Fingimento

1239 Words
Atualmente, somos como dois estranhos dentro de casa, mas quando estamos juntos no meio da alta sociedade, fingimos que somos o casal perfeito. Ele conseguiu multiplicar enormemente os negócios da família, minha sogra me odeia, e meu sogro é o único na família que parece ter alguma consciência, é um bom homem, não sei como ele se casou com a víbora da Sandra. – Teremos um jantar hoje, esteja pronta as 19 hrs. Não quero atrasos Diana, espero que esteja deslumbrante quando eu vier te buscar. – E algum dia eu estive diferente Christopher? O único aqui que faz o que pode para não ver isso é você! – Respondi com raiva. Ele andou na minha direção, com os olhos vermelhos de raiva, ele fica assim por qualquer coisa que eu fale. Simplesmente respirar perto dele o faz sentir raiva de mim. Como se eu fosse alguma doença contagiosa. Seus dedos apertaram meu rosto, me obrigando a olhar para ele muito de perto, não consigo reconhecer nele o homem que eu conheci. – Não teste a minha paciência Diana! Eu não estou para brincadeira hoje. Seu maxilar estava travado com a força que estava fazendo, talvez tentando controlar a fúria para não me machucar antes de um evento importante, é sempre assim, ele só não me machuca quando precisa me exibir como um troféu. – Não estou testando nada querido, só estou falando a mais pura verdade. – Eu nunca escondo dele a minha raiva, por mais que ele me machuque e me magoe depois, eu nunca consigo ficar calada, eu o enfrento sempre que posso. Nunca fui de baixar a cabeça e isso o deixa completamente fora de si. – Por que você faz isso Diana? Por que você nunca consegue apenas fazer o que eu digo, sem tentar me irritar? – Ah, mais essa é a única diversão que eu tenho na droga da minha vida, por que eu deveria parar? Acha que eu tornaria as coisas mais fáceis para você? Jamais! Estamos sempre nos enfrentando, como dois animais arredios, como dois estranhos que se odeiam, mas nem sempre foi assim. Antes de meus pais falecerem, nosso relacionamento era só flores, até que eu disse a ele que iniciaria a minha faculdade. A briga foi realmente feia. Christopher não aceitava a ideia de ter que me “DIVIDIR” como ele costumava dizer. Para ele, meu único papel deveria ser de esposa, cuidar da casa e gerar filhos, mas eu nunca aceitei isso, quando nos casamos, eu deixei bem claro que faria minha faculdade, e ele fingiu que aceitou bem só para que eu me casasse logo. Pensou que depois que estivéssemos juntos me faria mudar de ideia, mas não saiu como ele planejou. – O que são esses documentos de faculdade? – Ele me perguntou quando chegaram as cartas de admissão. – Ai que bom, eu nem imaginava que a resposta seria assim tão rápida, deixe-me ver. – Andei em sua direção para pegar de suas mãos. – Mas como você faz isso sem nem ao menos me comunicar? Não acha que ainda dá para esperar um pouco mais? Tem apenas algumas semanas que nos casamos, poderíamos curtir pouco mais. Estreitei os olhos para ele. – Não foi isso que nós combinamos, eu te avisei que não esperaria, disse que o casamento poderia vir depois que eu me formasse, quem insistiu que fosse antes foi você, e eu te informei que não iria desistir dos meus planos. – Retruquei ríspida. Ele mudou instantaneamente a maneira de falar comigo, tornando a voz mais suave. – É algum pecado querer a minha esposa apenas para mim por mais alguns dias? – Pecado nenhum, mas o que tínhamos combinado se mantem de pé eu vou para a faculdade, como eu havia lhe dito, agora passe para cá esses documentos. Ele não gostou de ter sido contrariado, deu para perceber, mas não discutimos mais, não a respeito de minha entrada, as discussões que vieram a seguir foram: “Essa roupa está apertada demais”, “Esse vestido está muito curto”, “Por que passar maquiagem?”, etc. etc. etc. Ele ia todos os dias me levar e me buscar na faculdade, mesmo que tivesse que desmarcar algum compromisso. A princípio eu pensei que era apenas cuidado excessivo, mas depois notei que era apenas para marcar seu território. Ainda que entre muitos altos e baixos, eu consegui terminar minha faculdade, apenas a pós ele me impossibilitou completamente, mesmo assim a faculdade foi uma vitória. Hoje iremos neste maldito jantar, semana que vem, a mais algum evento que ele julga importante, e eu tenho que ir como a esposinha boa e submissa. – Ponha o vestido azul marinho que te comprei a algumas semanas atrás, ficará perfeito. – Nem mesmo o que vou vestir posso escolher? É sério isso? Não acha que está indo ainda mais além do que já foi? – Não quero ter que discutir isso com você Diana, só faça o que lhe pedi. E deixe os cabelos soltos. Ele tinha uma cisma com o meu cabelo que eu só posso dizer que é uma obsessão doentia, ele detesta que eu prenda e me proíbe de cortar. Ai de mim se tentar cortar um dedo a mais do que as pontas. Ele sempre me acompanha no salão, fica sentado olhando cada movimento da tesoura perto do meu cabelo. – Meu cabelo está enorme, preciso ir cortar. – Não tenho como ir te levar, vai ter que ir do jeito que está! – Eu posso ir sozinha Christopher! Eu não vou voltar aqui com um chanel, não se preocupe com isso. – Ele me olhou desconfiado, mas por fim disse que o motorista me levaria. Avisei também que iria ao shopping comprar maquiagem que algumas das minhas coisas tinham acabado. Ele não gostou de eu ter dito tudo em cima da hora, já que ele não me deixa ir a lugar nenhum sem ele por perto, apenas quando não tem jeito mesmo, aí ele manda alguns seguranças e fica em contato constante com eles. Depois que ele saiu, me aprontei para sair também, mesmo que com aqueles brutamontes, sair sem ele na minha cola era um enorme alívio, respirar um pouco era bom demais, meu humor melhorou instantaneamente. Passei o dia respirando um pouco de ar fresco, as vezes eu chego a pensar que se Christopher pudesse, ele me manteria em um quarto para sempre. Meu marido é muito possessivo e controlador, eu jamais desistia de tentar mudar as coisas, mas também não tentava mais lutar tanto. Sabia que aquele jantar não seria nem um pouco interessante, assim como todos os outros que já fomos. A quantidade de mulheres infelizes que se forçam a sorrir fingindo ter a vida dos sonhos era impressionante. E eu era uma delas, estava sempre com um sorriso no rosto, chegava a doer meu maxilar. Meu marido amava me exibir por aí como uma joia rara, mas dentro de casa somente eu sabia o que tinha de enfrentar. Christopher queria um herdeiro, mas eu fazia todo o possível para não engravidar, tomava anticoncepcionais sem que ele soubesse. Passei a comprar várias caixas sempre que eu conseguia sair de casa sem ele, como agora. Misturo elas com o restante de minhas compras e coloco junto de minhas maquiagens que é onde ele nunca se interessa por mexer. Este inferno precisa ter fim.
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