Eu me chamo Verônica

1608 Words
Entrei no escritório ainda pensativa sobre tudo que havia conversado com Rubi, convivendo com todos os meus sobrinhos aprenderam algo importante sobre crianças: Elas costumam contar as histórias da forma que assimilam, às vezes, com um toque a mais de imaginação e apenas feixes de realidade, mas não muda o fato, que no fundo, há algo completa real. Agora o que daquilo tudo que conversamos podia ser considerado como verdadeiro e o que era falso? — Vai ficar na porta me olhando ou sentar aqui no chão do meu lado e aproveitar esse whisky maravilhoso? — Hades levantou o copo para mim. Estava sentando no chão, escorado no sofá. Em cima da mesa havia uma tábua de frios e uma garrafa de whisky pela metade. — Estava pensando um pouco. Aliás, tem certeza absoluta que quer beber com uma refém? Isso não vai contra o código de conduta dos sequestradores profissionais? Tenho certeza que deve ter ao menos um capítulo falando sobre isso. Não é? Tenho certeza. Que oferecer álcool para mim não está nas indicações. — Comentei enquanto sentava do lado dele. — Você em uma refém que quebra todos os padrões. Tive que rasgar o código inteiro. Não de preocupe. Cuidar de uma refém como você é nescessário refazer as regras. — Hades respondeu sem me olhar. Penso que ele estava realmente triste com a situação. — Sendo assim, a refém fora de série não é fã de Whisky, será que o sequestrador muito gentil teria um vinho? Assim posso acompanhar o senhor. — Brinquei. Eu até tomava vinho, mas eu preferia naquele momento uma bebida que eu tivesse mais controle com o álcool ingerido. O vinho posso beber sem medo. — Tenho a refém mais abusada de todas. Nem visitas fazem esse tipo de exigência. — Hades levantou indo em direção de um móvel, da parte de cima tirou uma taça e embaixo a garrafa de vinho. Com ajuda de um saca-rolhas elétrico, ele abriu com facilidade, colocou um pouco na taça e trouxe em minha direção. — Aqui está senhorita mimada. Espero que goste. Dizem que é uma safra muito boa, eu não tenho o hábito de tomar vinho, então não tenho certeza. — É uma das melhores safras dessa marca. A fragrância dele e as notas são únicas. Diferencia de todas as outras da marca. — Respondi enquanto Hades colocava a garrafa em cima da mesa e me entregava a taça. — Parece que você conhece mais de vinhos do que parece. Para ser sincero, cada vez noto que você é totalmente diferente do que eu imaginei. É muito mais culta e sem juízo, na verdade, não sei como as duas coisas podem se combinar em uma pessoa só. É um pouco fascinante. — Hades sentou novamente ao meu lado no chão antes de levantar o copo. — Que tal um brinde? — Ao que devemos brindar? — Para ser sincera, ano passado eu tinha muito para brindar, mas agora eu tinha apenas a minha família. Era algo maravilhoso. Mesmo assim, eu ainda sentia que tinha perdido algo muito importante para mim. E pensar naquilo, fez o meu coração doer um pouco. — Eu pensei que estaria brindando sobre a Rubi, minha família, mas hoje não tenho certeza se fiz o certo ou sou suficiente para cuidar de uma criança. Quando mais tempo passamos juntos, mais tenho a certeza que aquela garota me odeia com todas as forças dela, independente do que eu faça para mudar isso. Verônica, eu faria o mundo para ver aquela garota sorrir, estou disposto a tudo por ela, mas não é o suficiente. A v***a da mãe que nunca se importou com ela. — Hades disse antes de virar todo o copo de whisky que bebia. — Você sabe me disso, não é? Sabe que tipo de mulher era ela. E a razão de Rubi estão aqui. — Só por hoje, podemos deixar de ser sequestrador e refém? Se disser que sim, tomarei esse vinho e vou acompanhar você na bebida. Só por agora. Podemos ser apenas duas pessoas normais? — A resposta que eu queria, com toda certeza, viria do álcool que estava entrando no corpo de Hades, mas eu precisava derrubar todas as barreiras de ambos os lados, para que tivesse confortável para falar tudo que viesse em sua mente. — Hoje, vamos fingir que somos apenas desconhecidos que se encontraram em um bar aleatório e nunca mais vão se ver. Topa? Não vou mentir que pensei que levaria uns bons gritos, tudo em Hades era um enorme mistério. Nunca sabia o que esperar das suas reações. Como naquele momento não era diferente, ouvi uma enorme gargalhada ecoando por todo o escritório. Parecia um filme terror, mas ao mesmo tempo era cômico. Era uma risada divertida. Não sei a razão, mas algo me diz que ele está se divertindo com a situação. — Você com toda a certeza deveria ser estudada. Que tipo de refém faria uma proposta dessa? Mas sabe de uma coisa. Hoje eu realmente preciso de um desconhecido aleatório de um bar para conversar em vez de uma refém espertinha. E no fim, você não pode escapar desse lugar, mesmo que acredite muito que poderá fazer isso. Então, por onde começamos? — Para minha surpresa, mas nem tanto, já que esperava qualquer reação dele. Ele aceitou sem impor milhões de regras. — Você não vai colocar nenhuma regra que seja? Limite ou palavra de segurança? Se concordar, não vale voltar atrás até o dia amanhecer. Até lá. Eu serei apenas uma mulher desiludida no balcão de um bar, que colocou ponto final em uma relação que acreditou por muito tempo e a feriu completamente. Além de deixar ele, fugiu de toda a família para um país diferente, buscando esquecer quem era. Entendeu? — Parecia loucura, mas quem eu iria interpretar além de mim mesma, a Verônica que ele não conhece e muito menos acredita que exista. — Você é incrívelmente detalhista quando se trata de brincadeiras, não é? Não apenas criou uma história em segundos como também uma personalidade. Com toda certeza você é perigosa. Tenho que alertar os meus homens do riscos novamente. E eu pensando que a única preocupação era a Rubi, que fazia e desfazia dos meus homens com facilidade, achei pouco e trouxe alguém pior que ela. — Hades parecia realmente despreocupado com a minha presença, naquele momento, talvez ele tivesse me ao ferido, que não importava mais se eu estava ou não ali. Pelo menos, achei isso, não acreditei que não havia formas de fugir. — E então, não fique com inveja. Você pode ser você mesmo. Eu não faço a mínima ideia de quem é você. Diferente de mim, que você diz saber tudo, mesmo que eu não concorde muito com as suas teorias sobre mim. Se não terei o papel de refém que você colocou em mim, posso escolher qual papel irei escolher. Não acha? Deixe que eu seja quem eu quiser. Pode ser, senhor? — Já tentei dizer algumas vezes que eu não era a tal da Estér, mas ele não acreditou de qualquer jeito, ao contrário, o deixou ainda mais irritado. Vou aproveitar a situação para ser eu mesma. Não vou mentir que estava com saudade de mim mesma, nunca pensei que sentiria falta disso. Vou agir como eu seria em um bar, ao encontrar com um homem como ele. — Ou está com medinho? Vou entender se estiver com medo. — Brinquei, mas sabia que não havia qualquer vestígio de medo no seu olhar, muito pelo contrário, podia ver trações de empolgação e curiosidade. — Medo? Você realmente não faz ideia de quem é o homem que está lidando. Não há nada nesse mundo que me deixe assustado. Eu concordo com tudo aí. Pode começar. — Hades respondeu rindo, como se tivesse ouvido uma enorme piada. Me levantei podia sentir o olhar de Hades me perseguindo, mas ele não disse nenhuma palavra, apenas assistiu. Fui até a porta do escritório, soltei o cabelo e dei uma pequena mordida nos lábios, deixando ele um pouco mais rosada. Eu estava mais pálida do que o normal. O que era esperado, já que não tinha mais contato com a luz do sol havia dias. Joguei o cabelo para o lado, voltei para onde Hades estava parado me olhando, andando bem devagar e rebolando. — Esse lugar está vago? — Perguntei com um sorriso safado enquanto mordia os lábios levemente sem tirar os olhos para ele. — Eh? — Hades parecia que tinha levado um enorme e desnorteante tapa. — Será que está esperando alguém? — Insisti vendo que ele estava chocado com a mudança de personalidade. — Ahh! Não. Penso que esse lugar estava esperando por você a noite toda. Aceita uma bebida? Você tem cara de quem aprecia um bom vinho. — Hades logo entendeu a situação e entrou na brincadeira. — Você acertou. Olhando de perto, faz até que o meu tipo. — Brinquei ao me sentar do seu lado. — O vinho? — Hades perguntou confuso. — Você! — Respondi olhando em seus olhos. Aquilo deixou ele completamente desconsertado. — Aliás, eu me chamo Verônica. E o senhor apreciador de whisky com gelo, como se chama? — Eu... me chamo Vitor. — Hades me respondeu sendo mais sincero do que imaginei. Talvez a cantada fez mais efeito do que eu pensei. O que me deixou ainda mais confiante que poderia levar aquela noite no papo e ter todas minhas respostas sendo apenas a mesma Verônica de sempre. Sem qualquer filtro. Hades não saberia se defender desses ataques. E eu vou me aproveitar disso.
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