– O quê ?
O quê ?
– é...isso que você ouviu..- Ela murmurou baixo, sua voz soando como agulha para meus ouvidos. Respirei fundo antes de virar para encara-los. Zayn estava na frente da Barbie, com a arma engatilhada na sua testa, enquanto a mesma o olhava nos olhos. Eles se olhavam nos olhos.
E eu morri mais um pouco quando os vi.
Ele a olhava de um jeito nu e cru, sem dó ou misericórdia, ele era o próprio m*l em si, enquanto ela parecia angelical, totalmente o oposto dele e isso era o que os faziam perfeitos um pro outro, eles se atraiam, o olhar deles exalava um tremor pelo meu corpo tão tremendo, que eu não consegui olhá-los por muito tempo.
Esse jogo já estava ficando entediante.
Eu não sei quanto tempo eles ficaram se olhando, tendo uma conversa tão íntima, tão arrebatadora, que quando eu desviei o foco deles para John, meus sentidos simplesmente ampliaram. E não era ódio, ou amor, muito menos tristeza.
Eu queria tirar a vida de alguém pra descarregar meus sentimentos.
Eu queria tirar essa dor de mim causando em outra pessoa.
E minha vítima estava quieto demais, estava tramando, e esse era o plano perfeito para que eu o matasse. Como Ben sempre quis.
Em questão de segundos, tirei a arma engatilhada da mão de Zayn e apontei para John, atirando várias vezes seguidas para não ter nenhum erro. Todas as balas foram contra um mesmo ponto em sua cabeça, o fazendo cair em instantes e todo mundo olhar pra mim, apavorados. Menos ele.
– Meu Deus.. - Ouvi a voz de Louis ao longe e fechei os olhos, sentindo a sensação subir por minhas veias. Era arrebatador, era uma alívio sem igual, eu não conseguia descrever qual era a sensação que consumia meu corpo, mas eu gostava disso, estava escondendo a dor.
Deixei a arma cair no chão, respirando fundo antes de sair de perto da aura dos dois, eu estava cansada demais pra ter que suportar isso.
Passei por todos em silêncio, pegando minha garrafa quase vazia de martini e indo até o vidro para apreciar minhas próximas vítimas.
Eu tinha que me ocupar, tinha que pensar em alguma coisa, planejar, mas não podia esvaziar a mente por plenos segundos, porque isso me daria espaço para relembrar tudo que já aconteceu na minha vida, me daria espaço para relembrar dele, e me lembrar dele me faria lembrar do seu filho.
Se ele realmente for o pai e ela estiver grávida.
Tomei um gole grande da minha bebida ao perceber que estava desviando os pensamentos para Zayn e deixei o líquido rasgar minha garganta.
– Louis! - Chamei entre dentes. Não demorou muito para que ele estivesse ao meu lado. - Diga aos seguranças lá em baixo que eu terminei aqui por hoje, e que podem queimar tudo. Depois pode ir pra casa, ou onde você quiser, está liberado. Eu vou embora, e não esqueça do nosso trato.
– Está tudo bem com você ? - Coloca a mão no meu ombro fazendo meu corpo entrar em estado de alerta, por todas as noites em que eu apanhei na prisão, estando sensível demais á qualquer tipo de toque, me fazendo virar o rosto lentamente para olhar a sua mão. Ele a retirou dali devagar me fazendo olhá-lo e eu assenti, sem querer respondê-lo. - Tudo bem...eu vou fazer o que você quer. - Gaguejou.
– E tire eles daqui, eu quero ficar sozinha. Cansei de papo familiar por hoje.- Murmurei mais baixo, o olhando nos olhos. Louis entendeu que eu não parecia bem, e eu não estava. Sobrecarregada por nem ter deitado ainda depois de sair daquele lugar, e com tudo que tinha acontecido aqui.
E essa foi minha deixa, pra todos os sentimentos ligarem novamente. Eu precisava ser forte ainda, precisava esperar eles saírem pra poder ter um momento comigo mesmo mas estava sendo difícil.
Tudo estava vindo tão intenso, tão forte, que parecia abrir um buraco mais fundo no meu peito cada vez mais.
– Zayn, Gigi. - Ouvi Louis pronunciar calmamente, fazendo meus olhos automaticamente fecharem.
Ouvi os passos de alguém, provavelmente Gigi já que parecia saltos, e logo em seguida ouvi Louis novamente insistindo em algo.
– Zayn...
O mais insistente, ele não cansava de me machucar nunca.
– Não precisa pedir duas vezes. - A voz grave me arrepia por inteira e meu corpo entra em combustão ao ouvir ele sair e a porta em seguida bater.
Minha vida havia sido um inferno, não só durante 4 anos, mas durante toda a minha existência. Eu não tive paz e só teria caso morresse, mas se até mesmo a morte às vezes me trás de volta, quem me daria paz ?
Terminei de tomar meu Martini quietinha, sentindo o líquido rasgar minha alma enquanto as lágrimas pareciam rasgar minhas bochechas, respirei fundo segundos antes de limpa-las e virei para ver a bagunça que fiz.
Por um lado não me arrependo, a sensação de tirar toda a minha dor preenchia minhas veias a cada vez que eu olhava o sangue escorrer dos corpos recém mortos. Os músculos labiais não hesitaram ao subir num sorriso tão satisfeito ao ver Harrier morto, junto da sensação de estar de volta, que eu me sentia melhor e me esforçava pra me manter forte diante todo o ocorrido.
Apesar de imaginar o que aconteceria quando eu deitasse a cabeça no travesseiro.
Sai da sala com a música lenta rolando bem baixa ao fundo, respirei fundo descendo as escadas e me aproximando da música agitada da festa que rolava solta, sem desconfiar que dois assassinatos ocorrem no andar de cima.
Passei pelo segurança da porta e apenas acenei com a cabeça positivamente, mostrando que ele poderia prosseguir com o combinado.
A música alta me deixava meio zonza pela quantidade ingerida de álcool, mas nada que me impedisse de ir até o bar e comprar mais duas garrafas de Uísque. Enquanto esperava, dava uma olhada no espaço ao meu redor, para reconhecer rosto conhecidos.
E como o d***o na minha vida, Nicolas brotou do inferno.
– Quanto tempo! - Ele gritou, um pouco alto por conta da música. Ele estava sorridente, e pelo cheiro que me incomodava um pouco, alterado pela bebida.
– É, faz um tempinho já. - Respondi, encostada no balcão e observando o pessoal ao meu redor.
– Eu soube do que aconteceu.. - Comentou, um pouco hesitante ao querer adivinhar como eu reagiria a aquilo.
– Quem não está sabendo ? Saiu nos jornais.. - Ele coçou a nuca um pouco sem graça e sorriu, achando que eu acharia seu suposto comportamento "inocente" agradável para querer ficar com ele.
Olhei mais um pouco as pessoas ao meu redor, e como se um replay de um acontecimento de alguns anos atrás, vi Zayn, mas diferente do que da última vez ele estava sozinho.
Zayn mudou, ele estava mais maduro, sua voz mais rouca e rude, seus traços mais velhos, sua alma mais escura. Não diferente de mim, que apesar não ter mudado muito a aparência, mudei meu interior, e pelo contrário do que deveria ser, foi pra bem pior.
O sócio do d***o estava encostado em um dos pilares sozinhos, com uma garrafa de uma bebida não identificada e o celular, digitando alguma coisa. Ele sabia que eu estava o olhando, deus músculos estavam tensos, seu maxilar travado, e sua respiração tão pesada como a notícia que recebeu hoje.
Só achei incrível ele estar aqui sem ela.
– Parece que mesmo depois de anos, vocês não se superaram. - Nicolas comentou, mais ríspido desta vez, sem inocência ou gentileza.
– superei Nicolas, por incrível que pareça. Eu amadureci o suficiente. - Sorri cínica, levando meu drink que peguei aos lábios.
– Porque então se olham de canto ? Está na hora de partir pra outra não acha ? - Se aproximou, fazendo meu corpo entrar em modo de defesa.
– Eu não sabia o que estava fazendo alguns anos atras Nicolas, causando ciúmes com outros garotos. - Deixei claro o que queria dizer. - mas sei que isso não resolve nada, porque eu não sou a mocinha que fica com o herói.
– Mas eu não sou herói. - Junta as sobrancelhas, confuso e perdido.
– E eu não sou mocinha. - Pisquei para ele, deixando mais claro ainda meu fora. - e mesmo que ele ficasse puto da vida me vendo beijar você, não seria como foi alguns anos atrás, acho que seria bem pior.
– Seria pior do que ele me jogar do penhasco ?- Me jogou aquela informação com tamanha felicidade, achando que impactaria em mim, que seu sorriso só diminuía de acordo com que o meu aumentava.
Eu sabia do que aconteceu, sabia bem, e isso chegou em mim de uma forma tão bruta que eu me senti culpada, chorei demais, me martirizei mais ainda naquele lugar, e cheguei ao fim do posso para no fim, descobrir o motivo. e*****o.
– Seria pior do que você estuprar uma menor.- Falei alto e em bom tom, para que ele entendesse o recado. Nicolas podia ter cara de anjo, mas uma coisa que eu sempre lembrei é que Lúcifer também era um anjo.
E foi como se tudo ao redor parasse para ele, seus olhos cravaram em mim de tal maneira que eu achei impossível ser mais escuro que Zayn, mas diferente de um penhasco sem aviso prévio que era o moreno, Nicolas era o fundo do oceano, sufocante, sem ar, sem misericórdia e com aviso do fim. E ali ele soube que eu nunca fui Flor que se cheire, sempre fui a e**a venenosa.
Vi Nicolas vacilar alguns passos e o deixei ir, ele seria uma sobremesa do meu prato principal.
Virei meu drink, tirando o sorriso do meu rosto e deixando o copo no balcão, arrumando a blusa e seguindo firme e segura até a saída. Precisava de uma cama agora.
Passei por todas as pessoas que se esfregavam uma nas outras e logo depois cheguei a saída, vendo o segurança responsável pela ocultação dos cadáveres saindo pelos fundos. Peguei a chave do bolso e me aproximei do carro, um vento gélido correu toda a minha espinha, me fazendo olhar o céu e ver que viria uma grande tempestade, e isso não era sinal bom.
Entrei no carro e o liguei rapidamente, seguindo meu caminho, as janelas todas abertas fazendo meu corpo inteiro tremer inteiro de frio. Eu não estava me importando.
Meus olhos bem atentos na estrada, enchendo de lágrima, minha respiração começando a ficar pesada, e tudo que tinha acontecido pra mim passando em memórias aterrorizantes na minha mente, desde o primeiro assassinato que eu presenciei, quando me sequestraram e eu fui chicoteada e clamei por ajuda, até o momento em que eu nunca nem imaginei precisar ouvir. O único homem que quebrou meu coração vai ser pai, e não sou eu que serei a mãe.
Um soluço importuno saiu da minha garganta e eu me forcei a limpar as lágrimas que desciam descontroladas. Coloquei a mão sobre a boca e a outra segurava forte o volante, com tanta intensidade que achei possível amassa-lo.
Meu pé só afundava mais no volante, aumentando a velocidade do veículo e fazendo meu peito desparrar, não de medo, e sim de memórias ruins, que mesmo sendo tão poucos, cobrem as boas.
Passei em vários radares e se eu fosse contar todas as multas que levei durante essa viagem, perderia meu tempo.
Assim que vi que minha casa se aproximando, diminui a velocidade. Os portões se abriram rapidamente quando eu apertei no controle e logo eu estava dentro da garagem procurando a vaga.
Depois de parada não sei o quanto demorei dentro do carro, chorando, soluçando, e deixando a dor sair de mim, tentando limpar o m*l de mim mas assim que me recompus, limpei o rosto e fui para a sala.
O álcool correndo meu sangue, me fazendo ficar invulnerável, e me fazendo ir até minha bebida mais forte, servindo somente um copo para aliviar minhas lágrimas.
Um relâmpago iluminou todo o céu lá fora e as luzes dentro de casa se apagaram, enquanto eu tomava um drink. A chuva começava lá fora tão forte como a dor do meu peito.
Não me preocupei com a falta de energia, em minutos a minha força voltaria, fiquei encarando a janela á minha frente o céu escuro e os relâmpagos que iluminariam uma cidade inteira.
E nada disso me incomodou.
O que deixou meu corpo inteiro em estado de alerta, era o frio que eu senti de alguém. Meus sentidos só tinham aumentado depois de tanto apanhar e por isso eu sabia que tinha alguém ali.
E eu não tinha dúvidas de quem era.
A dor.
As lágrimas voltaram com intensidade, enquanto eu me virava para vê-lo.
Molhado, com as roupas escuras, e apenas com as luzes dos raios iluminando seu rosto.
E nem o inferno é tão doloroso como foi olhar pra ele.
Porque ele era o caos, o inferno, a dor e tudo de r**m que poderia existir.
Era o Zayn.