O interior da casa era moderno, com piso de porcelanato branco, móveis em madeira envernizada e sofás de couro tão conservados quanto todo o resto. Tudo cheirava a lavanda, um cheirinho de limpeza que ele se lembrava desde sempre.
Seu pai sorriu ao ver os dois entrarem, abaixando o livro e o colocando sobre as pernas cruzadas.
— Achei que ia te ver só no próximo aniversário. — brincou, tirando um sorriso de Levi.
— Quem diria que eu voltaria no mesmo dia. Sou um homem ocupado.
Paola sentou no sofá, cruzou as pernas e apoiou o cotovelo no encosto, brincando com uma mecha do cabelo e a enrolando no dedo indicador.
— Levi tem uma coisa pra te contar.
Luiz ajeitou a postura, olhando de Paola para seu filho.
— Bateu o carro?
— Não.
— Atropelou uma senhora que estava atravessando na faixa de pedestre?
Levi fez uma careta.
— O quê? Não!
— Recebeu uma multa da polícia ou eles prenderam o seu carro?
— Meu Deus, não.
Luiz franziu a testa. Ele não duvidava que seu filho era capaz de fazer qualquer uma daquelas coisas, e ainda dizer que só se distraiu.
— Engravidou uma menina?
Paola moveu seus olhos para Levi, sorrindo levemente. Levi fechou os olhos com força. Ele não estava esperando que seu pai acertasse.
— Mais ou menos…
Luiz ergueu as duas sobrancelhas, tanto que Levi achou que iriam grudar no cabelo.
— Como assim? Metade do bebê está nela e a outra em você? Como assim você engravidou uma menina, mas não é por inteiro, é mais ou menos?
Levi queria falar com seu pai e preferia que o Luiz advogado ficasse de fora.
— Eu engravidei uma menina há 16 meses.
Seu pai continuava com a mesma expressão. Não era um problema Levi ter um filho, era como ele estava contando isso e ainda que já se faziam 16 meses desde que a gestação começou.
— Então a criança já tem 7 meses? — Levi fez que sim. — E você não pensou em contar isso antes? Você achou que a gente ia forçar você a se casar?
Levi fez outra careta.
— Não! É que… bom… eu meio que descobri hoje também — coçou a nuca, como sempre fazia quando ficava nervoso.
Luiz olhou para Paola. Parecia que a qualquer momento ele iria recitar todas as leis existentes.
— Você está me dizendo que engravidou uma menina…
— Supostamente.
— Supostamente engravidou uma menina e ela não conseguiu te encontrar durante 1 ano e 4 meses?
Levi coçou a testa. Estava confundindo seu pai e se confundindo só em pensar nisso tudo. Ele suspirou, tomou fôlego e disse:
— Encontramos uma moça no shopping com um bebê que parece ter sido parte de mim um dia, e a idade e as datas batem certinho com o dia em que eu trepei com uma menina sem p******o.
— Olha a boca — sua mãe disse, lhe lançando um olhar.
— Foi m*l. — falou. — Enfim, essa mulher do shopping era a mãe dele, mas não a mulher que eu engravidei, essa era a adotiva, o que me faz pensar que sim, a mulher de antes colocou o bebê em um orfanato porque seria estranho ter um filho que é a cara de um completo estranho. A gente conversou e agora eu quero assumir a paternidade da criança.
Luiz estava encarando-o. E ficou, e ficou, e ficou mais alguns segundos com os olhos em seu filho.
— Talvez você seja o pai.
— Sim.
— E se você for, vai assumir a criança.
— Se a mãe dele aceitar, sim.
Luiz assentiu.
— Eu não estava esperando virar avô, mas… espero que saia logo o resultado e espero que você dê certo como pai. Porque eu e sua mãe seremos os melhores avós do mundo.
Paola abriu um sorriso enorme.
— Luiz, meu bem, ele é tão lindo e saudável! — seu sorriso aumentava, e Levi nem sabia que era possível. — É a cara do nosso filho quando tinha aquele tamanho, tem as mesmas marcas de nascença.
Ele abriu um sorriso também. Eles estavam ótimos com a situação, quem precisaria lidar com isso era somente Levi.
— Você — seu pai apontou o dedo — pega uns livros sobre paternidade e sobre a mente das crianças para estudar. Essa criança vai ter o melhor pai do mundo se ele for você.
Levi soltou o ar que nem sabia que estava prendendo.
Talvez ele fosse um ótimo pai, sim. Mas o melhor pai do mundo sempre seria o seu. Ele não iria dizer isso, mas sabia que tinha.
(...)
Levi não contou aos seus amigos sobre o provável filho. Nem mesmo depois de ver a mãe dele lhe atender e praticamente deixá-la sem reação pela forma como estava tratando-a.
E a verdade era que ajudaria bastante se ela não fosse tão atraente quanto é.
E ajudaria ainda mais se Levi parasse de achar isso. Começou bem quando se repreendeu por olhar para a b***a dela por um milésimo de segundo quando ela deu as costas.
— O que foi isso? — Bianca se inclinou na mesa para perguntar.
— Isso foi eu fazendo o meu pedido.
— Não — Pedro discorda — Isso foi você flertando com a garçonete bonitinha.
Levi revirou os olhos, mas queria concordar com o fato dela ser bonita e corrigi-lo dizendo que ela era bem mais do que só bonitinha.
— Não estava.
— Você conhece ela? — Agora Izadora entrou na conversa também.
— Não — ele não devia mentir. — Vim aqui nas mesmas vezes que vocês, o que eu acredito que signifique só uma. Duas com essa.
— Está mentindo. — as duas disseram em uníssono.
— Não estou.
Bianca revirou os olhos.
— Péssimo mentiroso. Sempre foi.
Talvez fosse melhor contar? Talvez, se a mentira ficasse maior, fosse pior no futuro.
— Tá. Eu conheço ela, mas não é nada demais, nós só… nós nos falamos umas vezes.
Aquilo não era uma mentira, eles realmente só se falaram algumas vezes e ia da imaginação deles em como definir essa conversa. E ele tinha certeza de que não envolvia um filho que ninguém nem fazia ideia.
Essa era a parte que ficaria omitida por um tempinho.