Minha cabeça estava uma bagunça.
E é tudo culpa sua Sebastien, sua.
Tudo estava normal até você pular minha janela e me beijar. Eu não dormir direito, fiquei rolando a p***a da noite inteira de um lado pra outro, com a d***a dos seus lábios na minha mente.
A noite nunca demorou pra passar como demorou esse dia. Eu suei frio, fiquei com insônia, comi tudo que tinha na minha geladeira, mudei todos os canais da tevê procurando alguma coisa interessante, até tentei ler o livro mais chato que eu tinha, mas eu não consegui dormir até o nascer do sol começar a aparecer.
Eu fui fechar a janela e a única coisa que eu consegui pensar foi na sua, do outro lado do galho da árvore que dividia nossa casa, que estava aberta. Você sempre esquecia aberta.
Revirei os olhos com meus pensamentos, indo direto á minha cama e aconchegando Cake no meu ninho. Foi só então que eu consegui dormir, mas você não me deixava em paz nem nos sonhos.
Acordei atordoada horas depois, soando muito, meus batimentos quase na garganta, assustando a felina dos meus braços e respirando fundo recuperando o ar. Eu tive um pesadelo, e foi um dos piores que já tive.
Me forcei a tomar um banho gelado para acordar de vez e espantar tudo de r**m que sobrou em mim, mas foi quando eu me olhei no espelho que percebi. Você me perseguia pra todo lado.
Lá estava a d***a do colar que eu não iria tirar, e pra piorar eu estava com as pantufas que você me deu anos atras. Tudo tinha você na minha vida, tudo.
Sai do banheiro brava com meus pensamentos. Meus pais provavelmente não tinham chegado ainda, o que significava que iria ter que me virar pra comer alguma coisa.
Eu era péssima na cozinha, mas você sempre foi muito bom, e eu odiei esse fato em você porque no final de tudo, eu sempre acabava na sua porta.
Mas não queria que acontecesse naquele dia, meu orgulho estava ferido demais, encarar você depois do que você fez iria ser demais pra mim. Então eu peguei minha preguiça, algumas notas, as chaves de casa para ir até a cafeteria mais próxima comprar alguma coisa pra comer.
Eu senti que isso iria dar errado, tudo na minha vida ficou uma bagunça depois de mudar para cá. Eu era sortuda demais pra te encontrar no jardim da sua casa lavando seu carro.
Eu iria morrer mil vezes antes de admitir isso em voz alta, mas você era muito lindo Sebastien, pra c*****o! E isso dificultava muito as coisas.
Eu pensei em mil coisas naquele momento pra fugir de você, havia tantas possibilidade. Te ignorar era uma delas, mas eu preferi entrar de volta pra casa.
Claro que as coisas nunca foram fáceis, as chaves caíram e você ouviu.
Você sempre teve uma ótima audição, e eu te odiava por isso, porque por mais que eu tentasse ser discreta, você me notava.
– Fall! - Escutei você gritar. Olhei na sua direção e você me chamou. Eu ia dizer não, se minhas pernas não estivessem ido automaticamente pra você. Me aproximei da grade de madeira que separava nosso jardim e você sorriu. Eu queria socar sua cara Sebastien mas você tinha que sorrir ? – Onde estava indo ?
– Lugar algum. - Menti. Eu sempre fui grossa com você, mas não era como se isso te afetasse.
– Sei que seus pais não estão.
– E daí ? - Cruzei os braços.
– Você deve estar faminta, eu ainda não comi, quer tomar café ? - Você me convidou. Até parecia que éramos ótimos amigos, só parecia mesmo, porque podíamos até sair um com o outro, andar um com o outro raramente, mas a implicância nunca acabaria.
– Eu não estou com fome.
– Ah qual é Fall, eu sei que você é uma péssima cozinheira. - Murmurou insistindo. Eu abri a boca algumas vezes para revidar, mas eu sabia que com você não tinha essa de nãos.
– Só porque eu estou com fome. - Omiti. Eu não me entendia nessa época, juro pra você, eu falava uma coisa e era só você comentar outra que eu concordava. Eu nunca fui uma pessoa muito organizada mesmo com pensamentos.
Você sorriu, como se tivesse ganhado uma guerra. Mas a verdade é que você se sentia o máximo quando eu aceitava algumas coisas que você fazia, era até engraçado de ver.
Você desligou a mangueira e a deixou ali no jardim mesmo, enquanto eu te acompanhava pra dentro da sua casa depois de pular a grade.
Eu perdi as contas de quantas vezes eu já entrei na sua casa mas toda vez era como a primeira, arrepiando cada poro do meu corpo.
Eu sabia exatamente onde era cada cômodo da sua casa, mas sempre deixava você ir na frente me guiar. Eu não sei porque.
Tudo ali estava uma bagunça, realmente se você não arrumasse isso antes de Ana e Christian voltar, você estaria ferrado.
Eu me mantive em silêncio o caminho todo, claro, você ia falando algumas coisas que eu nem entendia mas eu nem me importava de ouvir. Você não era tão importante assim pra mim.
Pelo menos eu não sabia disso antes.
– Eu pensei que você viria ontem. - Foi a única coisa que prestei atenção em tudo que você falou quando chegamos a sua sala de jantar. Tudo relacionado a você era extravagante, você nasceu em berço de ouro, então sua casa não iria ser diferente, nem o banquete que você fazia questão de fazer.
– Eu preferi comemorar sozinha. - Sorri cínica, colocando o primeiro pedaço de torrada na boca. Você me encarou.
– Porque ? - Você era curioso demais. Dei de ombros. - Eu queria que você tivesse vindo.
– Pra quê ? Eu não conheço nenhum dos seus amigos.
– Mas era seu aniversário também.
– E isso fez alguma diferença na sua vida ? - Ergui meu olhar pra você. Sei que foi rude da minha parte ter falado aquilo, mas era a verdade, lembro de ter visto magoa nos seus olhos, mas você não me deu chance de realmente ver porque baixou o olhar.
Eu sabia que você nunca foi de expressar, isso eu conhecia em você desde pequeno, apenas porque eu era assim também. Você estava com o curativo no rosto ainda da noite passada, o que me despertava lembranças ruins.
– E não é como se eu fosse impedir suas brigas. - Completei.- E nem de você beber muito.
– Eu não me lembro de absolutamente nada de ontem, ou a maior parte dela. - Você disse, fazendo meu coração palpitar. - Está tudo tão bagunçado na minha cabeça, eu só lembro de não ter te visto aqui, eu bebi muito, depois de brigar, eu não lembro o que aconteceu.
– Nada ? - Perguntei esperançosa. Você ergueu uma de suas sobrancelhas como se questionasse se você deveria lembrar de algo importante, mas eu apenas balancei a cabeça e voltei a comer os ovos mexidos que eu me servi.
Porra eu te odiei, porque eu queria que você lembrasse do maldito beijo que tirou minha noite de sono.
eu te odiei mais ainda porque você me chamou pro café, mas eu me odiava mais ainda por simplesmente vir com você.
Eu estava uma bagunça ainda, mas você sempre dava um jeito disso aqui dentro normalmente virar fichinha quando você estava por perto.
Porque afinal, você sempre foi bagunça em pessoa.