1- Emanuelly
Sou Emanuelly Werneck, tenho 19 anos e essa semana eu começo a realizar o meu sonho de cursar medicina, me matriculei em uma das melhor universidade dos Estados Unidos junto com a minha melhor amiga Kate que vai cursar direito, na próxima semana vamos começar o nosso primeiro semestre na faculdade e eu já estou morrendo de ansiedade. Meu próximo passo é conseguir um carro mesmo que seja usado para não ter que ficar indo de táxi todos os dias para universidade, e ainda vou poder levar a Kate comigo.
Depois que saí da faculdade peguei um táxi e fui direto para casa, contar pra mamãe que consegui me matricular, vinte minutos depois eu já estava chegando em casa, entrei pela sala e encontrei o papai e a mamãe discutindo feio, mas não estranhei, ultimamente eles só vivem brigando e discutindo pelos cantos, achando que eu não percebo nada.
— Será que dá para vocês me explicarem o que está acontecendo pra você estarem sempre brigando pelos cantos? Eu não sou mais uma criança e se a nossa família está com algum tipo de problema, acho que eu mereço saber! — Entro na sala e cruzando os braços os encarando séria.
— Na hora certa você vai saber filha, agora não é a hora meu anjo. — Diz papai ainda nervoso e sobe as escadas apressado, olho para minha mãe e ela está me encarando com os olhos marejados.
— Por favor mamãe, me diz o que está acontecendo? Talvez eu possa ajudar em alguma coisa, sei lá, mas eu preciso saber o porque você e o papai estão tão agitados ultimamente, vocês andam brigando por tudo. — Abraço-a e ela me aperta em seus braços.
— Me desculpe meu amor, mas nós precisamos ter essa conversa os três juntos, eu você e o seu pai. — Ela beija o alto da minha cabeça com carinho.
— Mas porque isso mamãe? Porque você mesma não pode me contar qual é o problema? — Pergunto me soltando dela encarando-a confusa.
Ela me encara por um tempo e parecia pensar em alguma coisa, ela começa a andar impaciente pela sala e isso começa a me preocupar, pelo jeito a situação é pior do que eu imaginava. Mamãe me puxa para o sofá e nos sentamos lado a lado com ela segurando firme a minha mão.
— Nossa família está com problemas financeiros filha, mas seu pai está se esforçando para conseguir resolver essa situação logo. — Ela começa a chora e eu sei que não é somente isso que à está preocupando.
— Se o problema for mesmo esse eu posso começar a trabalhar para diminuir as minhas despesas, e também quero contribuir mais dentro de casa mamãe. — Acaricio a sua mão e ela chora ainda mais. — Pelo amor de Deus mamãe você está me assustando assim... Eu estou percebendo que o problema não é somente esse porque você está desesperada como nunca vi antes. — Me levanto ficando de pé na sua frente. — Ou a senhora me conta agora o que está acontecendo ou eu vou lá em cima exigir que o papai me conte. — Me altero então vou em direção a escada, ouço passos atrás de mim e sei que é a mamãe me acompanhando.
Ando a passos largos e vou até o quarto dos meus pais, bato na porta duas vezes e ouço um entrei, entro feito um furacão e encontro papai mexendo em alguns documentos em cima da cama.
— O senhor sabe o porquê estou aqui não sabe papai? É melhor vocês pararem de me tratar feito uma criança porque eu não sou mais uma, eu não vou aceitar vocês ficarem me escondendo as coisas. — Digo em um tom autoritário e tanto meu pai quanto minha mãe me encararam surpresos.
— Meu anjo eu vou conversar com você na hora certa, por favor tenha um pouco de paciência está bem? — Diz juntando rapidamente os papéis que estavam na cama e os coloca em uma maleta com segredos nas trancas.
— Por favor papai, a mamãe já me disse que estamos com problemas de dinheiro mas eu sei que não é só isso, ela não ficaria nesse estado só por dinheiro. — Me altero apontando para mamãe que chora sem parar. — Mas se vocês não confiam em mim o suficiente para compartilhar comigo os problemas da nossa família, por mim tudo bem, eu não vou mais insistir... Eu só queria saber do senhor papai se o senhor vai conseguir me ajuda a pagar a faculdade? Do contrário eu posso arruma um trabalho para arcar com as minhas despesas. — Digo decidida e confiante dos meus planos, papai se aproxima de mim e me abraça forte.
— Me perdoe minha princesa, eu não queria ver você passando por nada disso, mas infelizmente eu não tive escolha. — Diz em um tom de voz triste.
— Eu não tenho que te perdoar papai, dinheiro não é tudo e eu tenho força de vontade e disposição para trabalhar se for preciso, todo mundo pode enfrentar dificuldades na vida mas nós vamos passar por isso juntos, não se preocupe. — Retribuo ao seu abraço e ele me aperta ainda mais forte.
Conversei um pouco mais com meu pai e minha mãe mas eles estão decididos a não me contar nada agora, então resolvo não insistir mais. Depois de todo aquele clima tenso eu vou para o meu quarto e tomo um banho para relaxar, coloco uma roupa confortável e me jogo na cama, fico pensando em toda essa situação da minha família e isso tudo não está me agradando em nada, porque sei que tem algo mais sério acontecendo e eu não sei o que é. Meu pai tem uma construtora e com ela ele sempre nos deu uma vida confortável e sempre tínhamos o que queríamos, minha mãe sempre é a quem gasta mais sem se preocupar com nada nem com ninguém, mas apesar da boa vida que leva eu tenho certeza de que aquele desespero todo dela não era somente pela nossa crise financeira, mas enfim, se ninguém quer me contar eu não vou ficar dando murro em ponta de faça a toa.
Desci para jantar e a comida estava maravilhosa, apesar de ter sido comprada porque até a cozinheira já foi dispensada, só ficou mesmo a arrumadeira porque aqui em casa ninguém gosta de fazer arrumações e limpeza. Depois do jantar eu recebo uma mensagem da Kate, ela quer que eu vá encontra-la no shopping então subo para me arrumar, escolhi um vestido confortável e fiz a minha maquiagem deixando os meus olhos bem marcantes.
Depois de pronta eu desci e encontrei os meus pais conversando, mas quando me viram se calaram na mesma hora, não falei nada pois ultimamente eles estão muito estranhos.
— Mamãe eu vou encontrar a Kate está bem? Talvez vamos ao cinema mas se ficar muito tarde eu durmo na casa dela. — Digo já me despedindo deles e saí rapidamente para eles não terem o que falar.
Assim que saio de casa vejo um táxi passando então faço sinal e ele para pra mim, entrei no táxi e pedi para me levar até o shopping do centro e em questão de vinte minutos eu já estava na porta do mesmo, liguei para Kate perguntando onde ela está e a mesma diz que está na praça de alimentação, então eu vou até lá me encontrar com ela. Chego onde Kate está e tem mais duas meninas e três meninos com ela na mesa, as meninas aparentam ter entre 18/21 anos e os meninos entre 19/23 anos.
— Oi pessoal, boa noite! — Cumprimento me aproximando da mesa.
— Oi amiga que bom que chegou, esses são Felipe, Marcos e Lucas... E essas são Samantha e Michele, eles vão ser os nossas colegas de turma na faculdade, pessoal essa é a minha melhor amiga Manu. — Me apresenta a todos e eu os acho bem simpáticos.
— É um prazer conhecer vocês pessoal, desejo que sejamos mais que colegas de turma, podemos nos tornar grandes amigos. — Digo empolgada e eles me retribuem com um sorriso amistoso.
— Ou quem sabe podemos ser mais que amigos também, não é Manu? — Pergunta Lucas me encarando fixamente e eu corei de vergonha, sou bastante tímida.
— Eu sinto muito em te decepcionar Lucas, mas eu não estou interessada em um relacionamento agora, a minha ideia no momento e focar somente nos estudos mesmo. — Digo meio sem graça e os outros meninos caçoam dele por ter levado um fora.
Conversamos um pouco mais e decidimos dar umas voltas pelo shopping, depois saímos rumo a uma praça bem movimentada que tem próximo ao cinema, passamos algum tempo ali jogando conversa fora e os nossos novos colegas de turma se mostraram muito zoeiras, adoram uma bagunça, pena que talvez eu não possa fazer faculdade junto com eles, bom, pelo menos não até eu arrumar um emprego e poder pagar as minhas próprias contas, e pensar nisso me fez lembrar da atual situação da minha família. Já estava ficando tarde e eu decidi ir embora, me despedi do pessoal e a Kate disse que viria comigo, mas no fundo sei que ela quer ficar um pouco mais com os nossos novos amigos.
— Não precisa vir comigo Kate, fica com eles um pouco mais, eu vou pegar um táxi aqui mesmo em frente ao shopping e vou direto pra casa, e você me liga assim que chegar também ouviu? — A encaro atenta e ela me encara desconfiada.
— Tem certeza que não quer que eu vá com você? O que aconteceu com você hoje Manu? Você estava tão aérea meio pra baixo, o que ouve? — Pergunta em um tom preocupada.
— Olha amiga vai se divertir com os nossos novos amigos, eu prometo que amanhã te conto tudo está bem assim? Agora eu vou indo porque eu estou com um pouquinho de dor de cabeça. — Me despeço dela com um abraço apertado.
— Tudo bem mas amanhã cedinho eu vou lá na sua casa pra gente conversar, e você vai me contar direto essa história ouviu? Se cuida! — Diz erguendo uma sobrancelha e eu sorrir, não existe ninguém mais curiosa que a Kate nesse mundo.
Nos despedimos e eu saio do shopping indo em direção ao ponto de táxi, mas assim que chego próximo o único táxi que parado no ponto, o mesmo sai com um passageiro e eu fiquei a pé.
— Mas que droga! Agora vou ter que esperar por outro táxi. — Digo bufando pela frustração.
Olho ao meu redor para ver se há algum banco para eu me sentar mas só tem dois e já estão ocupados, resolvo andar um pouco mais para frente e vejo outro ponto de táxi, mas eu estou tão aérea que atravesso a rua sem olhar para os lados, só ouço quando um carro freia bem próximo a mim, e com o susto eu vou parar no chão, tento me levantar mas meu pé está doendo muito, ouço quando alguém se aproximou e se abaixa ao meu lado.
— Você está bem? Se machucou? — Pergunta uma voz grossa que me faz arrepiar na mesma hora, levanto os meus olhos para encontrar os seus e vejo um homem lindo se abaixado ao meu lado, me encarando como se eu fosse uma miragem dos seus olhos.
— Eu estou bem, só torci o pé. — O encaro envergonhada por ter atravessado a rua sem olhar, ele continua me encarando por um tempo como se estivesse em um transe, mas logo se pronuncia.
— Não se preocupe eu te ajudo, vou te levar a um hospital. — Ele me pega no colo se levantando comigo em seus braços.
— Não é necessário ir a um hospital eu estou bem, eu só preciso de um táxi para ir pra casa... E você já pode me por no chão. — Digo totalmente sem graça por estar no colo de um homem que apesar de ser estranho, seu toque e sua voz mexeram comigo de alguma maneira.
— Me diz onde você mora e eu te levo em casa? É o mínimo que eu posso fazer depois de quase ter te atropelado. — Diz encarando a minha boca e eu sinto o meu corpo esquenta com isso.
— É muita gentileza sua... Mas eu prefiro ir de táxi... E por favor me põe no chão. —Desvio o meu olhar do dele e com muito cuidado ele me põe no chão.
Assim que ele me põe no chão encosta um táxi bem próximo de onde estamos, ando com um pouco de dificuldade mas consigo chegar até o táxi, antes de entrar eu olho para trás e vejo que aquele homem ainda está lá, parado me encarando, entro no táxi e sigo pra casa com a imagem daquele olhar intenso sobre mim. Mas o que deu em mim para ficar pensando em coisas como essas?