A decisão sobre a verdade

1591 Words
Gargalhando juntos. O que nunca pensei que poderia acontecer. Os reféns não costumam beber e se divertir com seus sequestradores, o que fazia daquele momento completamente surreal. Definitivamente, eu não tinha medo nenhum de Hades. E o clima do cômodo que segundos atrás era de tensão, se transformou em uma paz sem igual. — Verônica, você tem cara de tudo, menos fácil. Pode até ser que seja do tipo que faz o que der na telha e dorme com quem quiser, mas você parece ser do tipo que é difícil de se ganhar. Se o homem que tenta te conquistar e te ter, precisa ser muito cuidados, ou assim como água você escorrer pelas mãos. — Hades respondeu olhando atentamente para o papel, o que me pegou de surpresa. — Sério. Acha isso? Você parece ser o tipo de pessoa que consegue ler bem as pessoas. — Não espera que tivesse me observado tanto. Só me pergunto como ele ainda não percebeu que não sou Ester. — Sim, faz parte do ofício. Agora me diz, como alguém conseguiu quebrar seu coração e perder uma mulher f**a como você? — Hades perguntou me olhando nos olhos. — Parece que há uma dor enorme dentro de você, prestes a explodir a qualquer momento. E não é o tipo de sentimento que uma boa atriz pode fingir. Por mais que você seja uma muito boa. — Então vamos fazer uma brincadeira. Três verdades e uma mentira. Eu direi sobre mim. E você dirá sobre você. O que acha? É mais divertido assim. Não sou muito boa em falar dos meus sentimentos. Na minha família, era um tabu enorme ter emoções ou sentimentos, quem dirá conversar sobre eles. A gente aprendeu a varrer tudo para baixo do tapete e fingir que nada aconteceu. — Sempre quis mudar isso, mas é algo que cresceu em mim. Nem toda terapia do mundo conseguiu mudar minha forma de lidar com o que sinto. — Mas só direi se você acertar a alternativa. Só tem uma chance. — Parece bom. E então, quais são os fatos que você vai apresentar? Tenho certeza que irei descobrir facilmente. — Hades sorria. Meu coração acelerou apenas com seu sorriso. Melhor eu parar um pouco com o vinho ou minha capacidade mental vai de arrasta para cima. — Primeiro: Eu sou gêmea. Segundo: Meu filho foi morto pelo próprio pai. Terceiro: Já fui traída. Quarto: Eu já quebrei meu braço em três partes pulando o muro da minha casa para namorar escondido com o jardineiro. — Hades nunca saberia qual era verdade e qual a mentira. — Essa foi fácil demais. Pensei que você iria dificultar. É claro que... Seu filho foi morto pai é a mentira. Deveria ter feito algumas mais difíceis. Vamos para a minha. Duvido que acerte. — Hades parecia bem animado. — Não quer nem que eu diga se está certo ou errado? — Perguntei confusa. Não sei porque ele está tão confiante. — Não. Eu confio na minha leitura. Um homem não seria louco de machucar o filho de uma mulher perigosa como você. Agora vamos para minha vez. — Hades parecia não se importar mesmo com a resposta. Não insisti. A ideia não era ele me conhecer melhor, mas eu conhecer algumas verdades sobre ele. Assim poderia juntar as peças e ter uma noção do que está acontecendo com aquela família. Além disso, também era minha forma de fugir. Não quero que Ulisses me encontre. Por sorte, Hades estava super empolgado para fazer o dele. — Primeiro: Sou irmão gêmeo. Segundo: Herdei a máfia sem nunca ter cometido uma multa de trânsito antes. Terceiro: Sou pai de Rubi. Quarto: Fui o culpado da morte do meu irmão. — Hades disse com um sorriso vitorioso, m*l sabia ele que aquelas respostas havia acabado com a maioria das minhas dúvidas. — Qual a mentira? — Você não é pai da Rubi, ela é filha do seu irmão. Herdou a máfia do seu irmão, na verdade, você se passa por ele e a morte dele não foi sua culpa diretamente, mas sim, indiretamente porque você não foi capaz de se livrar da mãe da Rubi quando teve chances. E ela e o irmão da Ester são os verdadeiros culpados. Por isso, você busca vingança sequestrado Ester e fazendo ela de isca para pegar o irmão — Respondi sem pensar muito. Deixando apenas as peças se encaixarem. Quando me dei conta que eu havia falado mais do que deveria. Meu coração disparou. Não deveria ter tocado no nome da mãe de Rubi ou Ester. Era um assunto sensível. Olhei para Hades, ele estava pálido, da cor de papel. Depois de um bom tempo de silêncio naquele cômodo, Hades levantou do chão rapidamente, ainda pálido e sem tirar os olhos de mim. Me olhou como se tivesse não apenas horrorizado, mas assustado. Eu tinha cometido um erro. Não deveria ter dito minha conclusão. Sabia que o vinho me faria errar, mas acho que foi não foi a bebida, sim o clima, eu esqueci como a situação que eu estava era instável demais para não ser cautelosa. Hades sem tirar os olhos de mim, foi até a mesa da sua sala. Debaixo da mesa retirou um aparelho de comunicação parecido com o que os seguranças da mansão de Ulisses usavam. — Venham na sala do escritório. Quero que levem a refém para o quarto e a tranquem. Não quero que mais ninguém tenha contato com ela. Todas suas regalias foram retiradas. A porta será aberta apenas duas vezes por dia para alimentar ela. — Hades informou para quem estava do outro lado. — Ela vai morrer de fome? — Ouvi a voz de Cláudio do outro lado. — Não. Você mesmo estava reclamando que ela era gorda. Agora vamos deixar ela fazer um bom regime. Venham buscar. Estou de saída. Deixarei ela trancada no escritório. Não quero saber dela dando um passo para fora desse lugar. Estamos entendidos? — Hades parecia querer me fuzilar com os olhos. — Entendido. Estamos a caminho. — Cláudio disse rapidamente. Hades foi em direção à porta, completamente em silêncio sem tirar os olhos de mim. Como se estivesse esperando por minha reação, mas sou do contra, m*l sabe ele que prefiro fazer o contrário do que esperam de mim. Sim, só de pirraça mesmo. Sou dessas, fazer o que? Além disso, qualquer coisa que eu fizesse agora apenas iria piorar a situação que estávamos. — Pensei que iria tentar me impedir de sair ou pedir para que suas regalias fossem mantidas, falaria algumas mentiras para tentar me enganar. Não imaginei que ficaria em silêncio. — Hades deve ter transtorno de personalidade. Ele mesmo fez tudo e esperando que eu fosse pedir clemência? Até parece. Ele não faz ideia com quem está mexendo mesmo. Se soubesse o que passei nas mãos dos meus pais, saberia que isso é fichinha. — Porque eu faria algo assim? Não disse nenhuma mentira. Não tenho culpa que você tem dificuldade para lidar com a realidade. Talvez por isso você e Rubi estejam tão m*l. Você não tem ideia de quem é. Se sente culpado pelo seu irmão. E não faz ideia nem mesmo de como cuidar de você, quem dirá de uma menina que precisa de sua mãe e implora por isso. Vitor, seu problema não é comigo. E fugir de mim e da realidade não vai mudar nada do que aconteceu, mas faça o que quiser. Pessoas covardes tem mania de fugir. Você não será o primeiro e nem o último. — Falei irritada me levantando do chão. Peguei a garrafa de vinho, bebi todo o resto da bebida na garrafa mesmo. Depois coloquei ela exatamente onde estava. Eu já estava um pouco zonza, mas depois de toda essa conversa, eu precisava de um vinho para dormir em paz. Já estava indo na direção de Hades, assim como ele, também queria ir bora dali. — O que vo... — Hades foi interrompido por alguém batendo na porta. Logo que abriu, os três patetas estavam curiosos para nós dois. — Acho que minha carona chegou. Tenha uma boa noite, Vitor. — Falei antes de beijar bem no canto da sua boca. — Você enlouqueceu? — Hades parecia transtornado com a situação. — Não, sempre fui louca. Ter sanidade em um mundo de maluco que é algo estranho, não acha? Espero que você pense em tudo que eu disse. Amanhã venha conversar comigo com menos álcool e a cabeça fria. Espero que mude de ideia antes que eu fuja ou seja resgatada.— Hades não era alguém r**m, o único perigo aqui era eu ultrapassar a linha. Andei para fora do cômodo sem olhar para trás. A noite havia sido longa demais. Hades precisava de um tempo para pensar. E para ser sincera, o vinho já tinha subido e eu só conseguia pensar em deitar e dormir. Amanhã será um grande dia e não posso ficar de ressaca. Independente do que Hades disser. Eu irei falar para ele a verdade. Provar que não sou Ester, mas Verônica e que e tudo foi uma enrome confusão. Agora tenho certeza que o perigo real aqui é ser Estér e não eu mesma, não há razão para continuar com essa mentira. Nessa noite, assim que me joguei na cama, do jeito que tava. Mesmo com a mente turbilhando pensamentos, ainda assim, só precisei sentir o travesseiro no meu rosto para adormecer. Sentindo que seria meu último dia naquele lugar. Nem imaginava como meu dia seria caótico.

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