Dentro do meu carro voltando para casa, penso no meu ombro que dói e penso nas palavras de Vasco, será mesmo que as minhas roupas estavam tão vulgares assim aponto de chamar atenção de todos no estabelecimento? Ou era só loucura da cabeça dele. Eu não quero dar razão as minhas amigas, mas também não quero continuar num relacionamento assim, eu não sei como sair desse buraco no qual estou me afundando.
— Mãe, já dormiu? — sondo a minha casa, procuro por minha mãe e irmão, mas eles não estão em casa.
Pelas horas e por ser um final de semana, eu acho que também foram dar uma volta na casa de uma tia, eu acho óptimo, assim vou poder fazer uma massagem no meu braço e tentar esconder as marcas que estão no mesmo. Saio da sala e vou procurar uma bacia, vou fazer uma massagem com água e sal, isso vai aliviar a dor que estou sentindo, só não sei se a for está no meu braço ou na minha alma.
— Ai, m***a — gemo angustiada assim que o pano quente entra em contacto com a minha machucada.
Continuo massageando o local ferido, até que a dor se torne mais leve. A minha pele é sensível e qualquer marca fica nela, se eu não esconder logo essas marcas, minha mãe pode ver e ficar preocupada. O que eu vou dizer para ela quando me perguntar.
— Fefé filha, chegou? — a voz da minha mãe preenche o ambiente de toda a casa e eu quase desmaio assim que a mesma chega na cozinha e me vê com o pano na mão fazendo pressão no braço esquerdo — O que aconteceu? Por quê tem essas marcas no braço? — Minha mãe indaga e corre até onde estou, ela está com o semblante muito preocupado e desesperado.
Meu coração bate forte, tão forte que parece um tambor de xigubo. Eu não posso falar para ela que Vasco é o responsável por aquela marca em meu braço, ela vai me obrigar a terminar com ele e eu não quero isso.
— Eu, eu, caí enquanto jogava bolishi — invento uma desculpa qualquer mas minha voz saí rouca e tremula, eu serei descoberta a qualquer momento. Eu sou uma péssima mentirosa e minha mãe sabe disso.
— Você caíu? Como assim caíu? Isso são marcas de dedos em seu braço Felícia — minha mãe berra segurando em meu braço.
Ela está muito preocupada e analisa atentamente o meu braço, ela vai me descobrir a qualquer momento.
— Sim eu caí, então um senhor veio me ajudar a levantar, só que ele pegou com muita força o meu braço, por isso marcou, mamã sabe como minha pele é sensível — invento qualquer coisa que me vem a mente nesse momento.
— Meu Deus Fefé, você precisa tomar mais cuidado filha, sua pele é muito sensível, não pode brincar de qualquer maneira — minha mãe fala mais calma, parece que ele acreditou na minha mentira graças a Deus.
— Eu sei, desculpa mãe, não quis te preocupar — sussurro culpada.
Eu sei que o que estou fazendo é errado, eu estou mentindo para minha mãe, mas se eu contar a verdade para ela, ela vai me mandar terminar com Vasco e eu não quero isso. Depois de massagear meu braço, fomos jantar, não tive muita dificuldade, pois, o meu braço já estava melhorzinho, a dor não era tão intensa como quando acabava de chegar a casa. Depois do jantar, tomei um banho e fui dormir.
...
Acordo indisposta, sem nenhuma vontade de ver ninguém, mas eu sei que não posso continuar com esse meu plano, caso minha mãe me veja indisposta vai estranhar e juntará os pontos.
— Bom dia mamy, como descansou? — cumprimento com uma alegria falsa, tão falsa que a falsidade chega a ser palpável.
— Bom dia meu amor, eu descansei bem e você? Como está o teu braço? — retruca preocupada e apalpa o meu braço.
Minha mãe me vira de um lado para o outro, tentando encontrar o que estave criando um incomodo em meu braço ontem, mas graças a Deus as marcas tinham sumido e eu não tinha mais com o que preocupar.
— Graças a Deus, as marcas e as dores sumiram hoje cedo — completo feliz. Desta vez a felicidade é real, não é igual a felicidade de minutos atrás que foi pura falsidade.
— Que bom, me ajuda a preparar o matabicho — completa me puxando para a cozinha.
Chegando na cozinha, ajudo minha mãe a preparar o nosso matabicho, hoje decidi tirar o dia para a minha família, não quero saber nem de Vasco, nem de mais ninguém, quero um dia só com a minha mãe. Depois de preparar o matabicho, nos sentamos para comer, minha mãe aproveita a oportunidade para colocar a série dela. Como sempre Anatomia de grey, para ser sincera nem estou prestando atenção, mas minha mãe e eu tenho que ficar com ela.
— Ah! Não acredito, ela vai fugir das grávidas? — minha mãe berra e aponta para a TV. Ela está com os olhos esbugalhados de tão surpresa que está, ela não crê no que vê.
A obstetra do hospital parece desesperada e reclama com a colega, uma médica com ascendência chinesa, acho que o nome dela é Emily, meu personagem favorito, o humor dela é parecido com o da minha melhor amiga Sandra.
“ Estou sendo perseguida por grávidas “
A médica obstetra reclama, a médica mau humorada dá uma resposta que Sandra provavelmente daria para mim.
“ Você é a obstetra do hospital”
A outra médica, parece que tomou um choque de realidade, pois, fica desesperada e com um olhar desolado.
— Ai eu adoro a Emily, melhor resposta impossível — minha mãe comenta rindo.
Passamos toda a manhã assistindo a vários episódios da série, até que o meu celular toca. Vasco está me ligando, mas eu não vou atender, não estou com vontade de falar com ele e nem quero olhar para ele. Coloco meu celular no modo não perturbar e continuo concentrada na televisão.
— Mana! Manaooo! — meu irmão mais novo me agita, parece que em algum momento da série cochilei. Me sobressalto e o olho com o senho franzido.
— O que foi Kevin — questiono irritada, como se a culpa fosse dele. Pobrezinho do meu irmão, acabou sobrando para ele.
— Mano Vasco está aqui fora — informa sem se abalar com o meu mau humor.
Me assunto com a informação que recebi, como assim ele estava na minha casa, o que ele queria? Se fazer de vítima? Saio da sala e vou até a varanda onde ele está sentado, numa poltrona que costuma ficar lá. Minha mãe colocou a poltrona na varanda, porque segundo ela, dá um ar mais chique para casa, pois, em frente da varanda temos um jardim muito bonito e organizado.
— Oi Vasco — cumprimento sem muito ânimo, eu só quero voltar a dormir e esquecer que amanhã eu vou a Escola. Vasco se levanta, e vem até mim, tenta me dar um beijo, mas eu me esquivo do mesmo.
— Oi princesa, como está? — cumprimenta com um sorriso amarelo. Ele está irritado porque esquivei ao beijo dele, mas ele que vá tomar no cu, a boca é minha e eu beijo ele quando eu quiser.
— O que você acha? Veio ver se estou ferida ou com um gesso? — respondo de um modo cortante mas fazendo todo o possível para a minha mãe não escutar a nossa conversa.
Vasco está com um braço escondido por trás de suas costas, assim que o mesmo tira o braço de suas costas, ele tem um ramo de orquídeas roxas e um cartão escrito a mão, como um pedido de desculpas. O gesto dele, por mais pequeno que seja, arranca lágrima de mim e acaba com o meu mau humor em segundos.
— Eu sei que, suas cólicas estão próximas, então! Trouxe está cesta de mimos para você — tirou o outro braço e apresentou uma cesta cheia de mimos para mim.
Não me culpem, estou próximo da minha TPM, meus hormônios estão a flor da pele e eu fico sem muita força para resistir a mimos.
— Oh! Você é um fofo — o abracei dando um beijo em suas bochechas.
— Então, estou perdoado? — questiona antes de aceitar o meu braço, concordo com a cabeça e nos abraçamos.