Jéssy Davis
Acordo assustada com o meu telefone tocando em meu peito, olho no visor e vejo o nome da Júlia piscando na minha tela.
‘Oi Ju’
‘ Já estamos saindo aqui de casa, o Léo quer ir mais cedo. ’
‘ Meu Deus, que horas são? ’
‘ Para de fazer perguntas e vai logo se arrumar, o caminho para lá é longo. ’
Desligo o telefone e me sento na cama esfregando meus olhos para tentar espantar o sono ainda latente. Resolvi não pensar muito e arrumar logo as minhas coisas e ir dar uma desculpa para sair de casa e passar o fim de semana fora.
Minha mãe sempre deixava que eu dormisse na casa de Júlia é a minha melhor amiga e a pessoa com quem eu posso contar em todos os momentos, as outras são boas amigas, mas nenhuma delas cresceu junto a mim e nem mesmo me conhecem tão bem quanto ela.
Respiro fundo após arrumar uma mochila com algumas coisas e saio do quarto antes de tomar banho para falar com a minha mãe, não vou sair escondida e criar problemas desnecessários, caminho no corredor em direção ao ateliê de costura dela e seja o que Deus quiser.
Ao chegar na porta ouvi o barulho da máquina de costura funcionando, bati levemente na porta e entro em seguida. Minha mãe quando me vê desliga a máquina e se vira de frente para mim, seu sorriso é pequeno mas sei que apesar do surto do meu pai ela não está chateada comigo.
- Oi filha, precisa de algo?
- Oi mãe, na verdade sim. Sei que o papai deve estar chateado comigo e então eu preferi vir falar com a senhora.
- Realmente, seu pai está uma fera, mas logo passa. Me diga, o que quer?
- Mãe, as meninas vão se reunir na casa da Ju hoje e vão dormir lá, eu queria ir. Posso?
Minha mãe me observa por alguns instantes e em seguida começa a falar.
- Filha, seu pai não vai gostar nada disso, mas eu deixo com algumas condições.
- Quais condições, mamãe?
- Não ter meninos, nem bebidas e você precisa estar no culto de domingo de manhã. Temos um acordo, Jéssy?
Observo minha mãe por mais uns segundos antes de responder e mesmo sabendo que se eu for descoberta nessa mentira vai ser um inferno a minha vida daqui para frente, eu reafirmo.
- Não haverá meninos, mãe. Será só meninas e nenhum tipo de bebida. Mãe, não esqueça que eu não sou mais criança, tenho vinte e três anos, sei o que devo e o que não devo fazer!
- Tudo bem minha menina, eu confio em você!
- Certo, mamãe, mas e o papai?
- Deixa, com o teu pai eu me entendo!
- Tá bom então, a Ju já deve estar chegando para me buscar com o Léo.
- Jéssy, sem meninos lembre-se disso!
- Tudo bem mamãe, o Léo vem porque ela não sabe dirigir!
- Vá se arrumar então.
- Beijo mãe, obrigada.
Saio da salinha de costura da minha mãe sentindo um frio na barriga. Eu não costumo mentir para os meus pais, mas eu preciso disso e desse momento longe dessa realidade machista e retrógrada em que eu vivo com eles.
Volto para o meu quarto e entro no banheiro quase correndo, tomo um banho rápido e saio de lá vestindo um vestido curtinho e bem ousado que ganhei da louca da Ju há séculos atrás, que nunca tive a oportunidade de usar, e calço um par de tênis.
Olho no espelho e vejo a imagem que eu escondo de todos sempre, o corpo que a maioria das meninas da minha idade gostariam de ter. Cintura fina, pernas grossas e bumbum torneado e redondinho, meus s***s não são nem grandes e nem pequenos, eu os considero normais.
Mas antes de sair do quarto me lembro que não posso sair daqui vestida assim, então volto ao guarda-roupa e coloco um vestido grande por cima, daqueles que uso normalmente para ir para a igreja aos domingos.
Coloco a mochila nas costas e em seguida saio do quarto com o telefone já tocando na minha mão e já sabendo quem era nem mesmo atendi. Antes de chegar na porta, grito para que a minha mãe ouça.
- MÃE, TÔ SAINDO! BEIJO!
Termino de falar e saio andando rápido para entrar no carro que já está com apenas a minha vaga no banco do carona ao lado do motorista.
- Eita, que ela veio vestida para o culto!
Leonardo como sempre destilando seu veneno contra mim. Ele é irmão da Ju, um chato que me persegue já faz algum tempo querendo ficar comigo, mas todas nós já estamos cansadas de saber qual a única coisa que ele quer e eu não estou disposta.
- Leonardo, para de perturbar a mente e liga o som.
- Oi amigaaaaaa, ninguém está acreditando que você vai mesmo com a gente.
- Oiii, ficarão todos de queixo caído amiga, eu sei! Eu sou uma beldade e todos me querem lá...
- Você se acha né, Crentinha?
- Leozinho, hoje eu te mostro quem é a Crentinha. Hoje eu quero extravasar e ser quem eu nunca pude ser.
- Quero só ver se essa sua nova versão vai me dar uma chance!
- Isso nunca, bebê.
Estamos em cinco pessoas no carro, o nosso grupinho está completo hoje e isso já é algo muito bom já que com a faculdade ficou mais difícil de nós nos encontrarmos.
Demoramos em torno de uns quarenta minutos para chegar lá e, quando chegamos, eu e as meninas ficamos maravilhadas com o tamanho e o luxo daquele lugar, ali é tudo muito bem decorado e cheio de empregados andando de um lado para o outro. Nós seguimos direto para um quarto que o dono da festa, que é amigo do Léo, cedeu para nós quatro.
Hanna, Yanne, Júlia e eu somos amigas desde criança e sempre nos demos muito bem, nunca houve briguinhas desnecessárias entre nós.
- Amiga, não é um critica. Mas você vai ficar com esse vestido? É que ele não é muito a vibe do momento e lugar que nós estamos.
- Claro que não Yanne, eu vim preparada. Só preciso escolher qual usar.
Falo isso já sorrindo e abrindo a mochila onde estão os vestidos que elas me deram em várias ocasiões diferentes e que eu nunca usei, trouxe também um salto “coringa” que pode ser usado com qualquer um dos quatro vestidos que eu trouxe.
- Amigaaaaaaa, que lindos. Pensávamos que você nem tinha mais eles!
- Claro que tenho. E eu já tenho em mente qual usar.
Tiro todos da mochila e coloco sobre a cama de casal onde estamos sentadas, o primeiro que coloco ali é um vestido vermelho, com uma renda no braço direito, ele é todo justo no corpo e tem uma f***a em meio aos meus s***s que é totalmente aberta, mas que no corpo fica bem bonito e sensual e nada vulgar, já que apesar dele ser colado ao corpo tem o comprimento pouco acima do joelho.
Depois dele, vem mais três vestidos, mas nenhum é tão bonito e elegante quanto aquele.
- E então, você vai usar o vermelho, não é?
Com a pergunta de Hanna, eu sorrio pois estava pensando exatamente o mesmo que ela, o vermelho é perfeito e essa seria uma Jéssy que nunca fui.
- Permita-se amiga!
- É isso, eu vou me permitir sim. Um dia como esse pode nunca mais ser vivido.
Retiro o vestido que estava vestida e elas sorriem alegres e parecendo até um tanto assustadas.
- Você está diferente, Jéssy, e eu estou gostando disso.
- Olha esse corpo, garota você é ouro puro.
- Meu Deus amigaaaa, você é linda demais.
- Aí para com isso. A gente vai descer um pouco e dar uma volta ou vamos nos arrumar logo?
- Que descer o quê garota, corre e se arruma logo que a noite já está começando, bebê.
Entramos todas juntas no banheiro para tomar banho e acelerar o processo. O banheiro é enorme e luxuoso, assim como todo o resto dessa casa e o nosso banho que deveria ser mais rápido se tornou demorado, já que encontramos uma banheira enorme ali dentro e resolvemos desfrutar dela juntas jogando conversa fora.