Yve de Paula...
Como esse povo é prepotente, me olhavam como se eu fosse um ET. Sem drama, mas uma mulher preta falando em mandarim, não é a todo momento que se ver por aí. A questão é, tudo o que os professores me falavam na faculdade eu seguia. Me lembro do Dalton de economia, falar inglês é demodê, mas necessário. O idioma empresarial do momento é o mandarim, o mundo inteiro está fazendo negócios com os chineses. E eu rapidamente fui tratar de pôr a linguagem no currículo.
Sempre tive facilidade com idiomas.
— Modelou na China? — Arthur sussurra, enquanto os bisbilhoteiros tentam ouvir o que falamos.
— Está me perguntando se trabalhei com chineses?
— Sim, estou.
— Trabalhei sim. — Em parte não mentia, trabalhei na pastelaria Akira do senhor Hum, não tem nada a ver com o eu saber mandarim, que ele deduza o que quiser.
— Deveria ter me falado que entendia o que estava escrito no cardápio, mais do que qualquer pessoa que estar nessa mesa.
— O senhor não me perguntou, panas tirou suas conclusões, me pediu para falar pouco, lembra? — Quando percebi, minha boca estava muito próxima da dele, a maneira que encarou meu rosto, me deixou desconfortável.
Ziza, faz um barulho de quem limpa a garganta. — A comida chegou queridinhos, deixa a pegação para depois.
Queria responder essa mulher, mas já tinha estourado minha cota. Arthur Ribeiro exigiu que eu ficasse calada, apesar de usar sua fala quando me foi conveniente, tenho feito só ao contrário.
Enquanto eles se exibiam com o rachi, eu pedi o bom e velho garfo e faca. Vargas queria enrolar o elástico na ponta, o velho truque para iniciantes. Informei a ele que não havia interesse da minha parte, achava estranho e não compreendia como mais de 1 bilhão de pessoas podem comer com dois pauzinhos.
(...)
Depois da janta, me deliciava com um apetitoso harumaki de doce de leite super quente, servido com sorvete de baunilha. A conversa entre os demais da mesa estava acalorada. Arthur Ribeiro era comedido, ele ofendia e se matinha rude sem alterar a voz, o homem sabia como matar uma pessoa na unha.
— Juro que acreditei que essa reunião, era para discutir preços de suprimentos com o Vargas. — Arthur questiona.
— Sim, essa é uma das pautas da reunião. A outra é que não é justo você fabricar um produto dentro da minha empresa e não dividir os royalties comigo. — Ziza expõe sua indignação.
Com cautela, Arthur sorve no pequeno cálice, um pouco do licor de Amarula. — Cara irmã, antes de pôr em prática o colorissíma, sentei com você e o Vargas. Ambos disseram que era loucura implementar um produto novo em meio uma pandemia, a empresa também é minha, se não quer está em todo seu direito, pus o projeto para frente sem afetar em nada sua parte dentro da Beleza Black.
— Mas o momento era outro cunhado, foi no auge da pandemia. Era quase cerro dar errado. Nós iremos ter que despedir pessoas, esse dinheiro ajudaria a amenizar o impacto. — Opina Gilvan.
— Se o produto tivesse fracassado, teria me fodido com meu prejuízo, duvido que estaríamos tendo essa conversa. — Ele joga na cara de todos.
Se Sabine estava entediada antes, agora que começaram a falar de negócios, a mulher já se levantou para fumar e ir ao banheiro umas cinco vezes.
— Arthur posso tentar reduzir o valor da matéria prima e quem sabe vocês entram em um acordo pelos royalties do colorissíma.
Com a expressão séria, Arthur debruça os braços com as mãos interligadas sobre a mesa.— Qual é o seu interesse nisso em Vargas? A presidência da Beleza Black? Foi isso o que te prometeram? — O homem enverga o corpo se aproximando mais da face do tal Vargas. — Tira seu cavalinho da chuva, eu sou e sempre serei o CEO da empresa.
— Está entendendo tudo errado...
— Vagas se compadeceu da situação dos institutos. Estou com 63 colaboradoras voltando de licença maternidade. Dentro de casa em quarentena, essa mulherada achou que f***r não trazia prejuízo. Enquanto elas ficam sete meses fora, tenho que pôr outra no lugar. Agora vão voltar, terei de mandar gente embora e chove de problema na justiça.
— E todo esse problema será resolvido com o dinheiro do meu produto, que você junto ao cérebro brilhante do seu marido rejeitaram? — Senti a ironia do "Si Ou" em cada palavra.
Enquanto eles falavam em dinheiro, só pensava que faltava planejamento e estratégia.
Irritada, Ziza chega levantar um pouco a b***a da cadeira. — Não é seu produto rei Arthur, pensamos nele juntos, apenas não achei que fosse o momento de arriscar em algo novo.
— Nada que me fale irá me convencer a parte que seria "sua" e você rejeitou. Estou investindo em um projeto social de menor aprendiz, não irei deixar de lado.
Aquilo sim me surpreendeu, imagino o projeto fajuto.
— Então você pegou o meu dinheiro, para investir em um monte de melequentos?
— Não, o seu dinheiro. O meu dinheiro.
Ziza vai recolhendo celular e pegando a chave do carro na bolsa. — Tire o produto colorissíma de dentro da fábrica ou faça o meu repasse até depois de amanhã, senão terá a visita dos meus advogados.
Arthur parado estava e parado continuou. Não moveu uma pestana ao ver sua irmã se levantar e sair da mesa.
— Sua vez Vargas, diga o que tem de falar. — Gilvan pressiona.
Um tanto gago e receoso, o homem toma coragem — Se... é.... Se não fizer o que é certo, a Bawer irá se desvincular da Beleza Black, ficará sem matéria prima.
Gilvan também saiu do restaurante. Vargas se levantou para ir junto a Sabine, mas antes se despediu de mim e depositou em minha mãos um cartão. Fiquei assustada quando sem eu esperar, Arthur puxou o quadrado de papel antes que eu pudesse fechar minha palma com ele dentro e devolveu ao Vargas. no mesmo instante
— Pode levar, ela não precisa do seu cartão. Já tem o meu.
"Hã! Não queria e não tinha nenhum dos dois."
Assim que Vargas saiu, pus o todo poderoso em seu lugar. — Pode deixar que eu falo por mim não...
— Sim precisa, esses não é o seu nohall¹ de pessoas. Além do más, por cinco horas você é minha, portanto, faz o que eu quero.
— Não sou sua, apenas estou lhe acompanhando.
Como se não desse a mínima pelo o que eu disse, voltou a falar. — Se quiser mais alguma coisa peça, vou ao banheiro, quando voltar pedirei a conta e iremos embora. Preciso me desestressar, salvar a minha noite.
"O que será que ele quis dizer, com salvar a noite dele?"
Algo me dizia que o meu corpo estava nos planos de desestresse de Arthur Ribeiro. Peguei minha bolsa e tentei sair, fui barrada de forma educada pela recepcionista. Minha tentativa de fuga não deu certo.
Tive que retornar a mesa, Arthur pagava a conta e assim que me viu tratou de ironizar. — Tentando sair sem pagar?
— Apenas iria lhe esperar lá fora, — me justifico — afinal não irei pagar nada mesmo.
Arthur Ribeiro colocava na carteira o cartão preto com letras platinadas. De pé, ele põe o objeto no bolso na parte inferior do blazer. Com poucos passos ele diminuí a curta distância que havia entre nós.
O corpo da gente é nosso maior traiçoeiro, não vou com a cara desse homem, não mesmo. Contudo, não posso negar o quanto ele é atraente fisicamente. Me fazendo engolir em seco e os pelos da minha pele me trair. Arthur desliza sua mão da minha nuca, passeando pelas vértebras até o meu cóccix. Com a voz suave quase em sussurros e a boca no pé do meu ouvido, ele termina de embrulhar o meu ventre. — A conta não. Mas pagar você vai, olhando para mim e de joelhos.
(...)
Dentro do carro ainda me sentia tonta, ao lembrar do toque aveludado nas minhas costas nua, ao mesmo tempo que me enojava suas palavras libidinosas. Tentei me desenvencilhar, queria pegar um táxi que tinha na porta do próprio restaurante. Porém Arthur Ribeiro passou na minha cara que ainda tinha três horas da minha companhia.
— Aonde mora? — Uma das poucas palavras que ele disse enquanto dirigia.
— Em Copacabana. — Menti na cara dura. Ele estava bem próximo, assim falaria para ele parar na frente de um prédio qualquer. Depois que fosse embora, pegaria condução para casa.
Mudando meus planos, antes de chegar em Copa, dobrou uma esquina no Leblon, andou mais alguns metros e manobrou o carro para um estacionamento de motel.
— O que acha que está fazendo aqui? — Pergunto, mesmo sabendo a resposta. — Não vou entrar aí com você.
Ele bufa impaciente, como se aquela fosse uma situação natural. — Diz qual o preço. — O descarado nem ao menos olha para mim , sem reservas vomita suas palavras. — Se tiver um bom desempenho, no final ainda leva uma gratificação.
— Está me achando com cara de p**a?!
— Não, mas se gostar, posso te chamar do palavrão que quiser. — Ele finalmente olha para mim. — Dou uns tapas, puxo o cabelo e g**o na cara.
Eu abri a porta do carro e desci. Ainda pude ouvi-lo dar uma risada debochada.
"Escroto."