Quando Marco estacionou na porta de Rodolfo sentiu pena do amigo, já tinham tido suas diferenças, mas Rodolfo era um amigo leal. Marco não conseguiu tirar de Laura o que realmente aconteceu.
Rodolfo tinha um charuto nas mãos, era um costume que havia adquirido com o seu irmão Benjamin, havia deixado a bebida e usava o charuto para diminuir a ansiedade.
Marco se sentou ao lado dele.
_ E então?
_ Não tenho muito o que lhe dizer. Laura se recusa a falar, porque não é uma história dela para ser contada, mas não é algo bonito. Laura mandou dizer que a Dya têm todos os motivos do mundo para temê-lo.
_ Preciso saber o porquê. Como vou consertar algo que não sei o que é? Dya teve acesso ao vídeo?
Alguns anos atrás, Marco e Rodolfo foram descuidados, uma mulher que havia estado com os dois ao mesmo tempo, gravou um vídeo desses momentos. E a gravação chegou até Laura
Mas não havia ido além, Marco tinha certeza disso.
_ Não. Laura não mostrou, Dya era ainda mais jovem na época. A assustou em algum momento?
_ Não. Eu senti vontade de aproximar-me, mas ela era nova demais. E agora não sei o que fazer.
Marco também não era de muita conversa, então ficaram os dois ali sentados.
_ Converse com Pedro.
_ Já tentei, ele jurou a Dya que não contaria. Estou a ponto de perder a cabeça.
Marco nunca tinha visto tanto sentimento em Rodolfo.
_ Quando estiverem sob mesmo teto as coisas se acertam.
Rodolfo não sabia se tinha tempo para acertar as coisas, era muito tempo com o desejo guardado e reprimido. Antes Dya era uma menina, e a amou. Agora ela era uma mulher, além do amor existia um desejo louco e insano.
Quando Marco partiu, já era tarde.
Rodolfo selou um cavalo e andou sem rumo, só se deu conta que estava na porta de Dya quando escutou um riso de uma criança. Sentiu vontade entrar por aquela porta, mas sabia que não ser bem-vindo.
Se deitou embaixo de uma das janelas e ficou ali, mas precisava ao menos ver a sua mulher, bateu na porta. Dona Margarida foi quem saiu enrolada em um xale.
_ Seu Rodolfo.
_ Boa noite. Vai ser minha sogra, não precisa de me chamar de senhor, dona Margarida.
A senhora concordou com a cabeça.
_ Posso falar com Dya?
Um menininho passou correndo pela sala, Rodolfo sentiu uma sensação de reconhecimento tão forte que quase lhe faltou o ar, não entendeu aquilo.
_ Quem é o menino?
Margarida lhe sorriu, mas tinha pena em seus olhos.
_ Meu neto. Vou chamar a minha filha.
Dya apareceu enrolada em um robe, os olhos pretos tinham a capacidade de fisgar Rodolfo.
_ O que quer?
_ Ver você. Tem uma fogueira lá fora. Vamos comigo?
Ela sabia que provavelmente umas das irmãs estava espionando, Sara gostava de vigiar namoros, era sempre assim, casa com muitas pessoas, todo mundo sabia da vida de todos. Dya precisava fazer um esforço para que todos acreditassem que estava feliz.
Caminhou com Rodolfo para fora.
_ O que veio fazer aqui?
_ Preciso saber o que está acontecendo. Faltam poucos dias para nosso casamento. E não vou me afastar de você, não importa o que tenha acontecido, Dya.
_ Não tenho nada para contar, queria uma esposa e vai ter uma, é só isso que tenho para oferecer.
Tinha tanta mágoa na voz dela, podia quase tocar o sentimento.
Mas seguiria o conselho de Marco. Deixaria para resolver os problemas depois do casamento.
_ Precisa de mais alguma coisa? Nosso quarto já está pronto, mas não a conheço realmente para saber do que gosta.
Dya sabia que precisava começar a contar seus segredos, mas não estava pronta. Não ainda.
_ Tem mais um quarto disponível?
_ Não vai dormir fora da minha cama. É um casamento, Dya, real em todos os sentidos.
Ela não tinha a ilusão que ele a deixaria em paz.
_ Eu sei, ainda assim preciso de mais um quarto, por isso eu posso implorar.
_ Não precisa, pode ter o que quiser mim, desde que me aceite em sua cama e seja fiel. Já me traiu uma vez e não vou ser traído novamente.
Dya se sentiu ofendida,.
_ Como ousa?
_ Me fez uma promessa com aqueles olhares. Drog@, Dya, eu era um homem feito e você uma menina, mas cada olhar que me direcionava, me fez amar você, e para quê? Se entregou para outro. Alguém que não merecia e ainda a machucou.
Ele não se recordava.
Dya percebeu que Rodolfo realmente acreditava que ela havia se entregado para outro, de livre e espontânea vontade.
_ Não o traí, guardei meu coração para você e o transformou em pó.
As lágrimas dos olhos negros como uma noite de verão atingiram Rodolfo, pela primeira vez ver uma mulher chorar o fez sofrer junto.
_ Eu o amava, como só um primeiro amor podia ser. Não tinha o direito de fazer o que fez.
Ela se preparou para entrar, mas ele a impediu.
_ O que eu fiz? Depois que eu percebi os seus olhares e a amei nunca mais deixei uma mulher se aproximar.
_ Preferia que o tivesse feito. Preferia que tivesse estado com quantas mulheres pudesse.
Não era verdade, sofreria ao vê-lo com alguém, mas teria sido menos doloroso do que ter sofrido nos braços dele.
_ Por favor! Quem está implorando sou eu, o que eu fiz para a magoar dessa forma? Foi porque não me aproximei? Você era só uma menina, não podia oferecer um amor casto e não desceria tão baixo ao ponto de tocar em você, nem tinha 15 anos completos.
_ Preciso entrar , estou com frio.
_ Não vai dizer, não é? Ninguém me esclarece nada: Laura, Marco, sua mãe e nem mesmo Pedro. Estou pagando por um crime que nem sei como ou quando o executei.
Dya fugiu da presença dele, e Rodolfo ficou com a impressão que tinha algo mais naquela casa que o pertencia, era um sentimento novo e forte.
Estava quase ficando louco.