— Eu não entendo... — murmurou ela, e Ian que havia aberto uma pequena pasta azul e a observava, voltou seus olhos para a garota a frente.
— Não entende o que? — perguntou ele, entrelaçando os dedos das mãos sob a mesa e com os intensos olhos azuis completamente vidrados na face de anjo de Alana. Alana que tentou, com todas as suas forças, manter os olhares um no outro, mas não conseguiu sem ter as bochechas coradas.
— Eu... Eu pensei que você fosse um aluno. — disse ela.
— E eu sou. — Ian deu um meio sorriso. Vendo um franzimento se formar na testa da Steawart, em sinal de plena confusão ele explicou: — Meu nome é Ian Norton, filho de Frederick Norton!... Entendeu agora?
Alana assentiu, em um débil silêncio.
— Não se preocupe por não saber; não é como se eu saísse em manchetes de revistas o tempo todo. Somos muito reservados. — sibilou Ian, os olhos voltando a analisar os papéis na mesa.
Ele falava a verdade. A família Norton era realmente muito reservada, pouco se sabia sobre a família de Norton Minato, dono das empresas Norton. Só se sabia que ele tinha um filho, que agora Alana lembra-se chamar mesmo Ian, uma filha que era viúvo.
De repente, os olhos de Alana se arregalaram em pleno pânico. Ela havia chutado os faróis do carro de um Norton. Do herdeiro Norton!
Quando Ian voltou seus olhos para ela, ela o viu sorrir de uma maneira debochada, como se ele soubesse exatamente o que ela estava pensando.
— Você... Você sabia. — falou Alana. Não foi uma pergunta, e sim uma acusação.
— Se eu sabia que você estaria estagiando aqui, quando chutou meu carro? — ele se fez de cínico, um sorriso sarcástico dominava seus lábios. — É claro que eu sabia!
— Estava se divertindo às minhas custas! — agora a voz de Alana se elevou, estava irritada e novamente de pé.
Ian limitou-se apenas a erguer os olhos para ela, sua face lívida, serena como a de um anjo. Como se ele estivesse pouco se importando com qualquer coisa.
— É o que eu faço, então vai se acostumando. — disse ele, e Alana o encarou incrédula. Ian riu, antes de assumir uma postura séria, inclinando o corpo um pouco para frente. — Muito bem, vamos tratar de negócios. Meu pai é quem deveria estar aqui e lhe dar as boas vindas, afinal você passou numa prova que milhares de pessoas fizeram e ainda tirou o primeiro lugar. Mas infelizmente ele está em uma reunião.
— Eu poderia esperar. — balbuciou Alana, sentando-se novamente. Ali, ela deixou claro que preferia falar com qualquer um menos com ele, mas Ian não se importou com isso. Ao contrário, ele até sorriu. Um sorrisinho divertido, como se estivesse rindo dela por dentro.
— Ele está em uma reunião do outro lado do mundo. Na América! — completou ele em tom divertido, e quase riu com a cara de tacho com a qual Alana ficou.
Ian levantou-se da cadeira, e então Alana reparou que ele ainda estava vestido como na escola; isso a fez se sentir menos m*l com ela mesma por também estar com o uniforme escolar. Ela o acompanhou com os olhos até uma estante de madeira, abrindo uma pequena porta de vidro. De lá, ele tirou uma garrafa de whisky puro, servindo-se de uma dose em um copo de cristal muito bem trabalhado.
— Você quer? — ele perguntou a Alana, depois de tomar um gole do líquido cor de mel derretido.
— Não, obrigada. Eu não bebo. — respondeu Alana, para logo em seguida ver Ian puxar do bolso da calça um maço de cigarros. Ele tirou um de lá, e o acendeu, dando uma tragada e exalando a fumaça pela narina. — Eu também não fumo.
A repreensão por ele fazer os dois foi explícita na voz de Alana. Ian, que após dar mais uma tragada naquele rolinho de nicotina e tomar mais um gole do bom whisky, que descia rasgando a garganta e esquentando todo o corpo pelo álcool; a olhou e disse:
— Pois deveria. Isso talvez fizesse você deixar de ser tão... séria. Quantos anos tem? Dezessete; dezoito?
— Dezoito. — respondeu Alana, imparcial. Ian deu mais um trago no cigarro.
— Certo. Dezoito. — ponderou-o, sorrindo por algum motivo que Alana desconhecia. O sorriso dele era magnífico, ela tinha de admitir. Parecia hipnotizar. — Para alguém de apenas dezoito anos você parece levar a vida muito a sério. Parece muito... Tensa. — ele piscou, e Alana tentou não se deixar levar por aquele gesto.
— Bom, diferente de alguns que tem a vida ganha, eu tenho que lutar, e muito, se quiser ser alguém na vida. — A petulância com a qual ela disse aquilo, fez Ian erguer uma sobrancelha pra ela.
Por um instante, Alana quis se socar. Quem ela estava pensando que era, pra falar daquela maneira com ele? Onde estava com a cabeça? Ele, ele era o chefe. Seria o chefe, o dono de aquilo tudo, e bastava um estalar de dedos dele pra ela ser posta dali pra fora.
Ian deu mais uma tragada no cigarro, apagando-o no cinzeiro sob a estante depois; em seguida terminou o whisky num único gole, numa única virada de corpo. Ele sorriu, deixando o copo ao lado da garrafa e caminhou até Alana.
Seus passos eram calmos, despreocupados. Seu caminhar era sexy ao ver de Alana, como se estivesse sempre seduzindo alguém.
A Steawart encolheu-se na poltrona, quando Ian, já diante dela, puxou a cadeira de modo que ela se vira-se de completo para ele. Ele se agachou um pouco, ficando numa altura suficiente para quase ficar ao tamanho de Alana, ali sentada, e também na altura perfeita para que seus olhares ficassem frente a frente do outro.
— Certo. Desculpe-me por ter nascido rico. — disse ele. Sua voz não saiu com alteração nenhuma, ao contrário, saiu baixa, quase num sussurro que era terrivelmente sedutor. Alana prendeu o fôlego. — Afinal, eu realmente sou o culpado de ter nascido em família rica; isso não é algo que pode acontecer com qualquer um é? — agora ele sorriu , debochando dela, rindo por dentro.
Alana estreitou os olhos pra ele. Ah, como queria enforcá-lo naquele momento. Mas decidiu que apenas entraria no joguinho dele.
— Eu não disse que você tinha culpa, disse? — a voz dela, também, saiu baixa. Com uma docilidade que se misturava com acidez. E, mesmo que os olhos dele perturbasse-na de tal maneira que pensava que iria agarrá-lo, Alana manteve os olhos firmes nos dele. — Mas também não posso dizer que a maneira com a qual você trata os outros é correta. Na verdade, eu a abomino.
— Então você me abomina...
— Veja como quiser! — Alana disse petulante, dando de ombros e sorriu, assim como Ian.
Porque ele sorriu? Ela se perguntava. Era como se nada o afetasse. Como se ele se achasse tão superior que por mais que lhe despejassem palavras cruéis, mas, verdadeiras sobre ele, aquilo não significava absolutamente nada para ele. Não teve nenhum impacto, nenhum efeito. Não mudava nada.
— Não fale como se me conhecesse. — disse Ian com um sorriso. Ele sorria sempre, Alana notou, e então se lembrou do que o Bennie havia dito a ela e a Cassandra naquele mesmo dia mais cedo. Que sorrisos eram tudo o que ele precisava para destruir as pessoas.
Alana começava a acreditar nisso.
— Mas eu conheço. — ela disse num ímpeto, a voz cheia de certeza. Ian ergueu uma sobrancelha como se dissesse: “oh, sério?”. E Alana continuou: — Eu sei que garotos como você, e seus amigos Bennie e Deeper, se acham os donos do mundo. Mandam e desmandam em todos, como se o mundo girasse em torno de vocês. Não os culpo, o dinheiro corrompe as pessoas. Mas, tratar as pessoas como se elas nem existissem, não dando sequer um olhar na direção delas e já as considerando um fracasso, uns perdedores dignos de pena, é uma característica própria de vocês três. Então, senhor Norton, eu o conheço sim. Você é como todos os outros daquela escola, só que pior até. Acha-se o rei do mundo, apenas porque tem dinheiro e um bando de garotas correndo atrás de você. Você não passa de uma pessoa arrogante, prepotente e fria.
“Pronto, agora eu sou mandada embora antes mesmo de começar meu estágio.” – pensou Alana ao chegar ao fim de seu discurso. Ela respirou fundo, buscando fôlego pelo despejo de palavras que, por mais que tivessem sido ditas em uma voz normal, continham nítida irritação e repugnação.
— Hm... Arrogante, prepotente e frio é? — repetiu Ian, se endireitando com um meio sorriso nos lábios. Aquilo enfureceu Alana. Ele parecia fazer de propósito, só para contradizê-la. Porque ele sorria? Porque não estava gritando com ela?
Ela queria aquilo. Queria que ele se irrita-se; gritasse e mesmo a ofendesse. A chamasse de pobre, de ninguém. Qualquer coisa seria melhor do que aquele ar de superioridade com a qual ele a fitava.
Ian caminhou até a cadeira onde estava sentado, e tirou o paletó de lá. Só então Alana reparou na última peça que faltava em seu uniforme sob a cadeira. Ele jogou o paletó preto sob os ombros, e acendeu outro cigarro. Deu uma tragada e então voltou a se aproximar de Alana, parando frente à garota que permaneceu sentada, mas com os olhos fixos no rosto dele.
— Certo. Parece que você realmente me conhecesse, Alana. — disse ele, dando outra tragada no cigarro. Alana notou que aquela era a primeira vez que ele a chamava pelo nome, e tentou ignorar a sensação de alguma coisa dançante em seu estômago. Borboletas.
Ian a fitou com curiosidade e intensidade, e então, finalizou com a voz séria:
— Mas lembre-se, eu posso ser, ou melhor, eu sou um arrogante, prepotente e certas vezes frio como você mesmo disse. Mas isso não é tudo o que eu sou. Sou muitas outras coisas, que você nem imaginaria. — ele sorriu pra ela, e Alana engoliu em seco. — Então, nem por um segundo pense que me conhece bem demais, pois vai acabar quebrando a cara. Eu sou muito pior do que você imagina.