Capítulo cinco: Anaya e Maria Antônia

1911 Words
Estávamos em pleno mês de Maio, as temperaturas rondavam os 30 graus Celsius. Gostava do Texas porque o clima predominate era o tropical, não era tão diferente da África Ocidental, mas hoje eu derretia literalmente. Havia estado o dia todo de loja em loja vendo o material necessário para a festa do Matteo. Normalmente seria a Anne a fazer o levantamento de tudo. Mas tratava-se do Matteo era o meu sobrinho favorito. (Não que eu tivesse muitos, na verdade era o único sobrinho que podia considerar meu). Sentia-me exausta, não era possível que a Maria Antónia teve um ano inteiro para preparar a festa de aniversário do Matteo, e só hoje ela manda-me uma mensagem a pedir que a ajudasse (ridícula) ainda teve a coragem de deixar claro na sms "todo o trabalho que terás será remunerado! E não aceito um não como resposta. Até porque é o seu ganha pão." Se ela aparecesse na minha frente agora ia dar na sua cara! Subi as escadas me arrastando pelo corrimão, estava fora de forma há tantos meses e sentia cada vez mais o peso do meu corpo, não tinha paciência para atividades físicas, e fazer ginásio estava fora de cogitação (era uma ameaça séria para qualquer ginásio). Comecei falando sozinha (hábito que tenho desde sempre) - Ai Antónia! Tô com uma vontade de te dar uma surra, sua mimada! - Oi? - Ela diz atrás de mim, fazendo o meu coração saltar para boca. - Filha da p**a! Queres que eu morra? - Ela solta uma gargalhada alta. - Anaya não podes sair por aí xingando a mãe dos outros! Isso é bem feio, achei que tivesses deixado essa sua línguagem suja... - Eu estava com as mãos presas no corrimão por conta do susto que levei ainda tentando voltar ao normal com a respiração super irregular. - O que você quer? Já fodeste com o meu dia... O que estás a fazer aqui Antónia? Não tô com paciência de aturar você não! - falo fingindo indiferença, porque a verdade era que eu a amava e gostava muito quando ela vinha visitar-me. Nos últimos anos estivemos poucas vezes juntas porque ela parecia nómada, não tinha um lugar fixo. Estava sempre atrás do John (nunca gostei muito dele, me parecia mais um encosto que outra coisa). Acredito que a família dela também não goste dele, conheci a mãe e o pai dela na nossa licenciatura e eles olhavam pra ele como se fosse um sanguessuga, mas isso é só um palpite meu. - Minha nossa Anaya! Vem cá, vou te ajudar a subir... Tu tá gostosa mulher... - diz rindo e eu me volto a abraçando. - Tive saudades! - murmuro - Eu também minha rainha! - ela sempre falou que, como era descendente de reis devia ser tratada como tal, era maluquinha. Mas era a minha maluquinha. Subimos ainda abraçadas, quando entramos ela foi logo se jogar no sofa. Eu fui pra mesa da sala onde tinha o meu portátil, queria mostrar pra ela como tinha ficado o tema da festa. - Podes parar Anaya. - levanta a mão me parando. - Não vim falar sobre a festa. Eu sei que devia ter antecipado, e que também já não estás tão voltada as festas de aniversário e sim nas de casamento. Mas eu sou a sua melhor amiga, e confiu completamente em ti para organização de uma festa em tão pouco tempo. - Passa-se alguma coisa. Voltei a pousar o computador e fui me sentar com ela. O sorriso acolhedor desvaneceu-se quando fiquei concentrada no seu rosto. - Maria Antónia, o que se passa? - se tiver alguma coisa haver com aquele i*****l eu vou acabar com ele. Abanou a cabeça num movimento como se estivesse se repudiando, ela não era surda muda. E quando ficava assim estava em negação. - Estiveste a chorar? - Que insuportável! Gostava de ter esse seu dom excecional para leitura de expressões... - responde com a voz triste. - Vieste porque precisas de mim certo? - volta a abanar a cabeça, agora concordando. - Então fala comigo, mas se não quiseres falar também não interessa, porque eu não vou a lugar nenhum. - Me sento melhor e a abraço. Ela começou por um choro baixinho, e depois eram soluços. Não conseguia a ver assim, e num momento que eu a devia consolar estava a chorar com ela. Ficamos agarradas as duas chorando por meia hora. Quando os soluços diminuíram ela é quem estava a limpar as minhas lágrimas. Não gostava de me mostrar frágil às pessoas, mas aquela não era uma pessoa qualquer, era a minha branquinha de neve. - Tu nunca choras Antónia... -estava preocupada, fui até a cozinha e tirei um copo do armário e enchi com água, quando voltei ela estava um pouco mais calma. Entreguei-lhe o copo. - Obrigada. - babulciona com os olhos pregados no copo. - Por nada Snow! Te sentes melhor? - Parecia estar a falar com uma criança, nunca tivemos esse tipo de conversas porque eu não tinha nada a partilhar com ela sobre relações, tinha certeza que era por causa do encostado. Mas ela também desde que casou-se com o John, casamento esse que ninguém foi convidado, parecia estar sempre em declínio. - Estou Queen, obrigada... - Okey, ela não quer falar, e eu não vou insistir. - Vou me separar do John. - O quê? Porquê? - Agora eu é quem abanava a cabeça em negação. - Ele nunca me amou, e eu acho que também nunca o amei. - Que história é essa Antónia? Eu nunca concordei com esse seu casamento, mas vocês sempre foram apaixonadissimos um pelo outro. Inclusive se casaram em segredo para que ninguém os atrapalhasse, estavam sempre de Austin pra Dallas, de Dallas pra Austin. Me pareciam o casal mais em sintonia que conheci. - Tu não conheces assim tantos casais! - fala sorrindo triste. - Eu descobri algumas coisas sobre ele, não está comigo porque me ama. Ele queria o dinheiro dos meus país! Quando falei pra ele que seria deserdada ele mudou completamente. Começou a jogar poker, fazendo apostas altas ficou sem carro, vendeu o meu carro, todo o dinheiro que o meu pai depositou para o Matteo desde que nasceu, ele foi na conta e o sacou todo. - Ele é completamente s*******o. Não consigo acreditar nisso. - Oh amiga, eu sinto muito. Eu não pensei que ele fosse tão i*****l! - Você sabia, e eu não te ouvi. Eu devia ter te ouvido. Agora vou me tornar numa mãe solteira. - Isso não é um problema Antónia! Você é inteligente, es formada e só não exerces porque ficaste acomodada com o seu marido recebendo a mesada dos seus pais. Porque você não faz como o seu irmão? Ele fez tudo sozinho certo? - Sim, o Alexandre cortou todos os laços financeiros com os meus pais. Construiu tudo que tem sozinho. - Não o conheço mas já tem a minha admiração. - Antônia você pode ser feliz, com ou sem o John. Eu não gosto dele tu sabes, e não sei se há uma solução para o vosso casamento. Ele chegou ao ponto de colocar a mão no dinheiro do próprio filho... Eu não sei amiga. Você já falou com os seus pais? - Não, não tenho coragem Queen! Eles vão me criticar como sempre fazem. Vão querer mandar novamente em mim. - Meu amor, você é inteligente, forte, uma mãe incrivel e dona de sí. Se eles deserdaram você, vem trabalhar comigo amiga. Eu te ajudo. - Eles não me deserdaram Anaya! Eu disse àquilo ao John para ver como ele ia agir, foi idéia do meu irmão. O Alexandre desde que o viu não gostou da atitude dele, sempre pediu que tivesse atenção por conta dos comportamentos do John quando nos encontrávamos nos convívios familiares, a última vez que ele alertou-me o Matteo tinha dois anos, Achei que ele estivesse equivocado... Mas não, ele estava certo. Por isso nunca senti-me completa, nem mesmo depois de casada... - Ainda bem que ela tem o irmão. - E essa decisão é definitiva? - É Anaya. Eu vou me separar dele, já dei entrada da papelada. Depois do aniversário do Matteo o meu advogado vai entregar os papéis a ele. - Ela parecia verdadeiramente decidida, eu ia dar-lhe todo o meu apoio, afinal ela merece o melhor. - Antônia não quero ve-la triste! Mas você tem que pensar em você. Tens de estar com alguém que te dê estabilidade emocional, te ofereça tranquilidade, e não um encosto que só está contigo por conta de tudo que o podes oferecer. - Eu sei... Obrigada por ser sempre tão compreensível comigo. Todas as minhas amigas são tão superficiais e s*******o que eu agradeço por te ter na minha vida. - Snow, você pode sempre contar comigo. Eu também não tenho muitas opções! - Finjo indiferença, fazendo dissipar a aura de tristeza que a assolava. - Até parece que existe mais alguém no mundo capaz de aguentar essa sua boca enorme! - rebate rindo. - Olha que seriam até sortudos! Mas esse privilégio só você tem... E a Anne, minha estagiária. - Não eram muitas as pessoas que suportavam a minha personalidade, era intensa demais, super desligada e sem filtro, já não tinha mais nada a perder no mundo. - Isso porque tu me amas! Mas agora eu preciso ir. O Matteo já deve estar a fazer confusão. - Com quem você deixou o baixinho? - Com o meu irmão. Ele adora o Matteo, fica como se os dois tivessem 4 anos. - Eu achava que ele vivia em Austin... - E vivia, mas ele estava sempre nos dois lugares por conta da clínica e do hospital indo e vindo. Mas agora só tem olhos para sua clínica. - Percebo... Dê um beijinho meu ao Matteo. - fui até a porta com ela e nos despedimos com um abraço caloroso. Gostava muito dela era tão amiga e leal, acredito que era a minha pessoa favorita a seguir o Daren. - O irmão ingrato que eu tinha que fazia dois dias que não me ligava! - me voltei, fechei a porta e fui direito pro meu quarto. Havia encomendado Lámen no restaurante japonês que ficava ao virar da esquina na hora do almoço. Comi sozinha porque a Anne é vegetariana e o prato é repleto de carnes, ela não quis nem me ver comer. Agora sentia-me empanturrada que a única coisa que queria era sal de fruta para ver se acelerava o metabolismo. Fui pro banheiro e fiquei meia hora na banheira ouvindo música no telemóvel e relaxando, a música parou, era uma mensagem do Daren (ao menos agora sabia que estava bem). Levantei-me e fui andando pela casa descalça, peguei um copo de água e joguei-me na cama sem roupa mesmo. Estava confortavel e quente, gostava muito da minha cama (era do que eu mais gostava na minha casa). No campo de refugiados dormia no chão de areia, sem cobertores. Ter conseguido o meu lugar no mundo, a minha casa, tornava-me muito feliz. Fechei os meus olhos agradecendo à Deus por mais um dia de vida, por ter cuidado de mim e do meu irmão. Pedi que guiasse e protegesse sempre a Antónia e a sua família. Abri os olhos e sentia-me tranquila e serena. Desfrutando do ambiente do meu quarto. Voltei a fechar os meus olhos e dormi.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD