5. Capitulo

1656 Words
Passamos por ruas cheias de movimento, pessoas da minha idade se divertindo. Tem horas que me pego pensando como seria a minha vida se algo tivesse mudado, se meu pai ainda estivesse aqui. Será que seria muito diferente? Será que eu seria uma jovem mais ajuizada? Talvez eu tivesse inventado uma desculpa melhor para escapar das situações loucas em que me meto! Como minha avó dizia, tenho o sangue r**m do meu pai, de gostar de ir contra a quem me impõe regras, odeio segui-las. O carro se aproximou da casa que tem sido minha morada, o portão se abriu e avistei o carro da Lara estacionado. — O casal sem sal já deve estar falando de mim, não é à toa que minha orelha está pegando fogo. — comentei com Brian. — Rsrs, saiba que estarei aqui para desabafar quando quiser, está bem. — Brian disse. Assenti e desci do carro antes que ele fosse o cavalheiro de sempre e abrisse a porta para que eu saísse. Ao adentrar na casa, pude ver o olhar da dona Lourdes para mim. Ela tinha os olhos marejados e veio até mim, me dando um abraço silencioso, enquanto a casa começava a ganhar traços de normalidade. Ah, a habilidade do Brian de aliviar a tensão com uma pitada de humor! E dona Lourdes, a especialista em abraços silenciosos, mestre na arte de confortar sem dizer uma palavra, essas pessoas fazem a estadia aqui valer a pena. — Me desculpe, deixe isso aí, eu vou arrumar. É por minha culpa que está tudo revirado, não queria te dar esse trabalho, eu limpo tudo. — Falei, abraçando dona Lourdes, que se assustou com a voz que soou rude. — Ainda bem que você sabe, senhorita Nicole. — Ouvi a voz daquele homem que um dia me alegrava só de ouvi-la. Uns tempos atrás, a voz dele se tornava uma melodia aos meus ouvidos, a voz que mais ansiava para ouvir, mas hoje repugno até mesmo seu tom. Ah, como o tempo muda as melodias da vida! A voz que antes era como uma canção romântica agora me parece um samba sem ritmo! — Eu sei muito bem o que fiz, senhor caótico. Não precisa vir chamar minha atenção, pois sou mais consciente do que você. Arrumarei tudo e o que tiver de comprar novamente pode tirar do meu cartão, tá ok? Agora me deixe em paz. — Falei a ele no mesmo tom em que recebi sua repreensão. O clima tenso pairava no ar, cada palavra carregada de tensão. — Não fale assim, Nicole. Sabe que fez tudo errado. Amor, tenha paciência. — Disse a melosa da Lara, passando a mão no peito do seu infiel namorado. Hoje vejo que ela faz o papel de trouxa de propósito, parecia bancar a desentendida para garantir seu lugar no topo do pódio. — Eu pedi uma casa para mim, e tive o meu pedido negado por pura s*******m, só para mostrar quem é quem dá as ordens por aqui, pois deixo claro as suas regras, eu não sigo… — Antes que eu pudesse tagarelar mais, ele me interrompeu. — Por que será que eu neguei? Você não sabe de nada da vida, Nicole. Tem que comer muito arroz e feijão para saber o que é a vida. — disse com arrogância. — Eu descubro sozinha, não preciso de você como guia não, não tenho problema com isso, sempre fiz minhas coisas do meu jeito. — Falei catando algumas almofadas do chão. — Por isso não tem juízo nenhum, acha que sabe tudo, mas, na verdade, não sabe de nada. É uma menina que, na primeira tribulação que passar, vai chorar no quarto com medo do que virá pela frente. — Ele disse em tom seco enquanto eu me aproximei dele o encarando. Ele que não pense que abaixarei a cabeça para ele. — VOCÊ NÃO SABE DE NADA. — Falei o encarando. Os diálogos soavam como um cabo de guerra de palavras afiadas, cada uma carregada com a energia de um conflito iminente. — Por favor, Nicole, pare com isso. — Lara tentou apaziguar enquanto eu dava as costas para ele, tentando evitar encarar seus olhos. Parece que ainda consigo me lembrar dos encantos que sentia por eles, o que eu sentia era tão intenso que até mesmo evitar encarar seus olhos se tornou uma estratégia para manter a calma diante da situação. — RSRS EU NÃO SEI DE NADA, E VOCÊ SABE RSRS, ME POUPE NICOLE, CRIA JUÍZO. VOCÊ DESTRUIU A MINHA CASA, FEZ O QUE QUIS, AGORA TERÁ QUE ENFRENTAR AS CONSEQUÊNCIAS. ARRUME SUAS COISAS IMEDIATAMENTE… — Olhei para ele no mesmo instante. As palavras saíam da sua boca como estilhaços, criando um ambiente pesado e carregado de hostilidade. — Está me mandando embora? Pois eu vou com muito orgulho e não pretendo nunca mais olhar para a sua cara. — Saí em direção da porta, deixando até mesmo minhas coisas para trás, mas tive meu braço puxado bruscamente... Ele segurou fortemente em meus dois braços e falou bem próximo do meu rosto, senti o seu halito em minhas narinas fazendo todo o meu corpo sentir algo completamente estranho. — Você vai para a casa da Lara, vai arrumar suas coisas. — Ele disse com os olhos vidrados nos meus, franzindo as sobrancelhas. Dei uma gargalhada, e tirei suas mãos bruscamente de mim, mesmo com meu coração palpitando de tensão e revolta, enquanto Lara se colocou entre nós, afastando-o. — Está achando que é quem para me mandar de um lado para o outro como se eu fosse um objeto? — Já chega, menina, por favor, não discuta mais, por favor, eu te peço. — Olhei para Lourdes enquanto os olhos do casal sem sal estavam em mim. Bufei e saí para o meu quarto, mas ainda ouvi Lara. — Não… não vá atrás dela, ela vem comigo e chega de discussões. Minha respiração estava ofegante, meu corpo em chamas, meu rosto ardia, e eu jurei a mim mesma que nada mais iria me abalar. Decidi que iria sim para a casa da namorada dele e de lá planejaria minha vingança contra ele. Arrumei minhas coisas e desci as escadas. A tensão no ambiente era palpável, deixando-me com um turbilhão de emoções. Decidida a dar o troco, mantive-me firme na decisão de planejar minha vingança enquanto o caos se instaurava ao meu redor, ou sou eu o próprio caos? Ao descer as escadas notei o casal. Ele e sua namorada estavam em sofás diferentes, mas quando Lara me avistou, se aproximou dele e pegou em sua mão. Parece que o casal só é casal na frente de outras pessoas, ou será que é impressão minha? Talvez eles estejam competindo no campeonato mundial de "distância afetiva" e não querem estragar o recorde! Sinceramente, não vejo química nenhuma entre esses dois. E a prova de que ele é infiel existe e até alertei ela. Sim, eu alertei quando o flagrei com'endo uma mulher no escritório da casa, e ela simplesmente passou pano pra ele. Cada um com a sua consciência, mas a dela deve ser bem pesada, provavelmente acumula mais informação do que um HD! — Nicole, será só por um tempo, tá bom. — Ela tentou ser gentil, enquanto ele permaneceu de cabeça baixa, provavelmente irritado. — Não tem problema, vivo até na rua se necessário. — falei passando pelo sofá que ele estava sentado e fui em direção à porta. — Olhe lá como fala. Eu abri as portas da minha casa a você, e você é uma ingrata, isso sim. — Sou mesmo. Não quero convívio com você, não quero nem te ver na minha frente, e sou obrigada a isso. — E acha que eu queria te ter aqui? Acha mesmo? Por mim eu te deixaria na casa da Lara até os seus 24 anos, Nicole. Você está transformando meus dias em caos. Você tem uma resposta afiada pra tudo, nunca está disposta a uma conversa amigável. Por mim, você não volta para minha casa. — Eu olhei para ele com raiva. Por mais que ele seja rude, nunca deixou claro que não me queria aqui. — me aproximei dele enquanto Lara tentou evitar em vão a minha aproximação. — Você vai engolir cada palavra que disse. — apontei para ele que estava sentado. Mesmo sem intenção, minha voz saiu baixa e trêmula. — Você vai implorar pela minha presença em sua casa. — Falei firme. — Aí, meu bem, eu que decidirei se volto ou não. — Falei bem perto do seu rosto, encarando com raiva os seus olhos. Ele ficou parado, sem reação, enquanto fui empurrada para fora pela Lara. — Chega, Nicole, vamos. Amor, não precisa me levar até a porta. Vamos, por favor. Pelo amor de Deus, parece que a paz entre esses dois é mais rara que unicórnio em extinção. — Lara disse ao Brian que ficou de longe observando tudo. Fui até ele e o abracei calorosamente. — Obrigada por tudo. — Agradeci, sentindo uma mistura de gratidão e tristeza. — Você vai voltar, não vai? — Brian perguntou, com um olhar esperançoso. — Não, não sei, mas não tenho intenção. — Respondi a ele, com uma pontada de incerteza. — Brian! — Lucas o chamou, interrompendo qualquer chance de despedida mais longa. Parecia que ele só queria afastar as pessoas de mim, nem me despedir do Brian posso. Ele assentiu para mim e foi até Lucas. Os dois entraram na casa, e eu fiquei parada olhando para a porta. Antes de fechá-la, Lucas ficou me observando, e eu fechei o semblante, dando-lhe um gesto bem-humorado, uma espécie de despedida irônica lhe mostrando o dedo do meio e entrei no carro. Cumprirei o que disse: só voltarei para essa casa com as minhas condições, com certeza! A despedida com o Brian foi interrompida, mas deixei um "até logo" irônico para o Lucas.
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