Abrindo a porta para o passado passar

1526 Words
— Do que você está falando agora, Rubi? Tem noção que você corria realmente risco de se machucar? Que toda a fumaça que ingeriu pode ter feito m*l para sua saúde? Você realmente tem como objetivo de vida me enlouquecer? Me diz. O que eu fiz de tão errado? Te escolhi? Amei você? É tão horrível assim viver comigo a ponte de preferir morrer? Se ferir o tempo todo. Realmente você prefere sentir dor a viver nessa casa? É tão r**m assim o que eu te ofereço? — Hades desabafou ajoelhado no chão na frente de Rubi. Com toda a certeza ele havia chegado ao seu limite em relação a Rubi. Os seus olhos estavam repletos de lágrimas. Era óbvio que Hades estava ferido e desabafando. Talvez aquela menina nem sequer entendesse o tamanho da dor que estava causando naquele homem e muito menos iria entender o que ele dizia. — Eu não queria me machucar. Foi apenas um pouco de fogo na lixeira. Não ia machucar ninguém. — Rubi tentou explicar. Fazia sentido. Ela era apenas uma criança repetindo a cena de algum filme que assistiu. Assim como aconteceu quando ela assistiu, pensou que o fogo jamais sairia do controle. Nem sequer sabia do dano que apenas a fumaça por si só poderia causar. E eu pensando que os trigemeos de Ulisses eram barra pesada. Rubi coloca eles no chinelo. — Você não queria? Então qual era seu objetivo? Tenho certeza que já conversei com você do perigo do fogo e como ele pode facilmente perder o controle e ferir a todos. Só a fumaça que vou aspirou já foi o suficiente para te machucar. Eu sei que você está sofrendo. Que é a sua forma de me machucar por tudo que aconteceu. Na maior parte do tempo, eu relevo porque sei que é a sua forma de chamar atenção e relaxar no meio de tudo, mas não posso permitir que você coloque a sua vida em risco. Você é muito importante para mim. A única família que eu tenho nessa vida. Não posso te perder. Já não consigo suportar perder o meu irmão que era metade de mim. Se eu perder você também, a minha vida não fará qualquer sentido. — Hades desabafou com a menina de oito anos que não entendia nada do que ele estava falando. Depois dessa cena, agora era certo, essa casa precisa de terapia. Hades não parece está nada bem e muito menos a criança. Há muitos sentimentos inquietantes dentro deles dois que precisam ser acalmados, mas até que isso aconteça, sinto que esses dois ainda vão se bater demais. — Eu já disse que não queria me machucar. Fiz igual ao filme. Eu sabia que ficaria tudo bem. Eu apenas quero a minha mãe. Não gosto daqui porque quero a minha mãe. Quero estar onde ela está. — Rubi confessou antes de começar a chorar. Não sabia o que pensar. Nem tenho ideia do que aconteceu com a mãe dela e porque ela acabou aqui sozinha com Hades — Eu quero a minha mãe. Traz ela de volta. Eu prometo que não darei mais trabalho. Por favor. Serei boazinha. — Eu já te disse. É impossível. Sua mãe não vai voltar nunca mais. Vocês não vão mais se ver. Aceite essa realidade de uma vez por todas. Não percebe que nada disso trará a sua mãe de volta? Apenas causará problema para você. — Hades definitivamente não era bom com crianças. — Eu te odeio. Um dia vou conseguir fugir daqui e você nunca mais me verá. Eu juro. — Rubi disse antes de sair correndo em direção de uma porta próxima da sala de jantar. Não fazia ideia do que era, mas pela despreocupação de Hades, algo me dizia que era seguro. — Que tal uma bebida? — Hades sugeriu levantando. — Não é muito cedo para beber? E não estamos esperando o médico? Aliás, não vai falar com a menina? — A pergunta que eu queria fazer era outra, mas sabia que não teria a resposta desejada, apenas problemas para mim. — Era cedo demais para um incêndio, também para lidar com uma criança com rebeldia adolescente precoce. Ahhh! Que personalidazinha. De tantas coisas para ela puxar. Tinha que ser essa personalidade. Parece que tô vendo ele na minha frente quando ela fala. — Hades estendeu a mão em minha direção — Ao menos me faça companhia um pouco. Pedirei aos meus homens que fiquem de olho no médico e em Rubi, tenho sensação que ficar perto dela agora só vai piorar tudo. — Eu te acompanho sim, mas posso falar com a Rubi antes? Talvez vocês dois estejam machucados demais para conseguir conversar pacificamente. Os dois estão se machucando. Tem algum problema se eu falar com ela. Sei que me alertou sobre saber os meus limites como refém, mas... ela é só uma criança. — Não tinha como não sentir uma dor naquela situação. A menina apenas quer ver a mãe e o pai apenas não sabe lidar com toda essa situação, já que a paternidade caiu de paraquedas no seu colo. — Uma refém, sabe que é uma refém. — Disse o homem que me convidou para beber com ele. Hades definitivamente era um ser que deveria ser estudado. — Sou uma refém, mas você me chamou para tomar uma bebida e te fazer companhia, acredito que também não está nas qualificações de refém. E talvez agora o que mais Rubi precise é de alguém para ela desabafar também. Talvez se sinta mais à vontade com alguém que ela não pense que esteja do seu lado, sabe que de alguma forma, te ver como vilão. Prometo que não vou demorar. Apenas me dói deixar uma criança naquela situação, sabe? — Na minha mente, também era loucura me meter naquela bagunça, mas não conseguia deixar de lembrar da minha sobrinha ao ver Rubi. — Dez minutos. Espero que não faça eu me arrepender de confiar em você. Eu realmente desejo que você não use a situação ao seu favor. Não vou perdoar se machucar a minha filha. Entendeu? Você e o seu irmão já fizeram demais. Não sei se isso é culpa que você está sentindo por tudo que fez. Não quero saber. Só não use a criança para seu benefício próprio — Hades acabou de dizer que Estér e o irmão haviam machucado Rubi? Talvez tenha relação de alguma forma com a mãe da menina e seja exatamente esse a razão do meu sequestro? Vingança? — Ela está na sala de televisão. Eu vou te esperar na área externa. Na piscina. Hades realmente se virou e saiu. Pensei que ele não me permitiria falar com a criança naquele situação, mas no fundo acredito que ele já não sabe mais como lidar com a menina e está se agarrando em tudo que tenha qualquer chance de ajudar ela, para acabar com esse caos que está dominando a relação dos dois. — Acredito que enlouqueci mesmo. Na situação que eu estou, deveria estar mais preocupada comigo mesma do que com os outros. Quando sair daqui, tenho que procurar uma psiquiatra e ter certeza que não preciso ser internada. — Pensei alto enquanto andava em direção a porta do quarto. Quando entrei no cômodo esperava encontrar a menina assistindo televisão, como qualquer criança normal, mas fui surpreendida com a menina sentada na janela, respirei aliviada quando notei que haviam grades. Acredito que ela tentou escapar alguma vez por aqui, no mínimo. O que me preocupava eram seus olhinhos vermelhos e o seu olhar distante. Nem eu que sou refém olho pela janela dessa forma. Não que eu seja referência, na arte de ser refém. Algo me diz que fiz tudo errado desde do começo. — Rubi, podemos conversar um pouquinho? — Sentei no sofá sem tirar olhos nela. — Queria ouvir um pouco do que está sentindo. Parece bastante magoada. Sabia que conversar diminui todas as dores do nosso peito? Eu acredito que me identifico um pouco com você. Fui uma criança que me sentia sufocada dentro da minha própria casa. Tive inveja dos passarinhos e das borboletas que tinham escolhas, liberdade. Queria saber se você também se sente assim. Mesmo amando essa casa, e as pessoas, ainda assim, odeia tudo. Talvez, no fundo, eu esteja fazendo isso para tentar salvar a criança que fui no passado, que não teve ninguém para estender a mão e resgatar ela, ao salvar Rubi, talvez um pedaço de mim se cure bem que seja um pouquinho que, seja. Esse pedaço que me maltratou em silêncio por tanto e tantos anos. — E onde estava o seu papai e a sua mamãe? — Rubi se aproximou interessada na história. — Senta aqui. Vou te contar a minha história. E você depois me conta a sua, que tal? — A minha história não era importante naquele momento, mas esperava que fosse o suficiente para aquela pequena se abrir para alguém. Ela era muito pequena para lidar com tantos sentimentos negativos. Se eu não consegui salvar minha pequena eu, usarei a dor do meu passado e salvarei a Rubi com tudo que posso.
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