Fuga na madrugada

1163 Words
Depois que Jonas foi embora, eu ainda fiquei um tempo deitada tentando entender o que tinha acontecido. Eu me sentia completamente adulta agora. Eu senti sensações inenarráveis e quase pedi para ele ficar. Quase. De todos os caras do universo, eu não poderia me apaixonar por ele. Afinal, mesmo que tivéssemos que casar, seria por vontade e pressão das nossas famílias, não por amor. Ele serviu para me dar prazer e me tornar adulta. Apenas. Depois de um banho revivendo mentalmente as duas últimas horas eu finalmente dormi. Eu tinha planos para aquela noite e queria descansar. Acordei com a minha mãe entrando no quarto. Eu não tinha ideia de que horas eram. - Desculpe te acordar, mas queria saber se deu tudo certo. - O que? - Eu ainda estava sonolenta. - Se vocês se divertiram na nossa ausência. - Ela parecia ansiosa. Deveria estar bêbada já. - Foi normal mãe, nada demais. - Menti. - Achei que você finalmente tinha cedido. - Que história era aquela? - Cedido ao que mãe? - Não seja puritana, sabe muito bem do que estou falando. - Não sei mãe. Não sei, não quero saber e gostaria que saísse do meu quarto. - Você não precisa ser grossa. Eu só queria saber se podemos comemorar que os hormônios de vocês vão nos ajudar com o nosso plano. - Mãe, boa noite. - Falei apontando em direção a porta. - Só me avise quando acontecer, quero ser a primeira a saber. - Mãe, pelo amor de Deus, saia do meu quarto. - Eu estava quase chorando já. - Tchau Emily. - Ela bateu a porta ao sair, claramente bêbada e descontrolada. Olhei no relógio e já tinha passado das 23 horas. Levantei e comecei a me organizar para sair com a Jéssica. Ontem eu tinha encontrado ela por volta da 1 da manhã. Estaria pontualmente lá, afinal a minha curiosidade era imbatível. Depois de me arrumar como uma verdadeira put4, eu olhei no espelho e fiquei satisfeita. O conjunto que usei era muito exposto, preto. Forcei a maquiagem, abusando no batom vermelho e peguei uma bota não muito alta, afinal eu não sabia onde íamos. Usei como base a roupa que ela estava ontem. Faltando 10 minutos para a 1 da manhã eu saí descalça do meu quarto, com a bota nas mãos. A casa estava completamente silenciosa e a porta do quarto dos meus pais estava fechada. Fechei a porta do meu quarto e desci as escadas em completo silêncio. Eu sentia o perigo me circulando a todo momento. Eu ia mesmo fugir, com uma pessoa que era completamente louca para um lugar que eu não fazia ideia da onde. Entrei na cozinha e enquanto vestia as botas a Jéssica entrou. - Ok. Estou surpresa. - Ela me olhou dos pés à cabeça. - Você parece até outra pessoa. - Obrigada. Eu acho. - Falei sussurrando. - Querida, o tanto que as pessoas bebem nessa casa, você poderia dar uma festa que ninguém te ouviria. Vamos? - Ela abriu a porta da saída dos funcionários e eu a segui. - Para onde vamos? - Se eu te falar agora, você não vai querer ir. E tenho certeza que, menininha pura, como você é, vai adorar o que eu tenho para te mostrar. Meu instinto quase implorava para voltar para casa, mas eu tinha feito poucas loucuras na minha vida. E aquele dia em específico eu estava me sentindo imbatível. Talvez por não ser mais virgem. - Eu confio no seu julgamento. - Falei honestamente. - Não deveria confiar, afinal eu sou a última pessoa que sua mãe ia querer como sua amiga. - Tenho algumas perguntas, se não se importa. - Eu precisava garantir que ninguém iria nos descobrir. Ela caminhou até a garagem, se dirigindo até uma pequena moto que ficava escondida nos fundos. Me entregou um capacete e subiu na moto. - Primeiro, pare de ser tão educada. Eu simplesmente não tenho paciência. Pergunte direto, não precisa pedir permissão. - Tudo bem. - Suba na garupa. - Olhei com medo para aquilo. A moto parecia que ia desmontar com nós duas em cima. - Eu não vou te derrubar. Suba garota. Eu subi na moto, coloquei o capacete e ela ligou a moto. O ronco embaixo da minha bund4 me assustou e eu agarrei as mãos em volta da cintura dela. - Vou devagar no começo, para você se acostumar. - Obrigada. - Ela saiu da garagem e depois de alguns segundos de pânico eu finalmente me acostumei e comecei a aproveitar o passeio. Ela pegou a avenida principal, sentido rodovia. - Existe o risco de sermos vistas onde vamos? - Não. - Vamos a uma balada? - É tipo isso. - Existem paparazzis ou algo assim? - Não. Vamos a um lugar seguro. - Certo. - Segui em silêncio. O único barulho entre nós nos quilômetros seguintes era da moto. Assim que ela parou e eu tirei o capacete, pude ver um casarão que parecia muito com uma mansão antiga. Se era uma balada, não aparentava. Caminhamos ainda sem nos falar até a entrada. Um segurança nos parou na porta. - Documentos? Mostramos os documentos e ele olhou bem para a minha cara depois de ver a foto. Eu deveria estar muito diferente. - Vocês são um casal? - Somos. - Ela falou antes que eu pudesse responder. - Prove. - Ele cruzou os braços. Aconteceu antes que eu pudesse fazer algo. Jéssica me puxou pelo pescoço e me tacou um beijo na boca. Eu reagi por puro instinto. Lembrei tarde demais de fechar os olhos, e devo ter correspondido de forma mecânica. Ela se afastou, rápido demais. - Convencido? - Podem entrar, aproveitem a noite. - Ele abriu uma porta e entramos em um salão bem amplo. Normal. Parecia um restaurante chique com cheiro de charuto e cigarro. - Desculpe pelo beijo. Eu precisava provar pra ele. - Sem problemas. - Você já tr4nsou na vida? - A pergunta me pegou como um soco. - Já. - Eu devo ter feito uma cara de medo porque ela parou de andar imediatamente. - Certo. Vamos conversar antes de qualquer coisa. Ela sentou em um banco que dava para o balcão. Fez um sinal de dois com os dedos e o garçom serviu para nós duas doses de algo transparente. - Desembucha. Tr4nsou com quem? Ele é um idi0ta? Ele te magoou? É o Jonas? - Senti o celular vibrar, aproveitei para pensar o quanto poderia confiar nela. Era uma mensagem do Jonas. “Gata, foi muito bom hoje. Mas você sabe que não temos nada. Não se apegue. Nossa relação é de negócios.” Filho da put@. Ele se aproveitou de mim. Usou um momento de vulnerabilidade meu para tr4nsar comigo e depois cair fora. Jéssica tirou o celular da minha mão, leu e me estendeu um copo. - Vamos beber. - E eu virei a dose de vodka de uma vez.
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