Capítulo 5

2087 Words
Eu nunca havia sentido tanto ódio em toda a minha vida, o meu irmão não se importava nem um pouco com a minha mãe, fazia uma merda atrás da outra e eu realmente tinha que me calar? Eu deveria realmente deixar o meu irmão se afundar e afundar a minha família junto com ele? Fiquei tão perturbada que nem as festas, a música tocando alto em minha cabeça, conseguiriam me animar. Pelo contrário, tudo aquilo me fez querer vomitar tudo o que eu havia bebido. Eu desvio uma a Caio é claro, e é saudável de alguma forma dever favorece a donos de boca de fumo? É claro que não. Quando estava prestes a entrar em minha casa, Lipe surgiu com a Marcela, preocupado comigo, então eu estava pior do que eu pensava. - Qual foi Gabi? Tá atordoada? - Nada demais, meu irmão que me tira do sério. - Quem estava aqui era o caio, é isso mesmo? Eu vi e nem acreditei. - Sim, infelizmente era. Impediu que o Fael me desse uns tabefes agora pouco, cara eu estou com medo. Não sei se conto para minha mãe ou não, vou estragar com ela. - Espera um pouco pra contar beleza? Eu vou tentar falar com teu irmão, assim a gente ganha um tempo e não chateia a tia com coisa b***a. Ele tá vendendo pelo que eu sei, talvez se a gente possa achar outro pra colocar no lugar assim ele sairia ileso. - E isso é justo Lipe? Colocar outro coitado pra livrar o i*****l do meu irmão? - Gabi relaxa beleza? Curte o baile, e vida que segue. Você não precisa ser responsável pelo seu irmão. Eu assenti com a cabeça, mas aquilo não condizia com o que eu estava sentindo de verdade. Eu queria correr e salvar o meu irmão, na realidade eu me colocaria na frente de uma bala por ele. Eu o amava, mais do que eu queria. Sangue do meu sangue! Até onde eu iria por minha família? Nem eu mesma sei responder. Sentei novamente na calçada, acompanhei as meninas que rebolavam no paredão de som, o sobe e desce de pessoas comprando bebidas e drogas, e aquilo parecia divertido é claro. Quem não gosta de ostentar dinheiro? Mas se valesse a paz da minha mãe para mim custava demais. Eu faria qualquer coisa pela minha mãe. Amaldiçoei o meu pai, com certeza a culpa de toda aquela merda que estávamos vivendo era exclusivamente dele! O cara sumiu no mundo abandonou minha mãe com a função e criar duas crianças e olha no que deu. Desgraça e ruína. Enquanto eu permanecia enchendo a minha cara de vinho barato, nada para mim parecia fazer sentido. Senti o meu corpo se embolar de repulsa pensando em meu irmão. Uma frase que eu havia ouvido ricocheteou em minha cabeça: "O crime só tem dois caminhos, a prisão ou o caixão" Esse ditado era real? No momento em que pensei nessa frase eu nem notei a gravidade, mas eu saberia exatamente o que queriam dizer falando isso. Quando me dei conta o baile já havia acabado, poucos gatos pingados na rua e algumas figuras engraçadas andavam por ali, nada mais a ser feito. A festa acabou o barulho também, e o silêncio para mim era ensurdecedor. Como eu poderia encarar a minha mãe? Olhar nos olhos dela e fingir que não sei nada da situação do meu irmão. Era melhor permanecer ali na calçada, ao menos eu poderia fugir daquela realidade que assombrava cada parte do meu corpo. Eu sentia a decepção andar em meus ossos e fisgar o meu coração. Talvez se meu irmão visse a olhos nus o que ele estava causando em mim, largaria qualquer resquício de sua vida criminosa e começaria de novo como um homem direito. Lipe se aproximou, eu estava tão atordoada que nem percebi de onde ele veio, e como ele sabia que eu permaneci exatamente ali? Ele me conhecia bem.  - E aí irmãzinha... O que está fazendo sentada aqui ainda? - Pensando Lipe. - Pensando ou fugindo? - Os dois. - Sabe que não deveria ficar aqui sozinha não é? Já deveria ter ido pra casa, esse horário só tem nóia na rua. - E o que você está fazendo aqui? – Eu disse sorrindo para ele. - Eu me preocupei com você, ontem você estava m*l, senti uma coisa estranha e aí foi tiro certo, está sentada aqui até agora. - Não sei se era a bebida, mas eu olhei para ele por um longo tempo, antes dele deixar clara a minha posição. - Você sabe que é importante pra mim né? Uma irmã cara, e nada a ver ficar aí toda pra baixo por causa do Fael. Ele vai fazer as escolhas dele, e você Gabi é uma menina legal, bonita e inteligente. Só precisa sair desse buraco do inferno logo! - Eu vou sair daqui e vou pra onde Lipe? Vou deixar minha mãe aqui a mercê de bandido? - Você prefere o que? Passar a vida consertando o Fael? Não vai nunca viver sua vida? - Se proteger minha mãe significar ficar atolada nesse buraco do inferno como você disse, com certeza é o que eu vou fazer Lipe. - Fico triste de ouvir isso Gabi... Na real mesmo. Mas vamos entrar, tu já bebeu demais e está na hora de dormir. Partiu? Eu não consegui responder, a verdade é que a bebida revela alguns detalhes de nossa personalidade que nem nós sabemos que existem. Então eu sorri para ele novamente, me agarrei a ele para voltar para casa. Minha mãe ainda estava deitada quando eu entrei. "Que sorte!" – Eu pensei "Ao menos não terei que encarar o olhar dela, ela sacaria em dois minutos que algo estava me chateando de verdade." Me deitei, mas não consegui fechar os olhos. A adrenalina da noite anterior ainda corria em minhas veias e me mantinha acordada. Ouvi passos, e sabia que era o meu irmão. Quando ele entrou em meu quarto, me virei para a parede. Não queria de jeito nenhum nem olhar para ele. - Gabi... - Ele me chamou, permaneci em silêncio. - Irmã me perdoa pelo desacerto de ontem, eu estava... - Chapado Rafael? Você estava chapado? - Eu ia dizer irritado! Mas qual foi, por que você está tão irritada comigo? - E você ainda pergunta? Que p***a você está fazendo com o Caio? Você não considera nossa mãe? E o vexame de ontem? Usando droga que nem um nóia, vendendo para esses marginais, não tem consciência? - Eu considero nossa mãe, por isso tô fazendo isso. Ou você acha que esse cu de burro que ela casou vai nos levar pra frente? A senhorita acha mesmo que vai cursar faculdade e sair desse buraco com o salário da mãe? Se enxerga Gabriela! Desce dessa p***a de pedestal! Estou fazendo isso para o nosso bem, o filho da p**a do nosso pai meteu o pé, e eu sou homem da casa certo? E fico bolado quando vejo você me questionar, eu sei o que estou fazendo, sei onde estou me metendo, e sou homem suficiente para bancar minha decisão sem render pra ninguém. - Quer ser o homem da casa? Procure um trabalho honesto! Aí sim você vai ser diferente do nosso pai, ou você está querendo matar nossa mãe de desgosto? Fael quem falou que quero fazer faculdade com dinheiro sujo? Vou levar uma vida limpa e honesta! Que foi esse o exemplo que eu recebi dentro de casa! - Gabriela você se acha tão melhor que eu não é? Vai acabar tropeçando nas suas palavras... Sempre tão melhor, não é a toa que as minas odeiam você! Deve ser esse ar te superioridade que você estampa na sua cara! - Eu tô cagando se essas biscates gostam ou não de mim Rafael! E quero que elas se fodam... Eu estou falando de você e não delas, e pense no que eu falei! Eu estou exatamente dizendo que você tem capacidade para arrumar um trampo honesto, registrado... Montar uma família sossegar! Ou acha que só consegue passar droga para vagabundo traficante? - Gabriela não me irrita! Que dessa vez não tem ninguém pra me impedir de te dar uns tapas não! Te orienta garota! E fica de bico fechado beleza? - Ah não, o grande traficante com medo da mamãe? - Está avisada! – Disse meu irmão antes de sair bravo pela porta. Eu me coloquei a chorar, por mim, por meu irmão, por minha mãe que não merecia nada daquilo. Chorei por que não havia outro sentimento para extrair de mim naquele momento, eu não tinha absolutamente nada para oferecer a não ser o meu choro amargurado de medo e tensão. Não queria ver o meu irmão morto, e só Deus sabe o como eu queria que ele caísse na real. Mas na favela não existem regras, e o amanhã só pertence a Deus. Acordei finalmente, o vinho havia caído em meu estômago como uma bomba, a ressaca era real, e a ressaca moral que meu irmão causou eram piores. Me levantei sem vontade, lavei o rosto e me olhei no espelho. De alguma forma o que meu irmão disse mexeu comigo... Me senti m*l. Como assim todo mundo me odiava? E mais importante, por que me odiavam? Eu nunca pensei ser superior, apenas vivo a minha maneira. - Gabriela... – Chamou a minha mãe em seu tom baixo de sempre – O café está na mesa. Tentei sorrir para ela, eu amava minha mãe mais do que tudo, ela me deu um beijo na bochecha como fazia todos os dias, aquilo me confortou assim como já havia confortado milhares de vezes. Naquele dia José não estava em casa, seríamos nós três apenas. Meu irmão surgiu na cozinha, o olhar perdido chamou atenção de nossa mãe assim que ele se sentou. - Rafael meu filho, eu m*l estou te vendo... - Ih vai começar mãe? - Tá bom, eu não vou esticar essa conversa com você... Só queria dizer que sinto sua falta aqui em casa. Olhei para ele firme, era bom que ele a respondesse direito. - Entendi mãe, me desculpa. Eu que estou estressado demais. - Tudo bem, só queria dizer a vocês dois que vocês são às pessoas mais importantes da minha vida, eu sei que é difícil ás vezes a nossa convivência, ainda mais depois que me casei... Mas estou tentando fazer o melhor por vocês. - Ainda acho que você não deveria ter se casado. – Disse Rafael furioso. - Rafael! – Eu gritei indignada - Para de hipocrisia Gabriela, diz a verdade a nossa mãe! - Você falando de falar a verdade Rafael? - Ouçam os dois, eu me casei por que sinto carinho pelo José, e achei que vocês precisavam de um exemplo masculino em casa. Talvez não tenha sido no melhor momento... - Mãe dá pra ver isso sabia? Que vocês estão juntos por que você precisava de marido, e ele de comida quente e roupa lavada! Então não me culpe por achar que você casou com esse morto vivo pra nada, me fala, sua vida melhorou? Continua limpando privada de casa de rico, mas agora acumulou outro encostado em você, assim como o i*****l do meu pai, Isso é justo? - Rafael já chega! – Gritei novamente - Gabi, deixa o seu irmão falar... Deixa ele vomitar tudo o que está engasgado nele. Fala Rafael, estou te ouvindo. Eu acompanhava toda aquela confusão em choque, meu corpo todo doía. Não consegui evitar as lágrimas que insistiam em descer. - Mãe você só precisa saber que eu já estou cuidando de tudo. - Como assim Rafael? - É só isso que vou dizer e acho que é mais do que suficiente! Rafael deu um beijo na testa da minha mãe, contas de carinho da parte dele não eram normais. Ele piscou para mim, e eu senti repulsa, eu sabia exatamente do que ele estava falando. Quando ele saiu pela porta carregando um pão, minha mãe automaticamente se virou para mim. - Gabriela, seu irmão está fazendo alguma coisa errada? Se tiver minha filha ... Não o proteja, me conte. O momento chegou, onde todas as atenções se voltam para mim, e eu novamente seria o epicentro de todas as coisas. Eu odiava essa posição, a posição de filha perfeita dedurando o irmão problema.  Mas o que eu poderia fazer? Mentir ou dizer toda a verdade?
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