Enganada

1303 Words
Passei quase uma hora deitada olhando para o bilhete. Era uma coisa simples, mas que estava virando a minha cabeça. Depois de todo esse tempo eu cheguei a 3 perguntas importantes que eu não teria resposta: Por que ele se deu o trabalho de me mandar um bilhete? Como ele sabia que eu tinha algum contato com a Jéssica? Afinal, só ficamos juntas antes de entrar. E a terceira, e mais enlouquecedora de todas. Eu gostaria de encontrá-lo? Minha resposta racional para essa pergunta era um não gigante, como um letreiro na minha cabeça. Mas sempre que eu pensava em não voltar lá, eu sentia uma angústia quase sufocante. E mesmo o Marco me intrigando, talvez não tivesse nada relacionado a ele, e eu estava usando isso como desculpa para silenciar vontades mais profundas. Depois de quase fritar a minha cabeça dando voltas, resolvi começar a me arrumar, em breve sairemos para o chá e eu não queria outro debate com a minha mãe, principalmente por atraso. Escolhi um vestido simples, que me dava uma aparência de menina doce. Eu sabia que as aparências eram muito importantes para os meus pais, mas principalmente para os pais do Jonas. Como casaríamos em breve eu precisava fazer o possível para que eles gostassem cada vez mais de mim. Desci e Maria estava com o almoço pronto, conversando alegremente com a Jéssica na cozinha. A relação das duas sempre me invejou. Ela realmente respeitava a filha. Eu não tinha certeza se a Maria sabia das escolhas profissionais da filha, mas ela não a julgava. - Sirva-se menina. - Maria apontou para as travessas postas sob a mesa, e mesmo sem fome, resolvi comer um pouco para não fazer desfeita. - Olhe Jéssica, como a Emy está bonita. - Está mesmo mãe. Uma verdadeira boneca de porcelana. - Ela sorriu para mim, debochada. - Adorei seu vestido. Te deixa mais nova. - Obrigada pelo elogio. - Comecei a comer para acabar com a conversa. Comi algum tempo em silêncio e percebi que as duas estavam trocando olhares. Algo estava errado. - O que aconteceu? - Nada menina. Coma, seus pais devem descer em breve. - A Maria sempre me chamou de menina, ela estava conosco desde quando me lembro. Até quando meu pai começou a atrasar o p*******o dela, e eu achei que ela iria embora, ela ficou. Terminei de comer e estava começando a ficar incomodada com aquela troca de olhares. - Certo Maria. Eu não sou mais uma criança. Me diga o que está acontecendo, por favor. - Tentei usar o tom mais autoritário que consegui, e falhei miseravelmente. - Certo. Certo. - Jéssica começou e Maria a calou com um sinal com a mão. - Deixe Jéssica, dona Ema deve conversar com ela. Não cabe a nós. - Vocês não vão me falar mesmo? - Olhei fixo para a Jéssica. De qualquer forma eu saberia, conseguia ver na cara dela que algo estava estranho, e ela não iria esconder de mim. Não depois das últimas 24 horas, que dividimos coisas íntimas. Até nos beijamos. - Boa tarde. - Meu pai entrou falando mais baixo que o normal com a minha mãe cheia de pompa logo atrás. - Os senhores querem almoçar? - Maria correu a servi-los. - Não precisa Maria. Já almoçamos. Está pronta? Estamos quase atrasados. - Preciso de 5 minutos. - Levantei e fui ao meu quarto, terminar de me arrumar. Peguei o celular e tinha uma mensagem da Jéssica: “Gata, não sei se entendi direito, mas ouvi uma conversa dos seus pais. Parece que seu pai apostou a empresa e perdeu. Sinto muito.” Meu mundo caiu. Sentei na cama e tentei respirar. Tínhamos apenas aquilo como fonte de renda, e se ele perdeu, o que será de nós? O pânico me tomou completamente. Precisei respirar muitas vezes para me acalmar. Respondi um obrigada por me avisar para a Jéssica e desci. Fui direto para o carro, e meus pais já me esperavam. - Se não se importam, vou com o meu carro. Devo sair com o Jonas depois do chá. - Eu sabia que se usasse esse argumento a minha mãe não implicaria. - Sem problemas, nos vemos lá. - Entrei no carro e segui em rumo a casa de Jonas. Aproveitei o percurso para pensar. Vou me casar com ele, poderei comprar a empresa de volta, trazer estabilidade para a minha família antes de me separar. Ou eu posso arrumar um emprego. Qualquer coisa. Eu posso me adaptar. Conseguiremos resolver. Eu dirigi devagar, por medo do meu nervoso causar algum acidente. Percebi que cheguei uns segundos depois que parei o carro. Desci do carro e meus pais pararam logo atrás. A casa deles era gigante, 4 vezes maior que a minha e com 5 vezes mais funcionários. O manobrista logo entrou no meu carro para estacioná-lo e eu caminhei calmamente até a porta. Finalmente consegui controlar meus nervos. Eu daria um jeito, para isso tudo precisava seguir conforme o plano. O casamento, talvez um filho, quem sabe um emprego na empresa do meu sogro para o meu pai. Eu pensaria em algo, desde que o Jonas ainda quisesse casar, ficaria tudo bem. Jonas me recebeu na porta, sorrindo largo. - Boa tarde meu amor. Estava com saudades. - Ele me abraçou e eu abracei de volta. O corpo familiar dele encostando no meu fez algo reagir dentro de mim, mais especificamente, entre as minhas pernas. - Olá Jonas, senti sua falta também. - Beijei ele de leve nos lábios. Havíamos quebrado muitas barreiras nos últimos dias, e eu pude sentir isso. - Jonas, querido, como está? - A voz falsamente doce da minha mãe me deixou alerta. Ela não acreditou que sairiamos depois. - Ema. Sr White. - Ele beijou a minha mãe no rosto e apertou a mão do meu pai. E como se tivéssemos combinado: - Senhores, se importam de eu roubar a Emy após o chá? - A surpresa estampou os olhos da minha mãe por um segundo. - Claro que não, querido, fique a vontade. Afinal, quanto mais tempo passarem juntos, melhor, visto que vão se casar. - Era tudo o que ela queria. - Jonas, vim de carro como combinamos, assim você não precisa se prender ao meu horário. - Tentei deixar claro para ele que esse era o meu plano também. Eu estava completamente tensa. Tudo o que eu queria era uma f0da forte para relaxar. - Não se apegue a horário filha, você estará com o seu noivo. Confiamos plenamente em você, não é mesmo Tom? - Meu pai nem parecia estar ali. Eu conhecia aquela expressão, de derrota. - Claro, claro. - Ele nem estava ali. - Jonas seu pai está aonde? - Ele provavelmente iria pedir ajuda ao meu sogro, que não negaria e pediria um milhão de coisas em troca. - Está no escritório. Ema, minha mãe nos aguarda. - Jonas ofereceu o braço a minha mãe. - Eu vou lá conversar um pouco com ela. Porque vocês não aproveitam para namorar um pouco? - Piscou para mim e entrou. Assim que ela sumiu da minha vista meu corpo cedeu, Jonas me segurou a tempo antes que eu caísse. - Você está bem? - Estou. Estou. Preciso apenas de ar. - Respirei fundo seguidas vezes. Assim que voltei ao controle do meu corpo percebi o choque no rosto dele. - Você está bem mesmo? - Estou. Foi apenas um problema de família. Você deve saber em breve. Meu pai, apostas, a minha mãe querendo controlar tudo. - Olhei ao redor. A casa de Jonas tinha um jardim enorme. - Tem algum lugar que possamos ficar sozinhos? - Ele me olhou surpreso. - Você está bem para isso? - Na verdade, é exatamente isso que vai me deixar bem.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD