Valentina corre até lá, Benício estava deitado bem tranquilo com se aquela noite fosse uma lua de mel comum entre um casal recém-formado.
— Saia agora da minha cama, não quero o teu cheiro imundo em nada do que é meu! — Grita ela.
— Nem parece a mesma que se casou apaixonada por mim a uma hora atrás...! O que vai fazer se eu te possuir agora mesmo aqui nessa cama, vai atear fogo ao próprio corpo? – Ele pergunta deixando-a ainda mais louca de ódio.
— Talvez sim...o que importa é que desapareça da minha frente! Traga a sua raça maldita como tanto quer, mas suma do meu caminho.
— Essa noite durmo aqui contigo. Amanhã mesmo irei construir um canto para os meus, até lá controle a sua língua ou terei que cortá–la! — Diz ele suspirando de raiva.
— Para o inferno você e sua laia... Benício! — Ela tenta sair de lá para não se matarem, mas Benício puxa Valentina pela mão e gira o seu corpo deitando–a na cama e ele por cima, suspirando forte em sua pele branca.
— Tire as mãos imundas de mim… filho de um assassino!
— Agora eu sou teu marido querendo ou não.
— Toque em mim… e Salazar corta o seu pescoço assim como o seu pai fez com minha mãe. — Diz ela assustada e chorando.
— Está muito segura de que ele te defende, não é? O que vai dar a ele como agradecimento?
— Algo que você jamais vai ter! — Responde ela.
Benício sentiu uma vontade enorme de consumar aquele casamento, era ódio e desejo tudo junto entre aqueles dois corpos.
— Vamos ver se ele vai salvar-te de mim para sempre! — Diz ele dando uma lambida nos lábios dela.
Benício por fim soltou Valentina que limpou o rosto e pegou rápido umas roupas no armário.
— Onde pensa que vai? Se for se deitar com ele...
— Não te devo satisfação, um casamento erguido sobre uma mentira não vale nada para mim!
Valentina entra no quarto de Carmem visivelmente abalada.
— Você o expulsou de casa Valentina?
— Ele é meu marido, agora vó, se eu fizer isso ele pode se queixar de mim com os mais velhos. — Ela não podia fazer nada, pois a cultura cigana sempre privilegiava aos homens.
— Deus… havia me esquecido desse detalhe. O que você fará agora?
— Tentar sobreviver a isso, ignorar o fato de ter que conferir a cara dele e da
família que destruiu minha vida! — A jovem trocava de roupa enquanto conversava
com Carmem.
— Destruíram minha vida também Valentina. Minha filha, teve a vida ceifada
diante de meus olhos e agora o filho dele está dormindo sob meu teto!
— Me perdoe, eu me sinto tão culpada e envergonhada por tudo isso!
— Você também é uma vítima, não se sinta assim. — Diz Carmem tocando o
rosto da neta tentando lhe passar algum conforto.
— E se formos embora agora mesmo daqui?
Valentina
Talvez indo embora daqui, as dores pudessem ficar para trás também, mas sei que a sombra de todas as culpas e dores nos seguiriam para onde quer que
formos.
— Não pode abandonar seu povo a própria sorte, não se esqueça de que você é
nossa líder filha.
— Eu era, agora é Benício!
— O que vou dizer agora pode parecer loucura, mas se quer vencer o domínio
deste homem precisa acatar meu conselho.
— Fale então e eu farei, eu preciso saber como. — Diz ela tocando a
mão de Carmem.
— Tente ser cordial com ele e um pouco mais tolerante Valentina.
— Cordial com o homem que me enganou e ainda por cima, é filho de um assassino?
— Ela levantou a voz.
— Calma, menina, eu disse que não seria fácil. Mas se ficar entrando em conflito com ele, sempre sairá perdendo por ser mulher!
— Como cordial? Posso até deixar de ofender ele e sua família, mas não farei
mais do que isso por que não merecem e eu não conseguiria. Aquele olhar dele de
altivez e deboche me mata diariamente!
— Sim, isso já é um começo filha. Procure ficar longe de discussões com ele
e te confesso que o que mais temo não é seu ódio por ele e sim o amor!
— Eu não o amo, amava aquele homem que me cortejava na cidade e dizia gostar
de mim, mas ele não existe. Era apenas uma invenção dele para entrar na minha
mente e conseguir voltar para cá, passando por cima da decisão, os baniu a anos.
— Isso é sua cabeça quem diz, mas seu coração não. — Carmem sabia o
quanto seria difícil para Valentina ficar longe dele, mesmo que a razão
gritasse que não, o coração dela pedia por ele.
— Não importa o que um dia eu senti, deixei de querer Benício assim que eu
soube a verdade.
— Sei que ele vai querer você minha linda, mesmo tendo outra mulher a
tentação é forte. Os homens são assim, mesmo que tenham alguém de quem possam até gostar… vocês estão casados perante as nossas leis e ele tem direito.
— Mas eu nunca vou permitir que ele me toque, com ou sem direito.
— Benício vai querer-te justamente por causa desse ódio que você sente por ele e também por que é jovem e bela… vai se aproveitar do amor que despertou em ti com mentiras. — Diz Carmem.
— Quando estávamos no quarto, ele quis tocar em mim. Mas a senhora está
certa deixarei de bater de frente com ele e talvez assim ele me deixe em pare
de me atormentar tanto. Não posso mudar o passado, mas não permitirei que ele
controle o meu futuro.
Valentina
Bloqueei para sempre as minhas ilusões de um dia me casar, ser amada e ter filhos. Agora que eu disse sim para ele, me condenei a nunca ter uma família ou ser feliz, o divórcio não existe para nós e eu nunca mais poderei constituir uma família e nem mesmo se um dia ele deixar de existir.
— Ele foi muito mais depressa do que pensei, mas Benício também pode cair na própria armadilha!
— Por favor vamos tentar esquecer isso pelo menos até amanhã vó. Proponho descansarmos por que essa guerra está apenas começando.
As duas se deitam. Valentina m*l pregou os olhos naquela noite… Carmem temia que Benício e a neta repetissem a mesma tragédia de anos atrás. Que aquele desejo que ele sentia por ela se tornasse uma obsessão sangrenta e mortal, onde o ciúme e o sentimento de posse levou para sempre uma vida inocente.
Amanhece e Benício sai bem cedo antes que o vissem. Valentina se levanta e vai até o quarto verificar aquele hóspede indesejado e felizmente se dá conta
de que ele havia ido. Ela vai até à cozinha e prepara um café.
— Bom dia, e Benício?
— Aquele maldi… aquele homem já foi embora! — Diz Valentina
tentando controlar seus instintos.
— Esta noite teremos roda de dança como de costume, as você pode adiar isso,
suponho que não queria receber a família dele com festa. — Avisa Carmem.
— Pelo contrário, não iremos mudar a tradição por causa deles. Hoje dançarei mais linda e mais feliz do que nunca, não darei a eles o gosto de me
ver fracassada ou triste.
— Isso mesmo, te quero sempre forte. Você é nossa princesa, tem sempre que
mostrar-se uma verdadeira fortaleza.
Benício voltou no meio da manhã em uma caminhonete e com os materiais para
erguer sua tenta, felizmente escolheu um local afastado de Valentina. No fim do
dia estava tudo pronto e ele traz sua mãe Domênica, Karen, sua irmã e Adriana
que depois do casamento com Valentina havia se tornado amante dele.
Elas chegaram sob o olhar de todos, a essa altura a fofoca havia se
espalhado. Que graças ao casamento com Valentina a família exilada estava de
volta ao grupo.