>>Recordações<<

1129 Words
Eliza Passei cinco longos anos reclusa naquele maldito hospício, assim eu chamava o internato onde fui gentilmente obrigada a permanecer durante todo esse tempo. Recebendo somente a visita da "tia" Rose e da minha mãe uma vez por ano. Pois, para o restante da família, eu já havia deixado de existir. No início tudo foi muito difícil para mim, éramos separadas por pequenos grupos nos inumeráveis alojamentos, que chamavam de struttura. Meninos de um lado e meninas do outro. Mas eu sempre dava um jeito de escapar para o lado B, por assim dizer, e foi assim que acabei conhecendo o Enzo o meu companheiro de inúmeras aventuras e o meu único amor. (...) Fui colocada na sala do castigo tantas vezes que até perdi as contas. Acabei até fazendo amizade com o Fred. Querem saber quem é ele? É um ratinho cinza muito simpático por sinal. Adorava comer as migalhas de pão que eu jogava pra ele todas às vezes que aparecia por ali. E isso eram no mínimo umas três vezes por semana durante um ano. Então, logo podem imaginar que de uma forma ou de outra deveria ter certa i********e com aquele bicho peçonhento, e para ficar menos informal o apelidei por Fred. Até que o nome era fofinho. Após esse ano de adaptação pude perceber que seria inútil relutar sobre a minha situação. A minha maldita sentença já havia sido dada pelo meu querido papai e eu m*l sabia que o verdadeiro motivo eu ainda iria descobrir. (...) Após completar o ensino médio, aos dezoito anos, e aprender tudo o que uma mocinha de boa família deveria saber para ingressar na família Delfine, pude ser liberta da minha prisão por assim dizer. Meu cárcere seria de uma maneira diferenciada a partir de agora. Moraria numa linda e luxuosa mansão juntamente com Rose, minha titia querida. Ao chegar no local fiquei encantada com cada cômodo daquele lugar. Tudo era muito sofisticado, aconchegante e com riquezas de detalhes que tornava tudo ainda mais bonito. Afinal ela estava sendo muito bem paga para me manter tão confortavelmente e ser tão gentil todos esses anos. Ela era tão amável que chegava a embrulhar meu estômago. Mas falarei um pouco sobre ela em outro momento. A sala de estar era a mais detalhada de toda a casa. Tinha um estilo bem rústico e único, além da bela sacada com vista para um lindo lago. A cozinha era aconchegante e muito harmoniosa. Com móveis rústicos e cores vibrantes, chamando a atenção de qualquer pessoa. Ainda havia uma sala exclusiva para o jantar. Que parecia mais o trono de algum imperador. As cadeiras eram todas ricas em detalhes feitos manualmente em ouro, além da riqueza em detalhes por todo o ambiente. Realmente eu me sentia uma verdadeira bonequinha de luxo. Mas tudo isso continuava sendo insignificante pra mim e não via o momento de desaparecer desse lugar. Por fim fui conhecer onde seria a minha nova prisão, mas dessa vez de luxo. Abri a porta e me deparei com um ambiente muito sofisticado. Não sendo nada diferente do restante da casa. A riqueza de detalhes desse lugar era impressionante, retratava fielmente o pouco que eu recordava do meu quarto na infância antes de ser enjaulada naquele manicômio. A partir de agora eu poderia ir às ruas, mas sempre na vigilância do meu querido King Kong, assim eu chamava o armário ambulante que me acompanhava em todos os lugares possíveis e até impossíveis. O único lugar que eu tinha certa privacidade era no meu quarto, mas mesmo assim, ainda tinha dúvidas se haveriam escutas ou câmeras escondidas por todo o ambiente. Cheguei até a procurar algumas vezes, mas nunca encontrei nada. Enquanto estava no colégio interno nunca fui incomodada ou tive a honra de conhecer meu futuro marido Enrico. Mas, assim que coloquei os pés na minha segunda prisão tive a maravilhosa surpresa que ele estaria afastado do país por longos três anos prestando serviços militares. O que me trouxe grande alívio, pois teria muito mais tempo para pensar numa maneira de elimina-lo de uma vez da minha vida. (...) Alguns dias depois... Alguns dias depois a minha chegada, por eu muito insistir, Rose me levaria até um local onde seria a minha total libertação: A Universidade. Lá eu poderia fazer tudo aquilo que eu sempre quis e nunca pude. Ela relutou, mas acabou aceitando todas as minhas justificativas, de que eu precisava de muito mais instrução para me tornar esposa do poderoso Enrico Delfine. Sempre fui muito ardilosa e no fim sempre fazia o que queria. Mesmo que depois tivesse que sofrer as consequências, mas sofria com gosto por ter feito o que desejava. Lá passei os melhores anos da minha vida. Aprendi muito, sorri, chorei, conheci novas e maravilhosas pessoas. Além de poder reencontrar o Enzo. Ai o Enzo, só de lembrar dele me causa uma grande nostalgia dos lindos e marcantes momentos que passamos juntos. Especialmente do modo como ele me ajudou a eliminar definitivamente Rose e Enrico da minha vida. (...) Dias atuais... Respirei fundo ao olhar para o relógio amadeirado pendurado na parede branca da sala do meu minúsculo apartamento e perceber que chegava o momento de retornar para o lugar onde nasci. A linda e melancólica cidade de Palermo, uma das cidades que ficavam localizadas na ilha da Sicília. Era a quinta cidade mais populosa da Itália e era o maior centro cultural, histórico e comercial da Sicília. Havia recebido uma irrecusável proposta de trabalho e agora mais do que nunca eu precisava daquele dinheiro. Tentei relutar por se tratar do lugar onde anos atrás fui praticamente exilada pela minha própria família. Mas definitivamente eu necessitava daquele emprego. Não sei se seriam capazes de me reconhecer, afinal estou com a fisionomia completamente diferente do dia em que fui expulsa daquela casa. E já fazia anos que não via minha mãe. Tudo o que eu recebia dela durante esses últimos anos eram cartas relatando todo a sua angústia e sofrimento por viver longe de mim. Além é claro de se sujeitar as ofensas e modos grosseiros do poderoso Vitorio Grecco. Não sei como minha mãe suporta passar por todas as humilhações que ele certamente a obriga engolir. E o pior, é por que ela suportava tudo isso até hoje? As últimas notícias que tive dela consegui notar que ainda existia melancolia e amargura em suas palavras. Como eu adoraria reencontra-la e dizer que estou aqui ao seu lado. E principalmente, que comigo ela nunca mais sofreria ou derramaria lágrimas que não fossem somente de alegria. Com certeza nem ela seria capaz de me reconhecer. Por isso decidi que havia chegado o momente de fazer uma grande surpresa. Mas no fim, quem seria a grande surpreendida, era eu. (...)
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