Respiro fundo enquanto ela me encara do outro lado da mesa, os olhos cor de verde ficam lindos na iluminação incandescente do restaurante.
Sinto os olhos dos outros clientes em mim e tenho vontade de sorrir para eles e dizer, sim, ela está comigo, sim finalmente estou saindo com alguém, e eu também sei que ela é linda. É coisa de ego, não sei explicar direito, mas eu sinto orgulho de estar com a Jessi aqui, mesmo que isto não signifique praticamente nada.
A observo franzir o cenho e respiro fundo, quero dizer algo que a faça se sentir mais segura de embarcar nesse navio comigo, mas o que posso falar? Eu não mereço alguém como ela, não depois do que fiz com minha vida nos últimos anos.
— Posso saber por quê? — ela pergunta, o queixo empinado e marcado, me faz desejar deslizar o dedo naquela linha.
— Porque as coisas serão mais fáceis se não existir sentimentos — explico, passando a ponta do dedo indicador pela sobrancelha que coça quando fico ansioso.
— Mas se acontecesse, se um de nós dois acabasse se apaixonando? — ela insiste.
Meu peito infla, me arrumo na cadeira, sendo tragado pelo pensamento, pela ideia surreal de tê-la por completo na minha vida, mas definitivamente não posso cair nesses pensamentos tolos, eu
não suportaria passar por uma traição de novo.
— Eu não vou me apaixonar — minha voz soa seca, baixa, e não estou afirmando isso para Jessi, e sim para mim, porém ela me ouve e arregala levemente os olhos.
— É claro que não — responde com o rosto sério, inclino a cabeça para o lado, sem saber se ela está brava comigo.
— Você nunca se apaixonaria pela sua secretária, sei muito bem que pertencemos a níveis diferentes.
Levo alguns segundos para processar sua fala, Jessi acha que há algo nela que me impeça, que me afaste? O simples fato de ela ter uma profissão que pague pouco jamais seria suficiente.
— Não é sobre você, Jessi — faço questão de pronunciar seu nome, sem motivo algum.
— Se isso importasse, eu não estaria te propondo que se casasse comigo.
Ela ergue a sobrancelha,o semblante cheio de dúvidas. — E o que é, então?
— É complicado.
— Como pode ser complicado? Moraremos na mesma casa, não é? — ela pergunta e eu assinto. — Às vezes, precisaremos nos beijar em público, dormir no mesmo quarto, suponho, as pessoas saberão sobre nós, o que mais pode ser complicado?
Ela me encara, ainda brava, esperando uma resposta. Não quero que ela desista, não quero imaginar outra mulher entrando dessa forma na minha vida, fazendo parte da minha família, mas não posso me dar ao luxo de desistir de um casamento, deixar meu pai pegar a empresa de volta, e a entregá-la para o meu irmão mimado. Preciso desse casamento a todo custo, e preciso que seja Jessi.
— Eu sou complicado — digo, soando o mais sério que consigo, para que ela consiga entender.
— Você não vai querer se envolver emocionalmente comigo.
— Te vi com sua sobrinha, alguém que trata a sobrinha tão bem não deve ser assim tão complicado.
— Por que insiste nisso? — pergunto sem pensar direito, deixando a voz se elevar em um momento de descontrole. — Por acaso está apaixonada por mim para se opor tanto a um pequeno detalhe?
— Não — ela diz, ainda mais séria.
— Não te conheço direito, por que estaria apaixonada? Só insisti porque quero entender tudo dessa proposta, e simplesmente não consigo entender o que te fez me escolher, já que é a diferença de classe social entre nós é gritante.