Meses antes
Aquela noite era mais uma das muitas em que Ethan King-Lenox acordava de repente, no meio da madrugada. Os lábios dele estavam ressecados, e ao visualizar a moringa por cima da cabeça de sua esposa que dormia profundamente, constatou que o objeto estava vazio. “ Mas que d***a” pensou, frustrado. A única opção que tinha era descer os dois lances de escada que o levaria ate o piso debaixo, onde ficava a cozinha. Esse era o fardo de ter uma casa tão grande. Se morasse em um apartamento, não teria que se martirizar em caminhar tanto. Ethan chutou os lençóis, com cuidado, não executando movimentos muito bruscos para não acordar Victoria, que, embora estivesse dormindo profundamente, tinha o sono um pouco leve. Enquanto descia os degraus, Philip, um gato vira-lata que sua filha Cora resgatou da rua, decidiu que as três da manhã era o melhor horário para se ganhar carinho. A medida que Ethan descia uma perna, Philip saltava um degrau para se esfregar nessa perna. Quando finalmente conseguiu chegar na cozinha, Ethan foi surpreendido com a presença de Aline, uma das amigas mais próximas de sua filha. A garota estava de costas quando ele acendeu a luz, e se sobressaltou com a chegada repentina, fitando-o por cima de um dos seus ombros. Ela se virou para frente com um pulo, apoiando as duas mãos no balcão. Os s.e.i.o.s médios e bem desenhados subiam e desciam em uma ondulação inconstante, devido a respiração ofegante ocasionada pelo susto. Os olhos de Ethan, normalmente citrinos como o da filha, pairaram sobre o decote em “ v” da camisola de seda azul. Por mais que Aline fosse jovem, com seus recém feitos 18 anos, ela não era ingênua ao ponto de não perceber para onde o olhar do pai de sua amiga se direcionou.
- D-desculpe senhor King-Lenox, eu só vim beber um copo de água. A moringa do quarto da Cora estava vazia, então… Bom, não quero incomodá-lo.- Aliñe fez menção fe se afastar, mas foi impedida pelo próprio Ethan, que ergueu o indicador na sua direção.
- Não, por favor, não se incomode por minha causa. Beba sua água tranquila, eu também vim buscar para mim, porque a minha esposa provavelmente não lembrou de encher a nossa moringa.- Explicou Ethan, ainda parado no mesmo lugar. Seus olhos claros subiram para o rosto da moça, ele estaca claramente desconfortável com a reação inesperada de seu corpo.
Sim, Aline era uma jovem linda, e isso era inegável. Tinha olhos e cabelos castanhos bem escuros, quase pretos, como dois lagos profundos e sem chances de submergir. A boca era tentadoramente bem delineada, e sempre que Aline a movia, Ethan não conseguia não analisá-la e imaginar o sabor afrodisiaco que debería ter. Ele engoliu em seco, transtornado, não era correto sentir desejo por aquela menina que praticamente viu crescer.
- Sua água, senhor King-Lenox.- Murmurou a moça, após prontamente encher dois copos, e esticá-lo na direção de Ethan.
- Obrigado.- Proferiu o homem, sem conseguir desviar os olhos dos dela.
Aline automaticamente sentia o coração bater mais forte. Embora estivesse na casa dos quarenta e pouco, o que o transformava em um homem de meia idade, Ethan ainda continha traços fortes de sua juventude. Os olhos eram de um intenso fruta-cor, com a cor citrino mais intensa, devido ao cair das horas. Havia um brilho quase infantil, capaz de entusiasmar até mesmo Aline, que sempre se esforçou para ser comedida. O sorriso do homem era largo e cativante, os dentes brancos e bem alinhados. Os cabelos escuros, devido a idade, haviam adquirido um tom um pouco acobreado, mas que dava um certo charme. Aline suspirou quando Ethan levou o copo a boca, o tórax rígido e bem definido - assim como o abdômen, que por mais que estivessem cobertos, era possível ver a marca na camisa justa do pijama-, devido a respiração irregular, subiu e desceu lentamente, em uma tentativa do homem recuperar o fôlego. Ele estava tão nervoso quanto ela, Aline tinha certeza. Os dois provaram juntos a sensação do desejo proibido, assim como ambos tentavam lutar contra isso. Ethan era pai de sua melhor amiga, e também, um homem casado.
- Também tem dificuldades para dormir?- Perguntou Aline, com o intuito de quebrar o silêncio desconfortável.
- As vezes. Quando estou preocupado ou pensando muito em algo.- Ethan caminhou alguns passos para a frente, esticando a mão que segurava o copo vazio, para apoiá-lo sobre a pia.
Como Aline estava em seu caminho, precisou atravessar o braço por cima do ombro da moça, as distâncias diminuindo demais para o bem da saúde mental de ambos.
- Está preocupado com algo, senhor King-Lenox?-
Ethan engoliu em seco, mais uma vez. Estava preocupado demais com a aproximação dos dois corpos. Estava preocupado com o próprio instinto primito de agarrar Aline pela cintura, e rasgar cada centímetro do tecido macio da roupa dela. Estava preocupado com o desejo inflamado que o estava incentivando a vontade de beijar cada fração da pele salgada de Aline, até mesmo, os lugares mais sensíveis e afrodisíacos do corpo dela.
- Com algumas coisas.- Ele suspirou, precisava falar para se concentrar em algo além do cheiro delicado de lavanda e rosas que vinha do perfume meio adocicado de Aline.- Eu ando tendo alguns problemas no meu casamento com a Vic.-
- Ela parece ser muito exigente. Digo, não estou falando m*l da senhora King-Lenox, jamais, é só que eu percebo que ela é muito caprichosa e detalhista. O senhor parece um homem mais prático e prognóstico.-
- Prognóstico.- Comentou Ethan, deixando escapar um sorriso discreto.- Acho que todo mundo me enxerga desse jeito.-
- Para um empresário como o senhor, isso é considerado um elogio. Meu pai também é assim, ele fica a ponto de enlouquecer com o meu irmão.- Aline suspirou, embora não estivesse satisfeita com as atitudes do pai, manteve a expressão inescrutável.- Ele quer que o André assuma a presidência do Copacabana Royal.-
O pai de Aline era dono de uma rede de hotéis em Boston, Cambridge, Nova York e também, no Rio de Janeiro, que foi o marco zero de tudo. Marcos Vieira de Albuquerque era um grande empresário brasileiro multi-milionário que, ao se casar com Anne Evans, filha de um magnata americano, expandiu os seus negócios pela América do Sul e do Norte.
- Vejo que isso te decepcionada, pela forma com que falou.-
- É, decepciona. Sou tão capaz quanto o André, ou até mais, porque isso é algo que eu realmente quero fazer.- Aline deixou de encarar a linha do pescoço de Ethan, para subir os olhos de encontro com os dele, se perdendo na intensidade. A sensação que tinha, era que podia se conectar com a alma dele.
- Então prove, Aline. É isso que pessoas de sucesso fazem. Acha que quando comecei com a iogurte King-Lenox o mundo me abraçou? Não mesmo, até o meu pai duvidou de mim. E veja aonde cheguei. Tenho uma rede nos Estados Unidos inteiro, além do Canadá e do México.-
- Eu sei, a Cora é muito orgulhosa do senhor por isso.-
- Antes de tudo, não me chame de senhor.- Ele ergueu o canto da boca em um sorriso torto, o que fez o coração de Aline quase explodir em sua caixa torácica.- Eu tenho orgulho do que conquistei, e é o que você deve sentir por si mesma. Se tentar, se mostrar ao seu pai do que é capaz, ele vai te dar a chance que você merece.-
- Suas palavras são confiantes.-
- São, porque eu descobri que para as pessoas confiarem em mim, preciso confiar no meu potencial primeiro.- Falou Ethan, observando as linhas suaves da testa de Aline se enrugarem.
A garota parecia reflexiva quanto ao seu comentário. Após quase um minuto inteiro de silêncio, quando ficar a sós com Ethan King-Lenox tornou a ser desconfortável, Aline achou que o melhor era correr de volta para o quarto de Cora e fingir que aquela confusão de sentimentos nunca existiu.
- E-eu acho que vou voltar para o quarto.- Aline mordeu os próprios lábios, antes de se desencostar da pia.
Cometeu o erro de olhar para cima, mais uma vez, estando a uma distância diminuta de Ethan. Os lábios dele estavam entreabertos, e por mais que o clima estivesse úmido devido às chuvas de outubro, ele sentia o lugar abafado.
O homem até tentou dizer algo, talvez o mais esperado como “ tenha uma boa noite de sono”, mas não conseguiu continuar. Era tentador demais ter apenas poucos centímetros separando os dois, e não reduzi-los a nada. Ethan tinha certeza que a vontade de Aline era recíproca. Ele olhou para os punhos da jovem, que estavam trincados, e não evitou procurar pela pulsação acelerada, assim como também não evitou deslizar o dedo sobre o lugar. A sua mão livre pousou pouco acima dos s.e.i.o.s de Aline, que ainda se movia com agitação, ele tentava sentir a palpitação forte do coração feminino.
- Está nervosa, Aline?- Sussurrou, automaticamente, inclinando a cabeça na direção da garota.
Os olhos de Aline focavam na boca de Ethan, a medida que ela também se aproximava do mesmo. Faíscas de fogo pareciam se dispersar por suas entranhas quando Ethan pressionou um pouco mais a mão em seu coração, e ela não evitou tomar a iniciativa de capturar os lábios dele em um beijo impulsivo. Ethan encaminhou suas duas mãos a apertarem forte a cintura esguia, retribuindo aos movimentos sutis executados com a boca. As duas línguas se encontraram com domínio, uma saboreando o sabor adocicado da outra. Conforme o beijo foi se intensificando, Ethan a puxou contra si, se perdendo na frenesi que era sentir as curvas dos p.e.i.t.o.s femininos roçando em seu tórax firme. Ainda com os lábios colados ao de Ethan, Aline arquejou, as mãos grandes e masculinas escorregando da cintura, para encontrarem o contorno do quadril largo. Ele se afastou na direção da linha fina do pescoço, degustando toda a pele salgada até alcançar a clavícula, mordiscando a protuberância antes de seguir até a linha de divisão do b.u.s.t.o.
- Ethan.- Murmurou Aline, ofegante.- E se alguém nos ver aqui?-
- Tem razão, tem razão.- Concordou o homem, relutante. Bufou, ao se afastar, atormentado com o desconforto da e.r.e.ç.ã.o.- Acho melhor voltarmos para os quartos.-
Aline assentiu, apressando-se em sair de perto do homem. Ela subiu os lances de escadas, correndo, precisava sair o quanto antes do campo de visão de Ethan. Por sorte, ao voltar para o quarto, encontrou tanto Cora quanto Gabi dormindo. Tornou a se acomodar na cama, mas não conseguiu voltar a dormir. O gosto e o valor de Ethan King-Lenox atormentaram sua cabeça durante toda a noite
…
Momento atual
Por mais que Aline prometesse a si mesma que lutaria contra os seus desejos impulsivos da paixão perigosa que sentia pelo pai de sua melhor amiga, quando deu por si, já estava saindo do shopping, no qual acompanhava Cora e Gabi para um dia de compras, com a finalidade de se encontrar com o seu amante. Se encontravam no mesmo lugar de sempre, desde que tudo começou, foi ali que Ethan e Aline tiveram a primeira noite de amor. O homem havia comprado um flat há algum tempo, pretendia usá-lo da mesma forma que usava todos os seus imóveis, como investimento. Mas desde que passou a olhar Aline com outros olhos, precisou dar um destino diferente ao lugar. A garota tinha as chaves, portanto, não precisava nem mesmo ser anunciada para subir. Ethan a esperava na sala de estar, já servindo duas taças de champanhe.
- Temos algo para comemorar?- Perguntou Aline, enrugando a testa.
- Me diga você. Disse que tinha algo para me contar.- Ethan ficou de pé, caminhando a passos curtos na direção de Aline.
- Eu disse que precisávamos conversar.- Pontuou a garota, com um tom de voz exigente.- Ethan, está próximo do meu aniversário, e eu acho que chegou o momento de tomarmos uma decisão.-
- Uma decisão?- Ethan franziu o cenho, mostrando-se confuso.
- Acha que as pessoas não percebem que eu tenho alguém? Uma mulher na minha idade, no mínimo, se interessa por garotos…- Aline ponderou um pouco, chegando a conclusão de que estava sendo general demais.- Ou garotas. Seja como for, eu nunca apareci com nenhum dos dois. Minha mãe quer a todo custo me apresentar para o filho de uma amiga dela que está voltando da Escócia, e sempre que ela vem com essa história, eu desconverso.-
- Diga que você tem uma pessoa, e que não está interessada em ninguém.- Sugeriu Ethan, como se aquilo fosse tão simples.
- “ Tenho uma pessoa”.- Aline deixou escapar uma risada desdenhosa.- Algo muito vago para se responder a uma mãe. Algo muito vago até mesmo para eu responder as minhas próprias dúvidas.-
- Você tem dúvidas quanto a nós dois?-
- Acha mesmo que eu pretendo ser sua amante para o resto da minha vida? Acha que não me pergunto todos os dias de o porquê suportar isso, quando na verdade, eu mereço alguém que me valorize?-
- Eu te acho incrível, Aline. Você é maravilhosa, e eu nunca disse o contrário.-
- Está enganado, Ethan. Você me entrega as migalhas que sobram do seu amor. Não há nada mais claro do que isso, para demonstrar a pouca importância que alguém tem para você.-
- Você sabia das minhas condições quando começamos com o nosso… Relacionamento.-
- Caso. A palavra certa é “ caso”. Um relacionamento se tem com uma, não com duas, e você assume essa pessoa, a leva a sério.- Aline respirou fundo, encarando Ethan duramente nos olhos.- Eu fui impulsiva, não pensei nas consequências. Nunca passou pela minha cabeça ter algo com você.-
- É, mas aconteceu, e você sabe das circunstâncias. Sou um homem de negócios e que tenho que zelar por minha imagem. Não posso trocar a minha esposa por uma amiguinha da minha filha.-
Aline abriu e fechou os lábios, indignada. Sua boca se transformou em uma linha firme, rígida, sua pupila dilatou, dando a impressão que seus olhos ganharam uma tonalidade ainda mais escura.
- É isso o que sou, não é? Uma “ amiguinha” da sua filha que você f.o.d.e quando tem vontade. Que só serve para a sua cama, mas não para andar do seu lado na rua.-
- Aline, não leve as coisas desse jeito…- Ethan tentou segurá-la quando a mesma fez menção de se afastar.
- Cala a boca, Ethan. Não quero ouvir mais nada que venha de você.- A garota deu um passo para trás, se esquivando das mãos dele.- Eu vou seguir a minha vida em frente, vou conhecer alguém que seja recíproco comigo e que me valorize como eu mereço. Vou conhecer o garoto escocês que minha mãe quer me apresentar, vou conhecer outros rapazes também.-
Ethan continuou em silêncio, a fitando, intrigado.
- Eu vou sair da sua vida permanentemente. Seja lá o que temos, acabou aqui.-
- Tem certeza que quer conduzir as coisas dessa maneira?- Perguntou Ethan, com seriedade.
- Nunca tive tanta certeza na vida.- Falou Aline, com determinação. Pousou a chave sobre um dos móveis da sala de estar, em seguida, caminhando para fora do lugar.