Capítulo 1

1445 Words
MARIA FERNANDA NARRANDO ❁❁❁❁❁❁ Chego no meu trabalho e vou direto pra cozinha, tendo que engolir uns velhos babões me assediando na pura cara de p*u, bufo com vontade de vomitar e meu patrão me olha de cima a baixo, era outro que vivia mexendo comigo e me comendo com os olhos, mas infelizmente eu não podia fazer nada, eu quase necessitava desse emprego e só ganhava 100 por semana.  - Tá atrasada, Fernandinha. - Ele diz me entregando o avental.  Apenas aceno com a cabeça e sigo para fora do balcão para começar a anotar pedidos e distribuí-los.  O bar do seu Zé era um dos botecos mais conhecidos do Alemão, onde absolutamente todo mundo parava pra beber umas brejas e cachaça, era o lugar em que eu era assediada todos os dias, por homens e velhos nojentos. Atravesso o pequeno bar e paro perto de uma mesa com velhos fedorentos me devorando com o olhar.  - O que vocês desejam? - Pergunto com um bloquinho de folha nas mãos.  - Eu desejo você. Toda gostosinha, morena deliciosa... - Um n***o, mais conhecido como Betão, disse. Finjo demência, com um nojo absurdo e prossigo, vendo os outros velhos rirem da cantada nojenta.  - O que vocês querem beber? - Pergunto novamente.  - Pode ser uma cerveja. - Um outro diz.  - Quero um copo de 51 e um cigarro varejo. - O tal Betão diz e eu aceno, indo pra outra mesa.  Com um velho específico, o meu digníssimo pai, ele estava de cabeça baixa, mas quando levantou a cabeça pra me olhar, tinha algo diferente em seu olhar, eu arriscaria quase que malícia. Meu coração aperta quando vejo-o me olhar da cabeça aos pés.  - O que você quer aqui?  - Quero um copo de pinga. - Ele diz, desnorteado. Sujo e com bafo de cachaça.  - Vai pagar?  - Eu não, você.  Dou risada e viro as costas, sentindo-o me puxar pelos cabelos.  - Você acha que é quem pra me desafiar desse jeito? Só porque tá ficando gostosinha, quer levantar a cabeça pra mim? - Ele firma a mão nos meus cabelos, me fazendo gemer de dor. Vejo todos olharem pra mim, mas não se movem, nem mesmo o meu patrão.  - Me solta! - Berro entre choros, colocando a mão em seu pulso e com as costas grudadas em sua blusa suja.  - Você é uma p*****a, vagabunda, que fica dando mole pra esses velhos daqui. Todos eles te comem! Você é uma cachorra. Eu tenho nojo de você e nojo de ser seu pai. - Ele diz embolado, me jogando no chão.  - Eu que tenho nojo de ser sua filha, nojo de um homem que tem mulher doente dentro de casa e invés de ajudar, invés de arrumar um trabalho pra colocar comida dentro de casa porque nem isso tem, prefere encher a cara e passar vergonha! Prefere ROUBAR pra sustentar seu vício! Nojento! - Digo em plenos pulmões, gritando entre lágrimas, quando sinto um chute na minha costela e um tapa estalado no meu rosto.  Quando ele vai sentar em cima de mim pra bater mais ainda no meu rosto, alguém o puxa pela gola da camisa e atira pra cima, fazendo todos que estão presenciando o show, correrem para as suas respectivas casas.  Coloco a mão no rosto sentindo o mesmo quente e as lágrimas caem livremente pela minha bochecha, levanto limpando a minha roupa e um homem alto, forte, moreno e com corte baixo, o corpo recheado de tatuagens, segura na gola do Alberto, homem que um dia eu chamei de pai.  - Se eu ver você batendo nela ou em qualquer mulher aqui dentro, eu te mato, tá me ouvindo? - Ele pergunta, sério. Olha no fundo dos olhos do homem, mirando a arma na cabeça dele. O Alberto assente rápido, quase que suplicando pra ser largado.  - Me deixe ir Dan, por favor. - Alberto pede quase implorando.  - Dan eu era há 20 anos atrás, pra você agora, eu sou Deco. Nada a mais que isso, você está me ouvindo? - Ele pergunta com ódio, da pra perceber em seu tom. O mesmo larga o velho e da uma coronhada na cabeça dele, fraco, fazendo-o correr entre as vielas da favela.  Estranho toda a situação. Desde quando eles se conhecem?  - Você está bem? - Ele vem até a mim guardando a arma dentro da bermuda e me analisando. Ele mostrava ser sério, eu abaixo a cabeça e olho-o novamente, sentindo meu peito apertar.  - Estou, obrigada por isso.  - Vem, você precisa cuidar desse supercílio cortado. - Ele olha franzindo o cenho pra minha sobrancelha, toco nela e percebo o tanto de sangue que estava acumulado ali. Me assusto. - Não posso, preciso trabalhar. - Falo, olhando pro seu Zé, que está alheio à nossa conversa.  - José não se importa se você tirar o dia de folga, não é mesmo? - Ele olha pro meu patrão, por cima da minha cabeça. Era o dobro da minha altura.  - Claro que não! - Ele da uma risada falsa.  - Então vamos. - O tal Deco me puxa e eu tiro o avental deixando em cima da mesa.  Ele monta em cima da sua XJ6 e eu fico pensativa se subo ou não, mas senti uma conexão muito forte com ele e uma sensação de conforto e proteção que eu não sinto há muito tempo, porque faz tempo em que sou eu pela minha mãe, mais ninguém.  Apoio minha mão no seu ombro e aperto quando ele arranca, subindo a mil pela rua de paralelepípedo do Morro. Ele para a moto na hora quando uma bela moça para em frente à nossa frente, colocando a mão na frente, como se estivesse exigindo que o tal Deco parasse.  - Que palhaçada é essa, Danilo? - Ela diz colocando a mão na cintura. E eu ouço um suspiro da parte dele, seguido de "p**a que me pariu".  - Amor, olha... Eu estava levando ela pra nossa casa agora. Preciso que você ajude. Então por favor, colabora. - Ele fala baixo, e ela se aproxima. Me olhando com desdém, retribuo o olhar. Não sou obrigada.  - Meu Deus, menina! Que sobrancelha é essa... - Ela diz assustada. - Levou porrada de bandido?  - Quem você pensa que eu sou? - Pergunto horrorizada. Eu levar porrada de bandido? Nem por cima do meu cadáver. Posso morrer com um tiro na cabeça, mas não abaixo a cabeça pra ninguém!  - Cecília, colabora. Maria Fernanda, sai da moto. - Ele ordena e eu estranho.  - Como você sabe o meu nome? - Pergunto erguendo a sobrancelha e saio da moto. - E de onde você conhece o meu pai?  - Um dia você descobre. - A tal Cecília se aproxima beijando ele e alisando seu rosto, deseja um bom trabalho e ele sai a mil.  Sorrio com o casal, eles parecem ser unidos. Quando ela me vê, puxa minha mão me levando até uma casa que ficava perto.  - Sua sorte é que fui com sua cara, se não te empurrava daquela moto. Você ia bater com a cabeça no chão e ia sofrer um traumatismo craniano. - Ela fala naturalmente e eu, novamente, a olho horrorizada.  - Você não tá pra brincadeira, hein.  - Você não viu nada. - Ela diz rindo e puxando um controle e fazendo um portão subir, na cor branca.  Ela me puxa novamente para dentro da casa dela, e era linda. Na cor laranja pastel com mármores bege, uma piscina redonda na parte de trás e o estacionamento na parte da frente. E eu penso: O que estou fazendo com a elite do morro? Ou melhor, com uma mulher de bandido? Vou sair daqui morta, só pode.  Ela entra e eu retraída, entro logo atrás. A casa é maravilhosa, na entrada, havia uma escada com pisos e uma vidreira bem ao lado, colado. Em baixo, tinha uma TV LCD, um sofá creme super confortável que podia ser facilmente puxado para se transformar em uma cama. No cômodo ao lado, havia uma cozinha super moderna e com móveis de última linha, principalmente a mesa, que era enorme.  Isso não é pra mim. Moro num puxadinho, no meio de bueiros a céu aberto, minha casa fedia a mofo e eu passava fome. Abraço meu corpo, me sentindo totalmente desconfortável.  - E aí, n**a. Me fala o que aconteceu. - Nem reparo quando ela volta com um kit de primeiros socorros e me senta no sofá, sentando ao meu lado e colocando minha franja pro lado, para enfim, me ajudar.
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