“Demorou um tempo, mas eu aprendi que um grande amor é aquele onde cabe a minha liberdade.”
Zack Magiezi
Point of View Oliver Parker
Aperto os freios o mais rápido que consigo e por pouco não atropelo uma garota. Quase cuspo o meu coração quando tomo ciência do que de fato está acontecendo. Respiro fundo e tento me recompor para prestar socorro, mas tudo que recebo são insultos e pela cara dela alguém está a ponto de me dar um soco.
Quando a ruiva sai a arrastando não sei se respiro aliviado ou se tento ir atrás dela para ter certeza que está tudo bem, mas levando em conta que a moto nem mesmo chegou a tocar nessa assumo que está tudo bem e volto a fazer o restante do meu percurso que na verdade não dura um minuto e meio.
Eu já vi muitas mulheres doidas na minha vida, muitas mesmo, mas essa, cara! Em um momento eu estou de boa fazendo o meu caminho e no outro ela está atravessando a rua sem olhar. Beleza, não é a primeira vez que QUASE, foquemos apenas no “quase” atropelei alguém. No geral só acontece com idosos desavisados que se acham jovens e capazes de atravessar a rua correndo. Preciso deixar isso bem claro: eles não são. Pelos menos eles aceitam que eu preste socorro mesmo que nada tenha acontecido.
Adentro meu apartamento e deixo o capacete na mesa próximo à porta antes de me jogar no sofá barato de suede azul-marinho. Agradeço pelo isolamento acústico e pela paz no interior do local, mesmo que lá em baixo esteja um completo caos com a música estridente e a pequena multidão de universitários que se reúne no local.
Não passo muito tempo no sofá e me obrigo a levantar antes que caía no sono, foi um dia cansativo. Passei parte dele resolvendo as coisas da minha mudança em West Palm Beach. E deixe-me dizer foi apenas caótico. Eu estava “morando” por lá há dois anos e as coisas estavam tranquilas, digo “morando” porque não sou de criar raízes e ficar muito tempo em um lugar, mas as coisas ficaram estranhas com a minha ex e preferi me afastar, embora Miami esteja à apenas uma hora e quarenta minutos de West Palm.
Eu já morei no apartamento que estou hoje, mas não pensei que fosse voltar tão cedo. As coisas estão tão tranquilas por aqui que penso em ir para outro lugar em breve, um estado diferente dessa vez. Preciso de novos ares, cruzar o país talvez. Montana parece um bom estado.
Prendo o cabelo em um coque m*l feito e tiro a jaqueta a deixando em cima do sofá mesmo, caminho em direção a cozinha e procuro algo para comer, mas tudo que tem na geladeira é cerveja e o resto da pizza de ontem. Me contento com isso, pego a caixa com o resto da pizza e deixo sobre a bancada enquanto procuro um abridor de garrafas, não me arriscar a abrir essa merda no dente de novo. Assim que pego uma fatia lembro do meu antigo colega de quarto dizendo: “pizza velha é igual à prima, a gente sabe que faz m*l, mas come.” Me pergunto como consegui morar com ele por um ano e meio sem acertar um soco naquela cara de i****a. Melhor, me pergunto porque diabos cogitei entrar para uma universidade.
Cursei administração no Massachusetts Institute of Technology, o famoso MIT. O terceiro melhor curso de administração do mundo. O primeiro era Havard, eu sabia que não passaria embora meu desempenho na época do high school fosse bom, ele não era bom o suficiente para Havard. O segundo é o da London Business School, na época eu havia passado, mas meu pai me queria por perto para continuar de olho em mim caso precisasse evitar que eu me metesse em confusão. Sendo assim me graduei em administração depois de quatro longos anos. Tive que ouvir as baboseiras do meu colega de quarto, o Steve, por todo esse tempo. De resto ele passava maior parte do tempo no computador usando headphones enormes enquanto resmungava uma centenas de gírias que o significado não fiz questão de descobri, tenho quase certeza de que mesmo depois daqueles quatro anos eles continuava tão virgem como um garoto adolescente que bate punheta para personagem de jogo.
Deixo a caixa vazia na bancada e ainda bebendo a cerveja eu saio de casa, basta desce a escadas externas e pronto estou em um beco escuro e vazia que a primeira vista pode até parecer assustador, mas são só meia dúzia de passos e estou em frente ao bar.
“O Recanto” foi o bar que decidi abrir assim que terminei a faculdade, tinha pensado em abrir em Cambridge próximo ao MIT ninguém bebe mais do que universitários, principalmente depois das semanas de prova, é um bom negócio. Desisti de lá assim que resolvi tirar uma semana de férias após a formatura. Escolhi Miami porque precisa de um lugar quente e com praias bonitas. No fim a ideia de passar uma semana foi se estendendo e quando percebi já estava em Miami a um ano e tinha um bar que já me trazia lucro. Foi nesse ponto que decidi que precisava viver.
Comecei pela Florida mesmo, conhecendo o condado de Miami-Dade, depois Georgia e assim cruzei o país até a Califórnia. Passei por lugares incríveis, conheci pessoas dos mais diversos tipos e a cada instante tinha certeza de que queria viver viajando. Viajei por mais algum tempo, parei alguns meses em Oregon onde conheci várias micro cervejarias e encontrei bons fornecedores para o bar. Até mesmo aprendi como fabricar cerveja, mas não tinha a intenção de fazer algo do tipo por hora. Já haviam se passado quase um ano nesse tempo, foi quando decidi parar em West Palm por um tempo. Tinha gostado do lugar, foi aí que conheci Melissa.
A partir desse ponto minha vida mudou em vários pontos. Melissa é de família rica, multimilionária para ser mais específico, daquelas famílias que tem um brasão, as crianças fazem aulas de etiqueta e aos fins de semana ficam em casas de campo e vão a country clubs jogar polo e andar a cavalo. A casa onde ela mora é digna de filmes de Hollywood, aqueles de espionagem, eu quase podia ver o James Bond usando um cabo de aço para entrar por uma daquelas enormes janelas de vidro espalhando uma chuva de cacos de vidro pelo tapete carissímo comprado em algum lugar do Oriente Médio.
Eu já imaginava que qualquer relação entre Melissa e eu não ia dar certo, havia muitas diferenças entre o meu estilo de vida e o dela, mas as vezes os homens pensam com a cabeça errada. Não que tenha sido algo r**m o tempo que tivemos juntos, foi divertido e prazeroso, mas eu não conseguiria viver no estilo de vida que ela está acostumada e ela tampouco conseguiria viver no meu. As coisas começaram a ficar estranhas nesse ponto, porque ela ainda tentava me convencer a ir aos eventos com ela e de que nós podíamos dar certo. A questão é que eu não sentia isso, não sentia nada tão profundo por ela a ponto de desejar mudar todo meu estilo de vida.