Episódio 4

1817 Words
A surpresa tomou conta de mim, seguida por uma onda de humilhação. Eros franziu a testa. Eu não pude deixar de corar e abaixei a cabeça. Queria que a terra me engolisse, que voltasse no tempo para me vestir pelo menos de maneira decente. Ele se virou para refazer os seus passos: alguém pode responder à pergunta? A loira na primeira fila me lançou um olhar azedo por um momento antes de levantar a mão. — Eu posso. Ela cruzou as pernas e deu-lhe um sorriso deslumbrante, enquanto respondia com confiança. Ela era habilidosa, não podia neg*ar isso. Ela poderia parecer se*xy, ao mesmo tempo que parecia inteligente. Alba, diria que ela era uma abelha. Ele a observou com atenção e, quando terminou, virou-se para escrever no quadro-neg*ro. — Aberto o Tratado de Direito Penal, começaremos a analisar o caráter público e o limite da interferência estatal. Quando todos se prepararam para tomar notas, inclinei-me ligeiramente sobre a mesa e falei num sussurro para que apenas Letton pudesse me ouvir, aproveitando o fato de que ninguém estava prestando atenção em nós: sinto muito. Eu pedi desculpa. Ele pegou você por minha causa e foi por isso que ele te perguntou. Ele olhou para mim por cima do ombro e sorriu quase imperceptivelmente. Então ele se recostou, aproximando-se um pouco mais, para falar sem tirar os olhos da frente. — Ele é um idi&ota, não se preocupe. Eu deveria estar mais atento à conversa dele e menos atento aos seus ruídos obscenos. Não pude deixar de rir, então coloquei a mão na boca para abafar o riso. — É a primeira vez que te vejo, onde você esteve até agora? — Permitiram que eu começasse tarde porque tive que me mudar. Candidatei-me à bolsa governamental, sem saber que ela não cobriria a pós-graduação na universidade em que me formei. — É isso, o fato de você ser nova me fez prestar atenção em você. A novidade me atrai como uma mariposa à luz. Ele falou suavemente. — Você poderia me compensar, se for comigo tomar um café quando sairmos daqui... Pisquei surpresa. — Pelo menos você tem que se queimar no terceiro dia de aula na frente do professor mais difícil de agradar, vale a pena. Ele já pensa que sou um canalha que estava perseguindo você. Se você aceitar o meu convite, será menos humilhante. A proposta me pegou de surpresa, talvez eu estivesse confusa. No entanto, pareceu-me que ele estava flertando comigo. Por quê ele estaria fazendo isso? Ele estava brincando comigo? Outro dos efeitos colaterais da mer*da do meu ex. Desde que ele me deixou eu não pude confiar em ninguém. Cada homem que se aproximava parecia uma ameaça potencial para mim. — Por quê? Eu parecia irritado e na defensiva. Ele se virou para me ver melhor e ergueu uma sobrancelha. — Por que…? Ele perguntou confuso. — Sim, porque você me convidaria para tomar um café, se mulheres como ela, existem? Acenei com a cabeça para o grupo sentado na frente. A loira, com os se*ios prestes a estourar sob a camisa justa, parecia ser a abelha rainha de um punhado de outras igualmente deslumbrantes. Todos os homens do local estavam de olho nas suas curvas delicadas e rosto perfeito. Não era à toa, ela provavelmente tinha abdômen marcado e coxas tonificadas. Letton era atraente e me parecia que ainda não tinha trinta anos. Eles seriam um casal por seleção natural. Eles combinavam. Olhei para minhas coxas gordas e suspirei. Eu não me lembrava de ter essas inseguranças tão próximas da superfície, até que o meu ex me disse na frente de todos que sabíamos o quão feia eu era e o quão gordo eu era. Letton encolheu os ombros. — Não gosto desse tipo de mulher, prefiro aquelas que gemem no meio de uma aula de direito penal. Eu ri de novo e ele pareceu satisfeito, embora tenha sido mais um zurro grotesco que irrompeu, quebrando o silêncio da sala. Todos se viraram para nós quando nos ouviram. Por um momento, pensei que talvez ele não tivesse nos ouvido, embora as minhas esperanças tenham sido imediatamente frustradas. Eros ficou imóvel, parou de escrever e virou-se abruptamente. Ela olhou para Letton e depois para mim, antes de dizer: Lena Roy, você parece estar se divertindo muito com o Sr. Letton, não quero interromper o bom momento, mas espero você no meu escritório após o término da aula. ..... Bati, mas ninguém respondeu. De certa forma, me senti aliviado. Eu não tinha certeza se conseguiria enfrentar Eros de qualquer maneira. Então, me virei, assim que a porta antiga se abriu. Eu não me virei apesar de ouvi-lo me chamar baixinho e fingi que não tinha sentido a porta abrir enquanto caminhava apressadamente pelo corredor. — Aonde você está indo? Senti ele nos meus calcanhares, ele já tinha me visto. Portanto, eu não tive escolha senão enfrentá-lo. Eu parei e me virei. Ele parecia muito melhor de perto. — Achei que não havia ninguém. Ele ergueu uma sobrancelha, embora não tenha mencionado que só bati na porta uma vez. — Bem, você está vendo, que tem, e eu estava esperando por você. Ele disse com um tom falso e severo. Ele me agarrou pelo pulso, me arrastando pelo longo e escuro corredor até o seu escritório e depois me empurrando para dentro. Eros me puxou para si, fechou a entrada e me aprisionou entre a parede e o seu corpo, para falar em voz baixa, como se alguém pudesse nos ouvir: me desculpe por ter te tratado daquele jeito, acontece que ninguém pode saber que nos conhecemos e foi a única forma que consegui pensar para te atrair. — Você ficou um pouco chateado, todo mundo estava murmurando e dizendo que você nunca tinha chamado alguém para o seu escritório antes. Eu até ouvi alguém dizer que você iria me bater. Ele parecia estar se esforçando para não rir e eu corei. — As minhas habilidades de atuação estão um pouco enferrujadas, prometo melhorar na próxima vez. Embora eu seja muito melhor em desempenhar o papel de mulherengo. Ele respondeu erguendo as sobrancelhas, nos encaramos por um momento e uma pequena covinha apareceu na sua bochecha. Isso sempre acontecia quando ele estava segurando um sorriso. Eu estava desempenhando o seu papel de professor distante e m*al-humorado. Tenho um histórico impecável de envolvimentos com alunas e espero que continue assim, eles são muito rígidas em relação a relacionamentos que ameaçam a ética profissional dos seus professores. Antigamente era normal estar tão perto. Porém, não éramos mais aquelas crianças que passavam o tempo livre juntas. Permiti-me por um momento respirar o aroma de frutas cítricas, menta e sândalo, enquanto passava a língua pelos lábios. A minha língua era como um trapo e mesmo que pudesse usá-la normalmente, eu não tinha ideia do que dizer. Portanto, Eros continuou: não imaginava que veria você atrás de Don Lento, tinha certeza que era um dos amigos dele e me pegou de surpresa ver você rindo com ele. Me desculpe por ter exposto você. Achei que você não aceitaria a bolsa. Eu senti como se ele estivesse esmagando meu corpo com a sua figura alta e firme. Eu me senti um pouco tonta, só tive consciência do calor envolvente do seu olhar e da maneira como ele aqueceu o meu interior. — Quando você não apareceu há três dias, passou pela minha cabeça o pensamento de que você não tinha aceitado porque ainda estava com raiva e não queria me ver novamente. Tive que puxar muitos pauzinhos para que isso fosse concedido a você. Eu não pude fazer nada além de olhar para ele com os olhos abertos, completamente petrificada. — Não sei o que você está falando. Pressionei as palmas das mãos contra a parede porque elas pareciam suadas e pegajosas. — Recebi a bolsa porque você fraudou o processo? — Não. Eu nunca faria isso, apenas recomendei fortemente você. Desta vez ele não se incomodou em conter o riso. — Eu queria ter você de volta e talvez ter a minha melhor amigo de volta. — Já se passaram quase doze anos... Eu apontei. — Acho que a nossa última discussão expirou há muito tempo. Parecia que horas se passaram antes que ele finalmente desviasse o olhar do meu rosto e desviasse o olhar para o meu peito. — Para mim não, em doze anos, não consegui te esquecer. Ele sussurrou com uma voz suave e rouca. — Talvez porque não entendi porque você não se despediu nem respondeu as minhas centenas de e-mails. — Alex... Ele franziu a testa em desgosto ao ouvir o seu nome. — Eu te odiava, e achei que era o melhor para o bem do casal... Bom, naquele momento achei que era o melhor porque ele achou que tínhamos alguma coisa. Soltei um suspiro. — Não sei, pensei que isso não afetaria tanto você. Você tinha muitos outros amigos. Sufoquei um gemido quando ele pegou a minha mão, colocou a palma na minha e deslizou os dedos entre os meus. — Acho que isso não importa mais, depois de todo esse tempo. — Não importa se passaram cem. Não posso dizer que não estou desapontado. A pele dos nós dos meus dedos vibrou quando ele os colocou na boca antes de roçá-los com os lábios. — Isso me afetou, muito mais do que você imagina. Você era a minha melhor amiga, não importava se eu tivesse muitos outros. Mesmo sabendo que o seu namorado idi*ota me odiava, de alguma forma pensei que você me escolheria em vez dele. Acho que estava errado. O seu polegar se moveu lentamente sobre meu dedo anelar. — Você não está usando anel. Ele murmurou, olhando para mim. — Por quê? O que aconteceu? Balancei a minha cabeça suavemente. — Eu não me casei. Acho que foi minha culpa por ser tão ingênua. Todos esses anos, ele me usou para apoiá-lo. Trabalhei sem parar para nos apoiar e não pisquei antes de me dar um chute na bu*nda. Ele não disse uma palavra, porém, a sua mandíbula estava tensa e os seus dentes ligeiramente cerrados. — O meu melhor amigo e os meus pais tentaram me fazer abrir os olhos, mas quando vi que eles estavam certos. Fechei os olhos por um momento. — Já era tarde, ele me abandonou por outra mulher que não era gorda nem descuidada com a aparência pessoal. Foi o que ele disse na frente de todos na festa que dei para ele comemorar o fato de finalmente ter recebido o cargo de chefe de cirurgia. Que eu era uma mulher muito pequena para um cirurgião de prestígio como ele. Mordi o meu lábio. — Você já pode dizer aquilo. ‎‌​​​‌‌​​‌‌​‌​‌​​​‌​‌‌‍
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