Condições

1066 Words
- E você vai servir café? Porque não entende nada de negócios. - Minha mãe zombou. - Ao contrário do que você acredita, eu sou bastante inteligente. E venho estudando o mercado de produtos químicos faz anos. - As duas sobrancelhas levantadas demonstravam o quanto a minha mãe estava surpresa. Meu pai já imaginava, porque sempre que possível eu questionava algumas coisas. - Ou seja, eu tenho capacidade total de atuar na empresa, posso aprender com o papai a gerenciar e assumir a frente das coisas. E para isso vem a minha segunda condição. Farei uma faculdade. - A minha mãe soltou um suspiro. Pedir para fazer faculdade era como pedir para beber veneno. - E quando vai ter filhos? Você se casará logo… - E se eu não quiser ter filhos? E se eu não puder ter filhos? Você não vai controlar isso mãe! - Você não fará faculdade. - Ela falou usando o tom autoritário. - Então não vou casar. - E você pretende viver de que? Porque perderemos a empresa. - Eu arrumo um emprego e vou viver a minha vida. O que vocês vão fazer é o problema. Imagina, como ficará a imagem dessa família? - Ali, eu sabia que isso a faria sangrar. - Perderam tudo, até a filha virou as costas para eles. Porque farei questão de dar entrevistas para todos que me procurarem para explicar o que houve… - Você não teria essa coragem. - Você quer pagar para ver? - Meu sangue fervia nas veias. Agora eu iria até o fim. Eu nunca mais teria essa oportunidade. - Atuar na empresa, para gerenciá-la no futuro, incluindo participar das negociações com o Garcia. Iniciar uma faculdade no próximo semestre, a terceira condição, casarei com o Jonas somente daqui um ano, não em dois meses. - Você ficou maluca! - Meu pai falou finalmente. - Eu aceito todo o resto, isso não é possível. - É possível sim, e o Jonas pode ajudar. Afinal, como a mamãe me incentivou, eu finalmente cedi aos hormônios e agora estamos tendo uma relação de verdade. Quanto a isso eu quero apenas autonomia para poder resolver com ele. - Você incentivou? - Eu apenas disse para ela viver a relação. - Minha mãe disse envergonhada. - Não, você até me parabenizou quando aconteceu. Porque para você eu sou um objeto que você pode negociar em troca do que precisa. - Essa acusação é injusta Emily! Eu te amo, você é minha filha. - Então demonstre! Essas são as minhas condições, é pegar ou largar. - Cruzei os braços e esperei. Meus pais se olharam e por um segundo tive a impressão que eles negariam tudo e que eu seria castigada amargamente por desafiá-los. - Algo mais? - Meu pai perguntou. Pensei por um momento e vi ali uma oportunidade única, eles estavam mesmo considerando aceitar. - Você vai procurar ajuda profissional para o seu vício em jogo. Fará tratamento e vai se curar. E você - olhei para a minha mãe, tinham várias coisas que eu queria que ela mudasse, que ela fizesse por ela e por mim, mas fiquei com a mais importante. - Você não vai mais me obrigar a agir como você acha certo. Resolva seus problemas com as aparências sozinha. Eu serei eu mesma. - O que você quer dizer com isso? - Que se eu sentir vontade de jogar bebida na cara de alguém em uma festa, que eu possa, sem me preocupar com o que a sociedade vai pensar. - Porque você faria isso? - Não importa. Eu quero poder tomar as minhas decisões com base no que eu julgo melhor para mim. Os dois ficaram em silêncio e eu me mantive firme, nem respirava direito, com medo de que eles percebessem que eu estava desmoronando por dentro. Eu estava estabelecendo novas regras para a minha vida depois de ceder por todo aquele tempo, era demais para mim. - Eu estou de acordo. - Meu pai começou. - Ema? - Isso é um absurdo, estarmos sendo ameaçados pela nossa própria filha. Que criamos com tanto amor e dedicação. - Eu gargalhei na cara dela. Gargalhei tanto que cheguei a perder o ar. - Mãe, o que aconteceu nessa casa até esse momento pode ser qualquer coisa menos amor e dedicação. - Você terá filhos um dia e entenderá o porque fazemos o que fazemos. - Não, porque se um dia eu tiver filhos quero que eles sejam fortes, honestos e humildes. Tudo o que eu não fui até hoje. - Ela ia rebater e eu me adiantei. - É pegar ou largar mãe. - Ema, por favor. Considere… - Meu pai estava cansado daquela discussão. Normalmente ele cedia para tudo o que a minha mãe queria apenas para não discutir. Deveria estar muito desconfortável para ele. - Não vou me opor, mas você também não tem o meu apoio. Faça o que achar melhor. - Ok. Pai, que horas saímos amanhã? - Meu pai me olhou surpreso. - Acho que não ficou claro que tudo isso tem efeito imediato. Então começo amanhã a trabalhar com você. - Saímos às 09. - Estarei pronta. Boa noite. - E subi para o meu quarto deixando eles digerirem tudo o que tinha acontecido. Eu me sentia imparável. Finalmente consegui ganhar uma discussão com os meus pais e poderia pensar em ter uma carreira. No fundo essa sempre foi a minha vontade, mas com a minha criação limitada em servir a um marido que iria salvar a minha família nunca achei que fosse possível. Depois do banho separei a roupa que eu usaria no dia seguinte, e concluí que precisava investir em looks sociais, visto que eu começaria a trabalhar. Aproveitei para pesquisar universidades, e escolhi duas que tinham uma grade bem completa com valores aceitáveis e marquei vestibular nas duas. Depois de tudo organizado deitei na cama, eu estava ansiosa mas cansada, e amanhã seria o primeiro dia de uma nova fase. Mandei uma mensagem convidando o Jonas para jantar no dia seguinte, para resolver os termos do casamento. Quando finalmente fechei os olhos para dormir um pensamento me ocorreu. Escrevi mais uma mensagem, agora para a Jéssica, afinal eu era dona das minhas decisões agora, e iria fazer o que eu quisesse. E estava na hora de abraçar as minhas vontades. “Avise ele que talvez eu volte sim.”
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