ia para os bailes pra curtir era porque ela me arrastava, a praga não me dá paz
Uma das minhas casas é alugada, ela é pequena, então a grana não é muita, mas é assim que eu monto o meu pé de meia
- fala Coelho, ele já chegou ?- faço o toque com o coelho assim que chego na boca
- ainda não, os menor falou que ele tá chegando por aí já - ele fala sério
Coelho e eu já ficamos algumas vezes, mas aí ele engravidou uma mina e assumiu ela, ela morre de ciúmes de mim, mas se tem uma parada que eu respeito é casamento dos outros, longe de mim pegar homem casado, com tanto homem na pista por aí
- fala lindona - Natália chega cheia de fogo, toda arrumada
- fala bandida, já veio na intenção né ?- pergunto e ela se faz de sonsa dando risada
- Coelho, manda ela me respeitar que sou uma moça decente - ela brinca com o coelho que me cutuca rindo
- de decente tu não tem nem a alma, garota, se liga - ele fala rindo e o nosso rádio apita falando que o chefe tá entrando no morro
- vai garota vaza, temos que receber o novato - eu falo e ela senta do outro lado da rua com outras colegas
- preparada ?- coelho fala comigo e eu reviro os olhos - deixa de ser enjoada garota, tu não é assim - ele fala comigo e eu dou risada
- tu lembra do caveira né ? - falo me referindo ao antigo dono e ele concorda - vai que é a cópia dele, aí nos que vamos tomar na cabeça - falo e ele n**a fazendo o sinal da cruz
O dono daqui era o bicho r**m na terra, ele e o sub dele, os dois faziam um inferno nisso aqui, aturar eles dois era um desafio, mas é aquilo, eu precisava, então engolia muito sapo, não era pouco não, eles humilhavam todo mundo, nos da boca então, ninguém gostava deles, mas a maioria entra nessa vida por necessidade, toda resenha que tinha ninguém chamava eles dois, ninguém aturava ficar perto deles, eles usavam e abusavam das p**a daqui, e ainda tinha malucas que se jogavam aos pés deles
O caveira tentou ficar comigo várias vezes, se eu quisesse tinha tudo, mas eu nunca quis, ele era nojento, aspecto de sujo, e por tudo que ele fazia, eu não aguentava olhar na cara dele, só fazia a minha obrigação, e mesmo assim ele me barrava de muitas coisas pra fazer o jogo sujo dele, e todas as suas armações, e eu me fazia de cega, porque não queria ter participação em nada
Ele queria que eu fizesse parte dos esquemas deles, mas eu sempre fui o certo pelo certo, esse jogo sujo nunca foi comigo, não mesmo
Eu preferia passar noites e noites virada, pra subir de cargo, ganhar o meu, mesmo que de uma forma suja, mas honestamente, do que entrar no jogo deles é uma hora ou outra a casa cair pra mim, assim como caiu a deles
Fui eu que fui implantando provas, pro comando pegar eles dois, e não me arrependo disso, eu sabia do risco que eu estava correndo, e sabia que eu poderia me fuder se eles descobrissem, mas eu preferia agir pelo certo do que compactuar com as coisas que eles faziam, tudo aquilo ia contra os meus princípios
Por isso quando eles foram pegos eu fiquei dois dias sumida, pois recebi a informação do comando que eles iriam ser cobrados e poderia ter retaliação da parte deles, ou de quem estivesse a favor deles, contra mim, e mesmo que o comando tivesse me dado proteção, eu preferi me esconder e ficar dois dias no hotel, longe da vista de todos, me senti mais segura e protegida dessa forma
Assim que eu recebi a informação eu arrumei uma bolsa e sai do morro como se fosse dar um rolê e fui pra longe, sem avisar nada a ninguém, só voltei quando o coelho me ligou me falando que tinha um babado fortíssimo pra me contar, e que o comando estava no morro, que eu precisava voltar, assim que ele me confirmou a morte dos dois, eu me senti mais segura e voltei pra casa
Chega maior carrão na boca, um pretinho delícia, com cara de nojento, ele abaixa o som e tira os óculos escuros descendo do carro, seus olhos param em mim na mesma hora, e ele vem na nossa direção
- e aí, sou o dodô - ele fala parando na minha frente e do coelho
- Duda, gerente geral - falo fazendo o toque com ele que me olha confuso e eu mantenho a postura
- coelho, chefe de treinamento - coelho se apresenta
- tu é gerente geral ?- é a primeira coisa que ele me pergunta e eu já bolo na hora
- - algum problema ?- pergunto e ele n**a dando risada e eu já não fui com a cara dele, ranço