Vitória?
1086 Words
Quando finalmente descemos para o chá, nossos pais estavam no jardim. Eu fiquei aliviada quando eles nos trataram normalmente.
- Emy, querida. Seu chá quase esfriou. - Kelly falou forçando simpatia.
- Obrigada Kelly. - Jonas sentou ao meu, e apoiou a mão na minha perna de forma carinhosa. Todos continuaram conversando, menos a Kelly que observou o toque carinhoso de Jonas e fez uma cara de nojo quase imperceptível. Eu detestava aquela mulher. A forma que ela me olhava com superioridade.
-... No final, eu acredito que faremos um ótimo negócio. - Meu sogro terminou uma frase que eu não prestei atenção.
- Que ótimo negócio? - Perguntei curiosa. Por um tempo esqueci da minha crise familiar.
- Coisas de homem Emily, você não deve se preocupar com isso. - Meu sogro não sabia o quanto aquela frase me irritava.
- É sobre a nossa empresa, pai? - Perguntei olhando diretamente meu pai nos olhos, que ficou vermelho imediatamente.
- Emy, porque esse assunto tão sério. Deixei que sobre a empresa eles se entendem.. - Minha mãe interveio, para evitar algum tipo de desconforto. - Falemos do casamento.
- Na verdade Ema, acredito que nossa família não deve ter segredos, e se algo está sendo discutido sobre a nossa empresa, é importante sabermos. - Jonas falou em um tom extremamente respeitoso.
Meu pai pareceu diminuir na cadeira, minha mãe ficou muda e até Kelly nos deu atenção. Meu sogro então pigarreou,
- Vocês não devem entender, por conta da falta de experiência, mas por conta de algumas dívidas o seu pai corre o risco de perder a empresa. Eu vou ajudá-lo, em nome da nossa família, visto que em breve seremos todos uma única família. - Aquilo não me agradava em nada. - E com o tempo, ele vai me retribuir com um grande investimento na nossa empresa. E será um ótimo negócio.
- Entendi pai, obrigado por esclarecer. - Mas eu ainda não estava satisfeita. Nunca me interessei muito pelos negócios da minha família, mas nos últimos anos meus pais tomaram decisões que colocaram em risco todo o legado da família White, e agora estávamos dependentes do meu casamento e favores para o meu futuro sogro.
- Garcia, que tipo de ajuda você irá nos fornecer? - Ele me olhou surpreso.
- Emy, querida, você não entende nada dos negócios da familia. - Minha mãe iria surtar, era só questão de quando.
- Talvez esse seja o meu erro mãe. Estive pensando que chegou a hora de eu participar mais da empresa, afinal, meu futuro é herdá-la não?
- Mas é por isso que o casamento com o Jonas é perfeito, você não terá que se preocupar com isso, ele ira cuidar de tudo. - Olhei para Kelly desafiadora, o que ela queria dizer com isso? Que eu ia me tornar uma dondoca como ela?
- Deixe que o Garcia responda. É importante eles estarem a par das nossas negociações. - Meu pai interveio.
- Emily, nesse momento será um aporte financeiro, para que a empresa possa se restabelecer no mercado, em um segundo momento, se necessário, farei uma segunda rodada de investimentos. E em um espaço de dois anos seu pai me devolverá o investimento, fazendo o mesmo na minha empresa.
- Pai, dois anos é tempo suficiente para restabelecer as perdas dos últimos anos? - Achei que naquele momento meu pai ia chorar. Ele respirou algumas vezes antes de responder.
- Para o aporte inicial sim. Para a segunda rodada teremos que validar o prazo. Mas os detalhes trataremos depois.
- E teremos um contrato ou algo assim, ou é apenas um acordo verbal na hora do chá?
- Emily, acho que já deu de perguntas. - Senti a urgência na voz da minha mãe.
- É a última pergunta, prometo. - Olhei para o meu pai e depois para o meu sogro.
- É um acordo verbal, Emily. - Meu sogro não estava confortável com aquela conversa. Parecia que tinha um sinal de perigo dentro da minha cabeça. Eu não entendia nada dos negócios da minha família, mas eu sabia identificar quando alguém queria tirar proveito de uma situação.
- Eu gostaria de propor um contrato. - O choque foi geral. Até Jonas que estava tranquilo ao meu lado endureceu na cadeira. - Apenas para formalidades, afinal, juridicamente, não podemos usar um casamento entre as partes como garantia, não é mesmo? - Falei rindo, para quebrar o gelo, e eles seguiram o meu ritmo.
- Que tipo de contrato Emily? - Meu sogro estava se sentindo desafiado.
- Algo que estabeleça valores de investimentos e prazos de devolução, para formalidades, é claro. - Eu nunca me senti tão em perigo. A minha intenção era que ele soubesse que não poderia tirar vantagem das besteiras que meu pai fazia.
- White, consegue passar no escritório na quinta?
- Sim. - Meu pai quase não tinha mais voz, ele respirava com dificuldade e estava vermelho igual uma pimenta.
- Bem, na quinta meu time jurídico irá preparar o contrato e revisamos com eles, e em seguida, fechamos o acordo. - Ele me olhou desafiador. - Para você, é o suficiente?
Não era. Eu queria mais. Queria estabelecer que ele estava investindo na empresa porque acreditava no potencial do investimento, não apenas por causa do meu casamento com o Jonas. Ou pior, para tirar vantagem futura.
- Por ora. Acredito que será confortável para nós levarmos alguém do nosso jurídico também, para assegurar as vantagens de ambos os lados.
- Fique a vontade. - Garcia estava desconfortável, ele não costumava esconder suas reações, e era nítido o esforço que estava fazendo. - Agora vamos falar de um assunto que realmente é da conta de todos. Ema, como estão os preparativos para o casamento? - Algo estava errado. Ele estava tramando alguma coisa, e o vício do meu pai nos colocou naquela situação. Eu precisava fazer alguma coisa.
O casamento não era o meu assunto favorito, eles queriam fazer uma festa enorme, para 500 convidados, e eu não conhecia nenhum deles. Kelly gesticulava e falava de decoração e canapés enquanto a minha mãe sorria simpática. Garcia não tirava o olho de mim, Eu sabia que tinha alguma coisa errada naquilo tudo, eu não sabia o que era, mas eu com certeza iria descobrir.
Jonas acariciou o meu cabelo, me deu um beijo leve no rosto e sussurrou no meu ouvido:
- Eu te comeria agora mesmo, de tão gostosa que você fica desafiando os leões.
- Writer
