Capítulo seis: Maria Antônia

1303 Words
Acabou. Eu precisava acabar com isso, essa relação ridícula a qual venho insistindo ao longo dos anos. Era difícil pensar em separar-me e voltar a ficar sozinha, agora com um filho. Sentia como se me estivessem a apertar o corpo, esvaziando-me o ar dos pulmões. Eu sempre fiz de tudo por ele, e afinal ele levava uma vida dupla? Eu era uma espécie de emprego pra ele? Estavamos juntos há 5 anos e eu estava tão cega e desejosa em esquecer o Travis que não conseguia enchergar o quanto ele é falso, manipulador, perverso e todos os outros adjetivos para definição de um mau carácter sem escrúpulos. Passei novamente a mão no rosto, como se assim fosse atenuar tudo o que estava sentindo, mas parecia que o ato em si só contribuía para acentuar aquela horrível sensação de tristeza e solidão. Conversar com a Anaya atenuou um pouco do que estava a sentir, ela era a única pessoa que ouvia-me sem julgar, não era precipitada. Tinha uma maneira de absorver as minhas dores como se dela se tratasse. Todavia, não conseguia deixar de sentir esse enorme vazio de perceber que nunca fora amada, não do jeito que pensava que era. Talvez não fosse uma pessoa que valesse a pena. — Penso soltando um pigarreio. Queria contar tudo ao meu irmão, mas se o contasse agora ele ia contar ao Travis e os dois provavelmente iriam partir literalmente a cara do John. Eu não quero que eles se metam novamente na minha vida como se eu tivesse dezasseis anos. Não queria que o Travis soubesse que estava me separando quando o convidei para o aniversário do Matteo na intensão de o apresentar a Anaya. Na minha cabeça eles fariam o perfeito casal. Ele estava solteiro e ela... Bem, eu preferia ver o Travis fazendo Anaya feliz que qualquer outra pessoa. Anaya era boa e até onde sabia, sequer namorou alguma vez na sua vida, acho que fariam um bom par. Voltei a sentir um nó na garganta. Sentia-me incapaz de ter um raciocínio lógico com tanta turbulência emocial, conduzia com o pé no fundo do acelerador. Tinha conectado o telemóvel ao carro pelo Bluetooth, no fundo ouvia uma melodia qualquer do Sam Smith. Fiquei alguns minutos vagueando pelas ruas sem rumo, até o meu telemóvel toca e anunciar chamada de John. Ponderei em não atende-lo, mas precisava dar esse assunto por encerrado. - Alô - Tô querida, onde você está? - A caminho da casa do Alexandre, vou buscar o Matteo. - Porquê o deixaste lá? — ele sempre teve um medo ou avessão pelo Alexandre, agora entendo melhor o porquê. - Porquê é a casa do meu irmão, e ele tem direito de passar algum tempo com o sobrinho! — falo me contendo o máximo para não explodir. Minha respiração está descompassada e acho que estou prestes a perder os sentidos. - ... Onde você estava Antónia? — quase sorri com a sua audácia. Era preciso ser muito sínico. - Não devo-te mais satisfações John. O que você quer? - Eu não vou me separar de ti! Tu és minha mulher, nos casamos e temos um filho... - Como se isso significasse alguma coisa pra ele. - Diz logo o que você quer sem ser essas baboseiras. Seja rápido, estou dirigindo. - ouvir a sua voz agora me deixava irritada, deprimida. Como fui deixar-me enganar por tanto tempo por esse i*****l. - Era só pra dizer que não vou sair de casa. Tu só precisas de algum tempo para organizares a sua mente e o seu coração, o que estamos a passar é só uma fase. Todo casal passa por isso. - Se você vai ficar no "meu" apartamento, eu vou para casa do meu irmão e levar o Matteo comigo. Só não fique muito à vontade, porque assim que passar o aniversário do meu filho, vou mandar a polícia despejar você! - desliguei para que ele não me enchece com os seus disparates. Eu não ia voltar a dormir na mesma casa que ele. Fiz retaguarda dirigindo em direção ao apartamento do meu irmão. Antes de sair do carro, me olhei pelo espelho não reconhecendo a mulher que refletia. Eu mesma não conseguia acreditar que estava a sofrer tanto por homem que não merecia uma lágrima minha. Não podia pensar mais nisso, pelo menos não agora que tinha de enfrentar o Alexandre. Peguei na minha mala que estava pousada no banco do copiloto, e como se estivesse a deixar uma vida inteira pra trás com os meus sonhos esmagados, saí do carro e bati com a porta. O baque do carro ficou entoando no meu ouvido foi como se estivesse a abafar todos os meus sentimentos, estava submersa num mundo paralelo. Entrei devagarinho evitando produzir um único som, queria lavar o rosto antes que ele percebesse a minha presença. Estava a me virar da cozinha para o all de entrada, andando em ponta de pés, devagar... - Onde vais? - Bolas! Praguejei internamente. - Podias ser um pouco mais subtil não achas? - Não era uma boa altura para contar pra ele sobre os meus problemas. Não mesmo! - Parecia-me que estavas a tentar entrar furtivamente na minha casa. O que é estranho, mesmo vindo de ti Maria. - olhei pra ele, estava de pijama, oh bolas! Esqueci-me que ele tinha marcado algo com a namorada. - Oh Alexandre, desculpa. Eu esqueci-me que ias sair com a Ariana, sinto muito... - Eu também sinto, mas não é por ela... — ele responde quase sem interesse. - O quê? - Sinto muito por você Maria! O que você estava fazendo na rua até a essa hora? São 11h28 - Fala olhando para o relógio no seu pulso. - Você não tem marido? O seu filho vai ficar dormindo aqui, tu podes ir. - fala com o mesmo descaso se dirigindo para o quarto. - Eu também vou ficar... - Porquê? - Eu... Er... Alexandre... - Tudo bem Maria! Vá para o quarto dos hóspedes. Eu preciso mesmo dormir, vou assistir a uma cirurgia amanhã. - murmura e vai para o seu quarto fechando a porta. Podia ter escapado hoje, mas conhecendo o meu irmão... Eu teria muito que o explicar. Não queria ficar sozinha, fui dormir com o Matteo. Pelo menos dele, eu sabia que o seu amor era o mais puro e verdadeiro. Demorou muito para o sono vir, creio que só consegui adormecer as três e meia da manhã. Quando acordei, parecia um daqueles modelos que servem de adereços nos filmes de terror. Resultado de uma noite horrível, invés de descansar chorei rios de lágrimas, agora estava com os olhos inchados, olheiras infindáveis e um humor de cão. Fui para o banheiro que ficava mesmo ao lado do quarto então não corria o risco de me cruzar com o Alexandre. Tomei uma breve ducha e sequer tive coragem de voltar a encarar o meu rosto num espelho. A minha casa estava uma bagunça, não havia sinais do encosto e a cama estava desarrumada, tal como havia deixado nas últimas duas noites, ele sequer teve a coragem de arrumar a própria cama, Céus! Como fui capaz de dormir com aquele desgraçado por cinco anos? Sentia-me patética, mas era inevitável sentir-me assim, só de olhar para essa casa, aquele que já fora o nosso lar… Doía. Forcei-me a não olhar muito para tudo que havíamos construído, peguei o necessário, roupas, documentos e joias. Não podia dar-me o luxo de continuar a lamentar. Apanhei a minha bolsa no sofá. — Com a cabeça erguida, choro engolido, um longo suspiro. — saí trancando a minha casa e com ela todas as coisas que me faziam lembrar que já fora casada com um monstro. Seria difícil voltar. Eu não iria voltar para o John, nunca mais.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD