PRÓLOGO
Elena Vasquez
Os dedos trêmulos percorriam a barra da camisola de seda branca enquanto eu encarava o reflexo distorcido no espelho da penteadeira. O tecido era tão macio contra a minha pele que quase parecia uma afronta. Luxuosa demais, inalcançável demais. Para comprá-la, eu precisaria de pelo menos três salários – e, mesmo assim, ainda teria que fazer malabarismos. Mas ali estava eu, usando-a como se fosse minha, como se eu pertencesse àquele lugar.
A suíte era maior do que qualquer cômodo que eu já havia entrado por conta do trabalho. Talvez coubesse minha casa inteira nela – duas vezes, talvez até três. As paredes eram adornadas com detalhes dourados e havia uma grande pintura de uma paisagem italiana pendurada sobre a cama king size. O carpete era tão espesso que engolia o som dos meus pés quando eu caminhava. Tudo parecia tão perfeito que doía.
E eu estava ali. Não a trabalho. Não para limpar aquelas superfícies impecáveis ou servir taças de vinho. Eu estava ali por um motivo muito mais desesperado.
Respirei fundo, sentindo meu peito apertar enquanto meus olhos vagavam pelo quarto. Cada detalhe gritava riqueza. A cama onde eu estava sentada era coberta por lençóis de algodão egípcio, a textura tão suave quanto a camisola que eu vestia. E tudo isso me fazia lembrar do que eu havia deixado para trás – meus filhos, minha casa, minha vida.
Fechei os olhos e segurei a cabeça com as mãos, tentando organizar o turbilhão de pensamentos. Como foi que cheguei aqui? Como uma mulher comum, que passa os dias limpando casas de outras pessoas e cuidando de dois meninos cheios de energia, acaba sentada numa cama que parecia pertencer a um filme?
O rosto de Carlos invadiu meus pensamentos, trazendo a onda de desespero que havia me arrastado até aqui. A expressão de pânico dele quando confessou tudo ainda estava gravada em minha mente. A dívida. A casa. A ameaça.
E então, a lembrança daquele nome: Matteo Bellucci.
Apenas pensar nele fez meu estômago revirar. A ideia de enfrentá-lo parecia insuportável, mas a realidade de perdê-lo – de perder tudo – era ainda pior. Fiz a única coisa que pude. Fui até meu chefe, implorei por um contato, por uma chance de falar com o homem que poderia salvar minha família.
E agora, aqui estava eu. No quarto para um acordo que mudaria minha vida para sempre.
Toquei o colar simples em meu pescoço, um presente de Carlos de quando ainda tínhamos sonhos. O objeto era como uma âncora em meio a um mar revolto. Mas essa âncora não era suficiente para me manter à tona agora.
Minhas mãos tremeram novamente quando ouvi passos no corredor. Cada som era um lembrete de que não havia mais volta. Fechei os olhos, permitindo que uma lágrima silenciosa escorresse por meu rosto.
Eu estava ali por eles. Pelos meus filhos. Pela casa que era nosso único refúgio.
E por isso, eu sacrificaria tudo.