12 de maio de 2019
Narrador narrando
Fazia duas semanas desde que Matheus e Leonardo haviam discutido, a poeira já havia abaixado, os dois não discutiam mais, mas os dois ficaram mais distantes um do outro. Leonardo não sabia o que fazer para refazer as pazes com seu filho e se arrependia do que havia feito, mas já era tarde demais, Matheus já havia se fechado em seu mundo.
Nos dias após a confusão, Matheus ficava na dele apagado e excluído. Não olhava mais nos seus olhos e evitava contato físico, etc. Matheus apenas descia na hora de comer, Leonardo estava com a impressão de que seu filho estava apagado sem nenhuma emoção, com um olhar de vazio e tristeza.
Leonardo também se sentia sozinho, Juliana estava irritada com ele e passou uma semana procurando distância dele e Barone visou ficar mais perto do Matheus e da Juliana. Juliana e Leonardo voltaram a se aproximar uma semana depois, a qual descobriram estar grávida.
Leonardo ficou muito feliz e ela também, mas não tão feliz como se esperaria, pois a relação dos dois estava meio abalada.
Matheus narrando
Era 12 de maio de 2019, acordei este dia me espreguiçando na cama, olho para o relógio e vejo ser seis e meia, eu já ia me levantar da cama, quando escuto alguém subir as escadas e os passos iam se aproximando da porta e o cheiro era do meu pai, Ele gira o trinco e entra no quarto.
Me deito na cama e viro as costas para a porta e finjo que tô dormindo, ele se aproxima da cama onde eu estava, fica parado observando por um momento, passa sua pata me acariciando na cabeça e depois se vai.
Continuo deitado na cama, não estava pensando em me levantar, quando escuto alguém vindo correndo escada acima.
Só pode ser o Barone. — pensei, e realmente era, continuei deitado na mesma posição quando ele entra no quarto e pula em cima de mim, bem na minha barriga.
Dava para escutar a cauda dele balançando como uma hélice e ele mordia minhas orelhas e as puxava e lambia meu rosto tentando me fazer levantar.
Estava sentindo cócegas com aquilo e estava rindo e ele ficava me empurrando dizendo para mim levantar e eu permanecia imóvel.
Levanta. — dizia Barone, tentando me tirar do lugar e então abocanhei de leve o rosto dele e depois me sentei na cama, Barone me abraçava e tentava me empurrar, mas eu era mais forte. Peguei ele pela pele atrás da nuca e fiquei segurando sorrindo enquanto ele tentava se libertar e até me mordia, porém, eu não o largava.
Era muito bonitinho ele, eu ficava observando ele e do nada Lucas me veio a memória. Senti-me meio triste e larguei o Barone depois fiquei pensativo olhando para o chão.
Tá tudo bem? — pergunta Barone.
Está, sim, só estou pensativo. — eu respondo.
Você parece triste. — disse Barone.
Eu disse que está tudo bem, não é nada de mais, isso vai passar. — digo eu, Barone se aproxima mais de mim e me abraça.
Era tão bom estar naquele abraço quente e espontâneo. Fazia tempo que não sentia aquilo, desde que estava com Lucas. Depois disso me levanto da cama e junto dele desço as escadas e tomei café da manhã.
Quando desço as escadas, Juliana estava toda arrumada como se fosse sair e sua barriga havia crescido um pouco mais.
Já ia te chamar — disse Juliana — íamos pedir para você ficar com o Barone, estamos indo fazer um ultrassom. — disse ela sorrindo.
Meu pai apenas mostra um sorriso que parecia meio forçado e passa a pata na minha cabeça bagunçado meu cabelo. Aquilo foi estranho, muito estranho, eles então saem e ficamos apenas Barone e eu na casa.
Coloquei um pouco de café na xícara, peguei uma rosquinha com uma cobertura de chocolate e fui para o sofá assistir algo.
Não estava passando muita coisa interessante e eu fiquei toda hora mudando de canal até que coloquei em um canal que passava “O diário de Anne Frank” e me lembrei do diário que estava lendo e ele estava na bolsa. Barone me pediu para mudar de canal e coloquei “zig and sharko” para ele assistir. Termino de tomar o café da manhã e subo as escadas para pegar o diário e continuar a ler.
Abro a bolsa, pego o diário e me deito na cama e começo a folhear ele de volta de onde havia parado.
[Diário]
27 de dezembro de 1955 Avô do Matheus narrando
No dia anterior, minha irmã, eu e o Sr.Victor ficamos em uma pousada. Estávamos esgotados, pois passamos o dia todo no carro e tivemos que parar para descansar. Quando chegamos na pousada, minha irmã, eu e o Sr.Victor fomos para um salão amplo na parte de baixo, onde havia algumas pessoas jantando e estavam conversando e debatendo várias futilidades, desde o uso de minissaias, até que rock dizendo ser só uma moda passageira e que não duraria muito aqui.
Minha irmã e eu nos entre olhamos e depois olhamos para o Sr.Victor, para manter ele longe da discussão, já que quando entrava em uma, era sair difícil. Para nossa sorte ele ficou na dele, mas ele repetia baixinho o que as pessoas falavam.
O Sr.Victor disse que tudo aquilo que estava sendo discutido não passava de bobagens, uma Sra.gata segurava uma enorme taça de vinho e dizia que minissaia não era apropriado enquanto Sr.Victor resmungava que ela era uma baita de uma hipócrita já que no passado dela, ela passava de mão e mão e agora quer dar lição de moral. Só diz que tá assim porque o tempo dela passou e agora ninguém quer ela e eu e minha irmã ficamos rindo.
Depois de um tempinho percebemos que ela ficou flertando o Sr. Victor e ele fez o mesmo, mas como estava na frente de minha irmã, ele se conteve e deixou para lá. Quando terminamos o jantar e fomos para o quarto descansar, o cansaço era tanto que dormimos logo. Eu não me lembrava direito nem do momento em que deitei na cama, nem o que sonhei, a única coisa que me lembro é de acordar no dia seguinte.
De manhã nos levantamos, nos arrumamos, tomamos café e depois fomos para o carro e antes de entrar, vi aquela mesma senhora, flertando do outro lado da rua com um rapaz novo e então o carro deixa o local, em direção ao nosso destino.
Enquanto o carro avançava estrada adentro, pouco a pouco as árvores iam desaparecendo da paisagem e começávamos a ver enormes campos verdes parecidos com tapetes cobrindo a paisagem.
Minha irmã e eu estávamos com um misto de emoções, em simultâneo, estávamos animados, com medo e com um pouco de pesar por termos deixado nossa mãe, mas praticamente ela nos expulsou de casa. Ela só queria o melhor para a gente, nada havia para a gente naquela cidade.
Cruzamos a fronteira Paraná, Rio Grande do sul às 9 horas da manhã. Minha irmã chegou ao destino dela ao meio-dia e uma tia veio acolher ela, esta tia era irmã do nosso pai e era uma loba marrom, parecida com minha irmã. Quando chegamos lá fomos recebidos com a maior alegria por nossa tia e os dois filhos dela.
Eu havia mudado tanto que ela perguntou confusa — Quem é este lobo aí? — e eu disse — Sou eu tia, o Matheus.
Nos abraçamos, depois almoçamos e eu me despeço de minha tia e primos e da minha irmã que chorava muito e me abraçava, pois poderia ser a última vez que nos veríamos.
Já ia dar duas horas, quando o Sr.Victor e eu voltamos para o carro e deixamos o local.
Comecei a chorar e o Sr.Victor disse para mim ser forte e enxugar as lágrimas, também disse que caso ele se parecesse comigo, teria tido mais oportunidades. Ele mandou eu ir em frente para depois não ter que amargar para o resto da vida como ele e me deu outro sermão dizendo para mim falar o que minha mãe havia dito.
Sr. Victor disse que se formou como médico, depois de muita luta, me falou que ninguém acreditava nele e as pessoas tentavam tirar sua força, mas ele foi firme até o fim e conseguiu se formar. Ele desejava trabalhar no Rio de Janeiro, mas sacanearam ele e o transferiram para nossa cidade que era meio pacata e longe de tudo.
Ele me disse que poucos suportariam o que ele suportou e perguntou se eu conseguiria suportar, mas fiquei sem palavras e somente acenei um não com a cabeça.
Então deixe de ser bobo, — Diz ele — aproveite a oportunidade, deixe de reclamar de barriga cheia. Se você acredita em algum tipo de igualdade ou algo do tipo, saiba que isso não mudará tão cedo e até lá muitos vão se iludir e desperdiçar suas oportunidades. — então parei de chorar e fiquei apenas em silêncio observando a paisagem.
Cheguei às 5 horas da tarde e fui recebido por outra tia da parte de mãe que era uma loba branca e seu marido, um lobo marrom, os dois eram primos distantes e tinham um filho.
Fui recebido também de maneira calorosa e nos próximos dias ficamos cada vez mais próximos.
Matheus narrando
Matheus desfolha mais o diário enquanto o tempo havia voava, quando ele observa no relógio, já são 10:34 e ele escuta alguém bater na porta, ele rapidamente guarda o diário e desce as escadas para atender a porta e era Juliana e seu pai que haviam retornado do hospital.
Juliana estava muito feliz e o abraça dizendo estar esperando três lobinhos. Eu também fiquei feliz por ela e meu pai, mas me sentia cada vez mais distante e excluído deles, senti um vazio e uma tristeza por dentro.
Alguns minutos depois, meu pai havia preparado uma torta para almoçarmos.
Na hora do almoço meu pai, meu irmão e Juliana ficaram na mesa e estavam se servindo, eu peguei um prato, coloquei meu almoço e estava me dirigindo para o sofá, quando Juliana pega no meu braço e pede que fique na mesa.
Eu me sento na mesa e começo a comer o que estava no meu prato enquanto desviava o olhar de meu pai, que tentava estabelecer algum tipo de contato. Barone estava brincando com a comida e fazia bolinhas de arroz, até que Juliana o repreende e ele para de brincar com a comida. Terminei rapidamente de comer, levei meu prato para a pia, o lavei, enxuguei e depois o coloquei no armário.
Saio da cozinha e vou em direção ao quarto e enquanto caminhava dou uma olhada de canto de olho e meu pai me olhava preocupado como se tivesse feito alguma besteira ou algo errado.
Subo as escadas e vou para o quarto, Barone me acompanhou puxando minha cauda, então eu o levanto como um ursinho de pelúcia e o abracei enquanto ele rosnava e tentava morder minhas orelhas
Ele me pede para colocar ele no chão e eu tive uma ideia. Eu sorri, abri minha a boca cheia de dentes pontudos e coloco o rosto dele na frente dela e rosnei enquanto ele dava uns gritinhos, pedindo para parar, então coloco ele no chão e fico dando risada e ele fica me olhando meio assustado enquanto gesticulava que ia pegar ele e abria a boca.
Ele tenta correr e eu novamente o seguro, era engraçado ver ele tentando correr e não conseguindo. Ele começa a querer morder minha mão de novo para me fazer soltar e dava uns grunhidos engraçados. Até que eu o solto e ele desce as escadas correndo enquanto eu dava risada da situação e entro no quarto, trancando a porta, me deitando na cama e continuo a leitura do diário onde havia parado