Capitulo 2

1171 Words
Jéssy Davis Às vezes me pergunto o que eu tenho de errado para ter nascido tão diferente da minha família. Meus pais são religiosos do tipo que não saem da igreja, mas que também não perdem a oportunidade de criticar os outros e que só abrem a boca para falar dos erros do próximo. Eu acho isso tudo uma grande besteira, não preciso estar o tempo inteiro dentro de uma igreja para dizer que confio nos desígnios de Deus e que sou sua filha. Mesmo fazendo as vontades deles, o que eu faço nunca os agrada. Diferente da minha irmã Larissa, eu não deixo que eles me controlem, não sou mais criança para não saber o que quero e o que posso fazer. Hoje estamos em um dia daqueles, meu pai desde a hora que acordou está no meu pé para que eu vá para a igreja hoje e eu sinceramente já estou de saco cheio desse meio mundo de cobranças e exigências. Está na hora do almoço e Larissa veio me chamar para almoçarmos todos juntos. - Jéssy, papai não está em um bom dia hoje! Venha almoçar conosco, por favor. Eu reviro os olhos. Meus pais hoje acordaram já aos berros um com o outro e assim passaram a manhã inteira e agora estão como se nada tivesse acontecido, e eu tenho que participar desse teatrinho deles que me dá ânsia. - Como você consegue? Larissa me observa como se não houvesse entendido a pergunta que lhe fiz e eu respiro fundo, nem sei o porquê de eu ainda continuar achando isso tudo estranho. - Você precisa compreender o papai, nossa mãe faz o melhor para que possamos viver tranquilamente, Jéssy. Nada mais justo do que você também tentar! Respiro fundo mais uma vez e me levanto dando alguns passos em direção a porta e Larissa volta a falar, e dessa vez ela realmente consegue me irritar. - Você vai para a mesa com o nosso pai vestida dessa forma?! - QUE FORMA, LARISSA? - grito irritada isso é sempre um martírio, um estresse. Estou realmente cansada. - Ei, calma, eu só fiz uma pergunta e ela é coerente. Olha o tamanho desse short… - Larissa não é nenhum pouco convincente esse olharzinho de cobra não me cativa mais já faz algum tempo bela irmã que meus pais me deram. Mas respondo calmamente não dando a ela o gostinho de sair do sério. - Eu estou em casa, e uso o short do tamanho que me der na telha. Abro mais a porta do quarto e saio de lá passando por ela que me olha com um olhar de desdém que eu já estou acostumada a ver mas sigo confiante mas temerosa pela reação estrambólica de sempre do meu pai. Quando chego na cozinha vejo minha mãe terminando de servir a mesa e o meu pai ali sentado apenas esperando, como se fosse um rei. - Senta filha, vamos almoçar. Fiz aquela carne assada de forno que você gosta! - Oba, eu adoro essa carne. Obrigada mãe. Falo isso já puxando a cadeira para me sentar e acabo parando no meio do caminho, foi nessa hora que o meu pai se virou para me olhar, seus olhos quase saltaram das órbitas e eu acho isso um exagero desnecessário. - Que roupas são essas? MARISA, OLHA A SUA FILHA COMO ESTÁ VESTIDA! EU NÃO CRIEI FILHA MINHA PARA ISSO. - Eu falei não falei? Larissa te a quem puxar. - Meu Deus que drama por um short. Pelo amor de Deus pai, em que mundo você vive? - rebato puxando a cadeira para me sentar. - Calma, Estevão! Olha a sua pressão. - Mamãe como sempre lambendo o chão que ele pisa e nessa hora faço uma nota mental “ NUNCA ME CASAR” - Mãe, isso tudo é drama dele. Pelo amor de Deus, eu estou vestida, só é um short mais curtinho. - Minimizando o circo digo para minha mãe. - Vestida? Você está pelada, sua perdida! Sua filha, Marisa, é uma perdida, veja isso. - Vamos lá então estou começando a me sentir estranha … - Calma pai, calma é só um short. - CALA A BOCA! NÃO DIRIJA A PALAVRA A MIM ENQUANTO ESTIVER VESTIDA ASSIM! Eu me esforço para que as lágrimas não desçam pela minha bochecha que já deve estar avermelhada de nervosismo e vergonha. Saio de lá e volto para o meu quarto, mas no caminho não deixo de perceber o sorrisinho de deboche nos lábios de Larissa. Ergo minha cabeça e continuo caminhando para dentro do meu quarto, para dentro do meu mundinho particular. É aqui o único lugar onde eu consigo ser eu mesma, visto o que gosto de vestir e ouço minhas músicas preferidas. Passo a tarde ali, tentando entender como eu fui nascer numa família maluca como essa. Por que eu tinha que ser diferente deles? Será tão errado querer ser alguém com personalidade própria? Com estilo próprio? Derramo ali algumas lágrimas, mas logo coloco os fones de ouvido e fecho os olhos tentando esquecer tudo o que ouvi e o estômago roncando de fome pois não havia ainda me alimentado quando tudo aconteceu. Foram longos minutos de música e eu sem um pingo de sono, até que meu telefone toca e eu vejo uma notificação no w******p. Ali diz que fui adicionada a um grupo. Abro a notificação e o nome do grupo é “BÚZIOS”, vejo alguns colegas da faculdade ali e as minhas amigas também estão. Nas mensagens é possível saber que se trata de uma festa de gente rica em Búzios, minhas amigas sempre vão a essas festas, mas eu nunca fui. Meus pais me colocariam para fora de casa se sonhassem que eu estive em um lugar desses, com pessoas bebendo e de pegação por todos os lados. Mas talvez essa seja a minha chance de conhecer melhor tudo aquilo que eu sempre quis, a vida que eu sempre quis. Sonho em ir em baladas, em afters e até em ter um namorado, coisa que nunca aconteceu, pois os meus pais não aceitariam se não fosse para casar. Penso, penso e penso e resolvo ligar para Júlia, uma das minhas amigas, particularmente a mais maluquinha de todas e que tenho certeza que me apoiaria com a ideia que tive neste exato momento. ‘ Oi maluquinha’ ‘ Ju, vai pra Búzios?’ ‘ Claro que vou, você sabe que não perco essas festinhas’ ‘ Eu quero ir com você, passa para me buscar?’ ‘ Tá maluca? E os seus pais?’ ‘ Eles não precisam saber, me pega, que horas? ’ ‘ As 18 horas. Botei fé em tu, hein’ ‘ Ok, me pega na esquina. ’ Após desligar o telefone, fico por mais alguns minutos deitada olhando para o teto pensando se faço realmente isso ou se desisto. Mas eu estou tão irritada que a única coisa que talvez me ajudasse a relaxar a mente seria isso, fazer uma loucura e correr esse risco.
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