Capítulo Três: Um relacionamento de mentira

2062 Words
Saí da Clínica atrasado, fui andando rápido e entrei no carro para seguir viagem até a University of Texas em Dallas. Não fiz mais de quinze minutos, teria feito menos tempo se não houvesse tantos carros se dirigindo para o mesmo destino que eu (Richardson). Não gostava de me atrasar e muito menos de multidões. Não teria sequer vindo se ela não tivesse deixado claro que a minha presença seria como combustível para o seu discurso. Desci do carro, endireitei a minha gravata, e pus-me a caminhar rumo ao auditório. Ao longo do caminho recebia vários olhares furtivos, em outra altura teria tirado proveito da situação, nos anos em que andava na Universidade em Austin era de fácil trato, mudei gradativamente nos últimos anos. As pessoas conheciam-me como o implacável Dr. Endicott, distante, educado e rígido. Não era de muitos sorrisos e quando o fazia, aparecia de forma fugaz. Havia especializado-me em medicina há mais de 10 anos, possuia uma clínica privada em Dallas, que a construí do zero com o dinheiro que ganhei nos primeiros anos de exercicio da profissão no Merci Hospital em Austin (Texas). Podia ter comprado algo melhor se tivesse tido a ajuda do meu pai. Mas ter construído o meu espaço do zero, foi a melhor coisa que podia ter feito para conquistar a minha independência financeira. Quando decidi que faria medicina e que não iria seguir os seus passos, de início tive algum apoio dele, e da minha mãe... Muito mais da parte da minha mãe, o meu pai achava que iria cansar-me ao meio da formação e iria desistir para me formar em Administração. Ele dizia que era muito jovem, boêmio, com aspirações à rock star, que apesar de sempre ter mostrado a todos o quão calmo e controlado eu era, iria arrepender-me e dar sequência a Faculdade de Administração. Ele estava errado. Fui o melhor aluno em todas as cadeiras e formei-me em Clínica Geral, para o orgulho deles todos ficaram radiantes, em Austin falava-se sobre o filho do Dr. Taylor Salvatore (O magnata das Indústrias de produção de algodão). Era só elogios por parte dos sócios, amigos, colegas de trabalho e metade da cidade. Mas isso foi até eu inscrever-me num programa de médicos voluntários (Médicos sem Fronteiras) que eram enviados todos os meses para África, não podiamos escolher o pais, quando houvesse algum conflito em qualquer país africano eram seleccionados uma pequena quantidade de médicos e estes destacados deviam se apresentar às Nações Unidas e logo a seguir enviados para o país em conflito. Havia feito a inscrição num momento quente após uma discussão com a minha ex namorada Natasha, era de origem Mexicana, havia envolvido-se com um m****o de uma gang local eu descobri da pior maneira numa festa em que fomos juntos ela tinha sumido, quando saí para a procurar encontrei ela aos beijos com o homem que mais tarde vim saber que chamava-se Manin, recebi várias ameaças por parte da gang a qual o tal Manin pertencia, mas a essa altura eu já não a via. Era verdadeiramente apaixonado por ela, estavamos juntos há três anos e ela era linda. Ao descobrir a sua traição terminei tudo, duas semanas depois tive uma recaída e fizemos amor tão intensamente que eu sabia que teria de mudar de cidade temporariamente para a esquecer. Fui convocado a ir para Nigéria, houve um ataque terrorista numa cidade em que haviam mais de três mil feridos precisando de cuidados médicos. Havia chegado a altura de contar aos meus pais, a minha mãe coloco-se aos prantos. O meu pai deu-me um últimato, se fosse pra África devia esquecer que tinha um pai. Frisou "África" como se fosse um país e não um continente. Era orgulhoso e imaturo, fiz exatamente o oposto do que ele desejava, fiz por despeito e deixar claro pra ele, que nunca mais ia exercer o seu poder sobre mim. Era maior e podia fazer o que quisesse com a minha vida. Uma semana após o meu aniversário de 23 anos estava a embarcar num vôo humanitário. A minha estadia na Nigéria tornou-se num grande aprendizado. Vi médicos tomarem atitudes que ia contra tudo o qual havíamos jurado cuidar, proteger, vi coisas que até hoje fazem-me perguntar o que leva um ser humano a agir assim? Conheci pessoas incríveis que ajudaram-me a nível espiritual e profissional. Ganhei um nível de reconhecimento que jamais pensei que viria alcançar, graças a experiência que tive lá consegui voltar focado em ajudar. Desde àquela data, até os dias de hoje não tive uma relação saudável com o meu pai. Construí tudo sozinho sem precisar que ele reconhecesse que estava errado. A minha mãe, a minha irmã e o meu sobrinho são as pessoas mais importantes da minha vida e tem a Ariana, minha namorada. Temos uma boa relação, ela é herdeira de uma petrolífera, o pai é da Arabia Saudita e a mãe americana. Conhecemo-nos numa das vezes que estava a fazer voluntariado na Igreja do Devino Destino, ela também é voluntária, sou nove anos mais velho que ela. Estamos juntos há dois anos e hoje era a sua licenciatura. Dirigi-me à entrada do Ginásio onde iria decorrer a cerimônia. Estava apinhado de pessoas e conseguia se ouvir cada vez mais burburinhos. Fui sentar-me ao local escolhido para se sentarem os pais e amigos dos formados, estava um pouco atrás dos pais dela. O renomado reitor apareceu no palco, seguido pelos vice reitores e os professores catedráticos. Levantamos todos e aplaudimos o corpo docente. A Ariana faria o discurso, ela entrou logo a seguir, não conseguia tirar os olhos dela. Acabava de descobrir que tinha um "tipo" de mulher, sempre acabava por me envolver com mulheres cujos cabelos eram pretos, lisos e longos, todas elas parecidas, estatura média e magras. Passado meia hora de tanto ouvir os murmúrios do reitor, mexia-me na cadeira desconfortável e impaciente, tinha os olhos postos no ecrã do meu telemóvel. Voltei a erguer o rosto quando a chamaram para discursar. Ouviam-se aplausos em todo lado, quando a Ariana atirou o cabelo pra trás (ela sabia que aquele gesto deixava-me desestabilizado). Quando ficou pronta sorriu para a multidão que a assistia, e vi a sombra de um sorriso passar-lhe pelos lábios dirigido a mim. Ela começou o discurso, falando das desigualdades sociais e raciais, falou sobre as oportunidades que deviam ser dadas às pessoas que não tinham como pagar uma faculdade e no programa de recepção e acolhimento de estudantes estrangeiros desfavorecidos. Não consegui terminar de a ouvir porque a sua última frase fez-me lembrar da menina que ajudei na Nigéria. Durante anos dormi assombrando por aqueles olhos castanhos tão branquinhos e cheios de inocência. Eu a via sempre no campo de refugiados, mas apenas tive a oportunidade de falar com ela duas vezes, a primeira no dia em que ofereci a minha ajuda à ela e ao seu irmão, e na segunda quando a ajudei a embarcar, não consegui descobrir qual era o seu nome e nem mesmo em que cidade ela havia sido enviada. Ela assombrou-me por anos, eles eram miúdos e não tinham mais ninguém no mundo, o amor que ela sentia pelo irmão fazia-me lembrar da Maria, minha irmã mais nova. Ela estava disposta a fazer tudo pelo irmão, e era apenas uma criança. De repente, todos desataram a aplaudir e se puseram em pé, eu imitei o gesto mesmo estando lá apenas fisicamente. Ariana concluiu o discurso com uma vênia engraçada e as pessoas que já estavam em pé aumentaram a intensidade dos aplausos gritando. Eu olhei alegremente pra ela e ela devolveu-me o sorriso agora mais aberto. O meu pai era mecenas da Universidade (o homem que acreditava que possuía todo o dinheiro do mundo, que era capaz de comprar tudo, incluindo o meu respeito), ele também faria um discurso. Não fiquei pra ver. Ao anunciarem o seu nome levantei-me da cadeira e comecei a andar. Já estava a chegar no parque de estacionamento quando a ouço chamar. - Alexandre! - Oi Ariana... - me volto e vou até ela, o seu rosto iluminou-se com o sorriso radioso, fiquei por instantes analisando a sua beleza, usava um vestido vermelho de chiffon decotado que deixava os ombros a monstra. Arqueei uma sombrasselha. - Ele não viu-me sair assim, tinha vestido a capa preta! - refuta a minha expressão, eu sabia como o seu pai era conservador. Ele sequer aceitava que a filha namorasse com um homem "maduro". A minha relação com ela no início foi fortemente criticada por vários familiares por parte do pai da Ariana. Por esse motivo evitava o máximo demonstrações afectuosas publicamente. - Está certo linda. - Eu vi o seu pai, e vi também quando você se levantou... - ela sabia que não gostava de falar sobre esse assunto. Continuei a fitando sem nada dizer. - Eu e mais alguns colegas vamos a um bar agora para comemorar a nossa licenciatura, queres vir? - Obrigado querida, mas não posso! Tu sabes que tirei apenas alguns minutos da clínica. Tenho pacientes esperando por mim. - falo e ela baixa o olhar em sinal de desapontamento. - Podemos comemorar mais tarde no seu apartamento, se você quiser... - Eu quero! - responde rápido. - Então até mais tarde. - falo e dou um celinho nos seus lábios. - ela não responde mas tinha o rosto feliz. Quando comecei a sair com a Ariana, não estava apaixonado por ela. Eramos duas pessoas solitárias que gostavamos da companhia um do outro, depois de vários jantares no segundo mês começamos a dormir juntos. O sexo era bom, a pesar de a sua família ser maioritariamente mulçumana, Ariana era católica e deixava-me sempre desejoso por mais noites juntos, ela era atrevida na cama, e as coisas que sabia não aparentava ter 26 anos. O que levou-nos a dar o próximo passo, seríamos namorados depois de seis meses como amigos "coloridos". Durante esse período nunca tive a necessidade de ser exclusivamente dela, porque depois da decepção amorosa que tive com a Natasha não conseguia confiar em mulher nenhuma. Nada nem ninguém me garantia que ela era exclusivamente minha, e não era um assunto que preocupava-me, eu simplesmente... Não pensava muito no caso. Claro que a respeitava, e acreditava que podíamos até dar um novo passo à nossa relação. Mas isso implicaria deixar de ter os encontros em segredo que tinhamos eu e o meu melhor amigo Travis. Conheço o Travis desde sempre, crescemos juntos. O pai dele é sócio do meu pai, era suposto nós seguirmos os mesmos caminhos. Quando eu decidi fazer Medicina ele foi o meu maior suporte, a nossa amizade vai além do que qualquer um possa compreender. Aos 16 anos tivemos a nossa primeira experiência em trisal, mas era meramente carnal. Foi com a Mademoiselle Luissandra uma socialite amiga das nossas mães, eramos virgens e sempre notamos os olhares que ela lançava pra nós na piscina. O Travis era atleta (fazia futebol americano) tinha o corpo sarado, e eu era muito alto para aquela idade e fazia natação. Ela ganhou coragem e convidou-nos a almoçar em sua casa sem as nossas mães, foi onde tudo começou. Ela apresentou-nos um mundo totalmente diferente do convencional, faziamos sexo os três ao mesmo tempo, era viciante. Mesmo depois de ter conhecido a Natasha nós continuavamos a encontrar com a Mademoiselle todas as sextas-feiras, até ela ir morar na Grécia com o marido. Quando fiquei um ano inteiro na Nigéria acreditava que iria parar de fazer àquilo (até porque estava em abstinência s****l). O Travis estava noivo e parecia que finalmente iriamos nos contentar com a vida s****l tradicional. Quando tudo parecia estar bem encaminhado, o Travis vem de Austin de proposito com uma modelo da Vitória Secret e chama-me para uma festa no seu loft, quando lá cheguei eram só eles os dois, e tudo voltou como um flash back. Eu queria estar lá, fechei a porta e fizemos sexo os três. Eu gostava em demasia da sensação de estar a f***r uma mulher com Travis a segurando e vice versa. Naquele mesmo dia fizemos um acordo. Podíamos ter relações e até casar, mas continuariamos a nos encontrar de quinze em quinze dias para ter relações a três. Mas eu não podia fazer isso com a Ariana, a tinha em demasiada conta para a submeter a algo dessa natureza.
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