Nicole

1057 Words
Nicole — Amiga, por favor, levanta, está apertando a minha bexiga... — Ouvi uma voz distante, até pensei que estava sonhando, mas senti uma mão no meu rosto, dando leves tapas e acordei assustada. — Onde estou... — Levantei, sentei-me e olhei para Cássia. — Caramba! Por que estou no meio das suas pernas? Fecha isso, menina. — Dei um pulo ao perceber que estava com a cabeça no meio das pernas de Cássia, ai caramba, acho que voltamos aos meus dias de recém-nascida, mas sem fraldas, que situação! Acordei deitada sobre a minha amiga. O meu corpo estava em péssimas condições. Se eu não lembrasse da festa da noite que se passou, poderia jurar que fui atropelada. E com certeza acreditaria nisso. A sensação era como se tivesse sido lançada em meio a um caos físico e mental, sem recordar como cheguei lá. Não vou negar, dessa vez a festinha saiu completamente do controle. Foi tão descontrolada que me vi obrigada a buscar refúgio na casa da Cássia, ciente de que o Sr. insuportável Foster chegaria hoje de manhã. Mesmo bêbada, mantinha alguma consciência, o suficiente para querer sair daquela casa antes da chegada do Senhor "caótico". Parece que para ele, o mundo é feito de regras, mais regras e, olha só, mesmo que ele não as siga direitinho, eu é que tenho que ser a guardiã da perfeição? Que chatice! Eu já estou pensando em lançar o meu próprio manual: "Como seguir regras sem parecer um pinguim em um desfile de moda!" Me chamo Nicole Meireles. Perdi a minha avó recentemente, e ela era a única família que eu realmente queria por perto. A chocadeira da minha mãe decidiu seguir a sua vida ao lado de outro homem, deixando-me com apenas alguns meses de vida. Eu até tinha meu pai, porém ele faleceu, deixando-me eu e a minha avó sozinhas neste mundo. Não fui a típica menina obediente, tampouco a mais decente. A rebeldia sempre correu em minhas veias, desafiando as convenções e expectativas impostas sobre mim. Entretanto, minha vida sempre foi tranquila. Eu cuidava das minhas coisas e tinha a minha avó como uma âncora, meu porto seguro, adorava passar a tarde conversando com ela enquanto fazíamos bolos, eu era uma mestre em causar pequenas confusões só para ver o seu sorriso, e a sua voz me chamando de "menina arteira" era música para os meus ouvidos, mesmo quando deixava a cozinha parecendo um campo de batalha de farinha! Perder ela foi uma tristeza imensa, a dor parecia ocupar todos os espaços dos meus dias, até o momento em que descobri o conteúdo do seu testamento, aí entrou a rebeldia, pois a minha avó sabia o quanto eu detestava aquele homem e ate hoje nao sei qual foi a sua intenção. No entanto, sou grata a Deus por ter a oportunidade de estar ao seu lado, me despedindo e guardando as memórias preciosas que compartilhamos. A sua partida mudou drasticamente a minha vida. Mesmo sendo maior de idade, fui forçada a morar na casa de um cara que, anos atrás, ganhou o meu repúdio. Ele era a última pessoa que eu imaginava como o meu tutor, mas de alguma maneira, a minha avó decidiu que Lucas Foster seria meu tutor por meio do seu testamento. Isso deu a esse arrogante direitos sobre todos os meus bens, aqueles deixados pelo meu pai e pela minha avó, enquanto eu, que deveria ter direitos, fiquei apenas com um cartão de crédito com um limite determinado por ele. É completamente desnecessário. Nem a minha avó colocava limites no meu cartão, e agora ele tenta ser o tiozão regrado para me controlar, ele nem mesmo controla a casa dele. Minha avó sabia que sou responsável com os meus gastos. Não pense que sou tola ao gastar dinheiro sem sentido, mas de vez em quando, quando o estresse bate, faço algumas extravagâncias. De vez em quando, também mereço ser feliz, não é mesmo? A porta do quarto se abriu e eu vi o meu anjo da guarda entrar por ela, Carlos. — Oi, gatinha! — Ele me cumprimentou. — Finalmente resolveram acordar? — O irmão da Cássia adentrou o quarto e depositou um beijo carinhoso em minha testa. Ele abriu a janela mostrando-nos que o sol brilhava forte lá fora, essa janela que também dava acesso à rua foi por ela que entramos para a mãe da Cássia não nos flagrar. Eles residem em um local menos privilegiado. — Que lindo em, com esses olhos vermelhos e os cabelos bagunçados. Bebeu demais não é… já falei que vou bater na sua bu'nda sempre que beber demais. Sorrio, mas engoli o meu sorriso quando vi Carlos se aproximando. Ele me pegou como se eu fosse um saco de batatas e, como se estivesse a jogar tênis, deu três tapas na minha traseira. — Ei, solta, deixa as suas maluquices… não se aproveite. — sorri ao levantar-me e dei um beijo no seu rosto. Eles são minha segunda família, gosto muito deles. Com o Carlos, digamos que tínhamos uma amizade colorida, mas agora ele está todo enrolado com uma menina que mora no bairro dele (com uma semana juntos, ela já me odeia). Mas nem ligo, pra mim, ela não cheira nem fede, é como se fosse um personagem de fundo em um filme sobre as nossas vidas. Ele sempre me tratou assim, como amiga, sempre foi carinhoso, e a Cássia sempre quis que ficássemos juntos, mas nunca levamos nada à sério. Ele é um amigo de verdade, daqueles que, se precisar, te deixa de m'al dele, mas te puxa as orelhas e fala a verdade. Como os conheço? Sempre frequentei escolas públicas, algo que a minha avó sempre apoiou. Foi por meio dessa educação que conheci a Cássia e o seu irmão. As nossas histórias se cruzaram nos corredores e nas salas de aula dessas instituições, forjando uma amizade que ultrapassou os limites do ambiente escolar. Antes, eu morava mais distante deles, em outro lugar. No entanto, após o falecimento da minha avó, acabei indo morar com o tal senhor arrogante que se acha a última bolacha do pacote no bairro do Morumbi, em São Paulo, enquanto eles permanecem na comunidade de Paraisópolis. As nossas realidades são bem distintas, mas a amizade que compartilhamos supera as diferenças de cenários e condições.
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